sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

MUDAR PARA COMPETIR

Neste último fim-de-semana - como, aliás, acontecerá no próximo - o rugby português bateu-se em duas frentes: no Rugby Europe Championship 2014/2016 em XV e no 4ª etapa do Sevens World Series disputado em Wellington na Nova Zelândia. O que não deixa de ser obra.
Mas se no torneio de sevens, apesar dos altos e baixos, o objectivo mínimo de 5 pontos que, resultando na média das 9 etapas, nos garantirá a permanência como equipa residente, foi conseguido, já no jogo de Lisboa com a Roménia a diferença final de vinte e sete pontos ultrapassou as expectativas que o posicionamento no ranking das duas equipas fazia prever - 8,82 pontos de diferença - e levou à utilização do factor de penalização de 1,5 na pontuação conseguida.
Em Wellington e nos quartos-de-final da Bowl, o VII de Portugal fez uma exibição soberba, dominando com categoria o seu adversário Canadá. Tratou-se de um dos melhores jogos realizados pela equipa - pondo em prática algumas das indicações positivas que já tinha dado contra Fiji - que mostrou uma concentração competitiva e espírito colectivo que nem sempre acompanham as suas prestações. 
Em Lisboa a conversa seria outra. Se nos sevens os jogadores vivem dos treinos de preparação e depois da sua capacidade de adaptação nos diversos torneios de 5/6 jogos - isto é a sua prestação competitiva pouco depende da competição interna do país que representam - no XV os jogadores que formam a equipa portuguesa, apesar dos diversos treinos que realizam no âmbito da sua preparação para o nível internacional, dependem muito dos seus hábitos competitivos adquiridos nos campeonatos que disputam. E o nosso campeonato está muito longe do nível, do ritmo, da exigida velocidade de decisão e acção, que o nível internacional impõe. E, portanto, quando o cansaço começa a aparecer - quando o oxigénio começa a circular mais lentamente - responde-se com os automatismos e responde-se mal porque foram adquiridos num nível mais baixo. E foi isto que se viu - pese uma segunda-parte com boas tentativas de ataque à linha de ensaio adversária mas a culminarem em erros.
Tivemos apenas 68 bolas jogáveis - contra a Namíbia, próxima das nossas capacidades como mostra a posição no ranking (0,29 pontos de diferença), obtivemos, entre conquistas e sequências, 99 bolas jogáveis. Uma enorme diferença, embora com uma melhor demonstração de aproveitamento - em ambos os casos a Linha de Vantagem foi ultrapassada por 24 vezes - mas traduzindo, neste jogo com a Roménia, a verdadeira dificuldade de utilização da bola: jogar eficazmente entre linhas defensivas. Resultado? 1 ensaio contra 4 do jogo de Novembro.
Foi um jogo de baixa intensidade, escreve o delegado da Rugby Europe, o irlandês Eugene Ryan, no Boletim do Jogo. E mesmo assim deu para ficarmos distantes do adversário romeno. E não falo da óbvia derrota - os romenos têm aqui um domínio de excelência mundial - na formação-ordenada onde uma errada opção de não talonagem fez perder as duas primeiras das seis formações de nossa responsabilidade no jogo. Falo sim do jogo em geral onde a diminuição do tempo e do espaço ou a velocidade de acção exigida nos criaram problemas que não nos permitiram manter a continuidade de jogo necessária para surpreender a bem organizada defesa romena.
De facto o que se viu foi a enorme e natural dificuldade dos jogadores portugueses de passarem dos hábitos dos níveis competitivos internos para este nível internacional onde os erros, as indecisões ou a falta de controlo dos tempos de jogo se pagam caros e com a consequência da perda de pontos de ranking e incapacidade de conquista de pontos de classificação.
E este diferencial entre os patamares competitivos internos e internacionais é mundialmente conhecido: por isso se criaram provas intermédias - como o agora Super 16 ou as Taças europeias - para que os jogadores possam adaptar os seus hábitos às exigências dos níveis internacionais que são o ponto fulcral de expressão mundial da modalidade.
Que pode o rugby português fazer para que os seus jogadores representativos tenham a possibilidade de competir tão próximo quanto possível dos seus adversários de outros países?
Antes de mais, reconhecendo que a organização interna do rugby português deve ser dirigida no sentido de criar o maior desenvolvimento competitivo possível para que os seus jogadores atinjam o patamar de exigência adequado. O que impõe uma formação cuidada e bem dirigida de jogadores e treinadores focada no desenvolvimento das componentes tácticas e técnicas - o quê? como? - e não no resultado imediato de cada jogo e a composição de competições desportivamente equilibradas que possam criar, no topo competitivo, ambientes tão próximos quanto possível do patamar internacional.
E para uma competição desportivamente mais equilibrada e de maior grau de exigência estratégica, táctica, técnica ou física, num país de grandes dificuldades em termos de desportos colectivos e onde o rugby - que não tem as tradições de outras modalidades colectivas como o basquetebol, o voleibol ou o andebol mas que é aquela que ocupa a melhor posição internacional nos rankings oficiais - não tem, nem terá, uma enorme expressão quantitativa, só se torna viável havendo uma diminuição do número de equipas que disputam o topo da pirâmide. Com menos equipas e juntando, como é natural e desejável, os melhores jogadores para que possam ser ainda melhores e, assim, melhorarem a exigência competitiva - é sabido: a qualidade da envolvente melhora a qualidade das partes que, por sua vez, melhoram a qualidade do todo - obrigando ao permanente desenvolvimento de conhecimentos dos treinadores, à melhor organização dos clubes, à melhor atenção federativa e ao maior e fundamental interesse dos patrocinadores. Em suma: uma organização competitiva virada para a expressão desportiva do resultado ao melhor nível. Clubes como o Sporting já compreenderam as necessidades de evolução do sistema e porque sabem que esta evolução resultará em vantagens para as suas equipas, têm proposto aos seus melhores jogadores para, em vez de os guardarem na montra das suas vaidades, mudarem para clubes mais competitivos para poderem avançar na sua carreira: Duarte Toorn é exemplo disso - mudado para o CDUL já é internacional! E o Sporting continua na sua programada progressão.
Ou seja, só criando um sistema competitivo adequado às exigências internacionais que se colocam aos jogadores que representam as selecções nacionais é possível esperar que atinjamos os resultados internacionais necessários para manter as posições conquistadas e possibilitar a continuação do desenvolvimento qualitativo do rugby português.
Não sendo credível que alguma vez o rugby português se venha a tornar profissional e para que as suas equipas representativas possam, como hoje acontece, participar em campeonatos internacionais de bom nível - e só assim haverá patrocínios - será necessário adaptar o nível interno, construindo patamares que permitam a sua sobrevivência internacional, definindo claramente um patamar de Alto Rendimento sem deixar que outros níveis possam, à sua dimensão, continuar a praticar a sua modalidade preferida. Sem colisão de interesses.
O tempo urge porque nos outros países os progressos não param. E os nossos mais directos adversários também não dormem.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

FALTA UM




Começou o 6 Nações e falta um: Brian O'Driscoll, o notável BOD, um dos melhores centros de sempre. Vamos sentir-lhe a falta.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores