quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

QUE O CHUTO NO 0 TRAGA O 1 CAPAZ


 





domingo, 27 de dezembro de 2020

O BELENENESES ENTREGOU-SE À SORTE

Não era fácil, neste confronto luso-espanhol, a tarefa do Belenenses contra uma equipa como o VRAC de Valladolid com 4 títulos na Taça Ibérica — três dos quais nas últimas três épocas — e com 10 títulos de Campeão de Espanha — com 4 campeonatos nas últimas 4 épocas. 

E essa dificuldade de disputar uma Taça contra uma equipa com grande experiência ganhadora aumentou com a competição que uma e outra disputou até se encontrarem. Ambas as equipas realizaram, nesta época, 6 jogos e obtiveram 6 vitórias. Igualdade diferenciada nos adversários que defrontaram e no grau de competitividade com que foram confrontados. E aí, os dados desportivos favorecem os espanhóis.

Pontos marcados nos seis jogos realizados por ambas as equipas 

Como se pode verificar pelo gráfico acima, o Belenenses obteve, nos seus 6 jogos de campeonato, 4 vitórias por mais de 30 pontos de diferença, uma vitória entre os 16 e os 30 pontos de diferença e outra vitória com uma diferença de pontos entre 8 e 15. Pelo seu lado, o VRAC teve 2 vitórias por 16 a 30 pontos de diferença — as mais folgadas — 2 outras vitórias com uma diferença pontual entre 8 e 15 pontos e, por fim, duas outras vitórias por menos de 8 pontos e que permitiram pontos de bónus defensivos aos adversários. É também significativa a diferença de pontos marcados e sofridos pelas duas equipas: o Belenenses consegui uma vantagem positiva de 132 pontos enquanto que o VRAC, com 92 pontos, ficava a 40 pontos de distância. Ou seja e como se percebe, o VRAC defrontou adversários mais competitivos do que o seu adversário Belenenses. O que faz toda a diferença nos hábitos do jogo. Diferença que se notou estratégica e tacticamente nesta final.

O Belenenses habituado às facilidades — pouca pressão, muita conquista de terreno e bola, tempo de decisão e de execução — dos seus jogos internos, desperdiçou iniciativas e perdeu-se na criação de oportunidades; o VRAC, mais treinado na dificuldade, aproveitou o que pode e ainda resistiu  a ter que jogar com 14 jogadores durante 10 minutos por cartão amarelo do seu influente Nº8 — que aliás, por acidente com o seu pilar direito, teve que abandonar o jogo numa exemplar postura do médico espanhol que, apesar das pressões, seguiu a preceito o "Reconhecer e Remover". 

Quer nesta fase, quer nas fases em que o Belenenses parecia atingir uma maior domínio, os hábitos competitivos resultantes de um campeonato mais equilibrado mostraram-se, como se esperaria, vantajosos. Para o lado espanhol, claro.

E foi pena porque o Belenenses tem, individualmente, melhores jogadores... mas deixou equilibrar o jogo ao não explorar convenientemente as suas maiores vantagens e ao escolher opções tácticas erradas ou desadaptadas. A desconfiança de que a coisa não iria ser fácil começou quando, apesar de uma boa entrada no jogo, os lisboetas não conseguiram marcar uma suficiente diferença pontual que, protegendo, impusesse o domínio sobre a desvantagem adversária de "correr atrás do prejuízo". E essa indefinição resultava essencialmente da lentidão de disponibilização da bola nos reagrupamentos que anulava desequilíbrios e permitia reorganizações defensivas. E a isto, pouco habituados a uma pressão que obriga a ler, adaptar e decidir mais rápido, juntaram-se distribuições e lançamentos do jogo desapropriados das circunstâncias e a que um jogo-ao-pé pouco esclarecido, muito pouco incisivo e de constante entrega da iniciativa ao adversário permitiu que adversários, principalmente graças à sua boa velocidade de libertação da bola, equilibrassem o jogo e conseguissem o espaço necessário para construir a vitória. 

E embora parecendo que o Belenenses poderia chegar à vitória — mas, com o passar do tempo, dependendo cada vez mais de um golpe individual uma vez que a equipa funcionava mal nos tempos exactos de apoio— o mau uso ou má adaptação dos seus trunfos não o permitiu. E foi pena...

