segunda-feira, 30 de julho de 2012

ERRO TÁCTICO?

Estavam jogados 72 minutos das meias finais do Super 15 entre os Stormers, a jogar em casa, e os Sharks que venciam por 23-16. Jogavam-se os últimos minutos de um jogo intenso e bem jogado e os Stormers já não contavam as fases em que estavam no meio-campo adversário à procura de pontos para, no mínimo, garantir o direito ao prolongamento. A defesa dos Sharks estava enorme mas a aproximação da linha de ensaio era uma cada vez maior ameaça: falta!

Penalidade contra os Sharks a cerca de sete metros da linha e em posição frontal. O capitão stormer decidiu ir buscar três pontos com a conversão do pontapé aos postes. Pensei: se fosse o capitão decidiria por formação-ordenada ou jogar-à-mão. Porquê?!

Pelas razões que fariam a sequência da minha tomada de decisão:

1. faltam oito minutos para acabar o jogo e estamos a 7 pontos: precisamos de um ensaio para ir ao prolongamento;
2. estamos implantados no campo deles, temos tido boa capacidade de manutenção da posse da bola e temos conseguido avançar no terreno: estamos a fazer uma excelente pressão;
3. se marcarmos a penalidade ficaremos a quatro pontos e teremos de marcar na mesma um ensaio ou de marcar com os pés por duas vezes;
4. se marcarmos a penalidade, eles têm a posse da bola e podem ocupar o nosso campo e nós vamos levar tempo a sair de lá em condições de controlo da bola;
5. se jogarmos, o pior que nos pode acontecer é continuarmos à distância de um ensaio;
6. se marcarmos o ensaio ficámos com o resultado encostado e com a confiança necessária para acreditarmos que ainda poderemos marcar outra vez e ganhar já o jogo;
7. marcando um ensaio, mesmo que a conversão falhel, ficaremos a 2 pontos que são ultrapassáveis, ocupando o terreno e com uma penalidade ou um ressalto;
8. jogar aqui, em cima da linha-de-ensaio deles, aumenta-lhes a pressão e não poderão cometer o mínimo erro;
9. Está decidido: o risco compensa, a bola é nossa, vamos jogar!

Tomada a decisão estratégica, faltava apenas decidir a opção táctica: formação-ordenada ou jogo em passe directo? Sendo central e estando nós com bom comportamento nas anteriores formações que possibilitam a concentração de adversários sem esforço e a opção atacante por qualquer dos lados, não havia que hesitar: olhos nos olhos uns com os outros e comunicação da decisão: vamos para a formação, vamos ganhar isto!

Decidindo como decidiu, o capitão stormer viu-se a quatro pontos com o adversário a ocupar confortávelmente o seu próprio meio-campo e ainda marcar um ressalto pelo francês Michalak. A cavalgada final, se cortou a respiração aos espectadores, viu os Sharks a defenderem o necessário, a manterem a posse da bola até onde foi preciso e a fazerem a sua recuperação final quando o desânimo do bater contra a parede já tinha dominado a equipa da casa. Vão à final.

Por mim, preferiria o outro risco…e com um dito popular a suportar a decisão: perdido por cem, perdido por mil. E se o risco é controlável...

sábado, 28 de julho de 2012

FORA-DE-JOGO

O fora-de-jogo é um destruidor do jogo e da arbitragem. O posicionamento em fora-de-jogo viola regras e impede o desenvolvimento do movimento do jogo. Destrói a construção e dá vantagens aos prevericadores. Durante anos assistiu-se à preocupação, por parte das autoridades da arbitragem mundial, para levar os árbitros a uma atenção muito grande sobre os jogadores que, estando à frente do chutador, não recuavam de acordo com a lei e continuavam a ocupar indevidamente o terreno, impedindo assim a realização eficaz de contra-ataques. Esta insistência tem dado bons resultados e os árbitros hoje, percebendo a gravidade para o jogo da negligência, colocam uma atenção maior neste aspecto que, muitas vezes, era explorado pelos jogadores com aquele ar de santinhos que fazem habitualmente os propositados faltosos.

