quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

LOBOS EM GRANDE

Os Lobos que jogam em França tiveram um fim‑de‑semana de grande qualidade. Storti marcou três ensaios, Rodrigo Marta marcou outros dois com Samuel Marques a concretizar 2 penalidades e 4 transformações. Francisco Fernandes, o Chico e que teve de jogar na posição de inabitual de talonador que desempenhou, segundo o Midi Olympique, de forma brilhante.

Com estas reconhecidas exibições foram seleccionados pelo Midi Olympique para  XV da semana da PROD2, os três internacionais portugueses: Storti, Marta e Francisco Moreira.


Contra o Agen, os três Lobos do Béziers foram considerados dos melhores em campo: Storti com 3 estrelas e Francisco Moreira e Samuel Marques com 2 estrelas.

Contra o Rouen, o Rodrigo Marta ao marcar 2 ensaios pelo seu Colomiers teve direito a 3 estrelas.
Jogando pelo Mont-Marsan contra o Aurillac, o pilar Anthony Alves teve também, pela sua exibição, direito a 1 estrela.
E como nota final interessante, o facto de Pedro Bettencourt ter capitaneado a sua equipa do Oyonnax em jogo da Challenge Cup contra os Sharks.
Bom fim‑de‑semana para os Lobos de França…joguem em França ou contra a Bélgica em Mons.



terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O JOGO NÃO PERTENCE AO ÁRBITRO

Texto de Michel Lamoulie, antigo árbitro internacional, dirigente e formador de árbitros.

“Face a uma falta, o árbitro reage como o portador da bola.

O portador da bola lê, percebendo, o ambiente: adversários, parceiros, posicionamento em campo, condições climáticas, etc. Essa percepção leva-o a analisar a situação para decidir como jogar: 

        1) evitar o adversário; 

        2) colidir com o adversário; 

        3) passar a bola para um companheiro ou 

        4) chutar a bola. 


Diz-se que ele percebe, analisa e decide. O comportamento do árbitro diante de uma falta baseia-se nos mesmos verbos perceber, analisar e decidir.


Extraído do Código do Jogo da World Rugby:

“As Leis do Jogo devem ser aplicadas de forma a que o jogo possa desenrolar-se de acordo com os Princípios do Rugby. Os árbitros e seus auxiliares devem fazê-lo  sendo imparciais, equitativos, consistentes, coerentes e conhecedores e, ao mais alto nível, pela sua capacidade de gestão do jogo.”


Tentarei, portanto, desenvolver os problemas essenciais ligados à arbitragem e, em particular, à gestão.


“O primeiro dever do árbitro é conseguir dos jogadores o respeito pela aplicação das regras, garantindo assim que o jogo será disputado de acordo com os Princípios do Rugby, devendo, prioritariamente, garantir a segurança dos jogadores através da justa aplicação das Leis do Jogo.»


A palavra equitativo mostra, de forma clara e de imediato, que o árbitro está ligado a um código moral que pode ser definido por 3 palavras: justiça, lealdade, imparcialidade.


Se alguns definem o árbitro como um censor, da minha parte eu defino-o como um actor do jogo que, assim como os jogadores, toma decisões.


Como actor do jogo, o árbitro procura uma colocação para evitar a falta e garantir a continuidade. Porque ele não quer punir, quer que os jogadores não cometam faltas: é isso que chamamos de prevenção.


A forma de arbitrar baseia-se nos mesmos princípios da forma de jogar. O árbitro, assim como o jogador, percebe, analisa e decide. Assim, o árbitro percebe a falta e a sua análise levá-lo-á à decisão. Após a análise da falta, três decisões são possíveis:

        1) A falta não tem efeito no jogo: o árbitro “coloca a falta no bolso”, o jogo continua

        2) A falta tem efeito no jogo: o árbitro joga a vantagem ou,

        3) O árbitro apita imediatamente.


Assim como o árbitro é obrigado a decidir quando surge uma falta, podemos escrever sem hesitação que ele gere a falta (Alguns mais velhos dizem que o árbitro classifica as faltas mas para mim este verbo classificar não faz sentido e é um verbo a banir). 


É assim que a palavra gestão ganha todo o seu sentido na arbitragem de uma falta. Não devemos confundir vantagem com gestão, a vantagem é apenas uma das ferramentas de gestão.


Infelizmente, a gestão, que conduz a uma decisão (apito imediato, vantagem e sua aplicação, ocultação da falta), estará muitas vezes na origem da frustração sentida por muitos treinadores.


Gerir uma falta representa um certo perigo em relação à consistência que o árbitro deve demonstrar. Se este último tivesse apenas que aplicar a Regra da Vantagem ou o apito para punir a falta, a frustração dos treinadores seria menor e a inconsistência também.