De facto quando se chega a estes níveis competitivos, todos os pormenores contam. E o hábito competitivo de exigência, de grande intensidade, de poucas facilidades faz a diferença entre vitória e derrota.

Deste jogo fica-nos um ensinamento: se queremos competir com os melhores, teremos que garantir uma competição interna que tenha um equilíbrio tal que obrigue ao desenvolvimento de eficácias adaptativas para qualquer das situações que formam a essência do jogo. As regras deverão ser as do rendimento — o domínio do desporto federado não é o lazer ou puro divertimento — para que o salto para o alto rendimento não seja, pela falta de hábito, um salto no escuro. Com os custos inerentes. 

 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

POR MAIS NATAIS, RESGUARDEM-SE


 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

O ÁRBITRO-AUXILIAR NÃO É O TMO


O árbitro assinala um ensaio favorável ao CDUL

O árbitro anula o ensaio marcado por indicação do seu auxiliar
No jogo Direito - CDUL a contar para a 1ª jornada do Campeonato Nacional da Divisão de Honra, Grupo do Título, o árbitro internacional, Paulo Duarte, em cima da jogada como lhe compete, assinalou um ensaio favorável ao CDUL. Por indicação do seu auxiliar que o alertou para um adiantado voltou atrás na sua decisão, anulou o ensaio e marcou formação-ordenada favorável a Direito. Tudo pareceu correcto, Houve uma falta que o árbitro não viu e, seguindo a opinião do seu auxiliar, alterou a sua decisão e anulou o ensaio. A verdade desportiva estava salvaguardada! Estaria?! A decisão, pensa-se, foi correcta porque o ensaio foi precedido de falta... Não, não foi. A realidade é outra: foi um erro e grande!
Existem dois conceitos conhecidos que se usam para aplicação das leis e que também se aplicam à arbitragem desportiva. Um é o velho dura lex, sed lex — conceito latino que significa a lei é dura mas é lei — e outro que a Juíza do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Sonia Sotomayor, enunciou assim: A tarefa de um juiz não é fazer a lei, é aplicar a lei.
Pois ao árbitro desportivo compete aplicar a lei por mais dura ou injusta que possa parecer sem outras preocupações que não sejam a realidade factual da aplicação das Leis do Jogo. 
E que dizem sobre este assunto da alteração da decisão do árbitro —  uma vez que o TMO (Television Match Official) não se aplica em Portugal — a Leis do Jogo em vigor? Vejamos:
DEVERES DO ÁRBITRO DURANTE O JOGO

5. Dentro do recinto-de-jogo

 

a. O árbitro é o único juiz das questões de facto e da aplicação das Leis de Jogo e deve, em todos os jogos, aplicá-las correctamente.

[[    […]

COORDENAÇÃO DA EQUIPA DE ARBITRAGEM

13. O árbitro poderá consultar os árbitros assistentes sobre assuntos relacionados com as suas funções, sobre a lei relacionada com Jogo-Desleal ou sobre uma questão de cronometragem do jogo e poderá pedir auxílio relacionado com outras tarefas do árbitro.

14. O árbitro pode alterar uma decisão sua quando:

            a. se apercebe que um árbitro assistente ou um juiz de linha, deram indicação de “bola fora” do campo-de-jogo;

            b. um árbitro assistente assinalar Jogo-Desleal.


De acordo com o ponto 5, DEVERES DO ÁRBITRO DURANTE O JOGO da Lei 6, EQUIPA DE ARBITRAGEM, o árbitro é a autoridade maior dentro do campo. Assim sendo, é dele a última decisão em cada e qualquer momento. Mas pode consultar os seus auxiliares? Pode, mas não de qualquer modo e sim de acordo com os procedimentos estabelecidos no ponto 13 da COORDENAÇÃO DA EQUIPA DE ARBITRAGEM que determina que a acção de pedido de assistência seja da responsabilidade do árbitro. Esta acção de pedir assistência conjuga-se com o ponto 14 que estabelece só poder o árbitro voltar atrás numa sua decisão por proposta dos seus auxiliares quando se trata de uma ou ambas de duas: bola fora ou jogo desleal. Ou seja: o árbitro pode consultar os seus auxiliares a seu próprio pedido e antes de qualquer decisão, com excepção dos dois pontos referidos de bola fora e jogo desleal onde a opinião do auxiliar tem um peso que, não sendo imperativo — o árbitro pode alterar — é de considerar.


