sexta-feira, 27 de outubro de 2023

UMA FINAL ENTRE TRI-CAMPEÕES

Este quadragésimo-oitavo jogo do Mundial 2023 constitui a final entre os tri-campeões mundiais, África do Sul (1995,2007,2019) e Nova Zelândia (1987, 2011, 2015). E é, de acordo com as diversas estimativas, um jogo de tripla. 


Independentemente da perspectiva do resultado será um encontro entre dois modelos de rugby: do lado sul-africano o rugby de colisão que faz da capacidade de avançar em força no terreno a sua maior arma; do lado neozelandês o rugby de movimento que faz da iniciativa, da flexibilidade e da mobilidade, coordenados e focados pela mesma leitura da situação que enfrentam, a sua eficácia numa articulação de pequenas unidades que, para além de surpreenderem e desequilibrarem a defesa, constituem, pelo apoio organizado que criam próximo do portador da bola, um fortíssimo instrumento de ataque. Agora com uma dificuldade acrescida; as 14,3 placagens ofensivas feitas em média por jogo pelos defensores sul-africanos.


Por outro lado, os sul-africanos, embora sem a fluidez neozelandesa, colocam a pressão das suas poderosas colisões como a principal arma de desequilíbrio das defesas adversárias. E será curioso ver como estas equipas, muito próximas no valor das placagens bem sucedidas mas muito diferentes nas formas defensivas e atacantes, vão garantir a defesa das suas áreas-de-ensaio. 


Com ligeira vantagem, a conquista é favorável aos neozelandeses, mesmo se os sul-africanos demonstraram a sua capacidade nas formações-ordenadas contra Inglaterra ao provocarem três penalidades e que acabaram por lhes dar a vitória.


Nos alinhamentos os neozelandeses voltam, com 97% contra 88% a mostrar superioridade, a que acrescentam um bom uso de combinações que permite que transformem esta fase estática numa sua excelente base de ataque. E como sabem muito bem lançar os ataques centrais com a organização dos seus pequenos grupos, conseguem encurtar a linha defensiva adversária, abrindo assim corredores laterais por onde, com a facilidade de passes tensos de 10 a 15 metros, lançam o seu temível trio-de-trás.


A prestação dos AllBlacks neste Mundial é superior aos Springboks em quase todos os domínios


Mas o trio-de-trás dos sul-africanos não lhes fica atrás em perigosidade. E vai ser interessante ver como, na sua habitual estratégia de não correr riscos no seu meio-campo, os sul-africanos, utilizarão os seus habituais pontapés-na-caixa, para colocar um dos seus excelentes pontas em vantagem — que aliás muito pouco tocaram na bola (não fizeram nenhum passe(!)), contra a Inglaterra… Mas desta vez serão mais cuidadosos que o normal porque os neozelandeses são a equipa que mais gosta — numa enorme demonstração de confiança — de lançar ataques desde a sua área-de-22. E se conseguem ultrapassar a primeira-linha defensiva transformam o movimento num prazer para os espectadores.


O resultado final pode estar dependente da prestação do banco de suplentes de cada uma das equipas. Com o seu arriscado banco de 7-1 — a BombSquad — os sul-africanos, jogando sem formação suplente, mostram ao que vêem: tirar toda a vantagem do seu bloco de avançados, forçando penalidades  —  neste Mundial foram a equipa que, com 16, mais penalidades provocou nas formações-ordenadas. E entram de imediato com o pontapeador de excelência Handré Pollard e Faf De Klerk, procurando que o marcador lhes seja favorável desde cedo. Mas os suplentes neozelandeses — a Easy Company como são designados pelo seu terceira-linha Papali’i — conseguindo na última jogada do jogo contra a Irlanda defender 37 fases, mostraram que também sabem estar à altura.  Nos AllBlacks não haverá surpresas, jogam os habituais e a confiança das ilhas dos antípodas é absoluta.


No final do próximo sábado, com o 10º título de Campeão do Mundo 2023 entregue, conheceremos também a equipa que obterá o seu 4º título, mantendo-se a vantagem do Hemisfério Sul que nos nove mundiais disputados conquistou oito.


Nota: texto publicado no Público


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

MEDALHA DE BRONZE DO MUNDIAL

A Inglaterra é favorita por uma margem muito curta

A memória do Hemisfério Norte para a posteridade está nas mãos da Inglaterra. De facto e como todos nos lembrámos do jogo entre as duas equipas do passado 9 de Setembro na fase de grupos com 6 penalidades e 3 ressaltos de George Ford para garantir a vitória por 27-10, a hipótese de vitória inglesa estará mais nos seus pés do que nas suas mãos. E relembremos também a excelente defesa que os ingleses demonstraram quando colocados em inferioridade numérica com 14 jogadores desde o 3’ de jogo por expulsão de Tom Curry. Isto dará com certeza para um jogo de confiança de um lado e de vontade de “vingança” do outro. O que garantirá um combate colecetivo até ao apito final do árbitro.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

UM JOGO DE MOVIMENTO E OUTRO DE PONTAPÉS

A Nova Zelândia deu, nestas meias-finais e contra a Argentina, uma lição de rugby de movimento traduzida em 7 ensaios e uma tremenda eficácia de 4,4 pontos por cada uma das 10 entradas na área-de-22. Do lado dos argentinos, com uma bajadita, mais ou menos passada à história, e uma total incapacidade de fazer passes compridos — nos AllBlacks e para uma grande parte dos jogadores fazer passes de 15 a 20 metros parece uma trivialidade — permitiram sempre, mesmo se conseguiam superioridade numérica lateral, que a defesa dos AllBlacks se desdobrasse e tornasse qualquer ruptura como um acidente sem perigo. 