Esta gestão da falta não deve fazer com que as pessoas acreditem que o árbitro é negligente, mas deve consciencializar as pessoas de que certas faltas não são punidas desde que não tenham efeito no jogo (infelizmente aos olhos do árbitro).


É óbvio que esta gestão será sinónimo de incoerência entre os árbitros. Com efeito, a análise da falta está demasiado ligada à cultura do árbitro em relação ao jogo. Percebemos então que a formação de um árbitro tem que ter em conta o conhecimento imperativo do jogo. Afirmo sem hesitação que um bom árbitro capaz de uma gestão coerente deve conhecer o jogo antes de conhecer as Leis do Jogo. Também escrevo sem hesitação que um mau árbitro impedirá que as equipes que querem jogar, joguem. Por outro lado, um bom árbitro nunca fará jogar equipas que o não queiram fazer: o jogo pertence aos jogadores e não ao treinador e sobretudo não ao árbitro.”


Comentário: Cabendo ao árbitro aplicar as Leis do Jogo de forma imparcial, equitativa, consistente, coerente e conhecedora e, ao mais alto nível, gerir o jogo, não lhe cabe avisar das faltas já cometidas mas sim avisar da vantagem ou da penalidade para que não se entre no domínio do benefício do infractor Ou seja, não pertencendo o jogo ao árbitro não lhe compete estar a intervir, falando, nas fases que considera haver falta e na intenção de evitar paragens do jogo mas apenas indicar a vantagem ou marcar a penalidade correspondente. Porque as equipas estão em campo a tentar ganhar o jogo e não podem ser prejudicadas nos seus objetivos por interferências desajustadas.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

BENDITO SOFÁ

 Que jogos! Doze jogos correspondentes à 3ª Jornada da Champions Cup realizados neste último fim‑de‑semana mostraram-nos, sentados no sofá e a olhar para a televisão, jogos de grande nível numa autêntica conciliação com o rugby de movimento. Porque em vez daquele insuportável jogo de colisão pela colisão, tivemos jogo de movimento, linhas de corrida adaptadas, passes variados — com alguns passes-em-carga (offloads) espectaculares — e um jogo-ao-pé mais incisivo com apenas recurso ao ping-pong por nítida incapacidade de leitura táctica provocada muitas vezes pela pressão suplementar criada pela intensidade do jogo que a impede e a que se juntam dificuldades de execução técnica. Porque, como sabemos, “depressa e bem, há pouco quem”.

Diga-se também e a propósito que alguns dos pontapés para dentro do campo quando o adversário está bem posicionado cobrindo adequadamente a profundidade, acontecem por mau pensamento táctico. Diz-se, “não entregues a bola ao adversário” levando portanto a que o portador da bola não chute para fora — não estamos aqui a levar em conta a má técnica de pontapear uma vez que os jogadores que ocupam a profundidade do campo devem dominar a técnica do pontapé. Mas não se deve chutar para fora se houver possibilidade de obrigar a defesa a correr para trás — mostrando o número das camisolas que trazem como pretendia o galês Barry Jones (notável abertura) sempre que chutava — ou a fazer a bola chegar a uma área livre que garanta, no mínimo, uma possibilidade de 50% de reconquista. 

Quando não é assim, que fazer? Como o objectivo é conquistar terreno e qualquer das formas de pontapé entrega a bola ao adversário parece ser preferível chutar para fora uma vez que estabelece um alinhamento mais longe da linha-de-ensaio que se defende, permitindo defrontar o ataque com uma defesa organizada — ao contrário do pontapé para dentro do campo que possibilita um contra-ataque contra uma defesa desorganizada, mal distribuída no campo e, muitas vezes e por imposição das Leis, em inferioridade numérica interventiva, 

Voltando ao espectáculo da Champions: movimento e mais movimento a proporcionar o encurtamento das linhas defensivas com base no respeito do comando pelo portador da bola e tendo a antecipação e a variedade de passes e linhas de corrida — largo, curto, salto, directo… acompanhados por um ou outro pontapé rasteiro ou um curto pontapé por cima — como factor diferenciador. E também é visível a preocupação de um tempo mínimo de disponibilização da bola em cada reagrupamento — procurando evitar a reorganização defensiva com a obrigação de tudo voltar ao início — que, com um tempo limite estipulado em 3 segundos, exige uma exclente técnica de colocação do corpo no transporte da bola e antes de qualquer colisão. Nestes jogos das Champions essa capacidade mostrou-se decisiva para garantir a continuidade dos movimentos e a exploração dos desequilíbrios e encurtamentos conseguidos. 