Então não pode atender à correcção de um auxiliar para garantir a verdade desportiva? Pode, mas só se tiver seguido o procedimento que as Leis do Jogo determinam: antes de tomar e mostrar pública a sua decisão, o árbitro, numa situação como a que aconteceu e que raras vezes tem uma garantia de certeza absoluta, deve consultar o auxiliar — e na maior parte dos casos uma mera troca de olhares basta — e acordar a decisão. Mas... depois da tomada de decisão arbitral não há retorno, excepto pelos dois casos referidos nas Leis do Jogo.


Portanto, a decisão de anular o ensaio com base na existência de um adiantado verificado pelo árbitro-auxiliar depois de uma primeira decisão publicamente visível constitui, por muito que possa custar a uma visão descontextualizado do Rugby, um erro técnico que viola o estabelecido nos pontos 13 e 14 da Lei 6. E é tão grave que poderia ter levado a um protesto por parte do clube prejudicado que poderia, por sua vez, levar à necessidade de repetição do jogo. 


Por mais dura que possa parecer, a lei deve ser aplicada de acordo com as suas exigências e ninguém pode — porque, isso sim, violaria a ética do espírito desportivo — fazer lei à medida dos acontecimentos de um jogo. Porque as Leis do Jogo são o ponto de encontro comum dos intervenientes e o garante do princípio desportivo da igualdade de possibilidades.

domingo, 13 de dezembro de 2020

NIGEL OWENS TERMINA CARREIRA INTERNACIONAL.


Começou a sua carreira internacional em Portugal, no Estádio Universitário de Lisboa em Fevereiro de 2003 num jogo em que Portugal venceu a Geórgia por 34-30 e é considerado, por uma enorme maioria de nós, o melhor árbitro do mundo. Depois da sua 100ª internacionalização decidiu terminar a carreira e apenas e eventualmente arbitrará, daqui para a frente, jogos caseiros.

É um profundo conhecedor das Leis do Jogo e sabe aplicá-las como ninguém - dele alguém disse que árbitrava diferente de todos... porque era o melhor de todos. As suas intervenções na explicação dos motivos das suas apitadelas, sendo profundamente pedagógicas tinham sempre um toque de humor que tornava a sua audição deliciosa (e no rugby internacional o estádio inteiro ouve a voz do árbitro...).

Respeitador e muito respeitado Owens vai deixar um vazio muito dificilmente preenchível ... de momento não se perspectivam candidatos  Nós, o Rugby e os Estádios vamos sentir a sua falta.

E que tal, com o pretexto da comemoração do seu 1º internacional, o Rugby português o convidasse para vir fazer umas conferências e demonstrações práticas. Tínhamos todos a ganhar incluindo arbitragens de outras modalidades.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

INÍCIO DA FASE FINAL COM GRUPO DO TÍTULO E GRUPO DA DESPROMOÇÃO

Começa neste próximo fim‑de‑semana a fase final do campeonato nacional da designada Divisão de Honra que teve 4 jornadas que não se pautaram - como seria bom que tivesse sido - pelo equilíbrio competitivo. De facto dos resultados ressaltam dois factores determinantes do desequilíbrio: dos 24 jogos disputados, 14 (58%) tiveram uma diferença de mais de 30 pontos e 5 (21%) tiveram uma diferença superior a 15 pontos — limite mínimo de atribuição de prémio pontual no ranking da World Rugby  — e inferior a 31 pontos. Relevnnte do desequilíbrio é também o facto de apenas existirem 3 jogos (12,5%) que permitiram a obtenção de pontos de Bónus Defensivo. 

Se olharmos para o mapa da diferença de pontos marcados e sofridos (2º factor de desempate) veremos que há uma quebra brutal do oitavo para a nona equipa — e a diferença de ensaios marcados e sofridos (4º factor de desempate) segue o mesmo caminho... 
     

Juntando as equipas numa mesma tabela podemos estabelecer uma comparação entre os resultados conseguidos mesmo que algumas delas não se tenham defrontado. 