Portanto e em resumo saltou à vista no campo da eficácia um absoluto nulo argentino contra uma notável eficácia neozelandesa que explorava qualquer abertura de intervalo por onde fugia o portador e que — o notável do esquema — era imediatamente apoiado por outros jogadores que tinham detectado na sua leitura a mesma solução para funcionar numa pequena unidade decisória — os militares designam este modelo como “comando de missão” — a sua história vem da utilização pelos prussianos contra as tropas de Napoleão — e que os neozelandeses adoptaram. O que significa em rugby? que o comando e a decisão passam para o portador da bola que deve ser imediatamente apoiado pelo pequeno grupo de apoiantes que, com iniciativa, flexibilidade e mobilidade, de imediato se adaptam à realidade da situação que confrontam, com o objectivo de vencer cada duelo que se apresente ou cada oportunidade que detectem.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A segunda meia-final entre a Inglaterra e a África do Sul teve 70 pontapés — 41 da Inglaterra com 15 para fora e 29 dos sul-africanos com 10 para fora — num jogo em que a procura da ocupação de terreno foi a constante. E com essa estratégia, a que juntaram 99%  de sucesso na conquista de rucks e 8 turnovers conquistados, os ingleses foram construindo o resultado que chegou, aos 70’, a 15~6 depois de um ressalto fabuloso — a “imitar” Wilkinson — de Owen Farrell. Mas a desintegração da formação-ordenada com 3 penalidades permitiu aos sul-africanos — com uma resiliência extraordinária que os manteve sempre como capazes de alterar o resultado — criar as condições para que Handre Pollard utilizasse a sua capacidade de pontapeador para dar a vitória numérica à sua equipa.

E de um jogo aparentemente ganho — veja-se o valor da sua média no quadro da Análise Estatística — os ingleses regressaram aos balneários a lamentar os erros estratégicos e tácticos cometidos no quarto final do jogo. Um erro estratégico que me pareceu, embora crasso, evidente foi o facto de nos 15-20 minutos finais o treinador inglês, Steve Borthwick, não ter feito entrar George Ford— só o fez em cima do final do jogo, aos 78’ — para poder contar com dois ressaltadores dentro do campo e assim criar um enorme problema defensivo aos sul-africanos. Como erros tácticos — fruto provável de enorme incapacidade — o facto de em vez do recurso ao canal 1, o canal rápido, da formação-ordenada procurara manter a bola no seu interior para o péssimo resultado global de 43% de sucesso. E num jogo aparentemente ganho, acabar por perdê-lo pela diferença de um ponto é desolador.

Note-se no entanto que o resultado — para as previsões que existiam — constitui para os ingleses uma demonstração de capacidades que a inteligência táctica colocada em campo conseguiu operar. Se péssimo no afastamento da final, foi bom no retorno competitivo.

Nota: a World Rugby decidiu, para além do aumento de provas (confirmação da Nations Cup com 12+12 equipas em duas divisões) que possibilitem um maior número de contactos internacionais, que a fase final do Mundial de 2027 será disputada por 24 equipas em 6 grupos de 4 equipas seguidos de oitavos-de-final  (apuramento dos 4 primeiros e segundos e dos 4 melhores terceiros), passando para 7 semanas de competição e com a garantia que o sorteio se fará o mais tarde possível para garantir o acordo com a competitividade mundial.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

MEIAS-FINAIS




De acordo com os rakings que posicionam a história de cada uma das equipas, a Nova Zelândia e a África do Sul são as grandes favoritas para estarem presentes na final deste Mundial.

No entanto, se compararmos as médias dos dados estatísticos que cada equipa conseguiu ao longo da sua prestação no Mundial, veremos que se a posição de favorita da Nova Zelândia se mantém, já no jogo Inglaterra-África do Sul existe um enorme equilíbrio que pode fazer desta meia-final um jogaço.




O maior poder físico, a maior experiência traduzida pelo número de internacionalizações, 
dão consistência  ao favoritismo AllBlack


A Inglaterra, sendo mais jovem na sua média de idades, tem, no conjunto da sua equipa inicial, mais 104 internacionalizações do que a África do Sul. Servirá esta maior experiência para desequilibrar ?

terça-feira, 17 de outubro de 2023

AGUENTA CORAÇÃO…




Quartos-de-final com quatro jogos muito interessantes e de garnde emoção e que merecem reflexão sobre a construcção das vitórias.


Com excepção do País de Gales — que aliás perdeu o jogo por 3 erros cruciais — venceram aqueles que melhor defenderam — veja-se os All Blacks com Jordie Barrett a saber utilizar o corpo para impedir um irlandês de marcar ensaio e a experiência de Sam Whitelick que após 37 fases comandadas, no último tempo de jogo, pelos irlandeses, conseguiu, com grande inteligência, recuperar a bola e assim colocar os AllBlacks na meia-final.

