quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009




quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AINDA A DATA DAS ELEIÇÕES

A vinda a público do Presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Rugby (PAG) para explicar a sua escolha da data eleitoral é gesto que se saúda. É um bom princípio. Para além de nos dispensar da informação do “Esclarecimento sobre a convocação de eleições” da autoria do candidato pela oposição que, julgo - por não lhe competir marcar ou convocar mas apenas concorrer - é perfeitamente descabido.
No entanto a Breve nota sobre o fundamento [...] do PAG, fundamenta pouco – até pela confusão que estabelece entre pretensos compromissos de terceiros com pretensas decisões da nova AG – e não muda a opinião que mantenho: a decisão de marcação da data é irresponsável!

Porquê? Porque – desviando as atenções do essencial para o mundo dos pequenos interesses – perturba aquilo que é o objectivo actual mais importante do rugby português: o apuramento para o Mundial da Nova Zelândia. E essa perturbação pode ter consequências graves como é exemplo a imensa perplexidade provocado pela gratuitidade do recurso à frase-assassina“A selecção nacional é um projecto pessoal de Tomaz Morais” – proferida pelo candidato da oposição. O clima está toldado, como seria previsível acontecer. E, claramente, o cumprimento escrupuloso dos deveres que lhe foram confiados que reivindica o PAR, deveria traduzir-se – uma vez que estatutariamente nada o obrigou – no bom senso da marcação das eleições para o final da época. O resto é retórica.

Como é retórica essa estória dos clubes em vias de definhar por uma política de destruição de clubes. O eventual definhamento de clubes – de que vejo apenas a consequência prática de resultados competitivos muito maus – traduz a prática interna de cada um (até há quem definhe cheio de estrangeiros…) e a falta de análise e percepção das causas. Mas a solução não será nunca encontrada com a aplicação da receita do “caranguejo português” – puxar para baixo quem quer subir. A solução estará sempre no questionamento da sua envolvência e participação – tipo/qualidade/existência de formação, qualidade dos treinadores, organização interna, lutas intestinas, objectivos, interesses, etc., etc.

Conhecendo os seus pontos fortes e fracos, estabelecendo uma visão realista das capacidades, percebidas as necessidades, perspectivando caminhos possíveis e estabelecida uma estratégia de concertação, será então altura de apresentar à Federação um plano e uma programação, procurando obter – dentro dos meios disponíveis e dos planos aprovados – os possíveis apoios necessários. E deverá ser assim porque, não sendo os clubes todos iguais, também não há receituário comum – não pertencem ao mesmo mundo clubes que têm atletas que treinam por dia um determinado número de horas e clubes que treinam essas mesmas horas por semana.

Quer dizer que não podemos todos jogar rugby? Não! Quer precisamente dizer que todos podemos jogar – mas ao nível das nossas capacidades e com a maior equidade possível.
Se olharmos para o resto do mundo – aquele mundo que tem cultura desportiva e rugbística desenvolvida – veremos que as diferenças perante distintos objectivos, condições e capacidades, estão definidos: de um lado a elite do alto rendimento; do outro, o conjunto de equipas que se posicionam no rugby de lazer, do jogar por puro entretenimento (o modelo francês, mesmo com enorme área de rugby amador, ao exigir uma massa crítica impossível para nós, é impraticável).

É errado tomar o conceito de clube como um todo homogéneo e ignorar as diferentes expressões desportivas. Deve falar-se de clubes conforme as suas capacidades e perspectivas competitivas. Agrupando-os por afinidades e procurando, cada vez mais, encontrar novas formas de enquadramento de competições diferentes do já gasto modelo actual e que se adequem às realidades associativas. Porque só assim é possível fazer progredir a competição e aumentar o número de praticantes da modalidade. O tudo no mesmo saco da treta demagógica de pretensos direitos e igualdades competitivas, para além de confundir e nivelar negativamente objectivos, impede a procura da excelência.

Lembro de novo: o único compromisso a honrar por um Presidente da Assembleia Geral diz respeito à garantia da correcta aplicação dos estatutos. Actuando sempre que eles estão em causa ou que uma eventual crise grave esteja em vias de desacreditar a modalidade ou a instituição. O resto, também aqui, é retórica.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

ULTRAPASSAR A LINHA DE VANTAGEM

Fui ver o CDUL-Belenenses. Jogo fraquinho com excepção do momento “rugby” do ensaio do CDUL e a excelente atitude, também do CDUL, que garantiu,na vantagem do combate defensivo, a vitória nos últimos minutos. Quanto ao resto, fraco. Jogo pouco dinâmico, defesas a garantir confortavelmente e apenas a sua obrigação, muita bola pelo ar num nexo demonstrativo de incapacidade colectiva de soluções. Enfim, nada entusiasmante.
A editora do Rugby World, Sarah Mockford, escrevia no último número da revista que “a qualidade do rugby actual é baixa e os adeptos começam a afastar-se” e o nosso rugby também não foge a esta regra – com um problema pior: não tendo muitos adeptos, assim não conquista mais; sujeito a enorme concorrência de outros desportos, perdendo os que tem, perder-se-á também enquanto desporto de alto rendimento.
E o mais preocupante de tudo foi, de novo, a demonstração da incompreensão da importância da relação do jogo com a Linha de Vantagem. O que representa uma falha grave na cultura táctica exigível a jogadores da elite interna do rugby português.