Realizadas 4 jornadas das 22 que seriam o total deste campeonato a 12 equipas, os qualificados que irão disputar o Grupo do Título, apurados em cada um dos Grupos mais um play-off para escolher os dois restantes, correspondem aos melhores qualificados desta geral, ficando assim demonstrado que o limite das equipas de nível para disputar um campeonato competitivo nunca pode, no rugby português, ultrapassar as 8. A diferença para as quatro últimas classificadas é enorme e tudo leva a crer que teria tendência a aumentar. No meio, duas equipas — a Académica e o Cascais — que dificilmente não irão perder capacidade competitiva na disputa do Grupo de Despromoção.


Veja-se a quebra da linha da percentagem Média da Capacidade Competitiva Global construída através dos Indicadores-chave de Desempenho constituídos pela % de Pontos Conquistados, % de Vitórias e % da Quota de Pontos de Jogo. Os valores obtidos demonstram cabalmente que não existe hipótese competitiva neste nível para os quatro clubes do fim da tabela. 

Aliás deste conjunto de resultados pode retirar-se que para o desenvolvimento do rugby português a actual experiência deve ser substituída por outra que junte mais dois clubes aos últimos quatro para que, obrigados então a uma competição equilibrada, possam ganhar capacidades competitivas. Porque é um facto evidente: só há concorrência entre iguais, o resto tende ao massacre. O que significa que no desequilíbrio desportivo não há aprendizagem proveitosa. 

E se conseguimos duas boas vitórias internacionais, não façamos disso a peneira para tapar as fraquezas da selecção brasileira — que saltam á vista se verificarmos as estatísticas do jogo. Para que o sonho França2013 possa ser uma realidade, precisamos que os nossos potenciais internacionais tenham os hábitos competitivos necessários e, no mínimo, tão próximos quanto possível dos nossos concorrentes aos dois lugares disputáveis.


FRENCH-FLAIR, O QUE É?

Vídeo produzido por La Charniére e obtido no Youtube que nos mostra a eficácia da cultura francesa do French Flair. Neste vídeo podemos ainda recordar, numa merecidas homenagem, o notável jogador que foi Christophe Dominici, recentemente falecido. 

"Recusa do jogo?* Pierre Villepreux

Esta coluna foi escrita antes do jogo da França contra a Inglaterra na final da Taça outunal. As minhas observações, portanto, não levam em consideração este jogo. Por outro lado, os jogos anteriores, Escócia - França e França - Itália, devido à pobreza (indigência) do jogo produzido não deixam de me questionar. Compreendo que o rugby está sujeito às forças de mudança e às formas de jogo de outras culturas, o que implica que os treinadores proponham reciclagens táticas e técnicas permanentes. Desde que Fabien Galthié assumiu o cargo, se exceptuarmos estes dois últimos jogos, a construção do rugby procurado parecia-me estar a caminhar na direcção certa. Além disso, os jogadores e a equipa técnica mostravam orientar-se para um rugby baseado no movimento que combina eficiência, prazer e espectáculo. Escrevi na minha anterior coluna que os conteúdos dos jogos respondiam à procura de um jogo total. 


Certamente que faltava estabilizá-lo e ... enriquecê-lo, valorizando-o com um somatório de iniciativas a serem tomadas em áreas de terreno consideradas "de risco". Parece-me que estimulá-lo teria sido mais motivador do que bani-lo. Critério este que não quer dizer que se deva jogar todas as bolas, mas sim que não se excluam  sistematicamente as opções favoráveis ​​que surgem ou se criam quando, nestas áreas, a relação de forças entre o ataque e a defesa se mostra vantajosa. Esta vontade de melhorar dado o potencial dos jogadores de alto nível atualmente disponíveis e tendo em vista as ambições do Mundial de 2023, fazia sentido. Cada um, na continuidade, pode basear-se nas aquisições anteriores, nos parâmetros e nos princípios comuns, a fim de assegurar a coerência efetiva das ações coletivas. Refiro-me à concepção de acção coletiva que se baseia na leitura do jogo e na melhoria progressiva da resposta adaptada pela utilização de todas as possibilidades de acção, formas de jogo e a sua alternância. O rugby mostra a sua riqueza precisamente nesta implementação inteligente da alternância das formas de jogo com as mãos e com os pés. Indispensável para garantir a beleza e o interesse do espetáculo.


Curiosamente, frente à Escócia e à Itália, o tipo de jogo anteriormente visto (País de Gales e Irlanda), que poderia e deveria ter sido utilizado como trampolim, deu lugar a uma estratégia restritiva de excessivo jogo ao pé. É pena deitar fora o que anteriormente funcionou bem para optar, por uma questão de eficácia e resultados, por devolver a bola ao adversário com o efeito imediato de perder a iniciativa de jogo. Fiquei surpreso e desiludido com esta opção. De facto, quando o objetivo estratégico muda radicalmente de base de orientação, como foi o caso nessas duas partidas, existe o risco da forma de jogar acabar taticamente indigente. É também criar um contexto onde os jogadores irão manter uma certa reserva e evitar envolver-se com confiança num jogo mais ambicioso, ignorando assim os desafios que o jogo na sua complexidade desenvolve e que devem ser aceites.


A França não foi a única a colocar essa estratégia em prática. Esta tendência também se confirmou, mais ou menos, na produção dos demais jogos que nos propôs esta Taça do Outono. Ingleses, galeses e irlandeses, a níveis diferentes, não se afastaram dele. Temo que este tipo de prioridade tática excessivamente programada que escolhe um rugby de sistemática conquista de terreno nos conduza a um jogo desinteressante e enfadonho para quem assiste ou o joga. O sistema profissional de alto nível (em primeiro lugar as seleções) deve conciliar resultados e espectáculo. Esta "recusa do jogo" assumida pelos Tricolores que parece garantir mais facilmente a vitória (isto ainda terá que ser verificado) é, no futuro, premonitório do rugby ping-pong vislumbrado na final Inglaterra - África do Sul do Mundial de  2007? Esse estilo foi, não o esqueçamos, muito difamado na época. Outro efeito perverso e não dos menos importantes, é que este lugar dado ao jogo de pontapés ao mais alto nível irá influenciar logicamente a base do rugby. Pior ainda, a formação dos jovens nas escolas de rugby será afetada. Uma representação de jogo prejudicial, que vai contra o conceito catalisador dos objectivos da formação,  nomeadamente a apropriação da oportunidade de inteligente jogo ao pé com propósitos de recuperação na sua relação com o jogo à mão que deve continuar a ser a prioridade no ensino do jogo.


Finalmente, se aceitarmos que "o jogo pertence aos jogadores", surge o problema da liberdade dos jogadores para se livrarem da camisa estratégica de forças prescrita. Isso significaria, ou que eles não seriam capazes de produzir colectivamente reações adaptativas às situações defensivas que surgissem - afirmação que não é sustentável, pois já demonstraram saber fazê-lo anteriormente - ou que lhes faltam personalidade para fazer face às superiores exigências do jogo, o que colocaria em qualquer dos dois casos um problema de formação.


Dito isto, espero que esta jovem equipa de França, precisamente porque inexperiente neste aspecto, saiba contrariar o alarmismo subjacente às minhas observações."


*texto in Midi Olympique de 7 de Dezembro de 2020, tradução do editor.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

VAMOS MUDAR ISTO?

 A Inglaterra é sempre assim: quando é pressionada capazmente, recua uma dezena de anos e faz da colisão o seu jogo até que o adversário ceda. Portanto, estamos conversados: colisão e pontapé na conquista de território, faltas, pega-e-vai para, como diz Eddie Jones, ser suficiente para ganhar. Mas uma chatice de jogo, sem qualquer graça.

A França, com uma equipa que somava 10 vezes menos internacionalizações do que os seus adversários ingleses (cerca de 60 contra cerca de 600), parecia, de início, que se ia libertar das grilhetas que Galthié lhe parece colocar: pouco risco e conquista de território através do jogo ao pé. No fundo, o mesmo modelo com que a África do Sul venceu o Mundial e que a Inglaterra copiou. Mas foram sol de pouca dura as promessas iniciais e os mais turnovers ganhos (10 contra 4) não criaram grande vantagem porque a lentidão de saída da bola era exasperante — e viu-se, num belo ensaio, o que podem produzir as bolas rápidas — muito por falta de um jogador que substituísse o formação que, demasiado preocupado com as suas tarefas de defesa de cobertura chegava sempre demasiado tarde. E a defesa inglesa, sem grande problema, recompunha-se.

