quarta-feira, 20 de agosto de 2014

INGLATERRA CAMPEÃ MUNDIAL FEMININA


As palavras de balneário ou da capitã devem ser restritas a quem é de cena.
Foto Sky Sports
O fim-de-semana rugbístico tinha começado mal: as enormes expectativas criadas, por causa da formidável final do Super XV, para o Austrália-Nova Zelândia caíram como a água da chuva que molhou a bola e não abriu os espíritos - o jogo esteve muito abaixo da qualidade que os actores prometiam, a Austrália devia ter sabido ganhar (teve tudo para isso, excepto a capacidade de o fazer) e a Nova Zelândia, embora saindo de Sydney sem o recorde das 18 vitórias seguidas, leva a quase certeza, com o resultado de 12-12, de que a Bledisloe Cup vai ficar na ilha da Grande Nuvem Branca. Veremos já no próximo sábado, no neozelandês Eden Park em Auckland.

Valeu então para transformar este mau início num bom final, a final de domingo do Mundial Feminino entre a Inglaterra e o Canadá. Excelente jogo!
De um lado e do outro a predisposição para um combate de oitenta minutos numa luta de não virar a cara e procurar a vitória e o titulo. Venceu a Inglaterra (21-9) e com dois ensaios contra nenhum, não deixou qualquer margem para dúvidas sobre o seu merecimento.
O jogo foi bom e espectacular. Ambas as equipas fizeram uma boa apresentação do domínio dos Princípios Fundamentais do Jogo: em cada utilização, em cada tentativa de recuperação da bola, as diversas jogadoras cumpriam o essencial que carateriza o jogo, numa demonstração permanente de conhecimento táctico e capacidade técnica. É disto - o resto são lérias de quem não sabe para mais - que o jogo de rugby trata: reduzir a complexidade aparente a decisões eficazes por meio da aplicação dos Princípios Fundamentais. O que significa treino, muito treino, organização competitiva, conhecimento do jogo, preparação e inovação programadas, objectivos claros e sentimento colectivo de cada uma se disponibilizar pelas outras. Para que o conjunto de jogadoras possa encontrar-se como equipa num triângulo de propósitos definidos, perspectivas alinhadas e movimentos sincronizados. 
A Inglaterra apresentou-se muito bem - com uma primeira linha de categoria invejável capaz de garantir o pé-da-frente, uma segunda-linha conquistadora e capaz de participar nas diversas fases do jogo, uma terceira-linha móvel e transportadora, uma parelha de médios de decisões acertadas e criadores de surpresa na exploração dos espaços, umas centros - excelente a Emily Scarratt como utilizadora e chutadora - de boa capacidade de circulação e ataque aos intervalos e um três-de-trás capaz de interpretar eficazmente, com adequado movimento pendular, o papel que o visionamento vídeo lhes indicou para impedir qualquer veleidade às atacantes canadianas. E estas capacidades que formam uma equipa de XV de qualidade, notaram-se durante todo o jogo: uma equipa preparada para jogar e ganhar uma final mundial. Num jogo que é uma boa lição sobre o desenvolvimento necessário para atingir níveis competitivos elevados.
O primeiro ensaio inglês foi um portento, um tratado de bem jogar: formação-ordenada no lado direito do campo e saída pela direita - também lado-fechado - a ultrapassar a Linha de Vantagem e a obrigar à intervenção e levar à fixação da terceira-linha canadiana; passagem rápida pelo chão, circulação de bola para a esquerda com perfuração central da segunda-linha Tamara Taylor a desequilibrar a linha defensiva e nova passagem rápida pelo chão com continuidade do movimento no mesmo sentido a alargar o perímetro de jogo de forma a criar os intervalos necessários às perfurações ofensivas. Na sequência dos passes, um excelente cruzamento na ponta da linha a avançar mais metros e retornando de novo para a zona central, novo ruck e bola a sair tão rápido que as defensoras canadianas, apanhadas em contra-pé, aumentaram a inutilidade da sua concentração numérica; bola de novo - segunda vez na mesma jogada - em Taylor para nova perfuração, agora com finta de passe de excelência e fixação perfeita da segunda defensora para entrega em tempo justo à asa Alphonsi que só teve que manobrar um 2x1 para entregar a bola para Danielle Waterman, a defesa, marcar - e ainda com a ponta Merchant para o que desse e viesse. Um excelente ensaio colectivo, com três amplas mudanças de sentido e todas as jogadoras empenhadas, a mostrar a beleza do rugby como jogo de equipa. E a demonstração do merecimento do título de Campeã Mundial.
O Canadá jogou bem mas e apesar da excelência da sua circulação de bola, do ataque aos intervalos e da muito boa coordenação defensiva, perdeu. Por natural falta de experiência.
Não pertencendo a nenhuma das "major" - onde o jogo e as suas tácticas se aprendem quase no berço - às canadianas faltou-lhes a experiência que só muitos jogos neste nível lhes podem dar. Exemplo disso foi o desgaste que a vivacidade das suas jogadoras, na vontade de atacar de qualquer lado, circulando a bola e procurando servir as suas "terríveis" finalizadoras, lhes provocou. Se mais experientes teriam jogado ao pé mais vezes, conquistando terreno e preparando novos ataques em posição territorialmente mais favorável, controlando o ritmo e impondo momentos fortes sobre fraquezas adversárias momentâneas. Ficou-lhes o lugar de finalistas - o que, diga-se, constitui uma verdadeira proeza - e o prémio de Melhor Jogadora do Ano para a sua finalizadora e chutadora - e autora do melhor ensaio do Mundial! - Magali Harvey.

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