segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

DEVER CUMPRIDO

O vinte-e-três de Portugal, utilizando, sobre a maior corpulência dos adversários, a inteligência e capacidade técnica - conhecidas como armas vencedoras desde a vitória de David sobre Golias, fez o que lhe competia: ganhar por mais de 15 pontos de diferença - garantindo assim o máximo coeficiente na pontuação do ranking da World Rugby - e atingir o mínimo de 4 ensaios para garantir 1 ponto de bónus. Dever cumprido!
Com uma diferença de 25 pontos, o resultado de 35-10 ultrapassa o resultado previsto (16 pontos de diferença) e, ao creditar a partilha de pontos marcados em 75%, demonstra de forma indiscutível a superioridade portuguesa.
Ao contrário do que se poderia pensar, os avançados portugueses não tiveram qualquer problema no confronto com os seus adversários directos - nomeadamente nas formações ordenadas ou mauls penetrantes. O facto da Polónia ter a mais o equivalente a um jogador no seu bloco de avançados não lhe deu grande vantagem - apenas conseguiu, na meia-dúzia de tentativas, um ensaio no empurrão da formação com a bola transportada. Com uma falta absoluta de sincronismo, a formação polaca permitiu que a defesa conjunta dos avançados portugueses, numa clara demonstração que a coesão colectiva se sobrepõe à mera força, se superiorizasse na maior parte das situações. Ou seja, aquilo que se poderia temer da maior corpulência polaca não resultou em nenhum particular desgaste português.
Feito o jogo e a vitória com os resultados pretendidos, vale a pena olhar, sem entusiasmos desmedidos, para a produção portuguesa.
Contra uma defesa que não conseguia organizar a sua defesa profunda - não havia linhas defensivas de cobertura - os jogadores portugueses conseguiram encontrar os espaços de penetração que permitiram ultrapassar a linha de vantagem por diversas vezes para além daquelas que permitiram a marcação de 5 ensaios. Mas houve ainda muito desperdício: uns por individualismo escusado; outros por falhas técnicas pouco admissíveis e resultando em erros não forçados demonstrativos de menor consistência. Demonstrando assim a diferença a que ainda se encontra do nível que se pretende atingir.
A regra das coisas é simples: é da responsabilidade do jogador que apoia o portador da bola e enquanto jogador que não pode ser directamente pressionado ou incomodado, criar as melhores condições para a eficácia do passe que liga os dois jogadores. O que exige quer a abertura, através da adequação da velocidade, de uma linha de passe e ainda a aproximação ou distanciamento do portador da bola de acordo como a situação se apresente. Ou seja: as linhas de corrida dos apoiantes devem ser convergentes ou divergentes mas quase nunca paralelas. Ora os jogadores portugueses mostram grandes dificuldades na execução deste simples gesto técnico que depende  muito mais da atitude táctica competitiva do que de alguma especial capacidade técnica. Foram perdidos, para além daqueles desperdiçados por individualismos egoístas e vaidosos, alguns ensaios que construiriam um resultado condizente com o valor demonstrados pelas duas equipas no Jamor. E que colocaria, na relação com os restantes adversários, alguns pontos nos iiis.
A equipa da Polónia foi uma decepção e mostrou-se muito abaixo das capacidades de uma equipa com pretensões. As dificuldades competitivas demonstradas, podendo estar relacionadas com as dificuldades conhecidas para a realização de jogos e treinos, são demasiado visíveis para que possa ultrapassar uma mera vontade sem efeitos práticos. Mas, mesmo que tudo melhore, aquele modelo de jogo alicerçado numa visão sul-africana ultrapassada não os levará a qualquer lado significativo.
Quanto ao "quinze" de Portugal terá ainda, para que possa continuar a perseguir os objectivos a que se propôs, que alterar bastantes conceitos do seu processo. Começando desde logo por um aumento da intensidade dos seus treinos para permitir uma adaptação mais eficaz aos momentos cruciais do jogo e possibilitar o domínio dos tempos de posse de forma a que se traduzam na conquista de terreno e na conquista de terreno contra adversários de uma outra valia. E para que o jogo de continuidade possa ser mais eficaz exige-se uma muito maior velocidade de disponibilização da bola no jogo no chão. Tratando-se de uma manobra que tem que fazer parte do ADN da equipa - a sua corpolência pouco elevada obriga, para garantir a continuidade do movimento, a passar pelo chão em situações de impasse - é necessário garantir, ao contrário do que se passa na maioria dos momentos, que a bola seja disponibilizada ANTES da defesa adversária se recolocar. O que exige uma forma dustinta de encarar o jogo por parte dos médios, esses pautadores dos tempos e ritmos do jogo e responsáveis pela incerteza defensiva adversária.
Por outro lado, o jogo ao pé necessita de ser mais objectivo com propósito ofensivo mais claro para que seja possível transformar situações de jogo, alterando o campo de sujeição para dificuldades ao adversário. E a regra aqui também é simples: fazer funcionar o princípio da manta curta e explorar a área descoberta do adversário - porque uma estará sempre descoberta. O que implica melhorias na capacidade de leitura colectiva e sincronia na perseguição.
Tudo isto porque, de acordo com os resultados, a Holanda - próximo adversário - é superior a esta fraca Polónia.

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