Hoje o maior problema do fora-de-jogo encontra-se na zona dos reagrupamentos. Tendo como consequência um enorme aumento de dificuldades - traduzíveis até em impossibilidades - para os atacantes. E daí a eterna sequência de interrupções do movimento com recurso ao jogo no chão - o que favorece a defesa e dificulta ou impede, repete-se, o ataque.

De facto o árbitro, preocupado, às vezes em demasia, com o que se passa no chão, tem dificuldades em perceber o que passa no movimento dos defensores. Principalmente nas suas costas, mas ficando, quase sempre e de forma geral, com dúvidas sobre a subida extemporânea dos defensores e, por isso, deixando correr o jogo. Percebe-se, mas os problemas que cria esta situação exige, a bem da ética e estética do jogo, soluções.

Esta subida defensiva extemporânea obriga os atacantes a ceder terreno, afastando-se da linha de vantagem - essa linha imaginária de enorme importância táctica - e dando todas as possibilidades de efectiva eficácia aos defensores que, com maior facilidade, podem dobrar-se uns aos outros, deslizar, compensar, etc.



A ida do jogador portador da bola ao chão por placagem é uma dupla vitória da defesa. Porque, antes do mais, parou o movimento adversário; depois, porque, com a construção do reagrupamento, facilita a sua própria reorganização. Ora nesta reorganização os defensores, por norma, comprometem menos jogadores do que a equipa atacante. O que significa - lembre-se: as linhas de fora-de-jogo nos reagrupamentos passam pelo posicionamentos do último pé dos jogadores envolvidos - que a distância da linha de fora-de-jogo dos defensores à linha-de-vantagem é menor do que a mesma distância para os atacantes, juntando-se assim uma vantagem espacial à já superioridade numérica de um a dois jogadores na linha dos defensores. Se a isto se acrescentar ainda a brutal superioridade numérica que resulta da conquista extemporânea de terreno - a totalidade da equipa estará legalmente em jogo, contra menos quatro a cinco jogadores utilizáveis na outra - pode ver-se a enorme vantagem ilegalmente obtida e a enorme influência que poderá ter - terá! - no resultado final. E de que o árbitro, mesmo involuntariamente, será responsável.

No recente Chiefs-Crusaders fiquei com a sensação que a qualidade defensiva dos Chiefs - vencedores desta meia-final do Super 15 - tinha por base uma permanente saída extemporânea dos defensores - situação que, no outro jogo das meias-finais, não notei no processo defensivo dos Sharks - sempre que havia reagrupamentos. O capitão dos Crusaders, Richie McCaw, também deu pelo incómodo: "Os Chiefs mereceram ganhar, defenderam bem, embora algumas vezes fora das leis..." E o árbitro é só um dos melhores mundiais!

Solução? Os árbitros assistentes - os "bandeirinhas" - têm que ser autorizados a uma intervenção mais ampla, apoiando o árbitro com a sinaléctica necessária que traduza a decisão de marcação da ilegalidade. Por outro lado, o árbitro deve dominar uma sequência de procedimentos adequados à situação em causa - e o conhecimento do jogo permite-o! - que lhes garanta a segurança do cumprimento regulamentar quer no chão, quer no espaço do terreno do jogo. A conjugação destas duas acções irá garantir a equidade competitiva necessária à melhoria do jogo, confortando árbitros e jogadores que assim se poderão entregar à melhor expressão das suas capacidades
.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

DOIS EM UM

Conseguiram o principal objectivo: apuramento para o Mundial. Não satisfeitos, lançaram-se atrás do Torneio: venceram o Algarve Sevens. E isto diz alguma coisa sobre o carácter da equipa. Mesmo se, assustando-nos, não passaram de um grupo no primeiro jogo com a Itália. Mas reaprenderam - outra manifestação de capacidade - com os erros e mostraram-se uma equipa na final com a Espanha. Vontade, atitude, entre-ajuda, querer ganhar. Muito bem! E é sempre muito agradável ver a inteligência táctica, a garantia defensiva, o risco calculado do Pedro Leal, uma lição de bem jogar sevens.

