domingo, 8 de novembro de 2009

UM SINAL DE ALARME

Portugal, contra a Namíbia, perdeu um jogo que lhe competia ganhar.
A selecção portuguesa apresentou no campo grandes lacunas e nunca foi capaz de mostrar a atitude necessária para vencer. E este terá sido talvez – dado que a Namíbia não é mais do que uma equipa capaz de cumprir aceitavelmente os princípios básicos – o maior problema demonstrado – porque é base de outros - e sobre o qual os jogadores terão que reflectir: o que querem ser? Uns auto-convencidos de grandes jogadores que morrem no campo em usos individualistas ou humildes e competitivos jogadores com a atitude colectiva que pode fazer deles uma equipa ganhadora? Foi com a segunda atitude que chegaram ao Mundial de 2007, não será com a primeira que chegarão ao Mundial de 2011…

Portugal, não saindo da sua “zona confortável”, não correndo quaisquer riscos aceitáveis, deixou que a Namíbia defendesse bem: incapaz de jogar em cima da sua defesa, nunca lhe colocou problemas que a testassem e deixou que os defensores lessem as intenções e se desmultiplicassem, garantindo a superioridade numérica no final da linha. Por isso a linha de vantagem, salvo raríssimas excepções, não foi ultrapassada.

E este é um dos muitos erros que Portugal mostrou ontem que necessita de imediata alteração táctica:

  • é errado pensar-se que para jogar no canal 3 se deve formar em profundidade. Para garantir espaço “à ponta” é necessário “fixar” o meio-campo adversário, obrigando-o a virar a linha de ancas para os seus próprios avançados – “para dentro”, como habitualmente se diz. De outra forma, a defesa consegue ler o movimento com cada um dos seus defensores a controlar visualmente e sem problemas o seu companheiro interior e a poder desmultiplicar-se construindo as sucessivas cortinas defensivas que vão impedindo o avanço eficaz dos atacantes. A regra táctica é simples: para atacar ao largo, as linhas atrasadas têm que jogar mais próximas da linha de vantagem, posicionando-se mais “em linha” – com pouca profundidade – e recebendo a bola já lançados, competindo nomeadamente ao abertura, é mesmo uma exigência de eficácia, lançar a sua linha atacando o passe do formação e recebendo-o tão próximo quanto possível da linha de vantagem. Então sim, a defesa estará fixada e a construção do losango – um apoio de cada lado e outro em profundidade - será decisiva para ultrapassar a defesa contrária.
Aos médios compete gerir o jogo. Ao formação exige-se constância e consistência na procura do espaço livre, ao abertura exige-se a capacidade de ler e jogar de forma a garantir a manutenção desse espaço para a melhor utilização dos seus companheiros – com ainda a obrigação de inventar espaço se ele, aparentemente, não existir. O que exige, ao contrário do que vimos ontem:
  • capacidade de realizar passes rápidos – tirar a bola depressa - dos pontos de quebra do movimento - e cuja primeira responsabilidade diz respeito à técnica de contacto do portador da bola;
  • capacidade de jogar na cara dos defensores para impedir o seu deslizamento – resultado de bolas rápidas nos reagrupamentos ou da preocupação de conquista do intervalo entre linhas;
  • ter um jogo ao pé objectivo – joga-se ao pé para conquistar terreno, chutando para o espaço vazio e criando problemas aos adversários (ontem foi confrangedor o número de pontapés entregues nos braços dos adversários…)
A selecção nacional, julgava, tinha adquirido uma capacidade de utilização da bola nas recuperações que constituía uma eficaz imagem de marca. Por incapacidade do jogo no chão essa capacidade perdeu-se… e urge garanti-la. Com disciplina, concentração e atitude. Tão pouco é admissível que jogadores internacionais com a experiência que os portugueses já têm, cometam erros tácticos elementares como falhar o jogo de passes em situações de superioridade ou ignorar manobras de in/out no final da linha. A sua resolução passa, obviamente, por exigências de concentração competitiva e responsabilidade colectiva.

A solução para estes momentos em que as equipas parecem descrer e decrescer – e a derrota com a Namíbia representa um sinal de alarme – estão, como ensina Jorge Valdano, em procurar a caixa negra e ir às fontes, ou, como lembra Clive Woodward na mnemónica T-Cup do seu Thinking Correctly Under Pressure, imitar os campeões quando as coisas correm mal e voltar às bases para recomeçar.

O colectivo é sempre o mais importante. A equipa não se faz com uma parte à espera da outra parte – a divisão entre forçados e bailarinos não passa de um mito e apenas caracteriza equipas fracas e vulgares. A equipa é um todo que deve valer mais do que a soma das suas partes. Se existem problemas no cinco-da-frente para se impor ou para não se deixar dominar, compete ao resto da equipa encontrar as soluções necessárias para inverter as situações. Físicas, psicológicas, tácticas… Não desistindo! Nunca!