Começando pelo princípio. O que é a Linha de Vantagem (LV)? É a linha imaginária paralela às linhas de ensaio e que passa pelo ponto onde a bola está colocada para reinício do jogo ou onde se encontra nos ponto de quebra do movimento. Para que serve a LV? Para definir, como uma espécie de linha de fronteira, os dois territórios pertencentes às equipas em confronto. E que importância tem isso de reconhecer a dimensão dos dois territórios? Sendo o rugby um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno, a entrada no território adversário, medida pela ultrapassagem da LV, traduz vantagem e significa a conquista procurada. E que importância tem isso de conseguir vantagem pela conquista de território? Primeiro, coloca-nos territorialmente mais próximo de um importante objectivo do jogo, o ensaio; depois permite-nos desequilibrar a defesa que se vê colocada em inferioridade numérica e a perder qualidade posicional – a sua organização defensiva vê-se confrontada com a totalidade da equipa atacante porque há membros da equipa defensora ultrapassados pelo movimento da bola, encontrando-se assim em posição de difícil intervenção. Mantendo a continuidade do movimento – porque o apoio é mais fácil e a pressão superior – o ataque garante a sua vantagem, explorando a desorganização defensiva.
Portanto, o ataque à LV é uma questão estratégica do jogo de rugby – não é possível marcar ensaios sem conquistar terreno.

Assim sendo, é preciso que a cada conquista de bola corresponda um propósito de ultrapassagem da LV. Que deve ser feito de acordo com a movimentação da defesa e em adaptações sucessivas e pertinentes, começando logo no primeiro momento – é preciso jogar próximo da LV para atacar a defesa, não a deixando adaptar-se ou desdobrar-se.


Jogar como o fizeram as linhas atrasadas do CDUL e Belenenses, longe da LV, passando a bola para o lado sem avançar no terreno, deixando a defesa desmultiplicar-se confortavelmente, pode parecer “muito jogo” mas não difere da regra burocrática clássica: muito movimento para nenhuma produtividade. E a solução para o problema encontra-se logo na colocação do abertura e no seu arranque e na direcção do passe do formação – não é muito inteligente, excepto para jogar ao pé, ter conseguido uma posição no terreno e depois passar a bolas metros para trás para tentar de novo chegar ao ponto de onde já se partiu…E existe uma norma que os campeões reconhecem: há sempre mais espaço do que aquele que parece.

De tudo isto resulta também que a defesa e a sua organização dependem do posicionamento dos adversários – não se sobe da mesma maneira para um ataque em linha ou para um ataque em profundidade. Tão pouco para a cobertura do terreno ou o corte de ligações dos grupos atacantes. Mas no jogo que vi era indiferente para as defesas a forma como os ataques se desenvolviam – por isso as recuperações (turnovers), conseguidos na zona neutra dos equilíbrios defesa/ataque, pouco perigo representaram.


O jogo de rugby é fácil: exige conquista da bola, conquista de terreno para desorganizar a defesa, apoio para continuar o movimento, exercendo a pressão permanente - numérica ou espacial - da vantagem até tão próximo quanto possível da linha de ensaio. Numa também permanente construção activa - da superioridade numérica ou espacial - e não à espera do erro de palmatória do adversário.

O problema do ataque à LV não se reduz, infelizmente, a este jogo. É uma constante negativa do rugby português que obriga a compreender e treinar a noção da relação directa entre o uso da bola e Linha de Vantagem. De outro modo não haverá progresso eficaz.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SEVENS NOS JOGOS OLÍMPICOS

A entrada do Sevens nos Jogos Olímpicos – primeira presença, Rio de Janeiro 2016 – parece ser uma coisa boa e que merece os nossos aplausos uma vez que, parece também, abre uma oportunidade única para o rugby português. Será?!...