Estando também qualificado para os próximos World Series, o Se7e de Portugal vai ter uma excelente preparação para o próximo Mundial - jogar uma época inteira com equipas de bom nível. É uma oportunidade única que exigirá da comunidade rugbística nacional uma visão mais aberta e menos ensimesmada - haverá clubes que terão de prescindir dos seus jogadores numa boa parte dos seus jogos competitivos internos.

E para que tudo corra pelo melhor - conquista dos pontos necessários para o Mundial de XV, manutenção do estatuto de residente no World Series e posição na metade superior do Mundial de Sevens - não julgo possível outra solução que não seja a criação de um grupo independente totalmente dedicado aos Sevens - a mistura não será compatível com os resultados desejados e o mundo internacional é, verdadeiramente, o mundo real.

De uma forma geral - excepto na vitória de Portugal - o Algarve Sevens nada alterou, em termos de apuramento, em relação ao Grande Prémio FIRA 2012 - as equipas qualificadas para o Mundial foram as oito que conquistaram mais pontos nas suas três etapas. Sem surpresas, portanto - mesmo se os Jogos Olímpicos de 2016, como se viu por alguns resultados, estão a transportar muitas equipas para uma longínqua Terra dos Sonhos.

As nossas organizações são melhores do que a maioria dos outros. É o habitual. De longe pareceu-me que o Algarve Sevens esteve à altura das normais expectativas mesmo se a quantidade de espectadores não tivesse estado à altura dos pressupostos da ida para o Algarve ou se a relva fosse demasiado escorregadia - pítons pequenos receosos da secura ou dificuldades de drenagem? - o maior problema, um erro quase indesculpável, foi a confusa e sobreposta entrega de prémios que se mostrou pouco digna e desrespeitosa para com o esforço dos atletas. A ideia que resulta é que o comando pertenceu ao interesse da transmissão televisiva e não aos interesses do torneio - cuja prioridade serão sempre os participantes. No desporto, no rendimento desportivo, o atleta está sempre primeiro.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

APURAMENTO DO SE7E DE PORTUGAL

No apuramento para o Mundial de Sevens de 2013 e que se disputa no Algarve, o SE7E de Portugal tem todas as possibilidades de se apurar. Diria mesmo: tem a obrigação de se qualificar. Porquê? Porque, como se pode ver no gráfico, tem tido, com alguma constância, melhores resultados do que as equipas que serão suas adversárias - dos oito a apurar, o País de Gales, a Inglaterra e a Rússia já estão qualificadas - e os cinco lugares em disputa são - têm que ser - mais do que suficientes para garantir a presença do SE7E de Portugal em Moscovo no próximo ano.

Apesar de tudo, certo, certo, é que desportivamente nada está escrito antes de ser jogado. E os dados serão lançados em cada jogo e rolarão até ao fim. Aos jogadores portugueses cabe a responsabilidade, sem desconcentrações ou impressões por certezas, de garantir os resultados necessários à qualificação. Boa sorte!





terça-feira, 17 de julho de 2012

COMPETIÇÃO PARA A COMPETIÇÃO

Na próxima época a Selecção Nacional tem uma tarefa importante: os resultados a obter no Seis Nações B contam para o apuramento do Mundial de 2015. Nesta situação será necessário cuidar das condições que garantam que os nossos jogadores se poderão apresentar nos compromissos internacionais tão bem preparados quanto possível.

E neste quadro - que deveria, aliás e de acordo com os estatutos federativos, ter sido pensado e alterado no tempo útil da época passada - defendo, como expus junto da direcção federativa na reunião para que fui convidado a participar, que as meias finais e final do nosso campeonato principal sejam jogadas antes da participação internacional portuguesa como forma de preparar, habituando, os nossos internacionais para os jogos decisivos em que tudo se resolve em oitenta minutos. Porque é deste teor a competição internacional, a sua cultura e exigência: oitenta minutos de tudo ou nada naquilo que gostámos de designar por jogo-teste.

Contra esta hipótese o argumento - cuja base de expressão está numa não-dúvida sistemática e, diga-se, comodamente preguiçosa, traduzida no ai-jesus do terminado o campeonato, o que fazemos? - que já ouvi de mais do que uma pessoa, rezando assim: actualmente a grande maioria dos jogadores da selecção jogam em França e por isso esse ponto (o da preparação interna conveniente e adaptada à competição de nível mais elevado) não tem uma importância decisiva.

