terça-feira, 29 de novembro de 2011

COISAS QUE LIGAM COISAS


Fonte: Ranking IRB
Portugal foi a equipa - entre os nossos adversários próximos - que mais lugares perdeu no pós-Mundial.

Fonte: IRB
 Portugal, ao contrário do que o mito da regra impõe, tem companhia na relação entre o número de jogadores totais federados e o número de jogadores seniores masculinos. Ou seja: não andamos longe de outros adversários e as razões do nosso posicionamento não estarão aqui.

Fonte: jornais portugueses
À nona jornada do Nacional da I Divisão a diferença entre os quatro primeiros e os quatro últimos começa a justificar as cada vez maiores dúvidas sobre a competitividade interna - criando preocupações para a próxima época internacional. Como iremos ultrapassar o gap entre os hábitos competitivos internos e as necessidades internacionais?


"Possui a nossa estratégia, juntamente com os recursos e capacidades que a suportam, uma razoável hipótese de sucesso?. Estamos apenas a jogar o jogo pelo jogo ou temos aquilo que é preciso para ganhar?"
The Right to Win, Cesare Mainardi e Art Kleiner

Em que estratégia vamos - se é que queremos - assentar para criar hipóteses de vitória: na crença da armada estrangeira? e internamente resistiremos? e faremos futuro sem readaptações da formação à modernidade do jogo?

Os tempos de pensar e de agir podem ser quase simultâneos - desde que, ao contrário da maravilhosa Alice, se saiba para onde se quer ir. Construindo o caminho adequado.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

LIÇÃO DE VIDA



"Os seres humanos, quando o eu se transforma em nós e trabalham em equipa, quando há um objectivo comum que a todos recompensa de igual forma, são capazes de suportar coisas à partida insuportáveis e de fazer coisas incríveis."

"O medo paralisa. O medo é para atravessar. É para ter coragem para atravessar. O medo prende-te. O que interessa é a acção, é a única coisa que produz resultados. Por isso se diz que de boas intenções está o inferno cheio. Mas não de acções, apenas de intenções. Os animais quando têm medo fazem duas coisas: atacam ou fogem. O homem inventou uma terceira reacção que não é natural, é apenas mental: ficar quieto."

Gustavo Zerbino
presidente da União Uruguaia de Rugby
jogador dos Old Christians e um dos
sobreviventes do desastre de aviação
nos Andes em 1972
(in A Bola)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

ESCOLINHA DA GALIZA

Ontem estive no jantar em favor da Escolinha de Rugby da Galiza. Para além da recolha de fundos a que se destinava - e deve ter havido resultados aceitáveis pela solidariedade evidenciada - devem ser relevados dois aspectos que tornaram a cor da festa mais viva: o compromisso do Presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, da construção de um campo para o desenvolvimento do plano desportivo da Escolinha de Rugby da Galiza e a extensão à Damaia da Escolinha e dos seus princípios.

O compromisso do campo representa a garantia de que o projecto Escolinha tem melhores condições para continuar o notável trabalho que a incansável Maria Gaivão - sonho e vontade inabaláveis - tem vindo a realizar, conseguindo criar sinergias e envolvimentos onde pareceria impossível chegar. Das vontades que permitiram a Escolinha chegar onde já está - vai haver um salto, delicado mas corajoso, para o rugby de XV - espero a melhor atenção para o ponto crítico que os transportes representarão nesta nova fase de desenovlimento do projecto da ATL da Misericórdia de Cascais.

A extensão à Damaia constitui uma excelente novidade. O Desporto, onde apenas contam as cores das diferentes camisolas, onde o mérito e o talento tem óbvio reconhecimento e onde se aprende a transformar o erro em experiência com a derrota e a vitória a pertencerem à mesma moeda, tem características únicas de inserção social; o Rugby, em particular, com os valores que lhe são próprios - e que encabeçam o rótulo desta página - apresenta condições ideias para integrar e abrir horizontes.

