domingo, 24 de setembro de 2017

ERRO DE PALMATÓRIA!

As recentes alterações das Leis do Jogo - Leis Experimentais 2017 - têm como objectivo simplificar o jogo, diminuir a confusão de jogadores e espectadores e aumentar a continuidade da utilização da bola. Iniciadas a partir de 1 de Agosto passado ainda não existem dados suficientes de julgamento mas, por aquilo que se tem visto nos jogos dos diversos campeonatos europeus - no hemisfério sul só entram em vigor a partir de 1 de janeiro do próximo ano - tudo tem corrido sem queixas ou atrapalhações de maior.
Um das alterações diz respeito - um pouco à semelhança do que já aconteceu, embora com pouca duração, quando se experimentou o inicio de fora de jogo mal a placagem estivesse consumada - à formação do ruck após placagem. Naturalmente que, sem placagem, continua a existir a velha regra de um-contra-um em contacto e com a bola no chão e no meio deles.
A nova lei experimental que vem substituir a anterior sobre o ruck - Lei 16 -  reza assim: 
Um ruck começa quando pelo menos um jogador está em pé e sobre a bola a qual se encontra no chão (placado, placador). Neste momento criam-se as linhas de fora de jogo.  Um jogador de pé pode tentar, com as suas mãos, apanhar a bola desde que o faça imediatamente. Com a chegada de um jogador opositor deixa de se poder usar as mãos. 
De acordo com a normal interpretação - Lei 11.2 Jogador colocado em jogo por acção de um companheiro de equipa - os jogadores que se encontrem em fora-de-jogo após a criação das respectivas linhas e que, paralelas às linhas de ensaio, passam pelo último pé quer do jogador placado, quer do placador, só têm uma possibilidade (Lei 11.2(a)) de deixar de estar em fora-de-jogo: regressarem, sem qualquer tentativa de interferência, obstrução ou avanço sobre a bola ou adversários, ao lado do seu campo e para trás da linha de fora-de-jogo (Lei 16.5); aí chegados podem então participar, de novo e plenamente, nas acções do jogo. E isto é assim porque como define a Lei 16: Quando tem lugar um ruck, o jogo geral termina. O que significa que quando está formado um ruck são as leis deste domínio que comandam a acção, definindo que um jogador deve recuar para trás da linha que passa pelo último pé dos companheiros integrados no ruck, podendo então e através da porta juntar-se-lhe, ligando-se, ou manter-se ao largo. De qualquer outra forma estará fora-de-jogo e sujeito a penalizar a sua equipa com um pontapé de penalidade.
O chefe dos árbitros, Allain Rolland, a explicar as novas Leis
Tudo parecia estar a andar bem. Houve documentos explicativos, árbitros mais conhecedores a demonstrar e foram feitas as decomposições necessárias para que se pudessem perceber as situações críticas que determinam a existência ou não de faltas.
Neste caminho em que tudo parecia percebido e que estava a começar a permitir aos treinadores descobrir e experimentar tácticas adequadas à nova exploração das situações, surgiu - num programa da responsabilidade da World Rugby e emitido muito recentemente pela Sport TV - um filme sobre a placagem e as linhas de fora-de-jogo - que, acrescentando coisas àquelas que se podem ler nos documentos oficiais, veio lançar uma enorme confusão e destruir o trabalho anterior de clarificação. Porque, para além da oficialização World Rugby, tinha como explicador o “chefe mundial” dos árbitros, o irlandês Alain Rolland. Ou seja, uma autoridade inquestionável…
…que, no entanto, cometeu um erro de palmatória!
Nesse filme que pode ser encontrado no Youtube (ver aqui a partir dos 7:32 minutos) o árbitro Allain Rolland ao pretender explicar as acções permitidas e proibidas da nova lei do ruck, ignora a determinação de que, a partir do início de um ruck - Lei 16 repete-se - deixa de se considerar haver jogo geral e resolve puxar da Lei 11.3 - Jogador reposto em-jogo por acção de um adversário para declarar que os jogadores em fora-de-jogo (os jogadores de azul na foto) serão postos em jogo se o adversário portador da bola a passar, pontapear ou correr 5 metros com ela.  
Ou seja: um disparate! Porque, para além do erro metodológico apresentado, não faria qualquer sentido alterar uma lei para garantir a impossibilidade de repetição do comportamento dos italianos - não criar contacto no ruck e, assim, impedir a criação de linhas de fora-de-jogo - no último 6 Nações para permitir o mesmo ou pior - com a interpretação de Rolland qualquer treinador indicaria aos seus jogadores que não se retirassem da posição de fora-de-jogo para esperar uma acção do adversário que os pusesse em jogo e assim lhes desse vantagem de intervenção.
A única coisa desta pedaço da intervenção - que se não for imediatamente anulada pela World Rugby irá criar enormes confusões - é o entendimento que faz sobre a cobertura da bola, obrigando ao avanço de um pé para lá da bola o que garante uma posição mais estável para suportar o embate de qualquer adversário que venha ao contacto e que, julgo, permitirá melhor quer a árbitros, quer a jogadores, uma noção mais exacta do momento de início do ruck. Mas a exigência de voltar a recuar o pé para apanhar a bola não passa de outro disparate - ignorando até o 1º princípio fundamental do jogo de Avançar Sempre!. Este vídeo veio opor à clareza pretendida desta fase do jogo uma enorme confusão - como irão os árbitros por esse mundo fora proceder? Cada um à sua maneira? 
No final de tudo isto o que espanta é a saída certificada de um vídeo com este erro de palmatória. 
Que organização é esta?

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