Falso! Claro que tem!

Porquê? porque:

a) os jogadores que actuam em França só jogam na selecção porque - presume-se - estarão em melhores condições físicas e técnicas e apresentarão uma adaptação a ritmos de jogo superiores aos dos seus concorrentes internos;
a.1) ou seja e assim sendo, não existe qualquer hipótese de concorrência dos jogadores internos com os "externos franceses" quando estiver em causa a decisão para um determinado lugar;

b) Há uma exigência desportiva com a qual a federação - porque de utilidade pública desportiva - se deve preocupar: garantir a igualdade de oportunidades para os seus atletas - e nesse sentido vão os seus regulamentos de toda a ordem;
b.1) assim, é obrigação da federação, enquanto responsável pela direcção do rugby português, garantir que os jogadores do nível interno têm as melhores possibildades de se aproximarem dos seus concorrentes exteriores - quer ao nível dos jogadores seleccionáveis, quer na relação destes com os seus adversários internacionais;

c) criadas as condições de concorrência - e só existe concorrência entre iguais - ganha o rugby português interno e externo, ganha a selecção e os jogadores internacionais que assim verão recompensados, pelo nível competitivo atingido, o seu trabalho e esforço.

Durante a época desportiva e para a sua ocupação competitiva muitas provas interessantes podem ser realizadas mas se é aos Campeonatos Nacionais que clubes, equipas, jogadores e treinadores dão a maior importância é também esta prova - falo aqui do campeonato de nível mais elevado - que deve ser melhor utilizada para poder dar o maior contributo àqueles que terão a enorme responsabilidade de garantir o posicionamento internacional - aquele que verdadeiramente conta - do rugby português.

No Alto Rendimento não há milagres: há regras e procedimentos a cumprir, planeamentos a estabelecer, etapas a ultrapassar, estratégias a percorrer. E os jogos de preparação da janela de Novembro a realizar antes da participação nas competições europeias servem para preparar a equipa e não podem servir para aproximar o ritmo de jogadores diferentes. A melhoria da competição só é real se tiver como elemento percursor a própria competição. E o objectivo só pode ser um: aproximar o quadro competitivo interno das exigências do nível internacional.

O rugby português só e sustentável competitivamente no plano internacional se tiver um nível interno aceitável e tão próximo quanto possível do segundo escalão mundial. Se assim não fizermos ou quisermos - alterando os actuais sistemas internos para sistemas altamente competitivos adaptando sistemas já testados - poderemos estar certos de que estaremos a deixarmos reduzir a uma figura de cera da cena internacional. Deixando de ser e ficando pelo fomos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

CONGRESSO DE TREINADORES

O mundo dos treinadores está em transformação. Nacional e internacionalmente. Constituindo um conjunto de formação e experiência heterogéneas, cada vez mais apoiados na ciência e em especialistas das mais variadas áreas, os treinadores, neste novo paradigma que começa a definir e a caracterizar a sua intervenção, irão contribuir para dinâmicas e alterações que levarão a patamares de desenvolvimento da prática desportiva e do alto rendimento que, até agora e por uma visão encolhida de carácter corporativista, o desporto português não tem conseguido, de forma generalizada e sustentadamente, atingir.

De parte deste novo caminho nos foi dado conta no 4º Congresso de Treinadores de Língua Portuguesa organizado pela Confederação de Treinadores de Portugal e de que a inactiva Associação Portuguesa de Treinadores de Rugby (APTR) é membro-fundador. Subordinado ao tema Boas Práticas em Português aqui se dá conta, em sumário de conclusões, de alguns pontos que pretendem resumir o pensamento expresso.