Gostaria ainda que este exemplo de continuidade, desenvolvimento e clareza de objectivos que a Escolinha de Rugby da Galiza nos mostra, desse as forças necessárias e possibilitasse a mesma continuidade ao programa "Desperta no Desporto" [ver aqui] - apontado a jovens que habitam bairros problemáticos e com os mesmos objectivos de insersão social e abertura de horizontes - que foi lançado em Março de 2010 pelo Governo Civil de Lisboa e Câmara de Loures no âmbito do Contrato Local de Segurança (e que, então, era coordenado pelo Rafael Lucas Pereira e que tem a componente Rugby no seu espaço) e que não tem - a crise afecta tudo - passado os melhores dos dias...

À Maria Gaivão e a todos os seus colaboradores, um grande abraço. O Rugby é mais do que um jogo!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

EXIGÊNCIA: APRENDER DEPRESSA

“O falhado é um homem que errou mas não é capaz
de converter o seu erro em experiência.”
Elbert Hubbard, escritor (1856-1915)

Pode parecer anedota mas é a dura realidade dos factos: o rugby português perdeu mexendo-se, mais do que tinha ganho estando quieto. Não participando no último Mundial, Portugal subiu, à custa da Rússia, um lugar e recuperou a vigésima posição no ranking da IRB ; jogando, em casa e contra equipa pior qualificada, perdeu quatro posições e encontra-se já atrás da Espanha. Pior: saindo da casa dos sessenta pontos deixou alargar o fosso para os adversários habituais.

Mandava a lógica que Portugal vencesse o Uruguai que hoje, pelos resultados que tem vindo a conseguir, já não é a besta-negra – eu que o diga… - de outras alturas. Pelo contrário, a equipa uruguaia é fraca. As suas recentes derrotas – inesperada contra Chile e com banhos de dezenas de pontos contra a Argentina e Jaguares – mostram que o Uruguai está, com as evoluções que se vão percebendo, cada vez mais longe das equipas candidatas a lugares em próximos mundiais.  Com praticamente o mesmo número de jogadores seniores que Portugal, o Uruguai só mostrou uma capacidade: a formação-ordenada que fez gato-sapato da nossa. E a razoabilidade defensiva foi-o apenas por falta de teste eficaz. Quanto ao resto…um chutador sofrível, um jogo de passes sem qualidade, um alinhamento abaixo do nível internacional. Pouco, muito pouco.

Esta selecção portuguesa não utilizou “estrangeiros” e a prata-da-casa mostrou-se no degrau da incapacidade internacional. E o pior que pode traduzir esta derrota será criar uma qualquer secreta convicção que, se presentes, o problema da incapacidade competitiva será resolvido. Porque o real significado da derrota traduz – basta assistir aos jogos - a mediocridade e o desequilíbrio do nosso nível competitivo interno que esta selecção realmente representou. Encontrando-se, como se viu, furos abaixo do internacionalmente exigível, a actual competição não se mostra capaz ou sequer suficiente para treinar jogadores para o nível internacional.

Mas o confronto alertou para mais: mostrou que neste desequilíbrio interno o combate das formações-ordenadas é uma não-existência que cria, não sendo tomadas as medidas necessárias, um obstáculo impeditivo de qualquer eficácia internacional. Já se sabe nas poucas certezas que o rugby define: sem cinco-da-frente não se ganham jogos. Mais: sem cinco-da-frente a carreira internacional não é possível (o Japão que o diga). E o jogo mostrou à evidência uma total incapacidade da formação-ordenada portuguesa. O que só é resolúvel, é bom de ver, com um nivelamento por cima da competição interna, possibilitando aos jogadores intervenientes as condições tão próximas quanto possíveis da realidade do combate internacional – é por isso, por esta necessidade, que uma grande maioria dos países mais avançados na modalidade disputam competições que ultrapassam as suas fronteiras (as excepções são a Inglaterra e a França cujo número de jogadores lhes permite tal luxo)      

Apostar nos “estrangeiros” para resolver a falta de capacidade interna é uma falsa solução e não promoverá o salto qualitativo do rugby português. O seu recurso tem que ser integrado – para garantir a sustentabilidade internacional necessária – num ambiente interno competitivamente capaz e desportivamente eficaz.