Diz-se que os franceses foram prejudicados pela arbitragem — há mesmo quem fale de roubo de catedral com o fechar de olhos a um adiantado de Vunipola na sequência que dará o último ensaio. Que foi adiantado, foi. Que tenha sido visto para além da câmara, duvido. Mas, seja como fôr, os franceses só podem queixar-se de si próprios. Com 16 penalidades contra, só se mantiveram com resultado favorável porque Owen Farrell não acertava um único pontapé — um ridículo 56% de sucesso nos pontapés aos postes. A sensação que dava, durante o jogo, é que os franceses não sabiam as leis do jogo — as faltas no chão são infantis. O que significa que no TOP14 a arbitragem, como, aliás, se pode ver nas transmissões televisivas, deixa muito a desejar. Ou seja: os jogadores estão mal habituados e largar a bola na placagem é um castigo...

E quanto jogo desperdiçado com os 55 pontapés dados pelos jogadores franceses (os ingleses, os reis europeus do chuta-e-corre, chutaram 48 vezes...) contrariando aquilo que é a cultura do rugby francês, o "french-flair", o jogo-de-movimento, em que a bola, comandando o jogo, permite a vantagem da capacidade de adaptação conseguida numa formação em que a decisão comanda a acção. De ganho a França leva o reconhecimento que tem, em alguns dos jovens jogadores — no defesa Brice Dulin e no abertura Mathieu Jalibert, por exemplo —realidades para o Mundial de 23. Mas está a faltar o jogo que permita a expressão das suas capacidades e que possa garantir vitórias contra qualquer tipo de adversários. E terá que ser assim se o sonho é ser campeão mundial na própria casa.

E, acima de tudo, com o exagerado domínio das defesas por falta de aposta no risco e com o jogo ao pé como preferência dominante de aproximação à área-de-ensaio adversária, a atracção do rugby está a perder-se... importam-se de dar um passo atrás e voltar ao jogo? O rugby é bonito de mais para ser estragado com uma visão serôdia do resultado!

Os últimos resultados de jogos entre selecções do ano 2020

  

EM TEMPO: depois de já ter escrito o texto acima, encontrei, por mão amiga, um texto no site LERUGBYNISTÈRE onde são analisados diversos momentos de situações faltosas do jogo Inglaterra-França e que dá uma perspectiva mais correcta da arbitragem e das suas dificuldades do que a visão emotiva ou justificativa do coração de adepto. O acesso pode ser conseguido clicando aqui  

sábado, 5 de dezembro de 2020

UM FAVOR: UMA FINAL QUE SURPREENDA

 Na final da primeira Taça do Outono das Nações entre a Inglaterra e a França e a jogar em Twickenham, os ingleses fazem facilmente figuras de favoritos . Até porque, numa atitude que se percebe muito mal para quem vai organizar o próximo Mundial, a França jogará com uma quase segunda equipa para cumprir um protocolo entre a FFR e a Liga que impede que qualquer jogador apareça mais do que três vezes no boletim de jogo desta competição. E se, mesmo com as melhores equipas, as previsões consideram uma vantagem inglesa por uma diferença entre 13 e 15 pontos...

Não iremos ver o par maravilha — Dupont e Ntamack — e em Inglaterra, quem conseguiu uma das 2000 entradas para o jogo, não se conforma e sente-se prejudicado. E quem paga as assinaturas televisivas, também. E se é verdade que os clubes franceses querem defender o seu campeonato e as suas equipas que se vêem prejudicadas por terem que jogar sem os seus internacionais, só existe uma solução para resolver o problema. Os fins-de-semana anuais são sempre os mesmos, o intervalo mínimo de um mês é necessário para férias e recuperar jogadores, se o campeonato ocupa fins-de-semana demasiados e não há lugar para os jogos das selecções — aqueles que dão bom dinheiro para alimentar anualmente a modalidade nos seus diversos escalões — a solução estará na diminuição do número de equipas no TOP14. Porque de outra maneira... selecções a jogar sem os seus melhores jogadores por vontade administrativa não faz sentido. E o público, que se diz estar a afastar-se, não voltará — pela simples razão de que quer ver os melhores dos melhores em simultâneo e ao vivo. E não jogos com sabor requentado. Se lhe tiram isso...

