domingo, 18 de maio de 2014

O FUTURO PREPARA-SE HOJE

Ao mesmo tempo que a Selecção Nacional Sénior de Sevens jogava desastradamente no Torneio de Londres - Pedro Leal, o capitão, sentiu-se envergonhado com a prestação conseguida como frisou ao jornal A Bola - no Jamor, no Campeonato da Europa, a selecção Sub-19 ganhava jogos, subia ao pódio com a conquista do seu 3º lugar e mostrava a possibilidade de um futuro mais risonho.
Pódio do Campeonato da Europa: França, Rússia e Portugal
Não é que tudo tivesse sido exemplar - há ainda muito para construir e desenvolver. Mas já se vê uma base que pode sustentar um crescimento.
Os princípios do ataque estão, praticamente, assimilados: avançar, atacar a linha de vantagem e verticalizar o jogo. O objectivo de marcar pontos a cada posse de bola parece também fazer a sua escola. O que se saúda.
Em defesa as coisas não correram tão bem nem com tanta fluidez, embora haja placadores capazes. Mas alguns dos princípios da defesa ainda não fazem parte do léxico colectivo dos jogadores, havendo pouca comunicação e não sendo a movimentação de cada um a mais adequada à situação. Existe, de facto, um diferencial substancial entre as capacidades de tomada de decisão ofensivas e defensivas.
A defesa colectiva, a sua organização, articulação e sincronia não são coisas fáceis ou meramente intuitivas, necessitam de treino e a coragem física não é suficiente. Bob Dwyer, o treinador australiano campeão mundial, avisa que "com certeza que placar é vital mas também é vital saber a quem devemos placar". E para atingir esse patamar é necessário experiência que só se ganha em competições de bom nível e equilíbrio. E essa experiência, como se viu no jogo com a França, é ainda reduzida na grande maioria dos nossos sub-19.
Aliás este jogo da meia-final com os franceses permitiu verificar a existência de um atraso na formação dos nossos jogadores. Ao ver o jogo e a "distância" entre as duas equipas, pode-se dizer que existe uma diferença de dois anos de formação entre ambas. Ou talvez e dito de outra maneira: um ano de atraso na formação do ataque e dois anos na formação defensiva. Ou seja, contra os franceses os portugueses apresentaram, a atacar, uma equipa de sub-18 e a defender uma de sub-17. Daí as dificuldades e a demonstração de incapacidade na conquista e uso da bola.
Este atraso tem, naturalmente, a ver com a formação, com os seus erros metodológicos e com a falta de competitividade desportiva adequada ao crescimento etário no seu percurso de jogadores. Umas vezes, o ganhar a todo o custo, outras, uma confusão entre desporto e lazer, outras ainda, uma má transmissão do conceito do jogo, fazem a realidade que provoca estes atrasos no conhecimento táctico e técnico dos jogadores.
Havendo no mundo em geral e na Europa em particular um enorme desenvolvimento na formação de jogadores, Portugal, para não ser totalmente ultrapassado tem que alterar o seu caminho e adaptar-se ao que os seus adversários estão a desenvolver.
No caso particular do rugby, a formação deve desenvolver-se na aplicação dos princípios fundamentais e na excelência da rapidez e precisão dos gestos técnicos de base que estabelecem a diferença. Se o não fizermos em tempo e adequadamente, com as deficiências reconhecidas do nosso sistema escolar e desportivo competitivo, veremos passar os comboios sem paragem no nosso apeadeiro.

[curiosidade interessante: cinco dos doze jogadores da selecção de sevens sub-19 que jogou o Campeonato da Europa estão inscritos pelo CDUP. Se a estes juntarmos os outros que em anos recentes, quer em XV, quer em Sevens, têm atingido a internacionalização, existe óbvia evidência que algo de bom tem estado a acontecer na formação dos jogadores cdupistas. O que só é bom para o desenvolvimento do rugby português.]