A estes jogos de altíssima intensidade juntou-se a intensidade emocional com a despedida de dois enormes jogadores que nos habituamos a admirar: o capitão irlandês e recordista mundial de pontos marcados, Johnny Sexton   — que, ainda dentro do campo, recebeu o alento do filho que, após a derrota que o retirava da sonhada meia-final, lhe disse. “Continuas a ser o melhor Pai do mundo.” — e o excelente abertura galês Dan Biggar. 










 

domingo, 15 de outubro de 2023

A SEGUNDA FINAL DOS QUARTOS-DE-FINAL (II)

(continuação do texto anterior)


Neste segundo dia dos quartos-de-final, a Inglaterra — quatro vitórias no Grupo D —  jogará contra Fiji — duas vitórias e duas derrotas no Grupo C, sendo uma delas contra Portugal. De acordo com os algoritmos do XVcontraXV e da RugbyVision a Inglaterra será favorita por, respectivamente, 12 e 11 pontos de diferença no resultado final. No entanto se olharmos para os dados estatísticos conseguidos — embora conseguidos com adversários diferentes mas não deixando de ser factores que revelam forças e fraquezas — a COMPARAÇÃO DE CAPACIDADES estabelece globais muito idênticos. E assim se a Inglaterra se mostra mais eficaz por via dos ensaios que conseguiu, Fiji mostra-se mais habilidosa e por isso recorre a um maior números de off-loads e apresenta uma maior capacidade de avançar no terreno através de um maior transporte de bola correspondendo a maior número de metros conquistados. É no entanto bom lembrar a capacidade da organização defensiva inglesa que conseguiu, com 14 jogadores desde os primeiros momentos do jogo (3’) por expulsão de Tom Curry, garantir a vitória contra a, agora semi-finalista, Argentina por 27-10. É assim muito provável que a Inglaterra, ultrapassando o seu adversário nesta eliminatória venha a ser outro semi-finalista onde defrontará o vencedor do França-África do Sul


A segunda-final neste segundo dia dos quartos-de-final não é mais do que o jogo entre a França, equipa do país organizador — que joga portanto em casa — e o actual campeão mundial, a África do Sul, num jogo fácil de admitir que não terá vencedores antecipados.  E as previsões do XVcontraXV — que prevê a vitória francesa por 8 pontos de diferença — e do RugbyVision — que prevê a vitória sul-africana por 1 ponto de diferença — mostram essa mesma dificuldade de apontar um vencedor.

Como curiosidade deste jogo o facto de, contráriamente ao espectável 7-1 na constituição do banco sul-africano, surgir a aposta num tradicional 5-3, significando que a África-do-Sul reconhece a força das linhas atrasadas francesas, não podendo apostar a sua cave na substituição da totalidade dos seus avançados porque receia que eventual lesão de um linhas-atrasadas possa desequilibrar toda a estrutura defensiva da equipa. Por outro lado, e daí a curiosidade, Galthié — mesmo com o eventual risco de Dupont poder ter alguma regressão — aposta num banco de 6-2 mostrando também que o seu receio dos sul-africanos reside no bloco de avançados, pensando que um polivalente três-quartos resolverá qualquer eventual problema. Mas o 5-3 sul-africano pode ser considerado, com a presença do 3ª linha Kwagga Smith que já tem sido utilizado como centro ou ponta, um 4-4 aumentando-nos a curiosidade com as possibilidades táctico-estratégicas que permitirá e como serão utilizadas …

Curioso também o facto de Faf De Klerk, habitual titular, estar inicialmente no banco e ser substituído por Reinach. No entanto os médios campeões do mundo — De Klerk e Pollard — podem saltar do banco a qualquer momento e quando entendido como necessário. Provavelmente os sul-africanos procuraão usar o seu cumprimento de pontapé para obrigar os pontas franceses a posicionarem-se bem recuados no terreno e assim impedi-los de se articularem directa e rapidamente  com os seus companheiros da linha de três-quartos. No entanto o jogo de conquista territorial com a estratégia de desapossamento, cara a Galthié, trará também muitos problemas aos sul-africanos. E, pode ser, que o ping-pong seja a marca do jogo na esperança de obrigar a erros…  No entanto a COMPARAÇÃO DE CAPACIDADES dá vantagem à França, pela sua maior habilidade e eficácia. Esperemos portanto que haja movimento e circulação da bola — ensaios também porque se os franceses apresentam 3,32 pontos por cada entrada nos 22m, os sul-africanos apresentam 3,22 — porque, depois da excelência do Nova Zelândia-Irlanda, a fasquia do contentamento subiu muito…

No fundo, um jogo prometedor e que, de acordo com os responsáveis das duas equipas, poderá mostrar o vencedor como futuro campeão mundial…

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

DUAS FINAIS NOS QUARTOS-DE FINAL (I)


 A decisão da Rugby World em considerar como os cabeças-de-série os melhores classificados no ranking de há três anos atrás deu nisto: os 4 melhor classificados actuais — Irlanda, Àfrica do Sul, França e Nova Zelândia vão jogar ao bota-fora e dois destes possíveis finalistas ou mesmo campeões mundiais vão fazer as malas e voltar para casa. Deixando que duas equipas entre o 6º, 7º, 8º ou 10º classificados do ranking possam aceder às meias-finais. Ou seja, como um erro incial de elaboração dos quadros estraga umas meias-finais. Enfim, vejamos as meias finais neste quadro dos quartos…
No primeiro jogo destes quartos entre o Gales, vencedor do Grupo C só com vitórias, e a Argentina segunda classificada do grupo D com uma derrota frente à Inglaterra por 27-10. Se o algoritmo do XVcontraXV prevê a vitória galesa já o RugbyVision prevê uma vitória rés-vés para a Argentina. Mas facto, facto é que os argentinos não estiveram brilhantes com as suas vitórias sobre Samoa por 19-10 mas com um nível de eficácia muito baixo traduzido por 70 ultrapassagens da linha-de-vantagem para apenas 1 ensaio marcado, Teoricamente, com a notáel organização defensiva que tem mostrado e pela capacidade de conquista territorial com os transportes percorridos demonstram e como se pode ver no gráfico, Gales é favorito contra a Argentina.



