quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A ESTRATÉGIA ARGENTINA

A Argentina obteve, provavelmente, o seu melhor resultado de sempre – um empate (16-16) contra a África do Sul, um bi-campeão mundial e terceiro qualificado no ranking mundial que traduz a demonstração da sua maioridade rugbística.

Para isso e depois de uma estratégia baseada na colocação de jogadores a jogarem nos melhores campeonatos europeus – França e Inglaterra - definida para o Mundial de 2007 que lhe proporcionou o 3º lugar, a Federação Argentina, com o apoio da IRB, delineou, em sequência, uma nova estratégia que contou, inclusivamente, com uma equipa a participar em campeonatos na África do Sul e com a contratação – enquanto consultor – do treinador neozelandês campeão mundial, Graham Henry.

Conhecer cada passo do caminho da estratégia argentina nos últimos anos constitui também um primeiro passo para podermos perceber como organizar competitivamente o rugby português para os momentos competitivos decisivos que irão acontecer nos próximos 7 a 10 anos – Mundial de 2015, Olimpíadas 2016 com Sevens e possibilidades de desaparecimento do Mundial da variante e consequente aumento das dificuldades de qualificação, eventual desdobramento do Mundial de 2019 em duas competições. Continuar a competir ao melhor nível – acesso ao Mundial e bons resultados no 6 Nações B a que a qualificação para os Jogos do Sevens acrescentaria enorme mais-valia – é fundamental para o desenvolvimento e até, diria, para a continuação competitiva do rugby português.

Perceber como avançam os outros antes que seja tarde – isto é, que os nossos adversários directos ganhem o tempo – é tão óbvio que vai doer se o ignorarmos. E se não o fizermos os nossos adversários não o farão por nós… fá-lo-ão contra nós. E os nossos interesses vão ressentir-se...  

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ATAQUE EM 1ª FASE

Não sei bem por que razões mas criou-se a ideia que atacar em 1ª fase – imediatamente a seguir a um situação ordenada pelas regras do jogo em que existe uma organização conhecida – é caminho óbvio para a inoperância. Não percebo porquê e penso, pelo contrário, que é um momento óptimo a explorar e que permite diversas hipóteses vantajosas.

Em situação de 1ª fase, o problema a resolver consiste em enfrentar a “lei do espelho” em que as duas equipas – a atacante e a defensora – alinham os seus jogadores de forma simétrica. Aparentemente nada parece ser possível fazer para desequilibrar os defensores e conseguir uma vantagem passível de exploração – e daí que se veja, antes de qualquer outra tentativa e embora como solução canhestra - a constante procura de contacto na zona central para depois, se tudo correr bem, procurar explorar um desequilíbrio conseguido.

Se as duas equipas – numa formação-ordenada ou num alinhamento – se colocam em simetria existem diversos factores que criam, de acordo com o posicionamento no campo, as assimetrias necessárias para permitir jogar de forma a surpreender os defensores e no mínimo conquistar terreno para criar a superioridade numérica atacante.

Tudo começa por uma razão principal. As situações impostas pelas Leis do Jogo e que proporcionam a colocação simétrica e que irão possibilitar os ataques em 1ª fase impõem – sem qualquer trabalho para a equipa atacante – uma concentração de jogadores e, logo, ampliam o espaço de cobertura para a equipa defensora que vê assim aumentadas as suas dificuldades. Não sendo idênticas as situações resultantes de formação-ordenada ou de alinhamentos, ambas dão à equipa responsável pelo reinício do jogo a vantagem da iniciativa que resultam do comando do tempo, da colocação, do posicionamento e...da posse da bola.

Foi isso mesmo que pudemos ver nos ensaios dos All-Blacks contra a Austrália no recente jogo inaugural do Rugby Championship. Em ambos os ensaios os neozelandeses partiram de formações-ordenadas.

No primeiro ensaio, com a formação-ordenada proporcionando um lado – o esquerdo- mais reduzido do que outro, os All-Blacks colocaram apenas dois jogadores no designado lado fechado. Introduzida e conquistada a bola o médio-de-abertura, Carter, apareceu, vindo da direita para a esquerda lançado (de forma a facilitar o passel do seu pressionado “formação”) atacando o lado-fechado, criando desde logo uma superioridade numérica – em 3-contra-2 – ampliada pelo bom trabalho do seu pack avançado que conseguiu, rodando, afastar a terceira-linha defensiva. Restaria recriar as manobras de diversão necessárias a manter a dúvida nos defensores: falso cruzamento com o seu centro e ataque do ponta ao intervalo dos defensores australianos que serviu para os fixar – se saíssem do corredor arriscariam ver uma penetração do portador da bola - e libertar caminho para o defesa neozelandês que, entretanto, já se havia deslocado para próximo da linha lateral. Com a iniciativa tomada, a criação de superioridade numérica estabelecida e a permanente dúvida lançada sobre os defensores, a Carter só restava fazer um passe longo nas costas do seu companheiro para “soltar” o seu defesa que marcou sem problemas. Ensaio que, se aos menos avisados poderá ter parecido uma falha defensiva, foi resultado de uma excelente conjugação de esforços e movimentos de uma parte considerável da equipa All-Black. Atacando em 1ª fase…

