sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

UM AVISO

Portugal ganhou o jogo! Vá lá, o 25º do ranking da World Rugby derrotou, em casa, o 36º, apropriando-se de uma quota de 55% dos pontos marcados, para conseguir uma diferença de 4 pontos de jogo. 
Num jogo de pouca qualidade onde houve, de parte a parte, uma enorme lentidão de processos, a selecção portuguesa ficou longe do que lhe deve ser exigido e viu chegar o final do jogo com profundo alívio, não fosse algum tupi tecê-las ou haver mais amarelos - foram 3 nos últimos dez minutos - à medida que o folêgo desaparecia.
O Brasil é uma equipa simpática, naturalmente melhor do que foi em 2013 no primeiro jogo disputado com Portugal (resultado de 68-0), mas ingénua, a cometer muitos erros - superioridades numéricas deitadas fora por incapacidade técnica dos intervenientes - e com visível falta de experiência. E perante isto a equipa portuguesa deveria ter mostrado uma outra capacidade - sei que algumas lesões, castigos e essa coisa extraordinária de indisponibilidades - ser jogador internacional não é somar selecções quando apetece, é um compromisso e se não há hoje disponibilidade, haverá sempre indisponibilidade -  não terão, porventura, permitido a apresentação da equipa pretendida mas a diferença entre o rugby de Portugal e o rugby do Brasil deveria ter sido demonstrada pela diferença no resultado. E não foi!
A selecção portuguesa (de acordo com as notas que tirei) teve 101 bolas disponíveis tendo desperdiçado em pontapés directamente entregues aos adversários 36% delas e ultrapassado a Linha de Vantagem em apenas 21% das vezes. E destas, apenas conseguiu criar rupturas na defesa adversária por 4 vezes para marcar, feitas todas as contas, os mesmos 2 ensaios conseguidos pela equipa brasileira. Ou seja, os problemas mostrados nos jogos anteriores continuam a retirar eficácia à utilização da bola: pouca capacidade de penetração por linhas de corrida demasiado paralelas e com início pouco profundo para ganhar velocidade; jogar distante da Linha de Vantagem;atraso na reciclagem da bola nas quebras no solo; jogo ao pé sem propósito e sem colocar qualquer problema ao adversário; apoio normalmente atrasado por falta de sintonia colectiva; erros em situações favoráveis.
Naturalmente que a composição da equipa - com seis caras diferentes e ainda com alterações de posição ou recurso a apostas de menor valia - não garantia a necessária coesão colectiva que pudesse impôr-se aos adversários brasileiros. E assim, vivendo apenas da técnica de cada um mas sem conseguir, pela falta de coesão síncrona, somar mais do que o todo, a selecção nacional, pondo-se a jeito, deixou-se aproximar - como o resultado demonstrou - da valia da equipa brasileira.
O reconhecimento destas incapacidades e das suas causas é, para o objectivo de garantir uma presença internacional - decisiva para o desenvolvimento da modalidade em Portugal - necessidade e responsabilidade da comunidade rugbística portuguesa. E a melhoria da capacidade dos jogadores portugueses e assim das selecções nacionais passa por um elemento evidente: uma disputa equilibrada do campeonato nacional da divisão de nível mais elevado. O que significa que é necessário, quanto antes, proceder à diminuição do número de equipas na Divisão de Honra portuguesa para aumentar a competitividade da prova e, assim, possibilitar aos jogadores hábitos competitivos que se aproximem da competição internacional em que o rugby português procura estar inserido.
Ganhar o jogo, manter a série vitoriosa dos três jogos é bom porque, como nota Martin Johnson:"Quando se está a ganhar cria-se uma energia bem divertida e toda a gente quer estar no grupo". Mas este jogo e o seu modo constituem um aviso sério que não pode ser negligenciado.

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