Os Primórdios. As receitas da IRB, ao que julgo, resultam principalmente das transmissões televisivas e outros direitos dos jogos – quase sempre de forma indirecta – realizados entre as equipas qualificadas nos 10 primeiros lugares do ranking mundial – 6 Nações, Tri-Nations e Mundiais, de onde lhe virá o grosso da capacidade financeira. Com essas receitas, a IRB alimenta o rugby mundial, nomeadamente os países emergentes como nós, comparticipando em deslocações, torneios, equipamento ou mesmo apoiando a presença de treinadores.
Acontece que à medida do desenvolvimento competitivo e dos interesses em jogo os fazedores de receita começaram a pretender uma maior participação com a consequente exigência de menor distribuição, assim traduzida: somos nós que fazemos receita, queremos pagar melhor a mais dos nossos jogadores – já no Mundial de França, Portugal não foi contemplado com qualquer prémio de presença, mesmo enchendo estádios…
E aí, os países emergentes – essa longa cauda de pesos mortos que, no entanto, servem para justificar o carácter global da IRB – percebendo a perda dos apoios financeiros decisivos para o seu desenvolvimento, iriam mostrar o seu desagrado. (À parte: nunca percebi, salvo pela notável política de dividir para reinar da IRB, porque é que não se criaram associações de interesse dos pequenos…)
Se melhor o pensaram, melhor o fizeram. Temos o SEVENS (então 7’s) e se o conseguirmos colocar nos Jogos Olímpicos, teremos algo valoroso para oferecer e assim sossegar a eventual irritação dos emergentes. Porquê o Sevens e não o XV, poder-se-á perguntar? A razão é fácil de perceber se tivermos em conta as questões económicas e financeiras: as grandes receitas realizam-se com os jogos de XV e deixar que esse retorno financeiro pudesse ser partilhado com o COI era ideia para NUNCA deixar avançar – daí que as propostas para que nos Jogos houvesse torneios de sub-23 (como foi proposto nomeadamente pelo representante europeu, Raul Martins) fossem enterradas à nascença.
O Sevens parecia ser uma óptima solução: desenrola-se em 2/3 dias, não assustando as organizações olímpicas; mantem as receitas do XV e a sua distribuição sob controlo da IRB; aumenta a visibilidade da modalidade; permite calar o rugby emergente pela doçaria proposta; e não abre qualquer brecha por onde, no futuro, pudessem entrar tentações de levar o XV aos Jogos.
E o problema para os países emergentes de verem os seus governos imporem – deixando o XV entregue a si próprio – apoios apenas para a variante era, na estratégia desenvolvida, um não-problema (serviria até para aumentar a apetência pelo bolo oferecido).

Feita a campanha – um bom trabalho de marketing, diga-se – e convencida a assembleia olímpica, o Sevens é dado como modalidade para os Jogos do Rio de Janeiro de 2016. Tudo ouro sobre azul...

...não fora um erro de avaliação por parte da IRB.

Um erro de avaliação. Tão contentes terão ficado com a descoberta das possibilidades proporcionadas pelo Sevens, olhando tão para si próprios – Sevens é o modelo Mundial, ponto! - que, esquecendo-se que quem manda nos Jogos Olímpicos é o Comité Olímpico Internacional, não souberam medir as consequências de ser também o COI a decidir no rugby olímpico.E decidiu assim e de imediato: fim do Campeonato do Mundo de Sevens e, porque o mundo olímpico é simétrico em género, aceitação de 12 equipas masculinas e 12 femininas – com a distribuição geográfica habitual.
Ou seja, do sonho de uma super prova que permitisse, mesmo no silêncio de um sorriso, o remate lapidar de que mais querem? já têm os Jogos Olímpicos, surgiu uma mão cheia de nada – 1 equipa pelo país organizador, 3 pela Europa e 2 por cada um dos outros continentes – Oceânia, Ásia, América e África. Doze!
E são estes os Jogos Olímpicos de Sevens que se perspectivam.

E Portugal, que caminho? Mesmo se, olimpicamente, as federações britânicas são representadas pela Grã-Bretanha (o que afasta, desde logo, dois adversários) o panorama não é risonho. Porque, tratando-se da variante simplificada de 7, diversos países de grande e superior cultura olímpica, nomeadamente nos desportos colectivos, irão fazer os investimentos necessários para se apresentarem nas provas de apuramento à altura da qualificação, dificultando, em muito e naturalmente, as nossas possibilidades de qualificação. O Sevens não tem a complexidade do XV para estruturar equipas internacionalmente capazes - veja-se o exemplo e a posição do Quénia (40º lugar no ranking de XV) e o primeiro ar de graça que a Rússia mostrou recentemente e que traduz um objectivo programa já em execução.

Presente envenenado?! Habituados como estamos a deixar que seja a sorte dos deuses a decidir e reduzidos à expectativa de um de dois lugares, como definir a estratégia que nos permita ter um mínimo de possibilidades de êxito?
No fundo, a entrada do Sevens para os Jogos Olímpicos não passa, muito provavelmente, de um presente envenenado. Por um lado porque vemos desaparecer o Campeonato do Mundo onde, dado o número de participantes e a relativa importância conferida pelos apoios dos países emergentes, teríamos normalmente lugar e a garantia da visibilidade necessária por boa figura; por outro, porque, tratando-se dos Jogos Olímpicos, existe um aumento de concorrência que a cultura olímpica de diversos países traduzirá, trazendo mais equipas, a curto prazo, para a ribalta da variante.

Neste enquadramento e com as dificuldades de desenvolvimento desportivo generalizado – e portanto também da particularidade rugby – que o país sempre mostrou, não vejo grandes hipóteses de êxito numa aposta em duas frentes. O que significa que, estando nós, portugueses, mais avançados do que outros países europeus – onde a prática de desportos colectivos é mais desenvolvida – numa modalidade mais complexa e onde o acesso ao alto nível se traduz em maiores dificuldades – falo do XV - a Portugal e à sua Federação não se mostra melhor caminho que apostar preferencialmente no rugby de XV e deixar o Sevens como modalidade residual. Porque qualquer tentativa para colocar o Sevens em condições de acesso às Olimpíadas significará, pelo enorme esforço financeiro, organizativo e competitivo, um decréscimo, por exaustão, na qualidade do XV. Porque andaremos atrás de duas a voar em vez de nos contentarmos com uma na mão.

De facto, não penso que o Sevens olímpico seja para nós. E não gostaria de ver o XV a ir cano abaixo...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

SEVENS E XV

O jogo de Sevens – porque, embora essencialmente de passes, permite a placagem, o ruck ou o maul – é um jogo de bola com contacto; o jogo de XV – porque para a criação de desequilíbrios exige avançar no terreno – é um jogo colectivo de combate. No primeiro interessa a posse da bola; no segundo, a conquista de terreno. O primeiro resolve as questões no limite da táctica; o segundo exige o recurso à estratégia.

No Sevens os princípios do jogo exigem manutenção da posse da bola – mesmo que seja preciso recuar. No XV, os princípios do jogo exigem avançar mesmo sem bola.

Para o Sevens são precisos jogadores rápidos, fortes no contacto, capazes no 1x1 e no jogo de passe. No XV são precisos jogadores também tecnicamente capazes no contacto, no passe, mas com superior capacidade de leitura e decisão. E com uma exigência suplementar de jogo ao pé.

A questão da posse da bola versus conquista de terreno, resultando do número de jogadores dentro do campo – 14 contra 30 para uma mesma área – faz toda a diferença e modela o nível de exigências de um e outro caso.


No Sevens o espaço está lá – é uma questão táctica atacá-lo; no XV o espaço precisa de ser criado – é uma questão estratégica saber como fazê-lo (forte contra o fraco, exploração dos momentos decisivos, engano, etc.).

No Sevens os chamados avançados só o são num faz-de-conta de conquista da bola – nas formações ordenadas, sem pressão atrás, um mínimo de técnica permite, a qualquer terceira-linha ou centro capazes, imitar um pilar; com a possibilidade legal de levantar o saltador, qualquer um que seja coordenado pode conquistar a bola nos alinhamentos. No XV, o caso muda de figura e existe um factor decisivo chamado cinco-da-frente constituído por dois pilares, um talonador e dois bases. Sem eles, é impossível ganhar um jogo contra uma equipa decente.

Confundir um jogo com o outro traduz-se sempre na ineficácia ou incapacidade de o jogar.

Tratando-se de jogos diferentes, são jogados por jogadores com características diferentes – só muito raramente, nos tempos de hoje, um jogador pode estar ao mais alto nível em ambos os registos e a tendência será para especializar: cada vez menos bons jogadores de XV serão eficazes no Sevens; cada vez menos jogadores do Sevens estarão confortáveis no XV.

Claro que haverá gestos – aparentemente – comuns: a placagem, o passe, a finta, o pontapé. As aparências de formação ordenada e alinhamento para manter as referências de filiação, continuarão. A maior parte das regras, também. Mas os jogos serão cada vez mais diferentes. E os jogadores também.

Com a entrada da variante para os Jogos Olímpicos fará mais sentido proceder a uma separação organizativa – mesmo mantendo o mesmo tecto federativo – das duas formas de jogo. A questão central que se coloca será a de saber qual a dimensão de desenvolvimento quantitativo que permite a divisão. Ou então a presença na variante será feita através de um único núcleo de 25/30 jogadores que terão a missão de representar Portugal nas diversas provas de Sevens que se forem realizando pelo mundo fora e utilizando o próximo futuro torneio de sub-20 da FIRA-ERA como rampa de lançamento e espaço de definição.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

DO TRIÂNGULO AO QUADRO

A Associação de Rugby do Sul, numa excelente iniciativa, abriu no seu site uma rubrica que designou por A LEI DO MÊS, criando assim um espaço para melhor dar a conhecer as Leis que regem o jogo de Rugby.
A primeira intervenção coube a Tiago Sousa e Silva, Presidente da Associação Nacional de Árbitros de Rugby (ANAR), que escreveu sobre o Triangulo de Ouro, tratando dos três conceitos que reputa de essenciais para a boa arbitragem: SEGURANÇA, EQUIDADE e LEI.

Se o primeiro ponto – garantir a segurança dos jogadores - é decisivo e não coloca qualquer objecção para a sua aceitação, já a interpretação que desenvolve para o segundo apenas pode, como penso, ser aplicada em jogos de pouca ou nenhuma importância competitiva. A equidade que se exige na competição de alto rendimento, longe de ser a maneira de “deixar jogar como os jogadores queriam e sabiam”, só pode significar que se mantém – em qualquer circunstância – a mesma postura e idêntica interpretação para situações similares. Ou seja: que o árbitro actua de forma coerente. Sendo assim e então ”justo para ambas as equipas” como pretende o autor. E todos terão a ganhar: os jogadores, porque conseguem adaptar-se e expressar as suas capacidades; o árbitro, porque, aplicando a linguagem universal das Leis do Jogos, cumpre capazmente o seu papel de 31º elemento e garante a relação competitiva com terceiros; os espectadores, não se sentindo defraudados, divertem-se mais.