Na primeira das “finais” destes quartos, a Irlanda, primeira classificada do ranking mundial, é favorita — e como está a jogar…— de acordo com o algoritmo do XVcontraXV. Mas a análise comparativa de capacidades de acordo com os jogos realizados nestes quatro jogos do Mundial, o favoritismo — dando razão ao RugbyVision que prevê a sua vitória por 5 pontos de diferença — pertencerá aos AllBlacks com base na sua maior eficácia definida pelo seu maior número de ensaios conseguidos, vantagem nas conquistas dos alinhamentos e no maior número de metros percorridos. E é bom lembrar que se os neozelandeses se terão mostrado em aparente má condição física, já se percebeu que o facto se deveu ao vergar-da-mola que agora, solta, mostra um conjunto de jogadores em muito boa condição.
Seja como fôr o jogo será equilibrado e com procura permanente da criação de rupturas nas linha de defesa adversárias, sendo o mais provável assistirmos a uma exemplar demonstração de apoio e continuidade pelas duas equipas. Um jogo a não perder porque vai ser bonito de ver — e daqui pode sair o próximo campeão mundial…
(tem continuidade)


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

DESTA VEZ, SIM!

Primeira página de A Bola numa merecida homenagem — que se aplaude — a Os Lobos 

Notável vitória como resultado do melhor jogo de sempre da selecção de Portugal! Desta vez Os Lobos mostraram uma qualidade colectiva de primeiro nível, com uma coesão que ainda não tinham mostrado — cada movimento mostrou-se eficaz com o surpreendente apoio de jogadores não esperados que, agora sim, fizeram jus ao sentimento colectivo que não tinham conseguido mostrar contra georgianos ou contra 13 australianos. Desta vez, ao contrário das anteriores onde parecia valer mais a exposição de capacidades do que a eficácia do uso da bola, o objectivo esteve claro nas mãos, cabeça e pés dos generosos Os Lobos: usar as qualidades da equipa para vencer o jogo! E de novo Samuel Marques — que já nos tinha colocado no Mundial com o pontapé final contra os USA — veio e depois de um
jogo-ao-pé tacticamente muito assertivo, definir um 24-23 de maravilha, colocando-nos à frente da Geórgia e com a imagem inesquecível da 1ª vitória num Mundial. E, com a vitória, o acesso — melhor lugar de sempre — ao 13º lugar do ranking da World Rugby…

E desta vez a Eficácia manifestou-se 

A defesa esteve brilhante, conseguindo compensar sempre as 77 ultrapassagens da linha-de-vantagem e limitando o acesso à área de 22 a 11 hipóteses — das quais apenas resultaram 2  ensaios — com 136 placagens bem sucedidas num juntar de placadores, fraternalmente disponíveis para travar o avanço dos enormes fijianos que ficaram limitados a 6 rupturas da linha de defesa. Maravilha de ver, limitando o ataque fijiano a tentativas isoladas e não deixando, pela boa organização defensiva conseguida, que o seu jogo colectivo de passes se tornasse eficaz. Repare-se nestes números: José Madeira realizou 21 placagens, David Wallis outras 21, Nicolas Martins — um jogão — fez 16 e o Rafael Simões placou 12 adversários. E com 116 placagens os portugueses ocupam os nove primeiros lugares dos maiores placadores do jogo. Obra!

Nove Lobos nos 10 melhores placadores do jogo

As 14 conquistas nos alinhamentos possibilitaram a expressão de sequências que, juntamente com uma maior velocidade de reciclagem da bola nos rucks — 28 em menos de 3 segundos — permitiu acesso à área-de-22 adversária por 9 vezes numa bem melhor demonstração de eficácia. No entanto com o aproximar do final do jogo temeu-se que os hábitos competitivos destes fijianos — habituados a níveis de intensidade muito superiores pelos campeonatos que frequentam — pudessem impôr-se à fadiga que se via crescer nos jogadores portugueses. Mas a vontade dos Lobos, empurrados por uma multidão de incansáveis adeptos, foi capaz da superação.  


Desde o início do Mundial que Os Lobos se mostraram sempre generosos e com uma atitude competitiva muito elevada a que apenas uma postura desarticulada que não permitindo a coesão necessária à unidade de acção também não permitia traduzir em eficácia movimentos que na aparência mereceriam melhor sorte. Felizmente desta vez surpreenderam com a transformação conseguida.


Agora, anotando as diversas lições — e não sendo a menor a sorte do apuramento que podemos tirar da nossa participação e acesso a este Mundial, teremos que preparar o apuramento para 2027 na Austrália. E que deve começar pela organização interna de acordo com os objectivos competitivos que se pretendam atingir. O que significa campeonato interno equilibrado e competitivo, Lusitanos a serem o espaço-base da preparação internacional, retorno da Força 8 para preparar os primeira-linha de amanhã e um apoio aos jogadores portugueses que jogam no estrangeiro para acesso a melhores clubes. 


