segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ALTERAÇÕES NO RANKING



De novo e se as minhas contas estiverem certas, esta será a Tabela classificativa do Ranking IRB que amanhã - 25 de Novembro - aparecerá na página oficial da International Board. Como "dono e senhor" do primeiro lugar a Nova Zelândia e o hemisfério sul a dominar o "podium" a não ser que no próximo sábado uma vitória de Gales coloque a Inglaterra de novo em terceiro-lugar.
Deste fim-de-semana o melhor resultado pertenceu à Geórgia que, num jogo onde não tinha qualquer   favoritismo, derrotou Samoa classificada em 9º lugar. Logo a seguir, em melhores resultados, a Argentina do "nosso" Daniel Hourcade que, num jogo entre "os piores dos melhores" dos dois hemisférios, venceu a Itália em Roma quando em teoria a sua derrota era o resultado esperado.
Dos nossos adversários directos no 6 Nações B e para além da Geórgia que parece começar a navegar noutros mares, só a Espanha perdeu lugares e pontos de ranking embora a Rússia também tivesse, como Portugal, perdido pontos de ranking enquanto que a Roménia manteve pontos e lugar. Difíceis perspectivas para Fevereiro para quem, como nós, deitou demasiados pontos fora.


domingo, 24 de novembro de 2013

FIGHTING SPIRIT

Que grande jogo! Tão bom que quem tenha estado no Aviva deve guardar o bilhete para o deixar de herança aos netos a juntar à estória de uma vitória histórica até segundis do fim. Jogos com este há poucos.
Naquilo que se pensava ser um jogo sem história, um jogo de vencedor antecipado - pela diferença de pontos e pela diferença de capacidade demonstrada ao longo do ano - o fighting spirit irlandês transformou a teoria numa prática diferente e esteve a segundos daquilo que seria considerado a melhor de todas as vitória de 2013. De um lado e de outro, duas certezas: os jogos só estão ganhos depois de jogados; os jogos só terminam quando o árbitro assim o decide.
Os irlandeses, que fizeram um jogo épico - o seu muito melhor desde há muito tempo - só podem queixar-se de si próprios: quem é que se lembra de correr cedo de mais para "atrapalhar" o chutador? 
Mas tire-se também o chapéu aos fenomenais All-Blacks - terá parecido que jogaram menos mas foram os irlandeses que jogaram mais - que conseguiram manter a frieza, a determinação e a boa leitura, já depois do sinal dos 80 minutos, para as boas decisões e chegar ao ensaio na última oportunidade que tiveram.
O árbitro, o galês Owen, esteve à altura dos jogadores: boas decisões, explicações quanto baste, clareza nas informações, consistência nas acções. Na última decisão fez - com a coragem intelctual devida - o que deveria fazer: mandar repetir. É preciso ser uma grande equipa para não tremer e confiar uns nos outros em momentos daqueles.
Um jogo para ficar a memória de todos os que o viram. Notável! Uma lição de jogo, com aposta nos riscos necessários para atingir vitórias, uma demonstração de capacidade de combate extraordinária. Um dos melhores jogos do ano. Um verdadeiro jogo colectivo de combate.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DA TEORIA À PRÁTICA

1.Na Teoria
O Canadá pertence ao grupo de equipas do 2º nível e Portugal, embora próximo ( muito mais próximo do que o Brasil como se viu ) pertence ao 3º nível. Os canadianos estão a 15ª posição do ranking IRB enquanto que Os Lobos, a sete posições de diferença, ocupam a 22ª posição.
Com uma superioridade de 10,68 pontos de ranking, o Canadá tem a responsabilidade de ser o favorito deste jogo.
Na tabela reproduzida em baixo pode ver-se como se distribuirão os novos pontos de ranking resultantes do resultado do jogo. E como é normal neste ranking - onde a vitória dos mais fracos é considerada merecedora de prémio e a derrota dos mais fortes como um castigo - uma vitória dos portugueses trará uma boa vantagem que nos poderá permitir ultrapassar o Uruguai - no 21º lugar com 60,71 pts -  e mesmo a Espanha - no 20º lugar com 60,95 pts e jogo com o Japão onde não deverá conseguir pontos positivos.
Em caso de derrota Portugal, diminuindo algumas centésimas - de 0,35 a 0,23 pts e de acordo com um resultado de diferença superior ou inferior a 15 pontos de jogo - manterá a posição 22 na tabela.