O primeiro e fulcral ponto que estrutura o pensamento de intervenção é simples, objectivo e único: é o Atleta o elemento central da actividade desportiva. E assim, não é a mesma coisa nem pode ser tratada da mesma maneira o lazer que usa a forma desportiva e o desporto que se integra na área do rendimento com projecções para o alto rendimento. Neste domínio o treinador, primeiro e mais importante apoio do atleta, tem uma função determinante no progresso e desenvolvimento das modalidades e toda a nossa atenção de treinadores portugueses será pouca em relação ao movimento que se verifica internacionalmente para definir as competências e necessidades do exercício da actividade em termos profissionais ou benévolos. Não é treinador quem quer mas apenas o que detém as necessárias competências para o ser, será o lema. Em Portugal, o Plano Nacional de Formação de Treinadores, caracterizando competências através das federações de utilidade pública desportiva, constituirá a base instrumental das transformações necessárias à aproximação mais generalizada e sustentada dos resultados a nível internacional.

Sendo o atleta o elemento central do desporto, o planeamento do treino dependerá, para além das diferenças impostas pela diferenciação das modalidades, das características próprias de cada atleta - e no Congresso foi enfatizado, como exemplo evidente da individualização, o tema da organização do treino no Desporto Adaptado - individualizando formas e planeamentos que deverão estabelecer-se, nos seus diversos ciclos de longo, médio e prazo anual, de acordo com o número e calendarização das competições importantes. Mas tudo segundo uma série de escalões adequadas ás idades e níveis de prestação competitivos que devem ter programas próprios de treino e competição. De facto, não sendo os jovens adultos pequeninos, o treino na etapa da "formação de base" não pode ser cópia do adequado a etapas como a de "especialização" ou do "alto rendimento" ou, ainda, da "manutenção dos resultados". As competições também não podem ser do mesmo tipo e tão pouco devem ter a mesma importância ou frequência. Ou seja: a cada modalidade a sua estrutura própria, a cada posição a sua especificidade, a cada atleta a sua adequação característica.

A questão do papel dos treinadores na formação desportiva enquanto elemento fundamental da "educação para os valores" foi também centro de atenção a partir da análise de conceitos míticos geralmente associados à prática desportiva como as vantagens para a saúde ou o estado puro de espaço educativo. Percebendo que o Desporto não é necessariamente bom em si mesmo e que o seu carácter positivo dependerá das qualidades da envolvente e conteúdos que formatam a sua prática e pelos quais, naturalmente, o treinador terá uma enorme responsabilidade na sua qualificação. Que envolve ainda a constante permanência dos valores da ética que se definem como espírito desportivo.

Das diversas dificuldades que o nosso desporto atravessa, o desporto no feminino também se apresentou e equacionou o facto do escasso número de mulheres treinadoras e da dificuldade - numa altura (veja-se a composição da selecção olímpica para Londres) em que o número de atletas e praticantes do género feminino tem aumentado - da sua inserção/aceitação qualificada no espaço da actividade desportiva competitiva.

O papel dos treinadores, enquanto responsáveis pelas equipas, na educação e acesso ao conhecimento de outros planos formativos foi demonstrado pela parceria com a organização Médicos do Mundo em programas realizados na área da luta contra a Sida e nos quais equipas de rugby também participaram.

As intervenções da sessão plenária realizadas por José Curado, António Vasconcelos Raposo, Cristina Almeida, Nuno Alpiarça, Helena Pinheiro e Carlos Gonçalves poderão ser integralmente consultadas no site da Confederação dos Treinadores de Portugal (aqui). Aos treinadores de rugby recomendo a leitura - pela sua óbvia importância e directo interesse - das intervenções dos dois primeiros e último dos autores.

E aproveito também para chamar a atenção, na actual situação nacional e internacional de definição de qualificações, posicionamento e enquadramento dos treinadores, o interesse da consulta do site da Confederação. Fica a saber-se como se desenrola o estado da arte.

Os treinadores de rugby não podem ficar à margem de todo este processo sob pena de perderem voz na definição do seu interesse de melhoria de competências.






domingo, 8 de julho de 2012

UMA EQUIPA






"É um caos organizado: toda a gente sabe onde estar e o que fazer."
Responsável da Cruz Roja nos Encierros de San Fermín de Pamplona, explicando como actuam as suas equipas na enorme confusão de mozos, asistentes, vino y toros... de sanfirmínes.

Sabem o objectivo enquadrado na sua Missão, dominam as técnicas, têm regras de procedimentos, treinam as possibilidades, analisam previsões... E estão prontos. Havendo experiência, melhor. Formam uma equipa!