As Leis do Jogo constituem o conjunto de normas - o quadro de referência - que define o jogo e o torna singular e como tal têm que ser respeitadas na sua letra e espírito por todos os intervenientes. Lembro de novo a juíza americana do Supremo Tribunal, Sónia Sottomayor, e cito: a tarefa de um juiz não é fazer a Lei, é aplicar a Lei. Aos árbitros, enquanto juízes de campo, compete portanto aplicar as Leis do Jogo de acordo com o seu corpo e a sua articulação com o Código do Rugby. Da forma tão clara e evidente quanto possível.

Portanto, nesta matéria, considero que:
1º - As Leis do Jogo constituem o quadro de referência do jogo de rugby que o torna universalmente compreendido e jogável;
2º - O Código do Rugby, sendo parte integrante das Leis do Jogo, é o instrumento que define o espírito pelo qual a forma das Leis deve ser interpretada;
3º - A Segurança, fazendo parte integrante da prática desportiva em geral e, naturalmente do rugby em particular, tem permanente presença e prevalece em situações que possam pôr em causa a integridade física dos intervenientes;
4º - A Equidade, sendo a base fundamental do juízo e do uso das Leis do Jogo, é o instrumento qualificador da capacidade de arbitrar.

Daí que a minha visão, não se restringindo ao Triangulo de Ouro que TSS propõe, seja um conjunto mais amplo de relações e inserções como procuro traduzir no esquema que apresento.
Seja como for e para que nos entendamos todos: o jogo de rugby é só um, aquele que está definido no corpo das Leis do Jogo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ELEIÇÕES FEDERATIVAS

Li no site da Federação que o Presidente da Assembleia Geral decidiu determinar a convocação de eleições para o dia 8 do próximo mês de Janeiro. Não percebo, não vejo vantagens e ainda não sei a quem poderá interessar. Ao rugby português e aos seus compromissos e objectivos não é com certeza. De facto, definir uma data de eleições para o meio de uma época, em cima do início da temporada internacional onde o rugby português jogará a importância do acesso ao Campeonato do Mundo, não lembra a ninguém. Porque não sendo indiferente a relação com os compromissos que se encontram estabelecidos, mandaria o bom-senso que se considerasse – pela natural agitação que provoca - o momento eleitoral para depois do calendário internacional onde se jogam os principais objectivos competitivos do rugby português.

Não percebo, portanto, porque lembrou tal decisão ao Presidente da Assembleia Geral a quem cabe, fundamentalmente, zelar pelo cumprimento estatutário – não conheço nada que obrigue a eleições imediatas – e, no limite, que seja o garante da inexistência de abusos de poder – que também não conheço. Assim gostaria de ouvir publicamente do senhor Presidente da Assembleia-Geral a explicação, senão a justificação, da sua decisão para que não possa ficar a ideia que terá apenas correspondido a um qualquer interesse e que o seu cargo serve outras finalidades que as da melhoria e desenvolvimento do Rugby português. Fico à espera.

sábado, 12 de dezembro de 2009

NOTAS DO NOVEMBRO INTERNACIONAL

Foi o último, contra Tonga, o melhor jogo de Portugal. Tivemos mais bolas disponíveis, jogamos menos ao pé e colocámos menos profundidade no alinhamento dos três-quartos, embora nos mantivéssemos ainda distantes no momento decisivo de cada passe. E foi o melhor jogo não só porque, sendo o terceiro, já traduziu uma melhor adaptação ao nível internacional, como também pelas alterações realizadas – 1ª linha e médios – que permitiram que a equipa encontrasse uma maior estabilidade, uma capacidade de jogar sobre a Linha de Vantagem, uma maior capacidade atacante de adaptação ao movimento defensivo e uma maior rapidez – o passe de Emmanuel Ribeiro é tenso – no ataque da Linha de Vantagem, dificultando assim a organização defensiva adversária. Eventualmente também terá ajudado a menor pressão num jogo em que o pensamento, lá no fundo, não tinha maior exigência do que a de estar bem. E não estiveram mal, principalmente na primeira-parte, muito embora se possa também dizer que deixaram fugir a vitória.
Mas esta cruz que a necessidade permanente de adaptação ao nível internacional representa, que nos atrasa, que nos faz passar quase sempre ao lado de vitórias possíveis e que é resultante de um campeonato que nada tem de competitivo, tem, naturalmente, custos elevados como a derrota com a Namíbia – impensável face aos resultados de ambas as equipas nos últimos anos (o posicionamento no ranking IRB permitia considerar como normal uma vitória portuguesa por 17 pontos de diferença) – e que, fazendo-nos descer uma posição, nos retirou dos 20 primeiros lugares. O que deveria levar a pensar, de forma objectiva, na reorganização competitiva interna. Sob pena de vermos os outros a avançar e nós a regredir. Cito Malcom Gladwell (Blink!): “A eficácia depende da experiência que se viver em casos semelhantes.”. Ora se assim é, não há eficácia que surja da inexistência de experiência competitiva que o campeonato propicia.