2.Na Prática
Na prática a teoria é outra. E se em teoria a vitórua deveria pertencer ao Canadá, na prática pode ser portuguesa. 
De facto aos canadianos não se lhes reconhece nenhuma capacidade fora do comum: são uma equipa capaz, "arrumada", com boa condição física, sempre com um ou dois elementos de boa velocidade, mas não se lhes conhece nenhum desequilibrador que possa, por si só, criar problemas insolúveis aos portugueses. Vindos de duas derrotas - com a Geórgia e Rússia que embora do 2º nível são nossos adversários do 6 Nações B - os canadianos irão querer rectificar a sua imagem mas a espada que passeia por cima das suas cabeça pode traí-los. 
Se o jogo não lhes correr de feição, a ansiedade pode diminuir as suas capacidades. O que significa que a fase inicial do jogo será crucial. Idealmente Portugal não deveria pontos e deveria marcar os suficientes para lançar a dúvida e fazer reaparecer sobre os canadianos o fantasma da derrota. Que surgirá se, principalmente nos primeiros vinte minutos, os portugueses consigam subir rapidamente em defesa na procura de recuperações de bola que se adaptam muito bem às capacidades dos nossos três-quartos. A vitória pode nascer daí.
O jogo de amanhã tem ainda um outro motivo de interesse: saber até que ponto Os Lobos se encontram preparados para a difícil tarefa de qualificação para o Mundial de 2015. Uma vitória, sem a presença de Julien de Sousa Bardy - o jogador português de maior experiência competitiva de alto nível - abrirá confiantes persectivas.
E há armas para isso - basta que os jogadores não se desfocalizem dos princípios fundamentais: aceitação do comando do portador da bola, apoio eficaz, movimento e circulação da bola com o menor número de paragens possíveis.E com confiança uns nos outros.

3.Outros
Neste mesmo sábado outros jogos de interesse como o Itália-argentina que se prevê muito equilibrado e de reultado imprevisível. A desejada vitória do "nosso" Daniel Hourcade consolidará, sem margem para dúvidas e para nosso contentamento, a sua posição de treinador principal de Los Pumas. A finalizar a janela de Novembro a Irlanda recebe a Nova Zelândia com natural favoritismo dos All-Blacks e a França, num teste duríssimo e demonstrativo das actuais capacidades francesas, recebe a África do Sul.
Jogos a não perder e ao qual podemos ainda, num - julgo - jogo de menor interesse competitivo, o País de Gales-Tonga ou um Escócia-Austrália.
Do nosso campeonato do 6 Nações B jogarão a Roménia com Fiji, a Rússia com os Estados Unidos, a Espanha com o Japão e a Geórgia com Samoa num conjunto de jogos que nos abrirão perspectivas para o posicionamento com os nossos adversários directos.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

MAIS DO QUE PARECE

"Entusiasmo sem conhecimento é o amigo íntimo da tolice.", Sir John Davies, Procurador-Geral da Irlanda de 1603 a 1617.
Do gabinete do ministro Maduro saiu um Despacho sobre a obrigatoriedade de transmissões em sinal aberto para diversas áreas desportiva: o futebol com a parte de leão, andebol, atletismo, basquetebol, hóquei em patins, voleibol. Com algum optimismo fala-se nas taças europeias, campeonatos do mundo, finais, fases finais, etc. etc.
Do rugby nem hipotese. Nem taças disto, nem daquilo. Nem participações nos apuramentos para o Mundial, jogos da Cup no Sevens World Series ou jogos da Amlin. E por acaso [ :-) ] o rugby é a segunda modalidade portuguesa de desportos colectivos em posicionamento dos rankings mundiais, hóquei em patins excluído.