Aqui nos encierros como nos desportos colectivos, vive-se um caos aparente. Que o treino, o conhecimento e a decisão organizam. No rugby, porque desporto colectivo de combate, estes mesmos aspectos são decisivos para a eficácia e sobrevivência desportiva da equipa.

sábado, 7 de julho de 2012

LIÇÕES DO EURO 2012

O Euro 2012 de futebol mostrou-nos situações que, sendo aplicáveis a outras modalidades colectivas, podem servir, se contextualizadas, como lições que podem ampliar o nosso reportório de treinadores. Enumero sete mais uma nota:

1. A base do sucesso de uma equipa está na formação com uma estratégia comum. O melhor exemplo é dado pela Espanha cuja formação, alicerçada no trabalho da técnica adaptada às necessidades das situações de jogo (skills) e no desenvolvimento de uma cultura táctica individual que sustenta a inteligência da tomada de decisões, permitiu ganhar consecutivamente as três provas internacionais mais importantes - Europeu de 2008, Mundial de 2010 e, de novo, o Europeu de 2012 - superando mudanças de treinador e a dispersão de jogadores por clubes com modelos de jogo diferentes;

2. A alteração de uma equipa para diminuir a capacidade do adversário tem por limite a sua não descaracterização. Viu-se no Alemanha-Itália: as alterações procuradas pela equipa técnica alemã para evitar os pontos considerados mais fortes dos italianos descaracterizou a equipa de tal modo que ela perdeu capacidade de resposta, viu diminuídas as suas possibilidades e o resultado foi uma inesperada derrota;

3. O equilíbrio entre os sectores de uma equipa é o factor decisivo do sucesso. Dar prioridade a um dos sectores da equipa em detrimento dos outros - aumentar a defesa com diminuição das possibilidades atacantes; aumentar o poderio atacante sem garantir as compensações defensivas - pode aparentar uma capacidade de resposta escondida mas, normalmente, não dará os melhores resultados. Exemplos: de certa maneira a postura de Portugal, avessa ao risco, na maratona contra a Espanha - a capacidade atacante foi demasiado baixa para depender de algo mais do que da sorte; a Itália contra a mesma Espanha e porque, tratando-se de uma final - ao contrário do primeiro jogo - havia a necessidade de atacar para marcar golos, descurou demasiado a ocupação de espaços defensivos e, desiquilibrando-se, perdeu por um resultado invulgar;

4. A equipa está sempre em primeiro e nada pode ser feito fora deste domínio. Visto de fora e pelo ecrã televisivo, a sequência ordenada para os marcadores de penaltis por parte de Portugal no jogo contra a Espanha, involuntariamente ou não, pareceu ter obedecido mais a interesses individuais do que aos interesses colectivos da equipa.

[A propósito da questão dos prémios individuais como a Bola de Ouro, Vicente Del Bosque, treinador campeão mundial e europeu, não deixou dúvidas: Sou um descrente nos prémios individuais, para mim o futebol é colectivo.]

5. Uma equipa assenta na solidariedade entre os seus elementos o que exige respeito, reconhecimento e agradecimentos mútuos. Ninguém joga sozinho num desporto colectivo - os aspectos mais brilhantes de um ou outro resultam, na maioria dos casos, do passe ou movimento de outros e raramente de um isolado acto de absoluto talento individual de um ou outro. Exemplos do sentir colectivo são também o abraço de Balotelli ao brilho da assistência de Cassano ou dos marcadores espanhóis aos seus assistentes. Portugal também teve momentos de grande equipa quando soube ultrapassar os seus limites e dar cumprimento ao preceito que define um colectivo: Numa equipa o todo é superior à soma das partes;

6. Uma competição joga-se jogo a jogo. As equipas da Itália e de Portugal são dois bons exemplos das vantagens de levar, numa competição, cada coisa a seu tempo. Pouco consideradas no mercado das apostas, estas equipas, com elevado nível de concentração nas tarefas atribuídas, foram jogando cada jogo como se fosse o último e sem se deixar desfocar por questiúnculas exteriores ao jogo em disputa.Tornaram-se assim nas equipas-surpresa do Euro;

[Ouvi a Serena Williams a explicar, em Wimbledon, o porquê do seu pior desempenho no último set da meia-final - ganhou no tie-break - apontado o ter começado a pensar no jogo seguinte, a final, como causa principal do abaixamento da sua eficácia.]

