quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

BOAS FESTAS


 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

PORTUGAL-BÉLGICA FEMININO: 2º jogo internacional

 

A selecção feminina portuguesa obteve contra a bem mais experiente Bélgica, um belíssimo resultado, conseguindo conquistar 2 pontos de ranking — o que é muito bom porque não é fácil conseguir tantos pontos num só jogo (contra o Canadá a equipa masculina, apesar da vitória, só obteve 0,20 pts) e subiu 4 lugares — do 53º para o 49º.
Ao vencer um jogo que era suposto, de acordo com o posicionamento do ranking feminino da World Rugby, ser perdido, as rugbistas portuguesas deram uma notável demonstração de capacidade. Para além do mais e apesar da pouca experiência no domínio de XV ainda houve dificuldades, devido à pandemia, para formar a equipa — e por isso mesmo tiveram que jogar sem chutadora. Mas a atitude demonstrada fez o necessário. Aliás esta dificuldade para formar a equipa veio demonstrar que há mais profundidade com qualidade do que se poderia pensar.
A equipa jogou francamente bem e deu uma excelente — e, para muitos, pouco esperada — demonstração de conhecimento do jogo. O movimento da equipa, seguindo colectivamente o movimento da bola e distribuindo-se no terreno de jogo de acordo com as possibilidades da continuidade foi francamente bom quer em defesa, quer em ataque — e a combinação da “dobra” feita no desenvolvimento de jogadas ao largo, foram bem realizadas, no tempo adequado e com muita eficácia. Um gosto de ver — já para não falar na capacidade demonstrada no jogo no chão ou mesmo nos alinhamentos. 
Com este exemplo seria importante não perder o balanço e, para além de mais jogos de XV, uma reorganização das competições internas que permita um salto competitivo que habitue as jogadoras portuguesas ao nível internacional. Esta roeganização não será fácil como fácil não é ampliar o rugby feminino — mas uma boa e muito bem organizada divisão de XV e Sevens pode ajudar a resolver o problema. Elas merecem!
Este jogo contra a Bélgica levantou alguma celeuma porque houve gente que, desconhecendo a realidade da história da modalidade e da sua cultura, ignoraram o conceito de “jogo-teste” e resolveram decidir que este seria o primeiro jogo “oficial” de uma selecção feminina portuguesa  — os “jogos-teste” fazem como sempre fizeram parte da cultura da modalidade e não é necessário que um jogo para ser “oficial”— isto é, que se realize de acordo com as normas competitivas vigentes e veja o seu resultado reflectido na tabela oficial do ranking — esteja integrado em qualquer competição (como aliás aconteceu com os jogos-testes com o Canadá e o Japão). Portanto não era e não foi! O primeiro jogo de uma selecção feminina portuguesa realizou-se em 1995 em Heidelberg contra a Alemanha.
Demonstração:
a) A revista oficial da Federação Portuguesa de Rugby, Rugby Magazine, no seu nº10 datado de Junho de 1995 refere na sua página 3 e sob a chamada “ESTREIA NA ALEMANHA” um título “Selecção feminina não resistiu” onde, no início do artigo, informa que: “A equipa portuguesa feminina denominada “As Lusitanas”, jogou em Heidelberg com a sua congénere alemã, naquele que constituiu o primeiro encontro internacional de Portugal (…)”. Está portanto oficialmente admitido pela FPR da altura como jogo-teste, como, aliás, existem diversos no historial da selecção masculina.
b) E foi um jogo-teste porque assim foi considerado pela International Rugby Board — agora World Rugby — que aplicou as regras do seu ranking da altura e que estabeleciam que qualquer equipa que tivesse realizado um jogo internacional em 1987 receberia 80 pontos e que todas aquelas que o realizassem posteriormente descontariam 2 pontos por cada ano de diferença. E assim, Portugal jogando em 1995, viu ser-lhe atribuídos 64 pontos de ranking [80-(1995-1987)x2=64]. 64 pontos que duraram — mesmo sem qualquer jogo realizado — até Janeiro de 2020 altura em que Portugal ocupava o 13º lugar do ranking e se encontrava colocado à frente de 43 países, nomeadamente da África do Sul, que já tinham efectuado diversos jogos internacionais…No sentido de equilibrar a tabela, a WR, em Novembro de 2020, retirou pontos a Portugal — que desceu assim ao 53º lugar com 34 pontos — estabelecendo a pontuação com que Portugal se apresentou frente à Bélgica. 
Portanto, dois jogos internacionais integrados no Women´s Ranking da World Rugby, atribuindo naturalmente o título de internacional às jogadoras que participaram efectivamente nos dois jogos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

FALTA DE RESPEITO!

 



Mais do que incompetência este post da Rugby Europe a anunciar as duas equipas dos Lusitanos e dos Delta para o jogo do próximo sábado a contar para a Rugby Europe Super Cup 2021/22 é pura e simplesmente FALTA DE RESPEITO!

… e sem desculpas!

sábado, 4 de dezembro de 2021

OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE I)


Todos nós gostamos de ver, em Coimbra, os Lobos (19º lugar no ranking) a baterem-se contra uma equipa superior no quadro internacional com muito maior experiência como o Japão (10º lugar no ranking). Lutaram, tiveram uma boa atitude — muito superior, diga-se, ao dia seguinte, na Luz, ao que mostraram os futebolistas portugueses (7º lugar do ranking) contra a Sérvia (23º do ranking) — e  tiveram sempre a possibilidade da vitória na cabeça.

Para uma previsão de derrota por 19 pontos, a diferença final de 13 pontos estabelece um resultado melhor do que o esperado. Mas, por melhor que seja o contentamento de uma consequência de apenas 0,03 pontos de ranking perdidos, este jogo contra o Japão não foi mais do que uma esplêndida oportunidade deitada fora. E como tal deve ser olhada.

Seria o melhor resultado de sempre do rugby português e deixámo-lo fugir por entre os dedos. E não foi apenas pelo erro de ansiedade da última jogada — um passe feito numa situação que, se lida convenientemente, resultaria na decisão de uma finta-de-passe. Mas houve mais desperdício: que exige análise, pensamento e correcção.

Também não se pode falar de falta de experiência — os jogadores que actuam no campeonato português têm já, fora os feitos pelos Lusitanos, mais de 10 jogos internacionais efectuados enquanto que os outros, jogando no campeonato francês que, mesmo sendo o PROD2, lhes dá a experiência necessária. Não sendo portanto falta de experiência, será falta de conceito na sequência de jogos anteriores que entregaram a vitória por entre os dedos?

Desperdiçada esta oportunidade mandam os princípios do desenvolvimento competitivo permanente que não se disfarcem as falhas e erros com o contentamento despropositado por a derrota não ter sido tão má como isso. O que se deve fazer é proceder à análise conjunta do sistema competitivo em que nos movemos e encontrar as mudanças estratégicas, tácticas e técnicas que serão necessárias promover.

Como se pode ver pelo gráfico "Conquista",  existiu, em todos os parâmetros deste domínio e com excepção das formações-ordenadas que se equilibraram na conquista, vantagem da equipa portuguesa. E com mais vantagem nos rucks, turnovers e penalidades conseguidas — 15, sendo 6 no meio-campo adversário, contra 8 consentidas pela equipa portuguesa. Com esta vantagem global, como se perde o jogo? E não, a resposta não foi o azar do último minuto. Foi o desperdício... até porque, para além da vantagem da posse, tivemos ainda a vantagem de jogar durante 15 minutos, nomeadamente os 5 minutos finais, contra 14 japoneses por dois amarelos aos 41 e 75 minutos. 


Desperdício provavelmente provocado pelo baixo nível de exigências do campeonato interno que permite jogar de uma forma que os jogos internacionais deste patamar (o dos 20 primeiros mundiais) não admite e promove os erros - tudo é mais rápido nos gestos, na leitura e na decisão, tudo tem que ser antecipado e para isso são preciso hábitos competitivos permanentes e elevados conseguidos nos jogos e nos treinos, num equilíbrio competitivo constante.

Apesar da vantagem da posse da bola como se pode (re)verificar pelo número de passes feito pelo médio-de-formação português — 75 contra 40 do japonês — a que se acrescentam 23 metros de corrida contra apenas 5 do adversário, apenas foram marcados 3 ensaios contra 4 dos japoneses.


Do maior número de bolas que conquistamos — cerca de 122 — apenas conseguimos ultrapassar a linha-de-vantagem 48 vezes (39,3% da situação) e conseguimos ensaios em 6,25% dessas vezes. O que é pouco! Os japoneses com menos bolas — 84 — ultrapassaram a linha-de-vantagem 46 vezes (57,4%) numa proximidade grande em relação á equipa portuguesa e marcaram ensaio em 8,69%. Ou seja, o aproveitamento português da posse da bola foi reduzido e os japoneses mostraram-se bastante mais capazes e produtivos.

E esta pior relação de eficácia — e os japoneses tiveram dois cartões amarelos — deve-se muito ao facto de, por um lado, continuarmos a ir demasiadas vezes para o chão em situações de contacto, esquecendo-nos que a ida para o chão representa a vitória da defesa que assim ganha tempo para se reorganizar — manter a bola viva, seja com passes-em-carga, seja com o dar-as-costas ao adversário antes do contacto, procurando o apoio de um companheiro, deve ser a marca do nosso jogo. Ou seja um permanente jogo de movimento em que a circulação da bola vai comandar as linhas, ângulos e direcções do apoio dos jogadores com o objectivo de chegar ao ensaio como propósito. 