E se as vitórias sobre a Suécia irão melhorar o posicionamento do futebol - terá conquistado 136 pts podendo atingir o 5º lugar do ranking mundial com 1172 pts - as restantes modalidades ficarão onde estão e o rugby português só pode subir - ganhando - e não descerá da actual posição se perder este sábado com o Canadá. 
O rugby português deve muito à televisão pública portuguesa que, com o esforço e vontade do Cordeiro do Vale, fez-nos atravessar fronteiras e ver os jogos do 5 Nações para nos deixar então perceber como se jogava ao melhor nível. Sem a televisão pública portuguesa o rugby português nunca teria atingido a capacidade de resultados internacionais que hoje tem. A televisão pública portuguesa podia - pela sua quota-parte nos resultados conseguidos - voltar a colocar-nos mais próximos do centro do rugby mundial e permitir assim que o rugby seja melhor conhecido em todo o país e proporcionando à miudagem uma oportunidade de entusiasmo desportivo fora do esquema habitual. Mas essa preocupação ficou pela privada Sport TV que az importante divulgação com a dificuldade de ser para assinantes e a óbvia restrição de acesso.
A televisão pública pode, hoje em dia, não passar qualquer jogo de rugby mas a realidade é esta: o rugby está em 2º lugar entre as modalidades colectivas portuguesas de expressão mundial.
E há quem não faça do facto a mínima ideia. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

FIABILIDADE DAS FÓRMULAS

Comparados os resultados que obtive, ver tabela em baixo, com aqueles que hoje foram colocados no ranking IRB Oficial, pode verificar-se a enorme coincidência de números.
Oito dos 25 resultados, correspondentes a quatro jogos, estão errados, sendo quatro por centésimas e outros quatro por maior diferença.
Nos das centésimas o erro deve-se à existência de arredondamentos nos valores visíveis da tabela oficial - que é onde os vou buscar - e que não é possível evitar. O resultado de maior diferença, os pontos do jogo Russia-Japão, deve-se ao facto, erro meu, de não ter notado que o jogo era em campo neutro, no Parc Eirias do País de Gales. O que implica, desde logo e como definem as regras de construção do ranking uma diferença nos pontos de avaliação das capacidades das duas equipas. Quanto ao erro da pontuação da Namíbia que jogou em casa contra o Quénia, não o consigo detectar - esperarei uns dias para confirmar que os pontos que se encontram na tabela oficial estão correctos. Porque tendo a Namibia ganho por 20 pontos de jogo de diferença não vejo como pode manter a mesma pontuação de ranking quando o Kenya perde 1,03, passando de 52,78 pontos em 11 de Novembro para os actuais 51,75.  Algo de errado anda por aqui...
No próximo fim-de-semana o Russia-Estados Unidos - interessante este combate a lembrar livros de espionagem - será também disputado em terreno neutro: no artificial do ALLIANZ PARK normalmente utilizado pelos Sarracens de Londres que têm aí a "sua" casa.
Vista portanto a fiabilidade das fórmulas utilizadas poderei fazer a análise das hipóteses de pontuação para qualquer dos possíveis resultados do Portugal-Canadá do próximo sábado no muito nosso Estádio Universitário.