Cantemos — lembrando a capacidade de luta de todos e cada um, os ensaios de Storti, Marta e Fernandes — chapéu grande pilar! — o pontapé exemplar de Mike Tadjer, o encaixe aéreo de Jerónimo Portela, o papel de todo-o-terreno de Nicolas Martins, as diversas e legantes conquistas de bola nos alinhamentos — o tempo da vitória mas sem deixar que o canto, por deslumbramento, desafine e que este excelente jogo — o melhor de sempre, repito — seja efectivamente o princípio de acesso a um nível internacional elevado. 

(Versão do texto publicado no Público a 9 de Outubro de 2023)

APURADOS OS QUARTO-FINALISTAS


 Terminou a fase de Grupos do Mundial e nesta 5ª jornada uma bela surpresa — Portugal venceu Fiji por 24-23, ficou no 4º lugar do Grupo C à frente da Geórgia com quem tinha empatado 18-18 e obteve ainda 4 pontos de ranking da World Rugby ficando agora colocado — melhor de sempre — no 13º lugar. Foi um final feliz para um início na fase de apuramento pouco auspiciosa e que só um erro brutal da Espanha permitiu ultrapassar. Marcaram-se pontos no prestígio do rugby português que não se ficou só por uma equipa interessante que jogava agradavelmente mas que não se mostrava capaz de ganhar. Desta vez foi e a eficácia passou a prioridade. Belo jogo, o melhor que alguma vez vi uma selecção de Portugal fazer.

As perspectivas estão abertas e agora é necessário que não haja deslumbramentos que escondam as necessidades reais de transformação. Se queremos resultados internacionais temos que nos organizar de acordo com o nível onde pretendemos competir.

Pela ideia sem nexo de definir os cabeças de série três anos antes do início do Mundial iremos ter agora nos quartos-de-final , duas finais com as melhores equipas — e iremos ter meias-finais em que duas das quatro melhores equipas actuais — veja-se o actual ranking — não participarão. Azares de uns, sorte de outros…

Assim nos quartos-de-final teremos:

  • Gales - Argentina
  • Irlanda-Nova Zelândia
  • Inglaterra-Fiji
  • França-África do Sul

com o segundo e quarto jogos a serem autênticas finais.  

 

sábado, 7 de outubro de 2023

EFICÁCIA E ADAPTAÇÃO

Uma vitória contra Fiji seria muito bom: para além de ser a primeira em Mundiais, tirar-nos-ia do último lugar do grupo e, mais importante, retiraria a imagem de simpática equipa que faz coisas muito interessantes e de que os espectadores gostam mas que não passa disso: um rugby simpático, entusiasmante, agradável de ver, mas que não é vencedor. Ganhar seria óptimo! Mas nada fácil.

A equipa fijiana tem uma compleição física muito elevada (566 Kg/m de compacticidade média contra 526 Kg/m dos portugueses) tem jogadores muito rápidos e a sua capacidade de choque é reconhecida como bastante elevada — o que significa que vai haver da parte de Os Lobos um enorme desgaste para os conseguir impedir de quebrar-a-linha. Ou seja: a defesa portuguesa pode ser levada a necessidades de oposição directa que ultrapassem as suas capacidades físicas. E aí… Fiji entrará no domínio do jogo.



Porque Fiji, para realizar o sonho que a realidade da vitória sobre a Austrália transformou em possibilidade, basta-lhe um ponto. Ou seja: se não puder ser a vitória que seja um ponto de bónus defensivo que os quartos-de-final ficarão garantidos. E assim, na procura de um ponto os fijianos entrarão a todo o vapor procurando conseguir pontos quanto antes que lhes evite qualquer dissabor.


As duas equipas parecem próximas se olharmos para as estatísticas conseguidas nos jogos deste Mundial 2023 e, mesmo com um valor de 100% de conquista nas formações-ordenadas, a área da conquista não está muito distânciada mas é de novo na área da eficácia que as diferenças se fazem notar. Portugal é nitidamente mais fraco do que Fiji na capacidade de marcar. E é isso que aos Lobos tem feito parecer e não ser. Parece que podem ganhar, mas não ganham.




E como poderiam ganhar? Partindo do princípio que para estar numa fase final de um Mundial é necessário possuir atributos mínimos que podem fazer com que uma equipa se supere desde que tenha tido a organização estratégica necessária para poder adaptar-se, com as tácticas adequadas, aos desafios que lhe são colocadas, uma vitória sobre adversários de relativa proximidade é sempre possível. Havendo um objectivo de aproveitamento colectivo — cultura táctica comum — de qualquer oportunidade.


Portanto, jogar ao largo? Sim, desde que haja manobras que impeçam o deslizar dos defensores — o que implicará linhas-de-corrida convergentes e entradas por dentro e um jogo-ao-pé consistente e conquistador porque, contra os fijianos, não parece conveniente que se lhes entregue a bola para os convidar a subir para serem apanhados ainda atrás da grande maioria dos seus jogadores… assim, chutar pelo seguro para o espaço vazio, obrigando defensores a perseguir a bola para acabar numa conquista de terreno objectiva. E se esta invasão de território fôr possível por bem executada, os fijianos passarão por trabalhos que poderão torná-los inseguros. Insegurança que poderá levá-los a cometer erros ou a correr riscos demasiado elevados.