Por outro lado, continuamos, ao recorrer ao bloco de 3 jogadores, normalmente avançados, para procurar uma entrada que desorganize a defesa, entregando a tarefa ao jogador central do trio sem qualquer movimento — como um passe que permita jogar para o interior ou uma dobra para atacar o exterior — que possa surpreender o adversário. Com o resultado habitual do chão para tudo se ter reiniciar outra e outra vez porque a desorganização defensiva não existiu. E a isto junta-se ainda uma linha-de-três-quartos a manobrar muito longe da linha-de-vantagem, não conseguindo a necessária verticalização e sem qualquer recurso a movimentos — como se viu ainda recentemente a dobra irlandesa continua e permitindo assim que a defesa possa deslizar sem problemas e equilibrar a relação defesa/ataque, garantindo com facilidade o cumprimento da lei-do-espelho. E a regra aqui é simples: se vamos ao chão, o tempo de libertação da bola para a voltar a fazer circular continua no limte do “1-2-3” — se a rapidez de disponibilização for desta natureza, o movimento pode continuar e os três-quartos podem ser chamados a intervir, se a demora ultrapassa os três segundos é necessário, como se já se viu, voltar a atacar junto do reagrupamento seja por “apanhar e andar”, seja por passes curtos. Com uma vantagem: poder ultrapassar a linha defensiva e criar uma boa oportunidade atacante. Mas tudo exije movimento — da bola e dos jogadores — e uma boa leitura que deve assentar numa boa comunicação.

Outro dos factores que não tem melhorado ao longo dos jogos tem sido o jogo-ao-pé que não garante a criação de situações de desconforto ao adversário nem tão pouco o obriga a tomar decisões de risco. Com a 50:22 e o normal recuo da terceira-linha de cobertura defensiva torna-se necessário, para explorar as novas situações espaciais, utilizar também novos processos que provoquem mossa na organização defensiva adversária. Chutar por chutar não corresponde mais do que a um jogo ao pé de alívio e a uma entrega fácil da bola ao adversário. Isto é, a deitar fora bolas que permitiriam uma utilização atacante e, pelo menos e na grande maioria dos casos, exigiriam ao adversário esforços de conquista. Chutá-las assim é, dir-se-ia, dar uma borla…

[CONTINUA em OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE II) ]

OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃo (PARTE II)

[ CONTINUAÇÃO DE OPORTUNIDADE PERDIDA, OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO (PARTE I) ]

Ao nível internacional, o jogo-ao-pé tem um enorme importância e, se bem explorado, pode ser uma arma que transforma um jogo, alterando as suas circunstâncias e colocando o adversário em difíceis situações... e muitas vezes, principalmente com a área-de-ensaio perto, recorrendo ao pontapé-rasteiro, como teria sido o caso numa das situações do jogo, em vez do escolhido curto pontapé-de-balão. Porque no pontapé-rasteiro, para além de ser corrida pura e os atacantes terem a vantagem de ir de frente, ao defensor cria-se uma mais difícil situação de pontapear a bola e, com a nova regra, uma difícil opção se lhe coloca: ao fazer toque-no-solo o defensor fica — de acordo com a responsabilidade da colocação da bola na área-de-ensaio — com a possibilidade de recomeçar o jogo com um pontapé-de-ressalto da linha-de-ensaio ou a de entregar a bola ao adversário para uma formação-ordenada a 5 metros. Em qualquer das situações as vantagens do atacante são óbvias — se a bola for pelo ar a possibilidade de um pontapé-de-alívio é de maior facilidade de execução…


Onde se notou a maior diferença entre a suas selecções foi nas placagens. Os jogadores portugueses falharam, para 105 tentativas, 24 placagens enquanto que os japoneses em 137 tentativas apenas falharam 14 placagens numa diferença de 30% para 11%. E aqui terá estado uma das razões da derrota portuguesa que terá permitido a marcação de ensaios que construíu a vitória nipónica.

Mas mesmo com os diversos erros cometidos, Portugal teve o jogo na mão — e deitou-o fora por má gestão das 6 penalidades que conquistou no meio-campo japonês. Ou seja por razões de uma estratégia aparentemente mal pensada, por óbvia falta de criatividade e eventual falta de acertada preparação táctica, esquecemo-nos do processo táctico da decisão.


E o erro foi optar por pontapés para fora na procura de alinhamentos para utilizar mauls-penetrantes. Das seis penalidades usámos 2 para obter 6 pontos e devíamos ter usado mais! Veja-se porquê: bem sei que a confiança era alta e que um nossos maul inicial resultou em ensaio. Mas para que os mauls-penetrantes sejam efectivos — porque exigem, na jogada directa que procuram, uma difícil articulação e muito bom equilíbrio de forças do bloco de avançados — não pode, ou não deve, ser utilizado a mais do que 10 metros da linha de ensaio porque a partir daí é muito mais fácil para o adversário desequilibrá-lo para o que conta com a ajuda dos próprios portadores — e com equipas experientes como a japonesa... foi o que aconteceu. Iludidos pelo êxito do primeiro ensaio, esquecemos as regras da competição desportiva — marcar mais pontos do que o adversário  — e o seu processo de decisão táctica: como marcar mais pontos do que o adversário. Procurando a mais simples das eficácias, claro

Esta decisão, postes ou alinhamento?,  precisa de análise anteriormente preparada — quais são as zonas do campo onde o chutador indicado tem valores elevados de precisão? a que distância da linha-de-ensaio consegue, chutando da mão, colocar a bola fora? — que deverá levar à decisão mais eficaz: postes porque a zona e a distância estão ao alcance de quem chuta e serão 3 pontos encaixados; bola para fora porque 3 pontos não chegam e o resultado exige um ensaio, e uma de duas: se a distância à linha-de-ensaio é menor do que 10 metros e o poder e técnica dos nossos avançados está adequada à missão, o maul-penetrante será uma boa solução; se a distância é maior ou o poder dos nossos avançados não se mostra suficiente, o ideal será criar, depois de um lançamento para uma das extremidades do alinhamento, uma manobra que, encolhendo a linha de defesa, permita espaço para ataque dos três-quartos. 

No fundo o que aconteceu de facto, foi o seguinte: os japoneses usaram todas as penalidades que conseguiram obter no meio-campo português, 4, marcando 12 pontos e nós, utilizando apenas duas das seis conseguidas — de nada nos valendo portanto a maior disciplina demonstrada — entregamos pontos e, ignoramos que em jogos internacionais a procura de pontos é decisiva e que os jogos são para ganhar. 
     
Como sabemos de nada serve ficar a pensar no azar da intercepção final numa jogada que nos daria a vitória. O que deve ser pensado deve ser objectivo na procura dos erros cometidos e da falta de eficácia que não permitiram à equipa portuguesa vencer um jogo que esteve nas suas mãos. E a diferença esteve na ineficácia táctica mais do que em erros técnicos directos. E é bom lembrar que para chegar ao Mundial de 2023 não chegam vitórias morais, são precisas vitórias reais e os jogos contra a Geórgia, Roménia, Espanha, Holanda e Rússia estão à distância de dois meses. Com o objectivo na vitória! Porque queremos estar presentes na festa mundial do Rugby!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

O QUIM PEREIRA FAZIA ANOS HOJE

O Quim fazia hoje 84 anos. Infelizmente, deixou-nos antes de o podermos comemorar...

Tive com o Quim uma relação de profunda amizade construída na relação de jogadores de uma mesma equipa — CDUL —e com uma mesma visão rugbística, entre o treinador que ele era e o jogador que eu fui e entre o treinador que sou e o jogador que ele foi. Ou seja: jogamos juntos, ele foi meu treinador e eu fui seu treinador num ciclo invejável. A sua última selecção foi, comigo a seleccionador, contra a Espanha em 1984 — tinha então 46 anos! E jogou pelo CDUL até aos 50. Uma força da natureza.

E tivemos diversas aventuras nas viagens pelo país fora. Numa delas, numa vinda de um jogo em Coimbra já depois do jantar e de uma cervejolas no clube, ficámos sem gasolina no carro — o Quim tinha-se esquecido de verificar o depósito... Já era noite e com o carro parado na estrada, só víamos faróis aos quais acenávamos a ver se alguém parava... Parou um e quando explicávamos que éramos dos rugby e tínhamos ficado sem gasolina ouvimos um "Do Rugby?! Você é o Quim Pereira, não é?" e tivemos a oferta do Joaquim Meirim, treinador de futebol, que, com toda a simpatia, nos disponibilizou toda a gasolina que precisássemos. Uma sorte!

Recordo também e sempre os seus telefonemas quando estava na tropa: “Podes vir jogar no domingo?”. E quantas vezes, de serviço, mas com o apoio do “sargento-de-dia” vinha de Tancos a Lisboa numa ida-e-volta com jogo pelo meio. Belos tempos passados em treinos, em viagens, em jogos, em recuperações à mesa e sempre com o Rugby como tema.

O Quim foi, no rugby português e numa longevidade ímpar, um “homem dos sete ofícios”: jogador internacional, formador de centenas de jogadores, jogador-treinador, treinador-jogador, treinador de selecções jovens, adjunto de selecções nacionais.