JOGOS E RANKING

Bons jogos da "janela" de Novembro neste fim-de-semana. O Inglaterra-Nova Zelândia com uma enorme surpresa: a Inglaterra, pese embora a derrota mostrou um jogo muito mais interessante que o habitual com mais movimento e continuidade. E com uma resistência interessante, apesar de se verem a caminho da derrota, não voltaram, como era tradicional, dois passos atrás, retornando à cultura de jogo do passado. A continuarem assim, o 6 Nações promete. Do lado dos All-Blacks momentos sublimes da arte de bem jogar com nova mostra daquilo que se tem que aprender e fazer dentro do campo - de um ponto de vista técnico e táctico - para atingir níveis de excelência individuais e colectivos.
Embora não haja comparação entre a Argentina e a África do Sul o País de Gales deste sábado passado já se aproximou do que lhe temos visto nos últimos anos, jogaram bem, com ideas e com capacidade para jogarem de acordo com a forma como as defesas se apresentam. A Argentina do "nosso" Daniel ainda irá passar por grandes dificuldades até assumir eficazmente o modelo de jogo pretendido - no próximo sábado o Itália-Argentina dir-nos-á qual a evolução - que passará, penso, por um meio-campo a jogar de forma completamente diferente. Na mudança pretendida pelo Daniel da qual se notam já indícios positivos, não há lugar para alguns dos anteriores conceitos, nomeadamente dos três-quartos e da sua forma tradicional de posicionamento, arranque e alinhamento que necessitam de encontrar um timing eficaz e angulos de corrida convergentes para ultrapassar a linha-de-vantagem.
Curiosamente em mais do que um jogo deste fim-de-semana foi possível observar a resolução do problema que a estúpida voz do árbitro "yes nine" produz: ao contrário do pretendido pela Comissão que realizou os estudos, não há utilização da talonagem pelo movimento do pé do especialista talonador mas sim um empurrão, com introdução de bola muito lenta, de oito-jogadores inspirado na bajadita argentina, passando a primeira-linha por cima da bola e, depois, ou há possibilidade de continuar a avançar e o nº8 encontra-se com a bola nos pés ou os base têm que conduzir a bola. Tendo a vantagem de conquistar a bola a avançar e anter a equipa apoiada no pé da frente, tem o defeito de ter uma saída da bola mais lenta. O que pode prejudicar equipas com menor peso na formação ordenada.
O nosso último adversário deste Novembro, o Canadá, voltou, depois da Geórgia, a perder com a Roménia por um ponto de diferença. No próximo sábado veremos se estas derrotas significam um problema para Portugal.
Se as minhas contas estiverem certas, o quadro que publico terá os mesmos valores que a qualificação oficial do ranking que estará disponível no site da IRB a partir do meio-dia. Com esta comparação a validade das fórmulas que utilizei ficará verificada.


sábado, 16 de novembro de 2013

VITÓRIA LARGA

A vitória de Portugal, neste primeiro jogo com o Brasil, por 68-0 é muito boa. Primeiro porque ultrapassou em muito a diferença entre as duas equipas que o posicionamento no ranking IRB poderia fazer supôr; depois porque mostrou uma importante capacidade da equipa: não abrandar e persistir na procura do melhor resultado; depois ainda porque, tratando-se de um jogo em que os riscos estavam, dado o posicionamento no ranking IRB, do lado de Portugal, os jogadores portugueses souberam ultrapassar, com boa atitude e eficácia, essa pressão. E o número - dez - de ensaios marcados - neste jogo em que proporcionamos a menos qualificados que nós a mesma experiência que nos tem sido oferecida - a preocupação de ataque à linha de vantagem mostrada ou o avançar em continuidade, abrem boas perspectivas para os jogos futuros.
Começando já no próximo sábado contra o Canadá num jogo em que os riscos estarão de ambos os lados: quem perder, perde pontos de ranking. Eventualmente posições.
O Canadá já perdeu com a Geórgia e hoje, num jogo sem vencedores antecipados, jogará com a Roménia. O que significa que no próximo sábado teremos uma óptima oportunidade para estabelecer comparações, transformando este último jogo da nossa "janela" de Novembro em mais do que o próprio jogo: será nesse jogo que demonstraremos as reais capacidades que teremos na segunda volta do 6 Nações B e, consequentemente, as verdadeiras hipóteses de continuarmos na corrida para o Mundial 2015.
Boa perspectiva e um bom desafio para os nossos jogadores.

domingo, 10 de novembro de 2013

UMA DERROTA NORMAL

A derrota de Portugal com Fiji correspondeu ao que dizem os números: a diferença de pontos de ranking estabelece, em teoria, 23 pontos de diferença no resultado. E foi o que aconteceu: diferença de 23 pontos. Portanto tudo normal.
Mas se considerarmos que, no XV inicial, havia 6 jogadores que faziam a sua estreia internacional, a normalidade do resultado toma outras dimensões. Apesar da selecção nacional ter entrado em campo com um total de 403 internacionalizações contra 285 internacionalizações dos jogadores fijianos, a inexperiência do alto nível competitivo - apesar das vantagens já adquiridas nos dois jogos da Amlin Cup - estava do lado dos portugueses.