A questão a resolver é simples de enunciar: se a pretensão do rugby português é a sua qualificação para o Mundial de 2015 – e julgo que será – é preciso mudar, criando as condições competitivas internas que permitam o desenvolvimento dos jogadores, criando-lhes hábitos que lhes permitam a constância da aproximação às cada vez maiores exigências técnicas, tácticas e estratégicas internacionais.

Deixando correr o marfim, continuando uma competição interna cada vez mais desqualificada, dificilmente a sorte dos deuses nos iluminará. Mude-se então. E quanto antes. Porque, mais à frente, já será tarde.

“Se é preciso mudar, a melhor altura é agora.”
Raul Bessa, presidente da EDP (1983-1988)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

VENCEDORES E PERDEDORES PARCELARES

O único resultado que importa - que é verdadeiramente importante - num Mundial é ganhá-lo. Ser Campeão do Mundo. Foi o que conseguiram os All-Blacks e por isso serão lembrados. Dos outros, dos lugares conseguidos, dos resultados obtidos, lembrar-se-ão os próprios e poucos mais. Mundial é o campeão, o campeão mundial.


Mas há vencedores parcelares. Equipas que fizeram o que não se esperava e que foram capazes de superar as mais optimistas expectativas. E vale a pena lembrá-los.



O primeiro de todos, a equipa que conseguiu melhores vantagens pela disputa do Mundial foi Tonga que subiu três posições no ranking IRB. Com pouco mais de 100 mil habitantes, 82 clubes e 3 mil jogadores seniores masculinos, o rugby de Tonga iniciou o Mundial no 12º lugar do ranking para terminar em 9º lugar atingindo, pela primeira vez um lugar entre os dez primeiros, e juntando mais 4,15 pontos aos seus pontos de ranking. Um feito!


A segunda equipa, pelo inesperado, nestes ganhos parcelares foi o nosso adversário directo Geórgia. Com pouco mais do que 4,5 milhões de habitantes, 46 clubes e 878 jogadores seniores masculinos, a Geórgia subiu do 16º lugar de entrada no Mundial para o 14º, acrescentando 79 centésimas de ponto aos seus pontos de ranking e consolidando de forma muito segura a posição de sétima equipa europeia e com, ao que se vê, uma rectaguarda segura - apurados (com a Russia) em Sub-19 para o Junior World Trophy 2012 e em sub-18 (com Portugal) para o europeu 2012 - Troféu Justin Bridou.
Quer a Argentina, quer a Irlanda conquistaram duas posições; os Estados Unidos, a Namíbia, o Canadá e a França conquistaram uma posição.


Do lado dos perdedores, embora a Escócia, perdendo três posições, seja a que maiores custos teve com a presença no Mundial, é Gales o grande perdedor ao descer duas posições no ranking da IRB - entrou como sexto e terminou em oitavo - quando fez figura de potencial finalista. Com esta descida Gales perdeu a possibilidade de ser cabeça-de-série em 2015 - chegou a estar assim qualificado antes do jogo das meias-finais com a França - e surge - pelo que mostrou em jogo - como uma espécie de injustiçado pela lógica implacável das regras que estruturam o ranking. O Japão (com 53 mil jogadores seniores masculinos!), sempre a prometer mais do que aquilo que atinge, perdeu também duas posições e deixou-se ultrapassar pelo Canadá (cerca de 9 mil jogadores seniores masculinos) e Geórgia. A Russia, perdendo também duas posições, caiu fora dos vinte primeiros lugares do ranking, posição que há muito desconhecia.


Perdedores foram também a África do Sul, Samoa, Itália, Fiji e Roménia que perderam uma posição.


Mas há ainda um vencedor extra-competição. Por mais paradoxal que pareça - primou pela ausência - Portugal foi um dos beneficiados do conjunto de resultados (e da formação dos grupos) que resultaram deste Mundial. Pode mesmo dizer-se que a sua não qualificação - por erros diversos e demasiado elementares na disputa dos jogos de qualificação - possibilitou melhor resultado do que a sua presença permitiria. Não estando, não jogando, não ganhando mas também não perdendo, Portugal conseguiu o melhor resultado com o mínimo esforço: subiu um lugar e encontra-se na vigésima posição do ranking. Sortes da vida...