Como jogador, foi 17 vezes internacional a ponta, terceira-linha e pilar (a ponta foi uma maldade que lhe fizeram: como era grande e forte podia parar os “monstros” dos romenos...). No CDUL, onde participou na conquista de 11 campeonatos nacionais,  tinha a qualidade de obrigar os companheiros a darem o seu melhor nem que fosse com uma palmada disfarçada — pedagógica, dizia — numa qualquer molhada, de “agressão do adversário” — “Então já te deram e tu ficas-te?!” perguntava com um ar mal disfarçado de brincadeira. E nunca saiu do campo zangado fosse com quem fosse.

Nuns tempos em que ainda havia muito de “postes às costas”, o Quim Pereira foi, pelos processos e métodos utilizados, um modernizador do rugby português. Com ele houve um salto do “vamos lá
jogar” para uma organização relacionada com o Desporto de Rendimento que o Rugby português haveria de percorrer. 

O Rugby Português em geral e o CDUL em particular devem muito ao Quim. O CDUL porque foi ele que, durante anos e alguns deles muito difíceis no pós-revolução de Abril, o manteve vivo, na permanência como clube rugbísticamente qualificado. A sua mala do carro foi, ao longo de anos, a secretaria do clube. Aí se guardavam todos os documentos como as fichas e licenças dos jogadores, os equipamentos e as bolas. Em dia de jogo era, depois de ter passado na lavandaria e de definir a equipa, abrir a mala, retirar as licenças, preencher o boletim-de-jogo, distribuir os equipamentos, pegar nas bolas, fechar o carro e ir para o campo para jogar. Mas os trabalhos do Quim não acabavam aqui, se ao sábado eram seniores, ao domingo eram juniores. E os treinos, para uns e outros e numa sequência constante, eram quase todos os dias da semana...Uma vida dedicada ao Rugby.

Nuns tempos em que ainda havia muito de “postes às costas”, o Quim Pereira foi, pelos processos e métodos utilizados e para além do contributo para a formação humana, desportiva e cívica de centenas de jovens, um modernizador do rugby português. Com ele houve um salto do “vamos lá jogar” para uma organização relacionada com o Desporto de Rendimento que o Rugby português haveria de percorrer.

Para o Rugby, o Quim Pereira não morreu, mantém-se e manter-se-á vivo na nossa memória como um dos mais distintos praticante e educador. Um inesquecível!

Tão inesquecível que o seu nome — Quim Pereira, assim dito e assim escrito — deveria ser dado ao novo Campo 2 do Estádio Universitário.

(A base deste texto foi publicada neste blog em 12/04/2019 quando da sua condecoração pelo Governo português com a Medalha de Mérito Desportivo)

PRIMEIRA SELECÇÃO FEMININA DE XV DE PORTUGAL

 


Agora que se vai jogar o Portugal-Bélgica a contar para o Women’s Trophy 2021/22 mostro, 26 anos depois, a fotografia, com os nomes das pioneiras dos treinadores Henrique Rocha e Vasile Constantin da primeira selecção feminina de Portugal que jogou contra a Alemanha em 15 de Maio de 1995.

Esperemos que desta memória isolada se encontre agora a continuidade necessária da representação nacional feminina.


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O NORTE EM GRANDE

As equipas do Hemisfério Norte tiveram um óptimo comportamento no passado fim‑de‑semana. Com excepção da Rússia que perdeu com o Chile, em casa e por um ponto, e da Geórgia que, embora com excelente resultado, empatou com Fiji, todas as outras das equipas do Norte venceram os jogos. E até a Roménia surpreendeu ao vencer o Tonga por margem mais folgada do que as expectativas.
 

Nestes Jogos de Outono a grande vencedora foi a Inglaterra que, com as três vitórias conseguidas, obteve 2,39 pontos de Ranking da WR enquanto que a Austrália — com 3 derrotas e 1 vitória contra o Japão — foi a pior das equipas ao perder 3,59 pontos de Ranking.
Portugal, com a vitória sobre o Canadá e a derrota com o Japão, conquistou 0,17 pontos de ranking enquanto que os seus adversários da RE Championship 2022 como a Roménia — com 1,69 pontos conquistados — a Espanha — com 0,60 pontos conquistados — a Geórgia — com 0,29 pontos conquistados conseguiram ligeiramente melhor ao passo que a Rússia — que perdeu 0,87 pontos — e os Países Baixos — com 1,70 pontos perdidos — fizeram pior. 

sábado, 20 de novembro de 2021

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

JAPÃO NATURALMENTE FAVORITO

 Portugl defronta, em estreia oficial, pela primeira vez — o jogo de 2007 foi um treino e não jogo oficial e que, por isso, ambos os países não atribuíram internacionalizações — o Japão, actualmente na 10ª posição do ranking da World Rugby.


Dada a diferença de posicionamento e de pontuação, o Japão é naturalmente favorito com a teórica vantagem de 19 pontos de jogo de diferença. 

Portugal tem neste jogo um teste para medir as suas capacidades competitivas em relação ao RE Championship 2022 que apura para o Mundial de França. Com ainda dois jogos dso Lusitanos antes do início da nova época internacional, os Lobos terão, a partir do que este jogo demonstrar, tempo de correcção e adaptação para a melhor preparação.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

PORTUGAL FAVORITO CONTRA O CANADÁ

 De acordo com os valores e classificação do actual Ranking da World Rugby, os Lobos, neste 5º jogo que irão disputar com o Canadá, amanhã sábado, no CAR Rugby do Jamor e apesar das quatro derrotas anteriores, são favoritos à vitória com uma previsão de diferença, como se pode ver no quadro abaixo, por 16 pontos de jogo.

E se o prognóstico contraria absolutamente o último resultado entre os dois países, em Lisboa e em 2013 com 52-13 favorável aos canadianos que marcaram 7 ensaios, 4 transformações e 3 penalidades contra 1 ensaio e uma penalidade do lado de Portugal, também acontece que antes do início da pandemia os prognósticos dariam para um jogo em casa uma vantagem para Portugal por 3 pontos para, um ano depois, a vitória continuar a ser portuguesa, agora por 6 pontos. 

Entretanto e apesar de duas das derrotas canadianas terem sido contra a Inglaterra e o País de Gales — que pela distância de pontuação do ranking ser superior a 10 pontos não tiveram qualquer influência no seu posicionamento que, aliás, já era inferior a Portugal — as outras derrotas foram contra os Estados Unidos e o Chile, resultados que valeram ao Canadá ficar fora do apuramento para o Mundial 2023.

Por outro lado Portugal conseguiu nos seus últimos 5 jogos internacionais 3 vitórias por números que, para além do valor da vitória em casa do adversário, ainda acrescentaram os bónus de vitórias superiores a 15 pontos de jogo. Daí que o algoritmo, que não pondera mais nada para além da objectividade dos valores, não estando errado no favoritismo que concede aos Lobos pode também não estar longe da actual diferença entre as equipas. Veremos amanhã...

Desde que Portugal vença, seja por que resultado fôr, só subirá um lugar no Ranking se a Roménia perder, em casa, com o Uruguai. Perdendo, Portugal só perderá um lugar na classificação se a Espanha — o que se mostra muito improvável — vencer Fiji. 
Nos restantes jogos deste fim‑de‑semana e em que o nosso próximo adversário, o Japão, defrontará a Irlanda com o prognóstico de uma derrota pela diferença de 19 pontos de jogo, haverá ainda um França-Argentina — vaticínio de vitória francesa por 12 pontos e um, provavelmente muito interessante, Escócia-Austrália com o prognóstico de vitória australiana por 6 pontos de diferença.
A contar para a nosso grupo de apuramento do Mundial e, portanto, com todo o interesse para Portugal, os Países Baixos recebem a Rússia e são dados como favoritos com uma vitória por 3 pontos de jogo de diferença. E se assim acontecer significará que diminuirá o número de equipas candidatas ao 2º lugar que permitirá o apuramento directo.
Outro jogo a ter em conta será o Gales que depois da enorme derrota — pesem todos os jogadores (7 para além de mais 6 lesionados — a que se juntaram o capitão Alun Wyn Jones e Ross Moriarty ) com que não puderam contar — contra os sul-africanos (podendo agora contar já com alguns, como Dan Biggar, Nick Tompkins ou Rees-Zammit, dos que jogam na Premiereship) quererão demonstrar que a sua realidade é superior à imagem que nos deixaram e tudo farão para obter um resultado mais de acordo com o seus pergaminhos.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O RETORNO DO 5/8?

O papel do médio-de-abertura, com as alterações de Junho de 2020 referentes à zona-de-placagem, permitindo uma mais rápida disponibilidade da bola, modificou-se. Tornou-se mais exigente na leitura e na consequente decisão. Mas também no movimento e linhas-de-corrida. Para além do facto de serem obrigados a adaptarem-se a outras tarefas — nem sempre serão os primeiros receptores dos passes daqueles que, embora muitas vezes sem o nº 9 na camisola,  os fazem das situações "expontâneas"... 

O recurso a jogadores com características próximas dos tradicionais médios-de-abertura — boa leitura, bom jogo ao pé, capacidade de aceleração e de variação do jogo — em lugares como 1º centro ou defesa não é novidade. Os franceses, os irlandeses, os australianos ou os ingleses já recorreram, desde os anos 80, à utilização de dois aberturas de formação, umas vezes para não deixarem de fora dois talentos, outras para encontrar soluções contra determinado tipo de tendências de organizações defensivas. Mas nunca com as intenções actuais.

Curiosamente os neozelandeses, os inventores dos 5/8, quando recorrem a dois aberturas — e fazem-no muitas vezes para não prescindirem da categoria dos seus talentos na posição (tendo até já jogado com três aberturas — 10, 12 e 15)  — utilizam-nos, na maior parte das vezes nos lugares de abertura e defesa. No fundo o objectivo é o mesmo: permitir que uma jogador com os hábitos de leitura e decisão esteja sempre disponível e suficientemente próximo para tirar partido das rápidas bolas dos reagrupamentos.

O nome de 5/8 para o que hoje designamos por abertura e 1º centro então com a designação de Primeiro e Segundo 5/8  nasceu na Nova Zelândia — terá sido Jimmy Duncan capitão dos All Blacks de 1903 que assim os designou na altura em que o número de avançados estacionou em oito e aumentou o número dos 3/4.

Se o facto da velocidade de disponibilização da bola a que se juntava muitas vezes uma concentração de defensores, já chama a atenção para a vantagem de ter um parceiro de características idênticas junto ao tradicional abertura com a consequente capacidades de uma segunda distribuição do jogo e a possibilidade de explorar de forma mais eficaz quer o recurso do ataque em duas-linhas quer pela capacidade de uso do jogo-ao-pé mais preciso e capaz de explorar espaços vazios na defesa adversária.

Este retorno, com a aplicação da nova Lei dos 50:22, está a ganhar uma maior dimensão. Que, aliás, faz todo o sentido. Porque as alternativas para um 5/8 (12) mostram-se inúmeras... principalmente porque, quando já tem a bola à sua disposição, os seus adversários defensores já tiveram que alterar a sua posição inicial para — perdendo a comodidade do conhecido — tomarem a decisão de novos caminhos a seguir e, muitas vezes nesse necessário movimento de nova ocupação, deixando livres outros espaços que podem ser explorados com proveito.


Veja-se: com as possibilidades que a 50:22 abre, a defesa tem que recolocar uma real 3ª cortina defensiva com uma profundidade tal que permita controlar os pontapés dirigidos para as linhas laterais da área-de-22* e que muitas vezes e de acordo com as características adversárias, necessita ainda de um quarto jogador  nª8, Formação ou o Abertura que, passada a fase-ordenada, se recoloca em profundidade. Se uma inesperada recuperação da bola tem no 5/8 o elemento treinado para tomar a decisão para a sua melhor distribuição a que se acrescenta outro distribuidor (o abertura recuado ou mesmo, como utilizam os neozelandeses, o defesa) que comandará o assalto de uma segunda-linha.

No momento sequente ao da conquista da bola e com a bola entregue ao abertura atacante, o ponta-aberto da defesa terá, logo que percebe que o jogo atacante se fará ao largo, que subir para o nível da segunda-cortina defensiva para não deixar encurtar a defesa em relação ao número de atacantes. E é aí que entra o papel do 5/8 — que pode jogar ao pé para o espaço deixado livre pelos outros membros da anterior 3ª cortina defensiva. E repare-se que o 4ª elemento que se prepara para integrar a 3ª cortina ainda não percorreu o espaço que lhe garantirá a profundidade defensiva necessária.

Pode assim perceber-se as vantagens do recurso a um duplo do abertura. E se o defesa tiver também as capacidades de um abertura actual — esse cada vez mais vagabundo de múltiplas funções — o ataque ganha uma dimensão superior, controlando tacticamente o tempo e conseguindo que o domínio territorial não dependa apenas das vantagens físicas.

A equipa da França, que joga contra a Argentina neste fim‑de‑semana prepara-se para utilizar esta estratégia chamando para abertura e 1º centro os notáveis Mathieu Jalibert e Roman Ntamack numa primeira experiência com vista ao Mundial de 2023. Embora não indo tão longe que recorram a um terceiro abertura para o lugar de defesa, não deixara de ser curioso observar o comportamento táctico da adaptação que o formação e novo capitão, Antoine Dupont, fará na sua cobertura defensiva. Poderá continuar a ser um libero entre a 2ª e 3ª cortina defensivas? Como palpite poderá dizer-se que, para a linha e ângulos-de-corrida defensiva de Dupont, muito dependerá da capacidade de deslizamento da defesa francesa.

Novos caminhos estratégicos com a sua construção táctica parecem assim surgir desta recente alteração que pode, muito bem, tornar o jogo mais espectacular. 

Nota: a Lei 50:22 estabelece que se um pontapé for efectuado dentro do meio-campo do chutador e sair, depois de ter tocado no chão, pela linha-lateral da área-de-22, o lançamento subsequente pertencerá à equipa do chutador. Ou seja, com um bom gesto técnico de pontapé uma equipa pode colocar-se, com a vantagem das decisões que lhe permitem o seu próprio lançamento, dentro da zona vermelha do campo adversário e, realmente, conquistar terreno com o propósito de marcar ensaios.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

UM CAMPEONATO COM POUCO EQUILÍBRIO

Com seis jogos já disputados — o primeiro-terço da prova termina na próxima jornada — o Campeonato Nacional da Divisão de Honra apresenta já desequilíbrios significativos como se pode ver no gráfico "Capacidade Competitiva" estabelecida através da média da Quota de Pontos de Jogo — percentagem dos pontos marcados por uma equipa sobre o total de pontos de cada jogo e que demonstra o domínio da equipa nos jogos efectuados — da Quota de Sucesso — percentagem do número de vitórias conseguidas nos jogos disputados, demonstrando, conjuntamente com a quota seguinte, a sua qualidade e eficácia —  e a Quota de Pontos de Classificação correspondente à percentagem de pontos de classificação conseguidos no total dos pontos possíveis. 
Pode reconhecer-se neste gráfico, a formação de 4 grupos distintos em face dos resultados conseguidos: um primeiro — o dos três primeiros classificados, Direito, Belenenses e Cascais que variam a sua capacidade entre 86% e 80%; um segundo que comporta Agronomia, CDUL, Académica e Técnico, variando entre 59% e 46%; um terceiro, comportando CDUP, Benfica, e Évora, variando a sua competitividade entre 36% e 29%; um grupo final constituído pelo S.Miguel e Montemor que tem os índices de competitividade entre, respectivamente, os 21% e os 8%.
Com estes dados factuais pode dizer-se que este campeonato tem o seu maior interesse também dividido por zonas: quais dos três se apurará directamente para as meias-finais e quem, de entre os quatro clubes seguintes, atingirá o final-four. Ficando uma dúvida que poderá aumentar o interesse pelos jogos entre os clubes intermédios: será que alguma equipa do terceiro grupo conseguirá um dos lugares de apuramento? Lembre-se que ainda há um jogo — entre Évora e Benfica — adiado que pode fazer um dos clubes aproximar-se, ou mesmo integrar — caso do Benfica — o grupo de manutenção. E lembre-se também que faltam 16 jornadas para o final e estas visões não passam de especulações ao dia de hoje — mas que mostram tendências...
Comparando os gráficos dos "Ensaios Marcados e Sofridos" com o dos resultados finais de cada jogo, percebemos que também estes dados nos aproximam da definição dos 4 grupos anteriormente referidos. E podemos ver também que existe, por parte de algumas equipas, enormes dificuldades atacantes a que se junta a fragilidade defensiva pouco adequada a uma prova principal da modalidade — o que aparentará uma muito provável impossibilidade de alterar posições. É, aliás, o que se pode presumir da relação negativa das seis equipas pior classificadas. 
O desequilíbrio, apesar de um dos jogos ter terminado empatado (0-0), é ainda visível no gráfico seguinte onde se pode verificar que dos 35 jogos realizados, treze — 37% — terminaram com uma diferença de pontos no resultado superior a 21 pontos (e 6 com diferenças superiores a 28 pontos!) para 16 dos jogos — 46% — que terminaram com uma diferença menor do que 15 pontos mas, dos quais, apenas 8 dos jogos permitiram a conquista de pontos de bónus defensivos (note-se que no Ranking da World Rugby qualquer resultado com diferença superior a 15 pontos tem uma majoração.).
Aliás, a relação entre os pontos de bónus ofensivos e defensivos — o dobro — é uma boa demonstração do desequilíbrio existente entre as equipas nos jogos que efectuados.    
Procurando encontrar uma forma de análise mais precisa, mais prática e que ajude à demonstração das hipóteses colocadas, utilizou-se o algoritmo resultante dos conceitos da dupla Noll-Scully habitualmente utilizada no desporto norte-americano que tem a noção muito clara da importância da competitividade — mantendo a indefinição do vencedor final — na atractividade pública das modalidades.
Embora com poucas jornadas ainda realizadas para se ter uma percepção mais independente do calendário e do seu grau de aleatoriedade entre adversários na distribuição de jogos e considerando que os valores acima de 1 — o ponto de equilíbrio competitivo — demonstram a existência de resultados menos equilibrados do que o esperado, a demonstração do desequilíbrio competitivo é uma realidade.
Obviamente que este desequilíbrio é essencialmente motivado pelo aumento da Divisão de Honra para 12 equipas que, como demonstram os resultados dos últimos anos, serão demasiadas para garantir o necessário equilíbrio competitivo — é fácil perceber que 6 equipas farão o campeonato ideal e que o limite para uma competição minimamente equilibrada, estará em 8 equipas.
Qual será então a vantagem — num ano de enorme importância para o rugby português — em diminuir a competitividade interna? A única explicação que encontro possível para justificar esta situação é a de que com a introdução de mais uma prova de nível internacional como a SuperCup e na qual os jogadores que têm capacidades para integrar uma selecção nacional farão um mínimo de 6 jogos e um máximo de 8 num nível competitivo superior ao nível interno — daí a sua importância — e aos quais se juntarão 2 jogos da janela internacional de Novembro e ainda 5 jogos internacionais de importância capital no pretendido acesso ao Mundial de França, a existência das 12 equipas permitirá que o campeonato nacional não seja frequentemente interrompido — como não tem sido e com boas vantagens para os jogadores não-internacionais — uma vez que a diferença de nível competitivo entre as equipas é tal que quase garante, independentemente de poderem ou não contar com todos os seus jogadores, que as melhores seis equipas dos últimos anos se apurarão para as meias-finais ou para o final-four. Ou seja: ninguém se sentirá prejudicado... e os melhores jogadores estarão sempre disponíveis para representar quer os Lusitanos, quer os Lobos, com vantagem para o importante posicionamento internacional — actualmente no 19º lugar do Ranking da World Rugby — do rugby português.
E com a cada vez maior aposta — como terá ficado estabelecido na última reunião alargada da Rugby Europe — neste tipo de prova, é bom que nos habituemos à necessidade de disponibilização dos melhores jogadores de cada clube durante cerca de uma dezena de jogos por ano.  