No segundo ensaio outra excelente exploração de situação. Formação-ordenada também do lado esquerdo atacante mas já quase sobre os quinze metros. Saída de terceira-linha com um 89 largo – e aqui ficaram fixados os adversários directos e ainda, e no mínimo, o abertura defensor – o apoio interior neozelandês não permitia a deslocação em cobertura – nova manobra de diversão – dois centros lançados para receber a bola a encobrir a deslocação do ponta-do-lado fechado e… passe largo nas costas dos falsos receptores para um 3-contra-2 de escola. Ensaio aparentemente fácil mas também a exigir coordenação, tempos de entrada a criar dúvidas ao adversário, e passes em tempo justo. Também de 1ª fase…

… e o jogo de procura constante do contacto na zona central pode resultar se houver uma vantagem à partida da equipa atacante – mais poder e maior peso dos seus centros – mas não é a solução mais inteligente. E, menos ainda, a mais interessante.

O ataque em 1ª fase permite muitas soluções eficazes. Exige é que seja feito de acordo com os princípios do jogo, com linhas de corrida adequadas, com a velocidade de manobra em cima dos defensores – impedindo-os de deslizarem. Boa técnica, bons conhecimentos tácticos e o ataque em 1ª fase torna-se numa arma muito poderosa. Tirando partido de uma vantagem que as Leis do Jogo proporcionam.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A ARGENTINA COM GRAHAM HENRY

Vai começar o Four Nations, acrescentando a Argentina ao que tem sido, na versão anterior de All-Blacks, Austrália e África do Sul, a melhor competição rugbística do planeta.

O que poderão fazer os Pumas nesta competição aumenta mais o interesse que, naturalmente, já desperta. Não vai ser fácil, é uma aposta de grande risco competitivo mas é também – após, estou certo, uma cuidada preparação – um passo certo de um futuro sustentado para o rugby argentino. Hoje por hoje, no desporto, quem não quiser ou puder apresentar-se no mais alto nível fica fora da corrente principal onde ainda existem acessos a patrocínios sempre necessários ao desenvolvimento. Não sendo assim, a modalidade ver-se-á circunscrita – mesmo se divertido para quem o possa jogar – a pequenos círculos familiares perdendo-se a atractividade para espectadores e transformando cada jogo num mero passatempo amadorístico. Sem receitas, claro … e sem capacidade de desenvolvimento qualitativo.

A preocupação do rugby argentino para se apresentar no melhor das suas capacidades tem sido tal que contrataram como consultor nem mais nem menos do que o treinador neozelandês campeão do mundo, Graham Henry.

O neozelandês definiu de imediato algumas transformações – que já fomos vendo ser aplicadas pelos Jaguares de Daniel Hourcade – para a forma de jogar dos Pumas, procurando aumentar a sua capacidade competitiva. São quatro os pontos propostos que, pelo efeito que provocam, podem levar à dimensão necessária ao equilíbrio competitivo procurado. Assim, Graham Henry pretende que os jogadores argentinos:
- tomem iniciativas (adaptar-se e impor o seu jogo de acordo com as situações encontradas.);
- privilegiem o jogo de pé (ir para o chão é dar vantagem à defesa.);
- não se deixem “sugar” pelos rucks (usar nos reagrupamentos no chão apenas o número necessário de jogadores para criar uma efectiva oposição não caindo, por generosidade de entrega, na armadilha que possibilitará de imediato uma superioridade numérica. Para além de que, demasiados jogadores num ruck defensivo, afasta a linha de fora-de-jogo da linha-de-vantagem e aumenta a distância de manobra.)
- deixem de esperar unicamente pelo nº9 para movimentar a bola nos reagrupamentos (sendo a velocidade do movimento o que cria problemas às defesas não faz sentido perdê-la pela espera de um jogador por mais especialista que seja – o que implica que “toda a gente” esteja preparada para fazer um passe do chão com um mínimo de precisão.)
 
Veremos como correrá. Com muita curiosidade.