Destes reposicionamentos, um dado: a capacidade e eficácia do rendimento desportivo das equipas de rugby por esse mundo fora é bastante mais complexa do que as receitas triviais e fáceis do aumento de número de praticantes e alargamentos das participações. Pelo que se observa, a formação e o nível da competição permanente que moldam os jogadores parecem ter uma palavra mais importante a dizer. A anotar.

domingo, 6 de novembro de 2011

DOR DE COTOVELO

Era expectável: a dor de cotovelo inglesa - 49 milhões de habitantes, com 1900 clubes e 166 762 jogadores seniores masculinos - convive muito mal com o título mundial dos neozelandeses - pouco mais de 4 milhões de habitantes para 562 clubes e 27 374 jogadores seniores masculinos. E para esquecer amarguras e agruras e minorar despeitos trataram de colocar a vitória, defendendo a equipa francesa porque mais fácil de engolir (mais de 65 milhões, 1630 clubes com 110 270 jogadores seniores masculinos, na final como um brinde da arbitragem tendenciosa do sul-africano Craig Joubert. Considerado por todos como um dos melhores - se não o melhor - árbitros mundiais viu crescer uma campanha contra ele após a vitória final dos All-Blacks. Vídeos com montagem dos "pontos críticos", análises disto e daquilo e a sempre apetecível ataque ao proteccionismo permanente ao faltoso Richie McCaw - ataque que, por recorrente, já faz parte das lendas e narrativas rugbísticas

[como curiosidade: McCaw começou a jogar num pequeno clube, o Kurow, que, como pequeno clube que era, nem sempre conseguia quinze jogadores para os jogos e McCaw, sempre presente, fazia, sozinho, o papel de toda a terceira-linha. Provavelmente esta a razão porque está sempre nos sítios e momentos decisivos...]

Agora que se soube que Joubert irá apitar o Gales-França do próximo Seis Nações, também em França, não vá o diabo de Cardiff tecê-las, se começou a falar - naquilo que a moda gosta de designar por jogos psicológicos - do prejuízo causado pela arbitragem do sul-africano na final do Mundial.

É claro que terá havido erros. Mas é tão fácil percebê-los sentados em casa e a vê-los na repetição televisiva - falta! foi falta! - grita-se com indignação! Mas no campo a coisa é diferente e se os adeptos mais fanáticos vêem sempre e em cada movimento faltas a favor da sua equipa, o facto é que é muito difícil arbitrar com a equidade devida um jogo de rugby.

O que leva a pensar ser necessário clarificar o jogo no chão por forma a não deixar que as dúvidas ultrapassem a equidade necessária ao jogo. Para mim, na leitura que as Leis do Jogo permitem - e pela igualdade de oportunidades que exigem - julgo ser absolutamente necessário definir a sequência de procedimentos: o jogador portador da bola, logo que placado* deve, como primeira obrigação, largar a bola; após este largar de bola é que o jogador placador passa a ter obrigação de largar o placado (de outra forma, ao largá-lo antes, permitiria que o portador continuasse na posse da bola e, até, renovasse o seu movimento anterior). Colocado assim, sendo mais fácil interpretar o jogo no chão, o uso subsequente da bola - continuidade ou recuperação - ficará dependente da melhor organização e eficácia do apoio na oposição defesa/ataque como deve ser, aliás, num desporto colectivo. E como também deve ser: que sejam os jogadores - e não o árbitro - a afirmar o resultado do jogo.

Voltando à final. Os franceses só se podem queixar se si próprios... Em vez de procurar jogar, definindo posições e marcando pontos, decidiram ficar à espera da falta e entregaram-se ao critério do árbitro que não lhes terá dado voz.Mas foi sua a escolha estratégica. E poderiam ter, no mapa táctico das escolhas, escolhido outro caminho. Que, dependendo apenas de si e da relação de forças com o adversário directo, não entregaria os seus interesses a uma terceira via incontrolável. Escolhas, portanto.

* para o que basta que o portador da bola tenha qualquer parte do corpo
- excepto os pés - em contacto com o chão quando tocado por um adversário.

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