segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

6 NAÇÕES - NOTAS DA 3ª JORNADA


Gales conseguiu o pior resultado da jornada ao perder pela diferença de 16 pontos de jogo num desafio em que a derrota, sendo o mais provável, seria por margem mínima, fazendo do jogo um combate até ao último minuto. Aliás, olhando para as estatísticas do jogo, não se compreende, pela proximidade dos valores, como foi possível tal diferença.
Erros e mais erros, enormes dificuldades sempre que a intensidade do jogo aumentava mostraram que os galeses parecem estar longe da preparação seguida pelas outras equipas. Pela segunda vez e em dois jogos seguidos morrem fisicamente e "deslaçam" na 2ª parte, mostrando um baixo nível de coesão e falta de treino a níveis de intensidade adequada. Ou seja: na equipa técnica galesa não parece haver noção de que as competições onde os seus jogadores evoluem estão abaixo do nível exigido pela competição internacional. O que significa que o conforto dessa aceitação, para além dos erros técnicos que permite, ainda levou à contestação da decisão do "capitão" Alun Wyn Jones que pretendia, com o resultado em 16-13 e com tempo de jogo suficiente (30'), chutar aos postes no que foi contrariado pelos "seus chutadores" - Halfpenny e Biggar - que decidiram, ignorando o que dizem as estatísticas para um zona de fácil êxito, procurar um alinhamento a 5 metros da linha de ensaio. Depois do que se viu, incluindo a selecção de George North sem um mínimo de condições e de novo a saída de Moriarty para entrar um Faleteau ainda sem capacidade para ser uma mas valia, Gales tem que mudar. De técnicos e de modelo.
Como curiosidade e provável consequência do modelo actual, Biggar parece desconhecer a necessária geometria do jogo-ao-pé ao utilizar a direcção mais longa para realizar pontapés de penalidade para fora - o abertura italiano, Tommaso Allan, também o fez. Mas se neste caso o cansaço pode ser a razão da pouca clareza, no de Biggar será o de um modelo pouco exigente - que, aliás, já fez a derrota contra a Inglaterra.
Por outo lado a França demonstrou em Dublin que, por maior que seja o esforço de Guy Novés, vai levar muito tempo a conseguir uma equipa com a destreza técnica que permita tirar parido das condições físicas que os jogadores franceses apresentam. Um momento ou outro em que se percebem tentativas de jogo de acordo com os princípios do rugby de movimento não são suficientes para dar à equipa da França a consistência necessária para se impôr como equipa de nível internacional elevado.
Mais uma vez a Inglaterra - sem ter jogadores da melhor qualidade (pelo que se tem visto poucos serão os que constituirão a primeira equipa dos Lions) - conseguiu vencer na parte final do jogo depois de demonstrar enormes dificuldades, nomeadamente sempre que os italianos não faziam o esperado - como quando decidiram não se opôr, de acordo com as Leis do Jogo, às placagens, evitando a construção dos habituais rucks. As razões desta capacidade de impôr uma impressionante pressão com a aproximação do final do jogo estão, de acordo com Eddie Jones, nos conhecimentos adquiridos no manual de José Mourinho e nos conhecimentos da "periodização táctica" transmitidos pelo espanhol Villanueva e desenvolvidos pelo português Vítor Frade e que estabelecem um princípio de treino que, não dividindo as componentes em acções independentes, se realiza em níveis de intensidade muito superiores às necessidades do jogo normal, levando a menos tempo de treino mas com muito maior velocidade de acção e decisão. Com este sistema a coesão da equipa e a sua eficácia, à medida que o tempo passa - 43% de posse da bola na 1ª parte contra 61% na segunda - e os adversários vão ficando exaustos, aumentam a diferença e deixam o adversário sem capacidade de resposta. 
Mas interessante, interessante nesta jornada, para além do ensaio de levantar o estádio do italiano Michele Campagnaro, foi o inteligente recurso da Itália de O'Shea a uma interpretação das Leis do ruck que, surpreendendo, criaram enormes dificuldades à Inglaterra. Mas já muito pouco inteligente - em nítida montagem de mind games para os jogos que faltam - terá sido a reacção de Eddie Jones ao considerar que estes recursos se traduzem numa postura anti-rugby. Como se os Davides tivessem outro recurso para derrotar os Golias que não a inteligência e a surpresa. Mostrar a indignação que Jones mostrou e que contaminou George Ford, acusando os italianos de utilizaram processos pouco éticos e destruidores do rugby em simultâneo com a exigência à World Rugby da imediata mudança da Lei, não é próprio de quem tem sido, pelos seus processos e procura de novas soluções, considerado um percussor e reunido as atenções de muitos dos seus pares. Tanto mais que este processo é conhecido - para além do XV já foi utilizado pelo Sevens -  e segue o mesmo caminho do já feito para evitar os mauls penetrantes ou a exploração da Lei para aumentar o número de jogadores do alinhamento - como fez a Escócia contra a Irlanda - num procedimento conhecido há mais de vinte anos.
Sendo o "músculo" mais importante de um jogador de rugby o seu cérebro, impedir o recurso à inteligência como forma de equilibrar desvantagens tornará o jogo de rugby num mero combate de força física com vencedor antecipado. O que tirará, isso sim, todo o interesse ao jogo.

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