E mais interessante é ainda podermos pensar que o resultado poderia ser bastante mais apertado não fora o falhanço de pontapés marcáveis - no nível internacional é imperdoável não traduzir em pontos as faltas conseguidas pela pressão atacante sobre o adversário - ou a oferta de dois ensaios: um porque um jogador abandonou a linha defensiva à procura de uma intercepção descabida (só se procura a intercepção em duas situações: como último recurso numa situação desesperada de inferioridade numérica ou quando se tem a certeza da sua realização) que abriu uma auto-estrada que naturalmente o experiente fijiano não desaproveitou; outro por uma oferta sem nexo, num passe directo para um ensaio sem qualquer mérito ou trabalho. Dos pontapés aos ensaios, brindes que ajudaram a desequilibrar mais cedo o resultado. Que poderia ter sido mais interessante.
Mas houve avanços com ligeira melhoria no ataque à defesa adversária - apesar do novo "abertura" (que joga no seu clube noutra posição) tenha jogado na "área de conforto" da lonjura da linha de vantagem permitindo que, sem grandes riscos, a defesa se pudesse desmultiplicar - muito embora nem sempre houvesse a preocupação de avançar antes de lateralizar o passe. 
A formação ordenada mostrou de novo os problemas da intromissão do árbitro (a 4ª voz): os próprios fijianos - com bastante mais peso - mostraram mais problemas nas suas próprias bolas. Nas nossas introduções, embora com o bom trabalho de controlo com os pés do Nº8 - Vasco Uva - as nossas linhas atrasadas foram colocadas quase sempre no "pé de trás" o que não permitiu chegar em boas condições ao "canal 3". Situação que deveria levar a penetrações centrais para que não perder a vantagem da concentração de jogadores e, do consequente, espaço disponível. Dols jogadores portugueses gostei do já nomeado Vasco Uva - provavelmente o único veterano que se encontra em condições para alinhar com estes jovens - do jovenzíssimo Pedro Bettencourt (com um bocadinho mais de experiência teria marcado um ensaio que jamais esqueceria) e o sempre notável Julien Bardy.
E visto o jogo ao vivo o que é que se pode ter visto? Logo e a impressionar a "dimensão" dos fijianos. Depois, perceber também como se deve fazer para receber a bola em velocidade e ultrapassar a defesa - perceber aqui o quando lançar-se em sintonia com o movimento da bola é uma técnica que se aprende... treinando. Ver, ao vivo, permite apreender os seus fundamentos.
E estando, poderia ter visto o excelente ensaio de Portugal: bola jogada rápida por Pinto de Magalhães, saltando, com passe tenso e rápido, um/dois jogadores para servir um já lançado Julien Bardy que ultrapassou, atacando o intervalo, a primeira barreira defensiva para, ao fixar o último defensor, dar a bola numa bandeja a Frederico Oliveira que só teve que correr para marcar. Um tratado de aplicação de princípios: velocidade, avanço e ataque aos intervalos e sobre o lado contrário do receptor, apoio em tempo útil e com a linha de passe desempedida. Lindo de ver!
A caminho do Brasil e para um jogo mais exigente no resultado - no jogo com Fiji a derrota não causa qualquer problema em termos de pontuação no ranking - e onde se espera a resultante do crescimento que os três jogos já realizados permitem esperar. Por diversas ordens de razões - entre as quais se inclui a diferença de posicionamento no ranking - a vitória portuguesa, embora - em teoria a diferença é de 8 pontos - sem se pensar em facilidades, é o único resultado possível.
Outros jogos
Nos outros jogos do fim-de-semana e para além da demonstração expressiva da superioridade do Tiers 1 sobre as equipas do Tiers 2, as maiores surpresas vieram dos nossos adversários directos do 6 Nações B que, embora em casa e enquanto a Espanha (20º) cumpria a sua obrigação de vencer fora o Chile (26º) por 26-3, conseguiram duas excelentes vitórias: a Geórgia (16º) sobre o Canadá (14º) por 19-15 ; a Roménia (17º) sobre o Tonga (11º) por 19-18.
A Inglaterra venceu naturalmente os Pumas do "nosso" Daniel Hourcade e no França-AllBkacks de camisola branca, um bom jogo, vale a pena rever o notável ensaio de Kieran Read - uma demonstração de eficácia - e fixar o nome de um jovem francês: Gael Fickou, 19 anos. A Itália, uma espécie de argentinos europeus - de menos para os de cima, de mais para os de baixo - levou uma trepa enorme dos australianos, o mesmo acontecendo com Samoa ou Japão. A África do Sul no seu jogo em força habitual - e cheio de dureza escusada (Bismark Du Plessis continua a agredir quem pode com o seu hand-off de, no mínimo, antebraço e, no pior, de cotovelo...) - venceu, para grande descontentamento meu, o País de Gales que se mostrou muito longe da equipa vencedora do último 6 Nações.
Sub-18de Portugal
Por causa de uma carambolada de meia-dúzia de automóveis na auto-estrada acabei por quase não ver a excelente vitória dos Sub-18 portugueses contra a Espanha e com o consequente conquista do acesso ao Europeu de Élite. Do que lhes vi contra os russos e do que ouvi dizer da final, há ali gente com futuro - saibamos nós encontrar-lhes a motivação necessária que os faça ultrapassar o objectivo  imediatista de "entrada para a universidade" para poder garantir o seu interesse empenhado por uma carreira internacional e a necessária sucessão pode estar garantida.