No último jogo houve uma franca melhoria no jogo-ao-pé. Para além da sua menor utilização – o que significa deitar menos bolas fora – comparativamente com a Argentina A (um desperdício de bolas, cf. quadro JOGO AO PÉ DE BOLA NA MÃO), tendo sido feito com mais a-propósito, isto é, com objectivos tácticos evitando-se, desta vez, despachar a bola. Mas falta ainda muito para que o jogo-ao-pé seja de nível internacional – é normalmente curto e cria poucos problemas aos adversários que o recebem de frente e sem obrigação de grandes deslocações da sua zona confortável. Não fazemos, do nosso jogo-ao-pé, uma arma atacante, apenas um refúgio defensivo. Ora esta lacuna, tem naturalmente que ver com a formação – é preciso que aí haja, em todas as idades, treino de pontapé de forma adaptada sob pena de ficarmos à espera que apareçam milagres. Cito Leavitt e Dubner, autores do Freakonomics: “É assim, a prática leva à perfeição.”

A primeira-parte foi muito boa com um ensaio excelente a mostrar qualidades de jogo e movimento colectivo com bola e sem bola (o sucesso da finta-de-passe de Gonçalo Uva só é possível por haver companheiros bem lançados e em boa posição para continuar o movimento para o exterior), com ataque ao intervalo fixando adversários interiores e impedindo o deslizamento defensivo, numa explicação prática do modelo que Tomaz Morais pretende que seja o da selecção.

Pena foi que, na segunda-parte e com a reacção de Tonga trazida dos vestiários, Portugal tenha deixado de representar qualquer perigo – mais do que uma questão física, pareceu tratar-se de uma questão mental: pouca capacidade de reacção à pressão e atitude adversárias… e ganhou a equipa mais resiliente.

Falta pouco tempo para os jogos que qualificarão Portugal para o Mundial e há ainda muito trabalho a fazer. O que significa que as quatro primeiras equipas do campeonato têm, daqui até Fevereiro e nos jogos que vão disputar, de mostrar capacidades diferentes daquelas que lhes temos visto até agora. Porque de outra forma não conseguiremos chegar à Nova Zelândia e o carro que é preciso puxar não é trabalho de uma só junta…

Há erros que são intoleráveis a este nível. Porque as razões que os podem justificar – falhas de concentração, pouco espírito colectivo, desconhecimento ou erro táctico, incapacidade técnica – não são, a este nível, aceitáveis. Vejamos: não é aceitável que um ponta abandone o seu lugar, ainda para mais dentro da sua área de 22, e suba na defesa com a bola ainda sob controlo do abertura contrário. A razão é simples: subindo assim, num momento em que basculação do três-de-trás ainda não pôde ser realizada (defesa e outro ponta não podem ainda deixar o seu espaço de cobertura e partir para as compensações), abre-se, como se abriu, a porta para a colocação da bola no espaço vazio e permitir um ensaio grátis. E que diabo, já toda a gente viu que os aberturas não esperam outra oportunidade. Sabe-se da televisão e dos companheiros do campo.
Houve também falhas de placagem sem sentido, motivadas apenas pela falta de controlo da corrida e com a consequente perda dos apoios. Como se nunca se tivesse aprendido a construção da oposição defensiva. Como se fosse cada um por si.
Também não percebo a falta de apoio nas saídas da terceira-linha: a sequência 8,7,6 não aparece e o losango (com junção do 9), que permite atacar intervalos e passar a bola antes do contacto, não existe. Como também há uma enorme dificuldade em procurar os intervalos por parte dos três-quartos que acabam por bater na parede dos adversários em vez de utilizarem as portas de passagem para o outro lado. O axioma é simples: aquele que desafia a defesa não deve ser o penetrador. O que exige apoio próximo (por isso, como sempre achei, considero que o melhor posicionamento das linhas atrasadas, sendo 4+2 em defesa, deve ser 3+3 em ataque), linhas de corrida diferenciadas, mudança de direcções, num somatório colectivo muito superior à soma das capacidades de cada um. E exige também conquista de terreno (cf. quadro ULTRAPASSAGEM DA LINHA DE VANTAGEM). Porque a criação de fases sem conquista de terreno é como a burocracia: trata da máxima actividade num mínimo de produtividade.

Tudo isto levar a pensar – porque o esforço é grande para resultados pouco eficazes - se não é necessário mais campo, mais treino ao nível da técnica e da táctica. E menos ginásio. Para desenvolver a plasticidade e adaptabilidade da equipa às circunstâncias do movimento da bola e do adversário – que tão bem se viu na jogada que levou ao ensaio que já referi e que constituirá a arma mais poderosa para lutar contra russos e georgianos. E os jogadores têm que reconhecer as suas deficiências e trabalhá-las. Cito José Mourinho: “Um grande pianista não corre à volta do piano ou faz flexões com a ponta dos dedos. Para ser grande, toca piano. Toca a vida inteira. E ser um grande jogador não é correr, fazer flexões ou exercício físico em geral. A melhor maneira de se ser um grande jogador é jogar futebol.” Para o rugby, o mesmo. E como o campeonato não ajuda a jogar grande rugby - atingida a estrutura muscular necessária, botando um mínimo de corpo como se diz popularmente - há que encontrar outras e novas formas de desenvolvimento.