Portanto se, teoricamente, e apesar da maior capacidade de colisão dos fijianos, não haverá razões para dificuldades na conquista — embora estejamos com muito fraca média de reciclagem da bola (4,10s) nos rucks, o que pode permitir turnovers — teremos que ter movimentos e circulações da bola mais surpreendentes, aparecendo Marta e Storti mais vezes em sítios inesperados.


Um pedido fica aos Lobos: mais do que bonitos a jogar sejam eficazes, adaptem-se ao que surge e forcem o adversário ao erro pela surpresa, variando o movimento entre a circulação e o jogo-ao-pé retirando à-vontade e confiança ao adversário. Assim serão mais do que uma equipa simpática e generosa e ganharão o respeito competitivo de adeptos e adversários.


Surpreendam-nos com a eficácia e a adaptação!!…

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

INGREDIENTES: CONDIÇÃO FÍSICA E CULTURA TÁCTICA

Sendo o rugby um desporto colectivo de combate com o propósito de marcar mais pontos do que o adversário mas não podendo a bola ser passada para a frente a não ser através de pontapés e estando a área-de-ensaio lá ao fundo, é óbvio que, para o sucesso de uma equipa, é necessário ter uma estratégia definida para a conquista do terreno. Mas para isso, porque existe a placagem que permite derrubar o portador da bola, não basta escolher o caminho directo e é preciso usar a inteligência. O que implica o domínio de culturas tácticas individuais e coletivas que possam tornar eficaz a estratégia definida.


Esta proximidade ao combate torna o colectivo e as suas interacções na principal arma de diferenciação entre as duas equipas em confronto. O melhor colectivo, o mais eficaz, vence no final porque no rugby é preciso que haja um comprometimento entre todos e um duro trabalho comum que possa construir uma confiança alicerçada na técnica de cada um e que permita tomar a iniciativa e assumir o risco. O que determina que a cultura táctica individual e colectiva seja um factor determinante para garantir a eficácia da exploração das vantagens conseguidas, avançando no terreno para dominar a zona vermelha vizinha da área de ensaio.


Não chega portanto e apenas a atitude, a vontade de vencer, a coragem de enfrentar os momentos mais duros, É preciso saber o que fazer em cada momento e que esse saber seja, simultaneamente, partilhado pelo todo que é uma equipa.


 Nesta 5ª jornada, última da fase de apuramento deste Mundial 2023 que determinará, nos oito jogos da jornada, os seis quinzes que se juntarão aos já apurados, Gales e Inglaterra. E serão as equipas mais colectivas, que melhor expressão táctica demonstrem, que o conseguirão. É que muitos dos erros que se verificam não são erros técnicos individuais, mas erros de desentendimento colectivo — a título de exemplo e apesar do seu movimento estratégico atractivo, os resultados de Portugal que não conseguiram traduzir-se em vantagens classificativas, ficam mais a dever-se à falta de articulação táctica de movimentos e decisões do que a erros técnicos.

No Grupo A, a França, então já conhecedora do resultado dos neozelandeses, limitará o seu desgaste frente à Itália para garantir o 1º lugar do Grupo, fugindo assim ao primeiro classificado do Grupo B onde uma “final” Irlanda-Escócia — à Irlanda bastará a vitória ou o bónus defensivo — determinará, os eleitos num jogo que tem nos escoceses com 143 defensores ultrapassados, 44 offloads e 635 passes realizados e uma taxa de sucesso de 89% de placagens, um adversário nada fácil num jogo a não perder. A Nova Zelândia, do mesmo Grupo A, detendo a maior eficácia entre acessos à zona vermelha e marcação de pontos e com 49 quebras-de-linha-defensiva, não vai permitir, com certeza, qualquer leviandade ao Uruguai.


No Grupo C, joga Portugal que tem em Samuel Marques o maior passador do Mundial com 184 passes, defronta Fiji — com um sucesso de 100% nas formações-ordenadas e a maior capacidade média de colisões dominantes com 44,3 por jogo, mas também sendo a equipa mais castigada com 24 penalidades  obrigada a conquistar um ponto para garantir a continuação na prova. Para Portugal, com a dificuldade de apenas conseguir uma média de reciclagem da bola nos rucks de 4,10 seg. e com uma eficácia de 1,44 pontos para 9,3 entradas na zona vermelha, a difícil e dependente tarefa de ultrapassar a Geórgia e assim corresponder à simpatia que tem granjeado pelo universo oval, exige uma vitória ou um bónus defensivo cuja eficácia dependerá da ajuda do apurado Gales. No Grupo D uma outra “final” entre o Japão e Argentina ditará o quinze que acompanhará ingleses na passagem aos quartos-de-final.


De acordo com as previsões resultantes do posicionamento no ranking — ver quadro — os quinzes que passarão aos quartos-de-final, serão: França e Nova Zelândia no Grupo A, Irlanda e África do Sul no Grupo B, Gales e Fiji no Grupo C e Inglaterra e Argentina no Grupo D. 


Seja como fôr, as vitórias sorrirão aos quinzes que melhor demonstrem, para além de uma capacidade física elevada, o domínio na utilização, no tempo adequado, dos seus conhecimentos tácticos e da articulação colectiva que permitam a criação e exploração de vantagens. Ou seja, o sucesso será para o colectivo que melhor leia o desenvolvimento do jogo que passa na sua frente. Os outros doze, voltarão para casa.