Nota: a derrota recente do Toulouse no TOP 14 contra o Racing 92 aconteceu em jogo onde a equipa campeã de França e da Europa não pode contar com 11 jogadores que se encontravam em Marcoussis na preparação dos jogos internacionais de Novembro da sua Selecção Nacional.   







segunda-feira, 2 de agosto de 2021

UM JOGO DIFERENTE?

O trabalho da tradução das Leis do Rugby de 2018 que tenho feito com o Jorge Mendes Silva (Jójó), o Nuno Miranda e o Ferdinando Sousa tem-me lembrado o Bill Beaumont e a frase que me disse no Estádio Universitário quando lhe mostrei a Lei em inglês que, na escrita, contrariava a sua certeza: "Isso não interessa nada, nós jogámos assim!" e o "assim" correspondia à interpretação que faziam e não ao que estava escrito no livro das Leis do Jogo. A diferença entre o valor do costume e o conceito que nos rege transferida para uma visão imperial que o sir pretendeu impôr a um mero comendador republicano...

Uma das maiores dificuldades da tradução das Leis do Jogo esteve no facto de que a sua escrita nem sempre corresponder ao que está definido ser o que se passa em campo. Daí e porque o Rugby não é património bife e ser jogado por mais de uma centena de países — são 110 os países que compõem a lista do ranking da World Rugby — termos feito uma série de recomendações de melhoria da compreensão das redacções com maior aproximação à realidade do jogo que enviamos, com conhecimento e autorização da Direcção da FPR,  aos serviços competentes da World Rugby. Imperialmente ainda não recebemos qualquer resposta... 

E é claro que a tradução googliana para português do Brasil não nos serve.

A questão essencial das Leis do Jogo é esta: ninguém consegue, ao contrário do futebol por exemplo, aprender o jogo lendo o livro de Leis. E para quem diz que pretende a sua ampliação global, estamos conversados... E a redacção das Leis Experimentais realizada pelos experts da World Rugby, não vem ajudar nada na compreensão do jogo.

Como sabem aqueles que estão mais próximos do jogo, houve alterações experimentais às Leis do Jogo que entraram em vigor a 1 de Agosto e que dizem respeito aos seguintes conceitos: a) 50:22 - um pontapé dado dentro do meio-campo do chutador e que faça a bola sair indirectamente (bola bater no chão ou num adversário) pelas linhas laterais da área-de-22 adversária dará o direito à sua equipa ao lançamento da bola no alinhamento consequente — ou seja modifica-se o conceito estratégico de conquista territorial; b) ao recomeço do jogo por um pontapé de ressalto sobre ou atrás da linha-de-ensaio sempre que a bola fôr colocada dentro da área-de-ensaio por jogo ao pé ou por transporte e que haja um toque-no-chão da equipa defensora ou ainda por adiantado do atacante — mas nada se dizendo sobre outras resoluções para saídas de bola pelas linhas finais das área-de-ensaio; c) acabar definitivamente com a já proibida carga-de-cavalaria que víamos fazer com a formação de grupos de jogadores que recebiam a bola praticamente já lançados e que se agarravam ao novo portador da bola para romper as linhas defensivas normalmente na sequência de um reagrupamento; d) Limitando a apenas um jogador a ligação ao portador da bola, nomeadamente nas situações de pick-and-go, para evitar colocar o defensor numa perigosa insegurança física.

Estas Leis experimentais vão provocar alterações estratégicas ao jogo — pense-se na nova possível exploração do jogo ao pé com a 50:22 e como se poderá evitar a exploração do recomeço sobre a linha-de-ensaio — que poderemos perceber já no próximo Nova Zelândia - Austrália.

Se a adaptação, não sendo bem preparada, poderá criar problemas, a falta de clareza das leis pode criar maiores problemas à arbitragem e à compreensão táctica do jogo. E a nossa próxima época internacional será decisiva para garantir o caminho para o Mundial 2023…

Acresce a estas complicações que, por falta de clareza de definição na introdução das Leis Experimentais, haverá uma forte hipótese — se não houver o acrescento necessário que determine a não aplicação da 50:22 aos Sevens — que o último jogo da variante como a conhecemos tenha sido, num jogo de grande qualidade táctica, a final feminina Olímpica de Tóquio 2020 Para aqueles que gostam de ver a variante como um jogo de velocidade, de demonstração de habilidades técnicas e boa leitura espacial e das debilidades posicionais defensivas, a possibilidade de utilização da 50:22, transformando o Sevens num mero jogo de pontapés de conquista fácil de território, é real. 

Que esta imagem que se publica não se transforme — para o que é necessário que os legisladores acordem a tempo —na saudade do Sevens que gostámos.

As novas Leis Experimentais serão o adeus aos Sevens clássicos?


domingo, 18 de julho de 2021

BELA VITÓRIA! QUE ENTRE A FANFARRA!

Com esta bela vitória de 49-26 (20-14 ao intervalo) sobre a Rússia no belo estádio de Nizhny Novgorod, os Lobos, porque se trata do último jogo da 1ª volta que definirá o acesso ao Mundial 2023 e que haverá ainda alguns meses de preparação da 2ª volta, podem desfraldar bandeiras e passar um Verão divertido e tranquilo. Construiram uma boa e importante vitória que mantém acessível o acesso ao apuramento para o Mundial de 2023.


É claro que nem tudo foi bom neste jogo como a perda do ponto de bónus pelo número excessivo de ensaios sofridos — alguns mais permitidos do que construídos pelo adversário; o mau jogo ao pé — pouco incisivo, com muita fácil entrega de bola — mais pontapés de alívio do que instrumentos de criação de problemas à defesa — e com pouco comprimento (questão táctica e técnica que treinos adequados permitem resolver); e, de novo, demasiadas faltas que permitiram ao adversário levantar a cabeça bem como 2 cartões amarelos escusados e que, durante a inferioridade numérica, permitiram 2 ensaios russos…

Mas bom, muito bom mesmo, foi a capacidade demonstrada nos alinhamentos - nenhuma perda e quatro conquistas ao adversário para além das notáveis combinações atacantes com ensaios de belo recorte e que encantaram portugueses e todos os outros que, apenas adeptos do rugby, assistiram ao jogo. Aliás estas combinações mostraram, pela escolha realizada nos momentos decisivos — havia mais do que uma possibilidade de escolha — o alto patamar que estes jogadores já frequentam: a escolha do intervalo a explorar e da linha de corrida do jogador e a eficácia da decisão não ficam nada a dever aos jogadores das melhores equipas mundiais.

Se o ataque tem sido brilhante — foram feitos 114 passes, o dobro dos passes russos para marcar 6 ensaios — já o mesmo não se pode dizer da defesa que, sofrendo 4 ensaios, mostra momentos de desarticulação e de desorganização havendo até alturas em que o entendimento “dentro-fora” parece não existir, ao contrário do processo atacante, entre os jogadores. Aliás os números não enganam: Portugal é, neste momento e neste grupo da Rugby Europe Championship 2021, com 196 pontos marcados (25 ensaios), a equipa mais realizadora; por outro lado e com 139 pontos sofridos (20 ensaios) e embora com mais jogos efectuados, mostra-se a pior defesa do campeonato. E daqui surgem os problemas e os desequilíbrios que pregam os sustos como os do início contra a Espanha, o desastre contra a Roménia e a perda de ponto de bónus contra a Rússia. Resolver este problema é uma absoluta necessidade para melhorar a consistência competitiva da equipa e, assim, o seu posicionamento mundial — hoje, lembre-se, no 19º lugar do ranking da World Rugby. A melhor demonstração deste desequilíbrio que parece resultar de dificuldades na necessária focagem permanente — resultado da falta de hábitos de contínua competição intensiva?  — foi o que se passou com Rodrigo Marta que foi autor, para além de ter “estado” no cartão amarelo russo, de duas intervenções defensivas, perseguição e placagem, de alto nível e que impediram dois ensaios russos para, numa situação sem grandes problemas mas atrapalhada por uma unidade de salto desnecessária, ter perdido duas bolas — deixadas fugir da mesma maneira pelo meio dos braços — vindas de pontapés-de-recomeço em que uma delas permitiu imediata redução do resultado.