Num festival de bom rugby mesmo se a televisão fecha demasiado o plano na zona da bola e não permite perceber a amplitude dos movimentos, deixo, para dar a ideia das características destes jogos, um gráfico com a média de alguns elementos proporcionados pelos 12 jogos da 3ª jornada Champions Cup.


Pena é que estes dados não possam ser utilizados em comparação com o que se passa em Porugal uma vez que, por cá, não existe qualquer sistema de estatísticas que nos proporcione uma visão objectiva da qualidade do nosso jogo (nem sequer o existente resultado do sistema aplicado nos jogos internacionais de Portugal nos é facultado…). E sem estatísticas do jogo, não há análise comparativa possível.

Como nota final: nos três primeiros jogos das equipas francesas nesta Champions, o Toulouse marcou 21 ensaios, transportando a bola em 1707 metros e o Bordeaux-Bégles marcou 20, transportando a bola em 1741 metros, somando as duas equipas 279 pontos com 100 ultrapassagens da linha de vantagem (51 Toulouse, 49 UBB). e batendo o Toulouse 72 defensores e o USS, 81.


segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

JPR WILLIAMS FALECEU (1949/2024)


Com 74 anos faleceu John Williams, o extraordinário jogador JPR — uma referência mundial como nº15 (e como eu estudava a sua maneira de jogar…) — capitão e internacional por Gales em 55 vezes naquela que foi a melhor equipa galesa de sempre e, em 1971 e 1974,  jogou 8 vezes pelos Lions. Médico — cirurgião ortopédico — teve grande responsabilidade, expressando a sua solidariedade profisional, na criação de programas para tratamento de rugbistas lesionados.

Tendo jogado pelo clube de Bridgend, sua terra natal, e do qual foi recentemente Presidente, seguindo as pisadas de seu Pai, jogou também pelo London Welsh e fez parte dos Barbarians — jogou o célebre jogo contra os AllBlacks em 1973 ver aqui — e recebeu o MNE em 1977 pelos serviços prestados ao Rugby.

Casado com Scilla, que também conheci e de quem lembro a frase na subida das escadas do Estádio Nacional do Jamor depois de lhe ter proposto ir de carro: — “Os joelhos vão ficar a doer-lhe, mas meteu-se-lhe na cabeça que subiria as escadas para ir ao camarote presidencial. Ele é assim…”e sorria. 

JPR deixa-nos uma saudade imensa guardada nas memórias do seu jogo — a maior parte das vezes com as meias caídas — e do seu espírito guerreiro, batalhador, competitivo e inventivo por cada camisola que envergava — um autêntica muralha defensiva com placagens memoráveis a que juntava uma notável capacidade atacante enquanto um dos grandes transformadores do conceito da posição de defesa. 

John Peter Rhys Williams, o JPR, foi uma demonstração permanente  do carácter que marca um fora-de-série deste nosso desporto de combate. Guardaremos na memória os seus grandes momentos como. aqui



sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

PORTUGUESES RELEVANTES


 

O Planet Rugby decidiu pedir aos seus leitores uma votação sobre os melhores jogadores que pudessem formar a Selecção Do Ano Dos Países Emergentes. E cinco jogadores portugueses que, com excepção de um — Jerónimo Portela — jogam todos em França mas que também, com excepção de Mike Tadjer, tiveram a sua formação em Portugal, surgem como primeiras figuras nesta selecção.

Assim, os pontas Raffaelle Storti e Rodrigo Marta, o abertura do GDD, Jerónimo Portela, o base José Madeira (52 placagens sem falhas) e o talonador Mike Tadjer constituem um terço da equipa escolhida. O que, convenhámos, não é nada mau e marca um caminho que deveremos explorar: formar jogadores em Portugal  — uma mesma cultura de jogo e uma mesma cultura social — e encontrar clubes no exterior que os possam fazer crescer e desenvolver as suas capacidades técnicas e tácticas.

No entanto e se a Planet Rugby fosse mais atenta e rigorosa, ainda teríamos dois outros Lobos na lista: o asa Nicolas Martins — com 65 placagens e em que só falhou 2 e que ficou apenas a 30 votos do fijiano Levani Bota e Tomás Appleton — centro e capitão da equipa que ficou atrás de outro fijiano, Josua Tuisova. E a distracção do Planet Rugby é indisculpável: como é que a equipa de Fiji, que esteve presente em todos os Mundiais realizados, pode ser considerada emergente?

E há ainda uma menção para Francisco Fernandes, o pilar de 38 anos que teve um excelente comportamento na 1ª linha de Portugal. Ou seja quase metade da equipa votada pelos leitores da Planete Rugby para XV de 2023 dos Países Emergentes são Lobos. Bonito!

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