sábado, 9 de novembro de 2013

DESRESPEITO

No tempo em que eu jogava, não queríamos que houvesse jogos às horas em que a RTP transmitia - com voz do Cordeiro do Vale - qualquer dos jogos do 5 Nações. Ver um jogo daqueles era uma obrigação para todos nós que, para além de gostarmos de jogar, gostavamos muito do rugby. E juntávamo-nos em grupos em casa de uns ora de outros a ver, a vibrar e... a aprender. Porque se aprende muito a ver: tecnica e tácticamente; individual e colectivamente. E aquilo que víamos, tentavamos imitar no treino seguinte - com ajuda de todos porque todos tinham visto. E íamos aprendendo que os franceses fazem assim, que os galeses - e que quinze tinham nessas alturas...- fazem assado. Que a bola isto, a bola aquilo. Que se ataca daqui, que se defende dali. E aprendíamos que é preciso fixar a defesa, correndo em frente antes de passar a bola para o lado, que deslizar na defesa era uma forma de nos multiplicarmos, que havia pontapés atacantes e outros que não passavam de alívios, ou como punham os pés nas formações ordenadas ou como faziam - não havia "levantadores" - o movimento de preparação dos saltos. E percebíamos o combate pela bola e por cada nesga de terreno. Aprendendo tanto jogadores como treinadores. E fazíamo-nos melhores jogadores.