E se as placagens baixas funcionaram bem, permitindo diversos turnovers — uma boa parte das 17 recuperações que a Rugby Europe atribui a Portugal devem-se à sua boa execução — os erros defensivos foram cometidos pela desarticulação colectiva e pela desfocagem. Isto é, pela alteração da atitude competitiva. E quando a atitude muda … Sendo evidentes as vantagens da placagem baixa — a dita chop tackle — porquê então desconcentrações que levam a alterar o seu uso?

De novo, Samuel Marques, esteve impecável na transformação de 4 dos 6 ensaios conseguidos (um deles foi ensaio de penalidade), concretizando ainda 3 pontapés de penalidade num total de 17 pontos (nos dois últimos jogos, o formação português conseguiu 33 pontos). E se os alinhamentos foram bons algo devem a Mike Tadjer que esteve primoroso, para além de diversas intervenções e algumas penetrações que o seu constante movimento permitiu, nos lançamentos. 

Que o jogo foi bom, foi. E interessante! Pena foi de facto a perda de um ponto de bónus que parecia à mão de semear… E infelizmente, numa última oportunidade em cima do final do jogo que mostrou o conhecimento das Leis do Jogo e a cabeça fria para perceber a relação do resultado, não fomos capazes de aproveitar o alinhamento próximo da linha-de-ensaio… e a hipótese do ponto de bónus esfumou-se definitivamente com o apito final do árbitro.

Nesta óptima vitória — em casa de um adversário que em 22 jogos nos tinha vencido por 16 vezes — os comentários da RTP2, de que se saúda a transmissão, não estiveram, infelizmente, á altura — palavrosos, distractivos, a ignorar, com estórias desnecessárias, as acções a decorrerem no terreno-de-jogo e incapazes de explicar fosse o que fosse que o jogo mostrava. Esta transmissão merecia outra qualidade e conhecimento — na histórica videoteca do canal público de televisão haverá material suficiente dos comentários de Cordeiro do Vale, o querido e saudoso Serafim Marques, que se recomenda sejam estudados como material demonstrativo de como se fazem comentários na modalidade.


sexta-feira, 16 de julho de 2021

A VITÓRIA DEPENDE DA ATITUDE, O RESTO TEMOS

Uma vitória será formidável — as perspectivas de estarmos no França 2023 aumentariam muito.
Mas como se pode ver nos gráficos apresentados, embora possível, não será nada fácil porque o passado pesa (pesará?!). Dos 22 jogos, Portugal conseguiu apenas 5 vitórias e sofreu 16 derrotas. Por outro lado, a equipa russa, com bastante mais internacionalizações (445) do que as portuguesas (276) mostra-se como equipa mais experiente onde o seu nº8 e capitão, Viktor Gresev, com os seus 112 jogos — nos quais marcou 110 pontos — se mostra como jogador a vigiar.

Com estas desvantagens será que Portugal pode vencer? 
A resposta é, sem grande favor, positiva: Portugal pode vencer!
No último jogo efectuado, em Kaliningrado em Fevereiro de 2020, Portugal perdeu apenas por um ponto tendo até perdido a possibilidade de vencer o jogo num pontapé final falhado. Em relação à experiência superior dos russos que as internacionalizações parecem demonstrar, veja-se no gráfico que os jogadores portugueses já têm experiência suficiente de jogos internacionais — o jogador com menor número de internacionalizações, Jean Sousa, já tem 31 anos, joga no Montauban da ProD2 francesa, o que lhe dá experiência suficiente para não se deixar surpreender. Parece assim que em matéria de vantagens da experiência estaremos conversados: não seremos inferiores e temos suficiente conhecimento das coisas.
Por outro lado a Rússia, com excepção do penúltimo jogo com a Roménia que venceu por 32-25 com 4 ensaios marcados, tem, nos outros quatro jogos feitos contra as equipas que disputam o REC, mostrado uma enorme dificuldade em marcar ensaios — nos últimos 3 jogos marcou apenas 1 ensaio. Portanto, não serão assim tão assustadores... desde que a formação-ordenada e a defesa dos mauls-penetrantes faça o seu papel. A que se deve juntar uma boa defesa com placagens baixas — chop tackles — que levem de imediato o portador da bola ao chão, permitindo assim que a mobilidade dos jogadores portugueses possa criar turnovers em vez da placagem alta com a preocupação de não deixar circular a bola mas que, permitindo ao portador ficar de pé, lhe permite também aguentar o tempo suficiente para que o seu apoio chegue. 
Repare-se que a quota de pontos portugueses dos últimos cinco jogos disputados no quadro do Rugby Europe Championship é de 53% e o número de ensaios marcados de 20, contra 6 dos russos. 
Dados estes números e o posicionamento das duas equipas no ranking da World Rugby o prognóstico final  é o de uma vitória russa por 4 pontos de diferença  — diferença que, como se sabe em rugby, nada significa e que mostra que, mesmo jogando fora — no excelente estádio de Nizhny Novgorod com 44.899 lugares, relvado híbrido (idêntico a Twickenham, Millennium, Murrayfield, Aviva ou Stade de France e construído para o Mundial de Futebol de 2018 — os Lobos podem trazer a vitória e marcar uma posição que lhes permita estar presentes no Mundial 2023.
Para além da consistência técnica defensiva e da boa articulação táctica do ataque, acredito que a entrada em campo com a atitude resiliente e de vencedores idêntica à mostrada na Holanda, trará um final com mais pontos do lado dos Lobos. Boa sorte! Comportem-se como vencedores! 

quinta-feira, 15 de julho de 2021

SETENTA INTERNACIONALIZAÇÕES NÃO O FAZEM CONCIDADÃO

As autoridades australianas não autorizaram, de novo, o pedido de naturalização de Quade Cooper, jogador profissional  de Rugby, hoje com 33 anos, porque, ao que se lê não terá correspondido à exigência —person engaging in activities of benefit to Australia — de serviços relevantes à Austrália. Ou seja um homem, nascido na Nova Zelândia e que, com 13 anos foi, com a família, viver  para a Austrália e que, em 2005,  partiu para uma digressão à Inglaterra com a equipa das Escolas da Austrália onde ocupava a posição de médio-de-abertura e pela qual jogou 9 vezes. Em 2008 jogou pela Austrália Sub20, 5 vezes. A partir de 2009 jogou 70 — SETENTA! — vezes com a camisola dos Wallabies — esteve presente no Mundial de 2011 —pelos quais marcou 154 pontos. Pertencendo à equipa de Sevens em 2016, não esteve presente nos Jogos Olímpicos do Rio porque não lhe tinha sido atribuída a cidadania australiana e não cumpria assim a exigência olímpica de nacionalidade. Portanto e ao que parece nada disto conta para que lhe possa ser atribuída a nacionalidade australiana — usaram-no enquanto puderam mas...foi-se...pouco importa.


Podem explicar o porquê do abuso desta decisão prepotente que se mostra — o que parece há-de ser —  de enorme falta de senso comum num desagradecimento despropositado? Não, não vão explicar e utilizarão toda a retórica que conheçam para justificar o injustificável.

Felizmente que em Portugal — por mais que demorem processos de naturalização —o mundo é outro e não é possível a existência de um caso destes: nenhum atleta que represente Portugal teria (terá) um problema de naturalização rejeitada. E porquê? Porque o Decreto-lei nº 248-B/2008 — proposta da responsabilidade de Laurentino Dias então Secretário de Estado da Juventude e do Desporto — determina, no ponto 1 do seu Artigo 63º, Selecções Nacionais que: A participação em selecção nacional organizada por federação desportiva é reservada a cidadãos nacionais.

Portanto, qualquer atleta que vista a camisola oficial de Portugal para uma competição desportiva é cidadã[o] nacional, é português(a). Venha de onde vier, antes de pertencer a uma selecção nacional @s atletas têm a nacionalidade portuguesa. O que impede que, por uma qualquer vontade enviesada de um qualquer político sentado à secretária da sua importância, exista um preconceituoso abuso. 

E por ser assim, os atletas das selecções portuguesas como os andebolistas Iturriza, Salina, Alexis Borges, o canoísta Antoine Launay, a cavaleira Luciana Diniz, @s judocas Jorge Fonseca,  Anri Egutidze, Rochele Nunes, Bárbara Timo, as mesatenistas Fu Yu, Jeni Shao, a nadadora Tamila Holub ou @s atletas Auriol Dongmo, Evelise Veiga, Lorine Bazolo, Nelson Évora, Pedro Pichardo, que estarão presentes nos Jogos de Tóquio 2020 com a camisola portuguesa, não terão a desfeita da ingratidão. E os seus resultados serão, genuinamente, nossos resultados. Resultados portugueses pelos quais ficaremos gratos.


segunda-feira, 12 de julho de 2021

ORA AÍ ESTÁ!

 Já quase não me lembro de ter visto um XV de Portugal a entrar para um jogo com a determinação, focagem e coesão como vi neste jogo entre os Países Baixos v. Portugal. E até o receio, pela paragem excessiva dos jogos competitivos em Portugal, de que a selecção nacional não estivesse capaz de se apresentar na necessária capacidade física, ficou de imediato afastada.