(os itálicos são comentários meus acerca do que
julgo serem as razões das propostas de G. Henry)

domingo, 12 de agosto de 2012

O JAPÃO DE EDDIE JONES

O presidente da Confederação de Treinadores de Portugal, José Curado, esteve agora durante as OlImpíadas em Londres e a convite do COI - foi recebido pelos representantes dos promotores, Sergei Bubka e Clive Woodward - para participar em diversas reuniões e discutir as questões desportivas internacionais que dizem respeito aos treinadores.

Numa das sessões o orador convidado foi Eddie Jones, o australiano que treinou a Austrália, foi adjunto na campeã mundial África do Sul de White e é agora o responsável pela preparação do Japão para o Mundial de 2019.

Conta-me assim o José Curado:

"O homem é apresentado, cumprimenta-nos e começa: vocês não fazem ideia do que é treinar no Japão. Eles têm a mania de que treinar é repetir. No primeiro treino que vi reparei que este conceito é levado a extremos impensáveis: durante a primeira hora, dois-a-dois, passavam a bola dando voltas ao campo... Nunca tinha visto e julguei impensável que alguém o fizesse. Imaginam o trabalho que terei para os preparar e mudar-lhes os hábitos..."

Entretanto li numa entrevista como é que Eddie Jones pretende elevar o nível do Japão e colocá-lo tão próximo quanto possível dos melhores. Para o que considera três pontos a atingir:
- condição física melhor que quaisquer dos outros;
- ser tacticamente mais inteligente;
- ter mais velocidade.

A escolha deste gato não vai, com certeza, tornar a transformação fácil nem reduzir o trabalho, mas é bem melhor do que usar o cão que não existe - e que nunca deu uma única vitória na fase final de qualquer Mundial. Fica a curiosidade de ver até onde chegarão estes japoneses com mão australiana.

Deste episódio resulta a exigência de uma já minha e antiga convicção: o rugby exige uma permanente adaptação dos jogadores que não é compatível com a repetição mecânica. E a lembrança de um velho - já o era há trinta anos - e experiente treinador inglês que, num dos cursos que tirei em Inglaterra, nos avisava: treinar é repetir, repetir, repetir...mas nunca da mesma maneira!






terça-feira, 7 de agosto de 2012

COM DESEQUÍLIBRIOS SE VENCE

Em tempo de Jogos Olímpicos não resta muito tempo para escrever sobre outras coisas - o espectáculo é de tal maneira atractivo que o corredor em frente da televisão é o único campo utilizável... para jornais, papeis, bebidas, óculos, canetas, acesso à internet, o que fôr. Por isso deixo apenas algumas notas tiradas ao sabor do desenrolar - e do caderno mais próximo - da final do Super 15.
Os Chiefs ganharam e ganharam bem. Porque conseguiram criar mais desequilíbrios. Que resultaram principalmente de:

- capacidade de pressionar nos reagrupamentos sem, necessariamente, comprometer demasiados jogadores - o que possibilitou quer recuperações, quer diminuição da velocidade de transmissão da bola com clara vantagem para a subida organizada dos defensores;
- saber jogar dentro da defesa e entre linhas - a continuidade do movimento através do passe limita a reorganização defensiva e permite a criação de constantes e sucessivas superioridades numéricas;
- se o intervalo fecha, a rotação do portador da bola prejudica a placagem agressiva do defensor e permite ou manter a bola viva - jogando dentro da defesa - ou mesmo permite que o jogador continue a sua corrida de avanço no terreno;
- ter claro que os erros não são para perdoar ou esquecer, são para explorar - detectado um ponto fraco adversário que garanta vantagem não se deve desistir dele a não ser depois do adversário o ter conseguido corrigir.

Uma nota final: o rugby foi definido como um jogo de passar e correr; com as diversas alterações ocorridas, muitas delas com base na passagem ao profissionalismo em 1995, o jogo aumentou as suas exigências físicas ao ponto de, hoje, se falar em jogo de colisão. Assim sendo, caracterizaria o jogo assim - sem esquecer que tratámos de um jogo colectivo de combate:
O rugby é um jogo colectivo de combate em que a equipa de posse da bola deve correr e passá-la para conquistar terreno e poder marcar pontos enquanto que a equipa defensora deve procurar a colisão para o impedir.

Assim dito parece que ficará claro que a utilização da bola deve ser realizada no espaço livre, evitando o contacto e mantendo o movimento enquanto que os defensores procuram placar o portador (o que exige a sua colocação no chão) e evitar que ele continue a avançar.
De um lado o ataque aos intervalos; do outro o ataque ao portador da bola. Depois há todo um processo táctico e técnico de adaptação às situações.


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