E aprendíamos como se fazia - como diziam os franceses - um "cadrage-débordement" ou uma "troca de pés" com professores tão bons como - numa lembrança breve - Cantoni, Villepreux, Jo Maso, Edwards, Gerald Davies, John Dawes, Barry John, JPR, Phil Bennett, Mike Gibson ou Ian McGeechan. E a placar com os incansáveis Slattery, John Taylor ou Rives. E com tantos outros de quem sabíamos nomes e qualidades. E que, no sonho com que nos queríamos também internacionais, queríamos imitar.
Quando havia jogos internacionais, com Portugal a jogar em casa, a romaria era garantida - todos íamos ver e vibrar com os amigos, com aqueles que víamos a treinar ou com quem treinávamos, que vestiam a camisola nacional. A "nossa" camisola.
Ver jogos ao vivo é muito diferente para muito melhor: percebi isso mesmo na primeira vez que fui a França ver um 5 Nações ao estádio. A dimensão dos homens é "palpável", a velocidade do jogo é perceptível, os contactos mostram-se na sua verdadeira dureza. Ver um jogo internacional ao vivo permite perceber onde estamos e o que nos falta - na televisão, mesmo com a vantagem da repetição, há uma distanciamento que nos afasta da realidade. Às vezes julgamos até que o que vemos é fácil.
Hoje jogam em Lisboa, Portugal - 22º classificado do ranking IRB - e Fiji - 13º classificado do mesmo ranking. Não se pode afirmar que seja um dos melhores jogos do mundo mas é um jogo disputado por duas equipas que se encontram no quinto superior do ranking mundial de 100 equipas. Não sendo um França-Nova Zelândia - 3º lugar e 1º lugar do ranking IRB respectivamente - também não é nada de deitar fora. E alguns dos jogadores presentes jogam nas melhores equipas da Europa. A começar pelo português Julien de Sousa Bardy um dos melhores "asas" do campeonato francês e a quem vimos um excelente ensaio no passado sábado a que se juntam fijianos que fazem nome por essa Europa..
Perder a oportunidade de ver estes jogadores a jogar, para além do pretencioso, é um erro. Porque é não querer aprender com quem faz melhor. Perder a oportunidade de ver como resolverão os portugueses as dificuldades que irão, certamente, encontrar é não querer saber do caminho de desenvolvimento necessário ao progresso. 
Os clubes portugueses, ao marcarem os seus jogos para horas simultâneas com o jogo de Portugal ou para horas que impedem os seus jogadores de estarem presentes no Estádio Universitário de Lisboa é um erro grave. Pelo que limitam à visão dos seus próprios jogadores e pelo que representa de desrespeito pelo papel fundamental que as selecções nacionais representam no desenvolvimento e atracção da modalidade.
Não permitir que a comunidade rugbística portuguesa esteja presente neste Portugal-Fiji distancia o rugby português do Desporto para o colocar na campo das Actividades. É reduzir o rugby português a um jogo do quintal das traseiras. A um muda-aos-cinco-e-acaba-aos-dez