quinta-feira, 8 de maio de 2014

PLACAR É PRECISO

Placar é uma particularidade do rugby: agarrar e derrubar o portador da bola. E só este!
De acordo com as Leis do Jogo (Lei 15) só existe placagem se o portador da bola for agarrado e levado ao chão - altura em deve ser libertado pelo placador, tendo também - ambos imediatamente como também dizem as Leis do Jogo - que libertar a bola, só podendo voltar a jogá-la com as mãos ou pés, quando estiver em pé.
Placar é, tacticamente, uma acção que pretende, antes do mais, parar o movimento do adversário e criar condições para que a bola seja recuperada. O que exige uma capacidade individual a que se tem que acrescentar um movimento colectivo de apoio que possibilite a exploração do sucesso conseguido.
Depois de ter agarrado o portador da bola, a equipa atacante pode evitar a placagem não o deixando ir ao chão, mantendo-o de pé e criando um maul - o que desde logo impede o derrube do portador, tornando a placagem impossível - para o que é necessário que um companheiro do portador da bola se ligue a ele. Sendo uma vantagem - o portador não é derrubado e por isso não é obrigado a largar a bola e, havendo destreza suficiente, o movimento pode continuar com a rapidez necessária para que a defesa não se possa organizar - pode também significar uma entrega de bola ao adversário, por formação ordenada, porque se deixaram bloquear, sem avanços ou recuos e com indisponibilidade da bola, por defensores.
A placagem não é, portanto, um acidente do jogo: é uma essência do jogo.
Não é possível jogar rugby sem haver placagem, sem haver jogadores - todos eles, naturalmente - que sejam capazes de placar.
Quando jogava ou treinava equipas considerávamos - e dizia-mo-lo uns para os outros - que "a diferença entre o rugby e a pesca é a placagem. Se não sabes placar, dedica-te à pesca!". E a brincar lá se ia afirmando a importância que a placagem tem e deve ter neste combate colectivo que é o jogo de rugby.
Para placar é, antes do mais, preciso coragem: não é fácil ter a disponibilidade mental para meter o corpo à frente de um matulão que vem lançado com a bola nas mãos. Depois é preciso técnica: enquadrar, colocando-o no nosso carril, o adversário e colocar os apoios tão próximo quanto possível dos seus para poder "armar as coxas"; avançar com o equilíbrio necessário para entrar com o ombro nas partes moles do corpo do adversário, apertar os braços, não o deixando fugir e fazendo-o cair para se levantar primeiro com a preocupação de recuperar a bola e iniciar o contra-ataque. Qualquer destas duas componentes - a táctica e a técnica - é treinável.
Para placar é preciso manter uma atitude de combate, uma atitude guerreira de antes quebrar que torcer. Placa-se, atacando o portador da bola - a espera não é mais do que o primeiro passo para perder o impacto. E para placar é preciso não ter dúvidas sobre o momento de o poder fazer: o que exige colaboração dos companheiros, sentido posicional e espírito de equipa - não o deixo passar, por mim e pelos meus! Também aqui, embora seja das acções do jogo que mais necessita do "eu", o "nós" prevalece. É verdade, uma boa placagem é muitas vezes possível por que o colectivo o proporcionou.
Infelizmente os jogadores portugueses não se têm mostrado exímios nesta tarefa do jogo. Placa-se pouco e mal no campeonato interno e o salto para a cena internacional mostra-se fatal. Nos recentes jogos internacionais de quinze e de sete a inépcia placadora - a etapa de Glasgow foi confrangedora - tem sido uma evidência: e por isso perdemos jogos ganhos e por isso perdemos jogos por resultados excessivos.
Para que este gesto técnico se possa fazer em segurança é necessário, desde o início da formação dos jogadores, ensinar-lhes capazmente a técnica de forma a que a confiança cresça e o papel de placador possa ser desempenhado em qualquer circunstância que o jogo imponha.
O rugby português precisa - pela evidência dos nossos jogos internacionais - de rever os métodos de ensino da placagem sob pena de para nada servirem as outras capacidades que conseguimos demonstrar. Porque, sem placagens não há resultados internacionais de qualidade.
Espero que os nossos internacionais - seniores e sub-19 - dêem, neste fim-de-semana, o exemplo de que as capacidades de placagem dos portugueses já demonstradas em épocas não muito longínquas, podem ser reencontradas.



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