                                                              (Versão do texto publicado no Público a 4 de Outubro de 2023)

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

DERROTAS SÃO DERROTAS MAS PODEM TER FUTURO

Mas é uma derrota. Nós perdemos.

Estou orgulhoso mas não feliz.

Tomás Appleton

Capitão dos Lobos


Com as derrotas aprende-se muito, dizem. Mas pouco importa a aprendizagem se o que queremos são vitórias. Mas de facto com as derrotas aprende-se… e com as vitórias também desde que não andemos distraídos. E as vitórias alegram mais e solidificam mais o percurso de uma competição desportiva. E como o capitão disse, se há orgulho pelo comportamento levado ao limite das possibilidades, não há grande felicidade. Porque as derrotas pesam. E pesam mais quando as exigências criam deslocadas expectativas que ultrapassam as competências habituais.


Pronto, ao contrário do que muito boa gente pensou ou mesmo disse, Portugal perdeu com a Austrália que marcou 5 ensaios e sofreu 2. O que é um resultado normal e mais do que aceitável contra uma equipa que já foi campeã mundial e que tem na sua constituição um conjunto de jogadores que têm hábitos competitivos muito diferentes do ambiente que cerca os Lobos. E isso pesa muito por melhor que seja — como foi — a atitude de cada um dos jogadores ou mesmo e por vezes de cada um dos grupos que constituem a equipa. Os avançados nas fases estáticas — conquistaram 21 contra 15 australianas — estiverem muito bem e em relação aos últimos jogos houve nítida melhoria nas formações-ordenadas. E houve momentos de belíssimos movimentos com transportadores e apoiadores a alternarem as linhas de convergência e de divergência que permitiram à equipa contar com os canais exteriores livres e de que é exemplo o excelente ensaio de raiz colectiva do Pedro Bettencourt. Mas também houve erros decisivos, tácticos ou técnicos, sempre que a pressão aumentava e que deslaçava o movimento colectivo e a decisão individual. A falta de hábitos adequados apresentava-se com elevados juros…



Com as vantagens conseguidas como se perde um jogo por 5-2 em ensaios? A resposta está, como se pode ver, na diferença da eficácia e que tem como significado que os jogadores portugueses não têm os hábitos competitivos exigidos por uma competição desta natureza.

Depois, com o amarelo de Bettencourt, o caldo entornou e a equipa, por falta de experiência, não foi capaz de se organizar em inferioridade numérica — foram três ensaios em 10 minutos! E a diferença entre o nível das equipas verifica-se aqui: em superioridade numérica de 15/14, os australianos marcaram 3 ensaios; em superioridade de 15/14 durante quatro minutos e de 15/13 durante 8 minutos a equipa portuguesa apenas marcou 7 pontos e no limite do tempo de suspensão. E aqui se mostra a maior dificuldade da equipa: das 63 ultrapassagens da linha-de-vantagem, os portugueses marcaram 2 ensaios com uma eficácia de 3,2%; das 62 ultrapassagens da linha-de-vantagem os australianos marcaram  5 ensaios (8,1%). Dos transportes de bola, os australianos conseguiram com um total de 528 metros uma média de conquista de território de 5,1 metros e os portugueses, com 607 metros de conquista de território — dos quais 153 metros foram realizados por Sousa Guedes (que partiu um braço e jogou até ao fim) — conseguiram, por cada bola transportada, uma média de 4,3 metros, ultrapassando 29 defensores contra 18 conseguidos pelos australianos. O que traduz falta de organização defensiva consistente e de um processo táctico que permita encarar positivamente  os momentos de pé-atrás. Porque os portugueses estiveram bem nas placagens individuais, realizando 132 para um sucesso de 86%. As falhas não foram portanto individuais, mas colectivas.


E é claro que, com 56% de posse de bola e 54% de domínio territorial, houve erros nos passes e no transporte da bola, algumas vezes por má colocação dos receptores, outras — na maioria —  porque a intensidade e a pressão, levando à falta de espaço e de tempo, não permitiam, pela exigência distinta do hábito, a execução eficaz. Mas houve também erros de concepção táctica na organização em inferioridade numérica e, também, quando da superioridade numérica… parece que ninguém, dentro ou fora do terreno-de-jogo, sabia, eventualmente por falta de estrutura da cultura táctica, como adaptar a equipa às situações. E jogando contra equipas do nível da australiana erros desta natureza pagam-se — como se pagaram — caros. 


Que aprendemos com este jogo e com esta derrota que, embora entristeça, deixou claro uma atitude de combate de enaltecer, uma vontade de bem fazer e um espírito colectivo — embora muitas vezes desligado — de entreajuda importante? Aprendemos que nos falta uma envolvente competitiva que adeque o desenvolvimento das qualidades e habilidades naturais que os jogadores portugueses demonstram aos altos níveis de intensidade e pressão que as competições desta natureza exigem. E então sim, as vitórias serão mais naturais do que as derrotas.