A equipa portuguesa entrou objectiva, com a lição bem estudada e apostada — aprendendo com erros de anteriores inícios de jogos — em não se deixar surpreender. Pelo contrário, procurou desde logo surpreender. O que conseguiu e de tal maneira que aos 13’ minutos de jogo ganhava por 21-0 com 3 ensaios marcados.

Para além da atitude competitiva que permitiu desde logo demonstrar as diferenças entre uma equipa que diz pretender estar no próximo Mundial de 2023 e outra que demonstrou estar ainda muito longe de constituir uma equipa competitiva para este nível, houve interessantes aspectos técnicos e tácticos que demonstraram — pesem embora algumas distracções que permitiram os pontos adversários — a diferença.

                                                                           Fonte: Rugby Europe
O jogo teve 13 ensaios — mais um do que o recente AllBlacks-Fidji! — com a particularidade de 5 deles terem sido marcados por Raffaele Storti que, tanto quanto possibilitam os dados disponíveis, ter-se-á tornado no melhor finalizador da Selecção Nacional. O mesmo aliás deve ser considerado, no campo das transformações de ensaios, para os 8 pontapés transformados por Samuel Marques.
A transformação que mais me agradou na equipa, para além da atitude competitiva demonstrada, foi a verificação que houve alterações em duas áreas — melhoria da capacidade técnica na disponibilização da bola na altura dos contactos, nomeadamente quando da ida ao solo e o facto de, ao contrário de jogos anteriores, ter havido uma superior concentração para evitar faltas — de uma falta resultam penalidades que se traduzem ou em perdas de muitos metros de terreno ou no aumento de 3 pontos no registo adversário…ou seja, custam demasiado para que não se evitem.
A melhor disponibilização da bola nas situações de contacto permitiu uma muito maior velocidade de utilização da bola que, por sua vez, permitiu o alargamento do jogo português — veja-se nas estatísticas que Portugal realizou o dobro de passes dos holandeses —  com a vantagem dos seus três-quartos jogarem, no mínimo, em igualdade numérica mas com intervalos defensivos suficientemente largos para que a ultrapassagem da linha-de-vantagem fosse mais fácil e mais constante. Explorando melhor as dificuldades de uma equipa que demonstrou enormes dificuldades em entender-se tacticamente na execução da defesa deslizante.
Outro factor interessante e extensível à concepção do jogo foi o de, apesar de uma posse de bola superior em 16% , que a diferença dos ensaios marcados (de 40%) se deveu, essencialmente, à boa utilização da bola. Factor que aliás é decisivo na construção das vitórias: a boa utilização da bola permite, como acontece em diversos jogos, vencer sem ter uma nítida maioria de posse da bola. Pôde aliás verificar-se que já houve, nas situações em que não era aconselhável o alargamento do perímetro do jogo, uma preocupação de manobrar o suficiente para que o avanço no terreno garantisse a ultrapassagem, por menor que fosse, da linha-de-vantagem — ultrpassagem que é a essência do ataque. E isso traduz um trabalho objectivo de treinadores e jogadores.
A esta capacidade atacante juntou-se uma boa capacidade defensiva com uma boa percentagem de placagens positivas nas 74 que foram obrigados a realizar — contra as 162 dos holandeses. Esta diferença entre o número total das placagens das duas equipas constitui uma demonstração evidente, como acima se referiu, da boa capacidade de uso da bola por parte do XV de Portugal.
A melhorar, para que a exploração dos três-quartos que se estão a mostrar suficientemente criativos para criar dificuldades a qualquer defesa, está a necessidade de conquistar um maior número de turnovers para que os desequilíbrios que a transformação do ataque em defesa estebelece possa ser eficazmente explorado — o que passa, antes do mais, pela compreensão dos jogadores das enormes vantagens que possibilita a utilização da bola nesta situações de desequilíbrio.
Com este resultado, Portugal atingiu o 20º lugar no ranking da World Rugby e coloca-se no 2º lugar da classificação da Rugby Europe Championship. E garantiu uma situação — sejam quais forem os próximos resultados, a manutenção na Championship está garantida. Olhemos, portanto e agora, para outro objectivo: apuramento para o Mundial 2023. 


sexta-feira, 9 de julho de 2021

A IMPORTÂNCIA DE UM JOGO

O Países-Baixos x Portugal é um jogo de enorme importância para o posicionamento futuro de Portugal. E não vai ser fácil... a realidade só tem uma palavra de ordem: GANHAR!
Tratando-se de um jogo contra um adversário que acabou de subir da divisão — ou seja, aquele que é considerado o mais fraco pelas vozes populares — tem um enquadramento particular: quem conseguir a vitória dará uma enorme passo para não ser a equipa condenada à futura descida de divisão. E esse é o primeiro objectivo da selecção nacional portuguesa que, conseguido isso, pode então pensar na possibilidade de se qualificar para o Mundial 2023. Ou seja: segurança primeiro, aventura depois!
Vendo os valores do gráfico abaixo apresentado — que determina e permite comparar, através do algoritmo Noll-Scully que é utilizado nas competições norte-americanas, o grau de “equilíbrio competitivo” das competições, definindo assim, não a qualidade do confronto entre as equipas, mas o nível de intensidade de cada jogo (quanto mais equilibrada é uma competição, mais exigentes são os meios para vencer cada jogo) — percebemos que o Rugby Europe Championship, com o valor de equilíbrio competitivo de 1,09 — o valor 1 determina o equilíbrio competitivo da competição — é uma das competições rugbísticas mundiais mais equilibrada: sabendo-se quem ganha quase sempre (Geórgia), nunca se sabe quem irá ocupar os outros lugares. O que significa que os Países Baixos são também candidatos a um dos lugares cimeiros que perseguimos.


Repare-se que, comparando diferentes competições através do referido algoritmo, podemos verificar que o Rugby Europe Championship é mais competitivo — isto é, existe uma maior dificuldade em “acertar” nas posições da tabela classificativa final — do que o Torneio das Seis Nações com 1,12 pontos (o SR Aotearoa neozelandez vale 0,84 pontos, sendo, porque abaixo de 1, uma competição que não permite pensar em vencedores ou posições antecipadas, tratando-se da competição rugbística mundial mais equilibrada). O que confirma a afirmação das possibilidades qualificativas de qualquer dos adversários, nomeadamente dos Países Baixos.
Ora num quadro desta natureza como é o equilíbrio da REC* que exige em cada jogo elevadas capacidades competitivas e de domínio técnico e táctico e até estratégico que permitam a vitória, o jogo contra os Países Baixos exigirá a melhor coesão e eficácia da nossa equipa nacional. Sem erros e sem faltas!
Se o nosso Grupo do Título da Divisão de Honra representa um equilíbrio competitivo de 1,64, o campeonato holandês (ainda não terminado e, por isso, com um valor que pode alterar muito) tem um equilíbrio competitvo menor, com 1,71. Mas a Holanda joga em casa e poderá ter público apoiante… e a pontuação do Rugby World Ranking, nesta situação, não ajuda — com 61,10 no 24º lugar contra os 62,10 do 21º lugar de Portugal, a Holanda faz figura de favorita. Felizmente que Patrice Lagisquet com “Pensar que este jogo será fácil, é um erro!” tem plena consciência das dificuldades a enfrentar. Repito a necessidade: GANHAR!
No quadro apresentado, com dados suficientemente interessantes para merecer reflexão, podemos ver o “equilíbrio competitivo” dos nosso adversários: 1,63 para a Roménia, 1,65 para a Rússia, 1,20 para a Geórgia e 1,02 para a Espanha depois da divisão principal (1,81 pontos) ter sido reduzida para dois grupos de 6 equipas.
Voltemos ao princípio: o jogo contra os Países Baixos será difícil, exigirá toda a capacidade e experiência dos jogadores portugueses e, dadas as circunstâncias, só tem o objectivo VITÓRIA!. Boa sorte! 

* — Veja-se o posicionamento das 6 equipas do REC no ranking da World Rugby: 12º - Geórgia com 73,73 pts; 18ª - Roménia com 66,22 pts; 19º - Espanha com 64,82 pts; 20º - Rússia com 62,71 pts; 21º - Portugal com 62,10 pts; 24º - Países Baixos com 61,10 pts.

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

A IGNORÂNCIA DAS LEIS DO JOGO

Sem um conhecimento aprofundado das suas Leis do Jogo, o Rugby não evolui. Porque são as Leis do Jogo que levam ao conhecimento táctico e técnico do jogo — ao que se deve ou pode fazer. E o rugby português tem — sejam jogadores, treinadores, dirigentes, adeptos ou mesmo árbitros — muitas carências nesta matéria.
Que os jogadores façam faltas, é normal e é para isso que estão lá os árbitros — para as marcar com conhecimento e equidade. Que os árbitros cometem erros na sua análise, é natural — nos décimos de segundo que têm para analisar e decidir, podem enganar-se sem que daí venha, na maior parte dos casos, mal ao mundo — e nos momentos que podem verdadeiramente prejudicar uma ou outra equipa, podem — quando se tratar também de árbitros qualificados — recorrer aos auxiliares.
Há dias, na meia-final da Taça de Portugal entre o CDUL e o Belenenses e no pontapé-de-recomeço que se seguiu ao primeiro ensaio do CDUL, o árbitro — o competente Pedro Mendes Silva — cometeu um erro.