O jogo, muito provavelmente, vai ser assim: jogo ao pé na procura da ocupação do terreno para então recorrer ao jogo de avançados, mais seguro para garantir a posse da bola, para em "apanha-e-vai" conseguir os pontos necessários à vitória. Portanto pontapé, choque, passe muito curto e uns nas costas uns dos outros com as defesas a multiplicarem-se organizadamente e, saindo muito rápido e subindo bem a darem poucas hipóteses a um jogo sem risco.


Os ingleses decidiram-se pelo pontapé de conquista de terreno depois de terem visto como a África do Sul jogou para lhes vencer a final do Mundial do Japão. E este jogo, de fácil execução e superior segurança, atraiu Eddie Jones que, para além do mais tem a seguinte teoria: "se mostrarmos agora o nosso jogo de ataque, os nossos adversários terão tempo para preparar defesas eficazes e quando chegarmos ao Mundial não surpreenderemos ninguém. A última coisa de que trataremos na nossa preparação será do ataque... Por agora a forma como jogámos, é suficiente

O seleccionador francês, Fabien Galthié, também decidiu adaptar este tipo de jogo de conquista de terreno e, pelo que se percebe de gestos e entrevistas, zanga-se quando os seus jogadores correm riscos. Mas valerá a pena recorrer a este jogo sem graça quando a sua equipa não tem nada a perder por arriscar? Quem levará a mal que uma segunda equipa francesa perca com os dominadores actuais do rugby europeu?

E, se não há qualquer risco no resultado, que tal — e é uma boa hipótese — a equipa francesa esquecer o quadro preto da táctica preparada e decidir-se pelo velho e maravilhoso "french flair" que segundo o antigo internacional Richard Dourthe "não é mais do que a vontade individual de se afirmar, quer dizer de mandar à merda o esquema de jogo e as instruções do treinador numa altura ou outra do jogo!"  Ou seja, aceitar o desafio de correr riscos e aproveitar toda e qualquer oportunidade que permita o jogo colectivo de corridas, fintas e passes. E esta é, porque o poderio dos ingleses no jogo fechado é muito grande, a única maneira dos franceses puderem ganhar o jogo. Até porque em termos defensivos o trabalho de Shaun Edwards (que falta faz aos galeses...) já permitiu uma organização e uma capacidade de defesa atacante — subida imediata e em grande velocidade — que não permitirá grandes abusos ingleses no jogo ao largo ou na recuperação de bolas no chão. E obrigar os ingleses a voltar à cultura do seu jogo de sempre — o que é o seu normal quando se sentem sob pressão — é meio caminho andado para o triunfo. É a minha esperança para uma tarde bem passada no sofá.  

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

RUGBY EM FARTA EM TEMPO DE CONFINAMENTO

O presidente da FPR, Carlos Amado da Silva, foi, no que diz alguma coisa sobre o seu prestígio e com evidentes vantagens para o rugby português, eleito membro do Comité Executivo da Rugby Europe que continua presidido pelo romeno Octavian Morariu. Os meus parabéns na certeza de que a expressão dos pontos de vista do rugby português e dos seus interesses se farão ouvir. O que só pode ser bom para o nosso desenvolvimento. 


Este fim‑de‑semana, para além de um Austrália-Argentina que, terminando o Tri-Nations 2020 que já tem como vencedor final a Nova Zelândia - para que não fosse assim um dos contendores teria que vencer com ponto de bónus e com uma diferença de cerca de 100 pontos - terá como curiosidade o comportamento de sobrevivência da equipa argentina depois dos recentes acontecimentos do "retira e volta a dar o posto de capitão" a Pablo Matera, como resultado do conhecimento de violentos comentários racistas e xenófobos que também terão sido feitos por Guido Petti e Santiago Socino e realizados há cerca de 10 anos. Os jogadores, que não alinharão contra a Austrália, afirmam, depois de públicos pedidos de desculpas, que foram pecadilhos de juventude e que hoje estão longe de pensar da mesma maneira — o que não se percebe e se assim é, é  porque não tiveram a preocupação de retirar os comentários de então das redes sociais...

O jogo importante de amanhã deveria ser um Itália-Geórgia que tudo leva a crer seria o apogeu desta organização do Torneio a que os 29 fijianos infectados trocaram as voltas. E nós espectadores teremos que ficar à espera de um outro possível tira-teimas...