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A LIÇÃO DA DERROTA

Uma derrota nunca é agradável. Uma derrota por dois pontos de diferença - a selecção de Portugal de Sub-19 perdeu com a selecção da Bélgica do mesmo escalão por 13-11 - quando se dispôs do maior volume de jogo ou do maior número de oportunidades, num jogo longo - com 54% de tempo útil - com sequências suficientemente compridas para explorar desequilíbrios, é pior e o desagradável toma proporções superiores. 
Não é, de facto, nada agradável enfrentar a tradução da situação: não foram eles que ganharam, fomos nós que perdemos. E para uma equipa com pretensões, o desanimo deve ser maior pelo sentimento de oportunidade deitada fora.
Não vale a pena, sabe-se, chorar sobre leite derramado e se uma derrota é uma derrota, só para uma coisa poderá servir: para tirar ilações e permitir assim que se possa somar experiência, tornando mais eficazes futuras prestações competitivas.
Porque perderam os Sub-19 de Portugal?
Antes do mais porque a sua prestação - ao contrário da dos belgas - pouco ou nada assentou num colectivo, num espírito de equipa, numa atitude colectivamente ganhadora a fazer de cada minuto um objectivo idêntico para todas as cabeças dentro do campo como exigível num desporto colectivo de combate. Por mais do que uma vez, durante o jogo, me lembrei da frase, depois de uma vitória inesperada no Super Rugby, de Andries Strauss, capitão dos Kings: "O rugby é um jogo bizarro, o carácter vence o talento em qualquer altura." E foi isso que levou a Bélgica á vitória: o carácter de um colectivo, mais do que eficácia do seu jogo.
Do lado de Portugal, a pretensão individualista sobrepôs-se demasiadas vezes á tomada de decisão favorável ao colectivo, perdendo-se assim ensaios ou pontos.
Dois momentos decisivos demonstram essa postura: enquanto no banco se dizia "postes!" numa penalidade sobre o final de um jogo com a diferença de dois pontos no resultado, alguém dentro do campo decidiu pontapé-para-fora, deitando também fora uma oportunidade cara contra o risco de uma hipótese; no alinhamento que se seguiu, alguém dentro do campo, contrariando o sistema utilizado pela equipa e a anterior superioridade já demonstrada no rucking-maul, decidiu por um lançamento comprido quando o objectivo útil seria captar a bola - e que melhor sítio para o conseguir do que a frente? - e ir ao ensaio. Imaturidade?! Certamente mas totalmente indesculpável e sem valer no campo das desculpas  - os Sub-19 são jogadores adultos, não são mais meninos e já integram o escalão do "treinar para vencer". E quando o resultado conta, as decisões a tomar pertencem ao sistema da equipa, ao sistema treinado, não ao livre-arbítrio de uma qualquer importância. Se servir de lição para uma carreira...
Áreas críticas
Mas fora deste desperdício infantil de oportunidades, viram-se - apesar de alguma melhoria em relação ao jogo anterior - aspectos técnicos e tácticos que constituem áreas críticas que, marcando o rugby português, o impedem de atingir uma superior plataforma de resultados. E esta derrota terá de servir para reflectir sobre elas, encontrando soluções para resolver adequadamente os pontos críticos que possam transformar as acções.
Em duas ou três jogadas prevaleceu o individualismo da leitura parcial quando um passe bastaria para encontrar o companheiro no caminho da vitória. À vitória do colectivo preferiu-se o egoísmo da derrota. 
A opção ir ao chão a destempo prevaleceu na maioria das infiltrações - nesta mania da palavra mais repetida do rugby português e que faz do toque um sinal de queda - quebrando a continuidade e demonstrando a enorme dificuldade de jogar entre-linhas e, consequentemente, a também enorme dificuldade de criar desequilíbrios defensivos e atingir a zona depois-da-defesa  em situação de vantagem. E se a estas dificuldades juntarmos o atraso na formação efectiva do apoio - onde estavam, por exemplo, o 6 e 7 em cada saída do nº8? - estaremos em presença de uma área crítica que, se transformada para um apoio próximo e de abertura de linhas de passe, dará uma outra dimensão ofensiva à(s) equipa(s).
Mas provavelmente o pior problema a resolver - porque destrói as conquistas de bola conseguidas e as oportunidades construídas - na "construção" de jogadores capazes de se adaptarem ás circunstâncias do jogo e que joguem de acordo com aquilo que os adversários propõem, mostrando-se eficazes na resolução das situações que enfrentam, tem solução numa lei simples do jogo: o passe lateral só é eficaz quando se avança para fixar os defensores. Ou seja, fazer o passe longe da defesa, sem a atacar, significa passar a bola mais defensores para cima do companheiro, deixando que a defesa ocupe o espaço que parecia livre e lançando ao vento aquiloque parecia uma oportunidade explorável. E se existe, por qualquer razão relacionada com o movimento do jogo, espaço livre na largura do campo, esse espaço não pode ser desperdiçado - o que significa que é preciso segurar a defesa, interessá-la, para que não possa deslizar e multiplicar-se. E estas manobras têm que ser o bê-à-bá da natureza dos jogadores.
Não ter ganho este jogo retira-nos a possibilidade de acesso ao Junior World Rugby Trophy - o Mundial B de Sub-20 onde estivemos, no Chile e no final da época passada. Com esta derrota, num jogo em que mostrámos maior capacidade virtual do que o adversário, mostrámos também alguns dos pontos críticos que retiram eficácia ao rugby português e que precisam, no dia-a-dia dos treinos dos clubes, de ser transformados em ferramentas ao serviço da objectividade da marcação de pontos. Porque é disso que as vitórias vivem: da marcação de pontos!

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