Jogar com Miguel Portela exige adaptações. E atenções. Miguel Portela é, demonstrou-o em campo, uma mais valia para a equipa portuguesa. Lê bem e depressa, corre riscos, cria situações difíceis para os defensores, apoia sempre os companheiros. Muitas vezes surpreende-nos (por isso sempre gostei de contar com ele a terceira-linha ou a ponta – lugares onde dispunha de toda a liberdade para agir, aparecendo onde era inesperado). Ora ele não está na equipa para não fazer aquilo que sabe: surpreender. Por isso, porque as suas capacidades se adequam à criação de desequilíbrios, os seus companheiros – no mínimo dois sempre de plantão - têm que ter uma atenção especial para poderem tirar proveito das situações que consegue criar. Porque elas não podem ser feitas com aviso prévio…e o clássico não é sempre a coisa mais eficaz a fazer. Trata-se aqui também de desenvolver as atitudes que são necessárias à personalização da equipa e ao modelo que, repito, Tomaz Morais definiu como sendo o da selecção.

Após estes três jogos, os dados estão lançados, as decisões tomadas. É necessário trabalho adequado – de que se salienta a absoluta necessidade de constituir e construir um cinco-da-frente capaz - consistente na revisão da matéria e com objectivos bem definidos no que diz respeito à garantia da sua eficiência. Aos jogadores compete a responsabilidade de garantir que a sua preparação se adapta às necessidades de ultrapassarem deficiências técnicas e tácticas. É para isso que serve o treino e a motivação de um jogador internacional não pode ser apenas a de vestir, mais uma vez, a camisola de Portugal.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ZERO-A-ZERO


É provavelmente um resultado único em jogos internacionais de Rugby. Foi um Itália-Portugal jogado em Padova, a 20 de Fevereiro de 1972 e que terminou empatado a zero.
Alinharam: Neto, José Augusto, João Carlos, Silvestre e Andrade; Toni, Gaspar Ramos e Raul Martins (cap.); Minhoto; Francisco Guedes, Nuno Lince e A. Cardoso Pinto; Gomes da Silva, Ramos Pinto e Bessa.
O jogo foi inacreditável. Na primeira jogada, pontapé de saída italiano, a bola - desconhecida, fabrico deles - voou, voou em trajectória estranha, sempre a fugir, e eles em desvairada corrida tipo bulldozer, a derrubar e limpar tudo o que apanhavam pela frente. Quando recebi o passe do Minhoto (era suposto conquistarmos a bola, não!?) estava no fundo da área de ensaio e já debaixo do bafo dos azzurri e dos gritos de um estádio cheio. Se ainda me lembro tivemos logo que preparar substituições – o Toni e o Andrade que se mantiveram em campo mais uns minutos apenas por rugbístico espírito de nobless oblige, deram lugar ao Ramos e ao Tomás Mayer (naquele tempo só havia duas substituições e com aval médico). Escapou da razia o José Augusto que, vendo as modas, se atirou para o chão e ficou-se a senti-los passar por cima. Ao Xico Guedes (abertura) só pedíamos que tentasse chutar as bolas – não havia muitas – para cima da cobertura do estádio para conseguirmos ganhar tempo e respiro. O Raul Martins, dentro da nossa área de ensaio, conseguiu agarrar um italiano com a bola, ficou por baixo dele e não o deixou virar-se para marcar. Épico! Como épicas foram as placagens que valeram tantas quantas as de dois campeonatos inteiros, com o Gaspar Ramos, exemplar, a correr o campo todo atrás de um qualquer portador de bola.

O César Pegado, que era o preparador físico (era assim que dizíamos na altura), montou umas palermices do tipo orquestra-de-instrumentos-vocais-de-sopro a entreter-nos num fungágá de brinde ao excelentíssimo público (fizemo-lo antes da entrada para os balneários) para que não pensássemos no jogo ou no adversário que tínhamos que enfrentar. Foi uma das sortes, com a inconsciência dos inocentes, batemo-nos como nunca e não perdemos – contra as expectativas italianas que nos arrasavam desde os jornais até aos cafés. Mas a outra sorte surgiu já na 2ª parte: estávamos arrasados e os italianos substituíram o formação – o que entrou era da casa, só ouvia aplausos, queria mais, quis brilhar e só fez disparates. Estragou-lhes o jogo e nós sobrevivemos. Azar, azar, só o árbitro, um romeno que roubou alarvemente – o Miramom, seleccionador (o Pedro Cabrita era o treinador) dava urros e murros no ar, ofendido com o desplante.
A noite comemorativa foi também grandiosa – um dia, voltarei a contá-la. O passeio por Veneza do dia seguinte, também.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DIREITO-BELENENSES