                                                          (Versão do texto publicado no Público a 2 de Outubro de 2023)

domingo, 1 de outubro de 2023

EXIGIR DEMAIS É DISPARATE

A Geórgia das 1as partes e dos três minutos finais, voltou, em duas vezes consecutivas, a colocar Os Lobos em má situação: na primeira roubando-lhes a vitória aos 78’, na segunda, conseguindo um ponto de bónus defensivo aos 80’, colocando-se à frente de Portugal e obrigando os portugueses a resultados muito difíceis para que não seja os últimos do Grupo.
Com o resultado de ontem, a Austrália, para continuar em prova, necessita de vencer Portugal com um ponto de bónus e pelo maior número de pontos de jogo possíveis e na esperança que Portugal contenha Fiji no último jogo da fase de apuramento do Mundial. E Portugal, para que não seja o último do grupo necessita de pontos de classificação e pontos de jogo  no mínimo um ponto de bónus defensivo, esperando que Gales seja capaz de um resultado com grande diferença. Enfim, um Grupo C que, inicialmente parecia ter os seus dois primeiros definidos mas que acabou por encontrar um equilíbrio de resultados que deixou tudo em aberto e na dependência uns dos outros com excepção de Gales que se encontra já classificado depois das vitórias sobre a Austrália e Fiji.


E que pode fazer hoje o XV de Portugal? O algoritmo atribui-lhe uma derrota pela diferença de 14 pontos o que, se fôr o resultado final, não lhe confere o desejado ponto de bónus defensivo e que atira o seu marcados/sofridos para uma relação de 34 pontos negativos de jogo contra os actuais 25 negativos da Geórgia. Pode, portanto, haver luta até ao último dia pela fuga ao último lugar do Grupo  — com a vantagem de Portugal jogar depois de conhecer o resultado de Gales contra a Geórgia…
Antes do mais há que reconhecer que a Austrália, embora ocupando o seu pior lugar de sempre, 10º, no ranking WR continua a ser um dos grandes do rugby mundial e, embora seja uma equipa internacionalmente inexperiente (396 internacionalizações contra 430 dos jogadores portugueses) tem os hábitos competitivos necessários para se impôr contra as equipas, como é o caso, do Tier 2. Lembre-se que Portugal jogou, na preparação deste Mundial e no final de Agosto, contra a Austrália A, equipa que não apresentou nenhum jogador que forma a equipa de hoje, e perdeu por 30-17 e a Austrália de hoje derrotou a Geórgia por 35-15. Portanto nada de optimismos exagerados e não exijámos aos Lobos uma normalidade de resultados que só a casualidade permitirá atingir.

Um pouco mais compacta, ligeiramente mais pesada no bloco de avançados, com a mesma média de idades, aparentemente nada parece distinguir as duas equipas. O mesmo nos dá a entender o gráfico da comparação de capacidades — embora se deva lembrar que a construção foi feita sobre adversários diferentes deste Mundial — onde em nenhum dos domínios analisados existe vantagem australiana. Mas há diferenças e grandes entre as duas equipas que dizem respeito aos hábitos competitivos de cada jogador. E isso pesa e tende a fazer-se sentir na composição do resultado final. 


Mas grave é o facto da World Rugby vir, mais uma vez, demonstrar a sua falta de atenção e respeito ao nomear, esquecendo as obrigações da mulher de César e sob o manto do “no rugby somos diferentes” —  o árbitro georgiano, Nika Amashukeli (um bom árbitro e que não tem nenhuma culpa no assunto) para arbitrar este jogo do Grupo onde portugueses e georgianos conflituam. Veja-se: quando Portugal entrar em campo já saberá da importância do resultado do seu jogo para a classificação final — nenhuma, se Fiji vencer com ponto de bónus, muito grande se Fiji apenas vencer, abrindo uma porta para a decisão final no jogo entre Fiji e Portugal. No entanto ainda há aqui a questão do prestígio das duas equipas europeias que pretendem evitar o último lugar do grupo. E isso pode passar, encontrando-se, as duas equipas separadas por 5 pontos na relação marcados/sofridos e com a vantagem de 1 ensaio para os georgianos, pelo controlo dos resultados e pela possibilidade de pontos de bónus defensivos. Conhecida, repete-se, a situação em que se encontrará a Geórgia antes de iniciar o jogo Austrália-Portugal, as decisões do árbitro georgiano podem ser olhadas como defensoras do interesse georgiano. E isto não se faz! Não se coloca em causa a integridade de um árbitro por erro de perspectiva, desatenção, falta de respeito ou ignorância pura e simples das mais elementares regras de equidade desportiva.

As vantagens pertencem obviamente aos australianos mas Os Lobos, mantendo a sua confiança no jogo-de-movimento, utilizando a sua capacidade de jogo-de- passes, procurando ultrapassar a linha-de-vantagem e garantindo o apoio adequado para que o tempo de reciclagem nos reagrupamentos seja curto e em tempo útil e utilizando eficazmente o jogo-ao-pé e a eficiência defensiva que nos têm mostrado, podem de novo fazer valer as suas já reconhecidas qualidades de jogo e criar o ambiente, para, independentemente do resultado final, sair do campo com satisfação e orgulho por deixarem a sua camisola numa posição de agrado geral.  E nós, espectadores, não lhes exigindo tarefas que ultrapassam a sua condição, guardaremos na memória a satisfação e o orgulho pelo comportamento dos nossos Lobos.
Contra um adversário desta dimensão o que pretendemos é que a atitude, a nobreza, a entrega ao combate, o espírito de união do colectivo de Os Lobos deixem a sua marca indelével no relvado do Geoffroy-Guichard em Saint-Étienne. Bom jogo!




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