Pontapé-de-recomeço com toque na área-de-ensaio

A Lei 12 que trata do Pontapé-de-saída, do Pontapé-de-recomeço e do Pontapé-de-22, diz assim no seu ponto 9: “Se a bola é pontapeada para a área-de-ensaio adversária sem tocar num jogador e a equipa adversária faz toque-na-área-de-ensaio sem demora, ou a bola sai pela área-de-ensaio, esta equipa pode optar pela repetição do pontapé ou por uma formação-ordenada com introdução própria.
O pontapé-de-recomeço efectuado por um jogador do Belenenses atingiu, sem que a bola fosse tocada por qualquer jogador, a área-de-ensaio e foi, de imediato como se pode ver no vídeo apresentado, feito um toque-na-área-de-ensaio por um jogador do CDUL. De acordo com a Lei, o árbitro deveria dar à equipa — que não efectuou o pontapé e que fez o toque na sua área-de-ensaio — a opção de repetição do pontapé ou de formação-ordenada no centro do terreno com sua introdução. Não foi assim e o árbitro cometeu o erro de ordenar um pontapé-de-22 favorável ao CDUL. Erro evidente do árbitro, portanto.
Mas nesta situação a maior gravidade não é a do erro cometido pelo árbitro que não passou de uma confusão momentânea ou até por ter sido apanhado de surpresa uma vez que a consequência ditada favorece tacticamente o infractor chutador — se assim fosse o ditame da lei, todos os pontapés-de-saída ou de recomeço seriam chutados para levar a bola a sair pelo fundo do campo que dariam a vantagem à equipa chutadora de vir a receber a bola do adversário, através de um pontapé-de-22 com uma boa possibilidade de juntar à possível conquista de terreno, a posse da bola…
O erro do árbitro não foi grave, foi só um erro. Mas grave foi o facto de ninguém da equipa prejudicada — onde existem jogadores internacionais, incluindo treinadores — ter tido o descernimento para dizer ao seu “capitão” para avisar o árbitro do erro da sua decisão. Que, chamado à atenção pelo “capitão”, admitiria — de certeza! — o erro e voltaria atrás na sua decisão, fazendo a obrigatória pergunta: “Repetição ou Formação?”.
Este exemplo é um entre muitos que demonstra, fim‑de‑semana a fim‑de‑semana, a ignorância das Leis do Jogo. Ignorância essa que leva, muitas vezes, a comportamentos de jogadores, treinadores, dirigentes ou público em geral, a comportamentos que não são admissíveis num terreno de Desporto. 
Conhecer as Leis, as suas consequências tácticas e suas exigências técnicas, é uma exigência para que a modalidade seja praticada com melhor qualidade e maior civismo.
 

domingo, 27 de junho de 2021

O MOVIMENTO ATRAVESSOU A MANCHA

 No início da minha ligação ao Rugby, os olhos estavam em cima dos franceses que faziam um jogo espectacular - dos AllBlacks havia poucas notícias e só se sabia que eram muito bons e que tinham uma visão simples e facilmente compreensível do jogo através dos Princípios Fundamentais com que o caracterizaram. E foi com o jogo de então dos franceses que percebi que a criatividade - a manobra - poderia sobrepor-se à força bruta e tirar maiores vantagens (só bastante mais tarde encontrei o conceito de Nun'Alvares Pereira de que se deve "no combate fazer prevalecer a manobra sobre o choque" que sintetiza tudo aquilo que deve ser feito neste jogo de combate que é o Rugby) e que assim seria permitido a portugueses - que não são o povo mais atlético do mundo - serem internacionalmente competitivos.

Com o passar dos anos o jogo francês com o seu "movimento" - de que aprendi os fundamentos com Pierre Villepreux que me abriu as portas ao conhecimento de René Delaplace - foi, infelizmente regredindo e deixou de ser uma referência.

A entrada de inúmeros jogadores vindos de outros países, de outras culturas desportivas e rugbísticas e que não tinham língua comum de entendimento terá dado nisto: o elemento de máxima comunhão do jogo, como acontece sempre que não há interpenetração cultural,  era o seu aspecto mais simplório e de mais fácil compreensão: o choque, a colisão, o tentar vencer a organização defensiva não pelo movimento das combinações mas sim pela criação de desequilíbrios conseguidos pelo confronto directo das forças. Enfim, a aculturação do jogo traduziu-se numa regressão do estilo de jogo do hexágono que deixou de ser atractivo e de iluminar os caminhos do progresso da modalidade. E o jogo aproximou-se da memória que existia dos traços culturais das velhas lutas entre povoações, numa espécie de vale-tudo para colocarem a bexiga de porco na praça dos contrários.

Disto tudo me lembrei ao ver, neste fim‑de‑semana, as finais do campeonato francês — entre o Toulouse e o La Rochelle — e do campeonato inglês, entre o Exeter Chiefs — campeão em título — e o Harlequins. Porque a diferença entre a colisão francesa permanente e as manobras em movimento inglesas foram como do dia para a noite. Entre o tédio e o entretenimento. 

No  jogo entre os finalistas franceses — e também europeus —predominou a colisão na procura da ultrapassagem da linha-de-vantagem através da força e a consequente demora reequilibradora da reciclagem da bola — sabe-se que tudo o que seja mais demorado do que 2 segundos para libertação da bola significa a possibilidade de reorganização defensiva, resultando daí um ataque em inferioridade numérica, aperta da vantagem dum eventual desequilíbrio criado ea consequente necessidade de voltar à primeira-forma, numa repetição constante sem surpresa e ou criatividade.


No jogo inglês — para espanto daqueles que não tenham seguido as transformações operadas neste tempo de pandemia — a manobra era a constante bem como a manutenção do movimento da bola com libertações da bola — pela excelência da posição corporal quando obrigados a ir ao chão — muito rápida e que permitiam sempre uma continuidade que obrigava a defesa ao difícil desempenho de ter que se organizar permanentemente em movimento — "scramble defense" como gostam de lhe chamar a lembrar a ordem de levantar voo imediato, nos aeródromos militares ingleses das esquadrilhas que se reorganizariam em formação de combate já no ar e que constituía a primeira exigência de defesa contra ataques alemães na II Guerra Mundial.  

Onze ensaios numa final fazem-na memorável — imagino o gozo dos que tiveram a sorte de assistirem ao vivo... — e mostram que o Rugby não tem que ser o jogo sensaborão e sem riscos que vamos vendo cada vez mais espalhado por esse mundo fora — também vi um insuportável Geórgia-Holanda...

O único interesse que encontrei na final francesa — que teve o dobro dos pontapés do jogo inglês — foi o jogo-ao-pé de Thomas Ramos que, desta vez e por lesão de Ntamack, jogou como médio-de-abertura e que deu uma lição de inteligência táctica de utilização do pontapé (veja-se a diferença, num jogo e noutro, do número de pontapés efectuados em jogo, bem como o número de alinhamentos em cada jogo) quer no jogo em pressão, quer em ocupação de terreno A qualidade do jogo-ao-pé de Ramos foi tal que o jogo deveria pertencer à biblioteca, servindo como aula, a todos, treinadores incluídos, que queiram ocupar o lugar "10" de uma equipa — os nossos internacionais Jerónimo Portela e Jorge Abecasis fariam bem em aproveitar algum do seu tempo para estudarem as decisões e as formas do jogo de Ramos nesta final. Uma verdadeira lição! Que exige muito conhecimento do jogo para permitir as leituras de que deu mostra.

E se os franceses fizeram mais placagens, os ingleses falharam apenas metade para um mesmo número de ultrapassagens da linha-de-vantagem. O que significa que o elevado número de ensaios não aconteceu por falhas da defesa mas porque houve as manobras de continuidade suficientes para desarticularem as defesas.  E o número de turnovers conseguidos — 23 contra 6 — mostra claramente o diferente tipo de jogo das duas finais: a colisão que leva o corpo ao chão nem sempre nas melhores condições de manutenção da posse e do tempo de libertação e a escolha do tempo de contacto com a posição adequada para a libertação imediata da bola — entrar de frente leva ao primeiro tipo de contacto, avançar o ombro contrário ao do transporte da bola leva ao segundo. Uma diferença que faz toda a diferença entre paragens e constantes recomeços de mais do mesmo e a destabilizadora continuidade do movimento, normalmente utilizada em sequência do mesmo sentido mas com todas, dependendo da leitura, as possibilidades de contrariar o posicionamento adversário mais organizado ou mais forte.

Pelas duas finais vistas e que correspondem ao já visto anteriormente nas meias-finais dos dois campeonatos, parece que os conceitos do Rugby de Movimento atravessaram a Mancha e começam a desenvolver-se. O que significará, se esta transformação for uma realidade, que — e porque a cultura rugbística tem aí um enorme berço — que o Rugby inglês, fazendo jus ao seu enorme número de jogadores, pode tornar-se uma potência capaz de ombrear com os AllBlacks. Há quem se lembre do que este tipo de jogo de movimento fez de um país de pouca riqueza e reduzida população como o País de Gales nos anos 70. Alguém recordou a lição e está — para bem e gozo de todos nós espectadores — a utilizá-la. Espera-se que para bem do Mundial de 2023...   


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