Fraquinho o jogo. Principalmente se tivermos em conta que se tratam de duas equipas (das quatro!) candidatas ao título. E foi tão fraco que ao intervalo o árbitro tinha apenas apitado duas penalidades para cada lado… o que, para um jogo colectivo de combate, dá logo ideia da pouca dinâmica de qualquer das duas equipas. E a ultrapassagem da Linha de Vantagem* também foi mínima – sete vezes para o Direito, duas para o Belenenses. O que demonstra uma fraquinha capacidade de utilização da bola com a consequência irremediável de despacho ao pé sem nexo.
Mas se tudo isto foi mau – para além de erros técnicos que já não são admissíveis neste nível – o que mais me desagradou foi o facto do Belenenses – clube com muito boa formação como mostram as capacidades de jogar das suas equipas mais jovens – se ter apresentado em campo com oito estrangeiros. Com excepção das exigências da primeira-linha - e no actual estádio - não me parece justificável o recurso a tantos não-nacionais num clube que se pretende formador. Confesso que percebo mal a estratégia. Mesmo que estejam jogadores nos Sevens ou lesionados. Não vejo quem possa ganhar com isso – nem o clube, nem o rugby português.

* a marcação da ultrapassagem da Linha de Vantagem é feita pela posição relativa no terreno entre duas interrupções do jogo (tipo futebol-americano). Ou seja, de nada serve – e não contará - ultrapassar a Linha de Vantagem se, quando de nova paragem de jogo, a bola se encontra atrás do ponto de onde partiu.

RUGBY NO FEMININO

A elegância do gesto

sábado, 5 de dezembro de 2009

O MELHOR ENSAIO DE SEMPRE



Hoje, 5 de Dezembro, jogam em Londres, num clássico cheio de tradições, os Barbarians e os All-Blacks. Em 1973 - há 36 anos atrás - os Barbarians fizeram o melhor ensaio de sempre - não me canso de o ver. Um praça-a-praça que começa em Phill Bennett e termina em Gareth Edwards com a participação de todo o colectivo. Vale a pena contar o número de passes, perceber como se forma o apoio, contar quantas vezes se forma o losango - esse ADN do rugby de movimento, qual o papel dos jogadores sem bola. Estas imagens são uma homenagem à interpretação dos princípios do jogo, à disponibilidade de participação e à excelência do jogo colectivo que o rugby é. Mas é também a minha homenagem a todos aqueles que conseguem exprimir o rugby de que gosto: o rugby de movimento

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DECLAN KINDLEY

“O meu papel é relativo. Na verdade, não me lembro de ter feito uma placagem…”
Declan Kidney, irlandês, seleccionador nacional da Irlanda, treinador do ano 2009 da International Rugby Board

O PROBLEMA FO

O treinador dos sul-africanos campeões do mundo,Peter de Villers, diz assim: se os árbitros nos pudessem explicar claramente o que está errado nas nossas formações ordenadas, nós poderíamos trabalhar esse sector e encontrar soluções. Mas se não nos explicarem, nós não saberemos o que fazer.
O treinador all-black,Graham Henry, acrescenta: penso que é preciso reflectir sobre a questão da formação ordenada. Não sabemos exactamente o que é ou não permitido e isto vai de mal a pior.

Jogadores, árbitros e treinadores – e o público em geral, naturalmente - não se entendem sobre as formações ordenadas e sentem-se sujeitos a uma espécie de lotaria que está a inquinar o jogo e o seu espírito. O que é grave e deve levar à exigência de soluções que permitam a construção do resultado de acordo com as capacidades demonstradas pelas equipas e não pela interpretação quase aleatória do árbitro. Algo parece estar mal nesta área do jogo mas um membro do comité executivo da IRB, Mike Miller – sem qualificações técnicas que o permitam – vem dizer ao mundo que está tudo bem e que nada há de errado no jogo.

É o mesmo problema de sempre: alguém sem qualificação fala e rege sobre o que não sabe. O sr. Miller não foge à regra e a IRB, feita máquina financeira, esconde-se numas vagas e lentas preocupações sobre o assunto. Tudo aparenta o melhor dos mundos e as necessárias alterações só vão aparecer quando o jogo estiver já deteriorado. Até lá serão as quedas, possíveis lesões, tempo perdido, espectáculo sem ritmo, maior desinteresse e...maior dificuldade em encontrar jovens disponíveis para a 1ª linha

E a questão resolve-se com uma mera, simples e fácil pergunta: quem é que sabe do que fala? Jogadores, treinadores, árbitros ou o burocrata da IRB? A escolha, de tão óbvia, não oferece dúvidas. Então porque não se calam os burocratas, ouvem o que têm que ouvir e recolhem – sem sofismas ou rodeios - as regras em concordância?

JOGO-TESTE

Vi, com óbvio agrado, que a etiqueta do França-Nova Zelândia na Sport Tv tinha escrito “Jogo-Teste” em vez do erro de “Jogo de Preparação”. Defendendo que a correcta linguagem – manias de treinador – estimula a correcta atitude, esta alteração só ajudará a comunidade rugbística a perceber o significado dos jogos internacionais de rugby: não são a feijões e correspondem a momentos importantes e indispensáveis de avaliação do sistema.

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