A tarde de sábado, porque ninguém crê numa oposição capaz dos italianos frente a galeses que têm de marcar pontos junto do seu público que se mostra um bocado farto do mal jogar que tem caracterizado o rugby comandado por Pivac, terá o seu maior expoente no Irlanda-Escócia que, infelizmente se disputará à mesma hora que o Cascais-CDUL que disputam o acesso ao grupo principal da Divisão de Honra. 

No domingo, para além do outro jogo, AEIS Agronomia-Académica, referente ao play-off português,  haverá a final, infelizmente também com horário sobreposto, do Torneio de Outono das Nações entre a Inglaterra e a França.   

Mais um fim‑de‑semana de recolher obrigatório mas cheio de rugby para nos entreter.

UM ERRO MONUMENTAL


No recente Portugal-Brasil e nas barbas de um "auxiliar" mais preocupado em olhar para a bola do que em perceber o posicionamento dos jogadores... deixa-se o jogo prosseguir num erro monumental — e elementar — de apreciação.

Vejamos a Lei 18 no seu ponto 2: A bola não está fora pela linha-lateral ou pela linha-lateral-da-área-de-ensaio quando:

a) Atingir o plano da linha-lateral mas seja entretanto agarrada, captada, tocada ou pontapeada por um jogador que esteja dentro do campo-de-jogo.

b) Um jogador saltar, do interior ou de fora do campo-de-jogo e agarrar ou captar a bola e depois cair dentro do campo-de-jogo, independentemente da bola ter ou não atingido o plano da linha-lateral. 

c) Um jogador saltar do interior do campo-de-jogo e antes de cair fora pela linha-lateral ou pela linha-lateral-da-área-de-ensaio, colocar a bola de volta para o campo-de-jogo, independentemente da bola ter ou não atingido ou ultrapassado o plano da linha-lateral. 

d) Um jogador, estando fora pela linha-lateral e sem que a bola tenha atingido ou ultrapassado o plano da linha-lateral, pontapeia ou toca a bola para dentro do campo-de-jogo, sem a agarrar.

Ora o que se passou foi que o jogador que toca na bola estava fora do campo quando saltou — fica assim eliminada a possibilidade de acerto com a alínea c). Mas, estando o jogador fora, também a bola estava fora — o que elimina o recurso à alínea d) que exige que a bola esteja dentro do campo e que, portanto, não tenha ultrapassado o plano da linha lateral.

Ou seja e no fundo: só pode haver continuidade do jogo se bola, estando fora, for jogada por um jogador que, no ar e partindo de dentro do campo, a tocar para dentro do campo-de-jogo ou, estando o jogador fora, a bola ainda estiver dentro do campo-do-jogo. 

Portanto numa situação deste tipo o "auxiliar" deve antes do mais olhar para o posicionamento dos jogadores que podem interferir com a bola. Determinado o seu ponto de partida terá que perceber se a bola está ou não dentro do campo-de-jogo quando tocada, articulando assim as 4 alíneas. Complicado? Complicado é, mas é mais fácil vê-lo do que explicá-lo.

De facto o erro é enorme, mesmo monumental, e desqualifica um "auxiliar" tanto mais que a posição do jogador era evidente e o toque na bola se fez no local de início do salto... e o "auxiliar" ali a dois passos... 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

OS SENTIMENTOS COMANDAM



Pensava escrever sobre os resultados e os jogos internacionais deste último fim‑de‑semana mas hoje, como lembra Camões, outro valor mais alto valor se alevanta e o dia não me deixa para aí virado: morreu Eduardo Lourenço, uma perda no mundo do pensamento e conhecimento irreparável. Façamos-lhe a devida homenagem pelo muito que nos lega e não deixemos que a sua obra seja mais uma a ocupar um espaço na estante dos monos. 

Assim deixo apenas os resultados e consequências, lembrando que a conquista do torneio e o posicionamento classificativo das equipas se disputará no próximo fim‑de‑semana. 



Do fim‑de‑semana rugbístico deixo apenas a camisola que vestiram os jogadores da equipa da França em homenagem a um também recentemente falecido, mas apenas com 48 anos, o três-quartos ponta - e que ponta naquele corpo de dez reis de gente - Christophe Dominici. 

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