7. Quem transporta a bola lidera e aos companheiros compete facilitar-lhe a vida. O melhor exemplo da eficácia do tiki-taka: os companheiros do portador da bola oferecem-lhe alternativas de passe que, para além de lhe permitir solucionar eventuais problemas, permitem ainda ampliar a eficácia da continuidade do movimento até surgirem os desequilíbrios. O princípio segue uma regra simples: não é a quem tem o problema de transportar a bola, de escolher a técnica mais adequada e o tempo mais justo - isto é: a quem, num curto espaço de tempo, tem uma série de problemas a resolver - que se tem de exigir a correcção absoluta da intervenção mas é aos que apenas têm que se movimentar que é exegível o melhor contributo para a criação de alternativas que permitam a boa construção da continuidade do movimento.

[Um bom jogador é aquele que cria problemas aos adversários e ajuda a solucionar problemas aos companheiros, Jorge Valdano, futebolista argentino, campeão do mundo, treinador e dirigente.]

NOTA: Durante o Euro também foi possível notar as diferenças, ao nível da ética e da arbitragem, entre o rugby e o futebol. Por um lado, os golos não assinalados pelos árbitros de baliza e que seriam facilmente detectáveis por um qualquer olho-de-falcão; por outro, o pouco fair-play - institucionalmente admitido aliás - que significam as aplaudidas faltas inteligentes (no rugby são consideradas perjorativamente como faltas profissionais) e de que resultam um livre sem importância e um eventual cartão amarelo para cumprimento noutras calendas (no rugby significam pontapé de penalidade com possibilidade de marcação de pontos ou conquista de amplo terreno e um cartão amarelo que reduzirá a equipa faltosa a 14 elementos durante dez minutos). Diferenças, no caso, para melhor no rugby que demonstra uma superior preocupação com o espírito desportivo.

[foi acrescentado o ponto 7. em relação à primeira versão e correspondente às notas tiradas]

domingo, 1 de julho de 2012

LUIS CALDAS UM NOME DO DESPORTO PORTUGUÊS

Luis Caldas fez nome no Desporto português. Esteve por quatro vezes em Jogos Olímpicos: primeiro como atleta em 1960 - em Roma e onde obteve o 21º lugar - e mais tarde como árbitro e como dirigente. Sempre com a sua modalidade de Luta. Em 1976, em Montreal, foi Chefe de Missão. Também jogou rugby e foi internacional, contra a Espanha em 1954 e no terceiro jogo internacional de Portugal. Foi um pioneiro e um apaixonado da modalidade.

Encontrávamo-nos muitas vezes e a conversa passeava entre o Desporto em geral e a particularidade do Rugby. Ainda recentemente e enquanto ocupei o cargo de vice-presidente do ex-Instituto do Desporto de Portugal, sempre que nos encontrávamos - o café era comum - a sua curiosidade sobre as questões relacionadas com o Desporto português mantinha o tempo de interessantes conversas. Mantinha-se atento, interessado e participante com as suas opiniões. Os valores do Desporto marcavam-lhe a vida.

Para além de nos encontrarmos em diversos momentos do Desporto nacional, estive com ele em diversos momentos rugbísticos, desde o Uruguai nos primórdios da nossa globalização e na tentativa de encontrar forma de apuramento para o Mundial de 1999, passando por encontros em Paris a caminho - ele era um habitué - de jogos das Cinco Nações - daí veio um autorizado tratamento particular em homenagem ao à-vontade parisiense: M'ssiê Caldásse - até aos jogos caseiros onde trocávamos opiniões técnico-tácticas como gostávamos de dizer. Gostei sempre dele e também pude saber que gostava de mim - éramos amigos. Dávamo-nos bem.

É por isso, com profundo pesar que sei do seu falecimento. À sua família, aos seus amigos, os meus respeitos. E a certeza que a sua experiência e conhecimentos desportivos nos farão falta e darão saudades.


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