terça-feira, 27 de abril de 2010

DIREITO CAMPEÃO NUM JOGO POUCO INTERESSANTE

Direito ganhou e ganhou bem. Porque dos dois, foi a equipa que melhor soube utilizar as suas capacidades. Logo de entrada mostrou-se tacticamente acertada no desenvolvimento de uma das estratégias importantes do jogo: controlo do tempo e do ritmo do uso da bola. Direito conseguiu muito bem acelerar – graças a uma boa posição corporal no contacto dos seus jogadores portadores da bola – o tempo de libertação da bola e conseguiu também – numa preocupação permanente de avançar nos reagrupamentos - atrasar o tempo de saída de bola de Agronomia. Ganhando com isso, espaço e tempo sobre as acções dos adversários. E assim, com menos esforço do que a oposição, conseguir o essencial: dominar a zona de continuidade – e Agronomia começava aqui a perder a vantagem do seu ponto forte. E essa consequência deve ter pesado no colectivo agrónomo – impotentes na frente, tentaram expandir o jogo. Sem grande sucesso porque, nessa área do jogo, faltam-lhe argumentos e hábitos para um jogo de pressão e acutilância permanentes.

Mas por aqui ficou o interesse da primeira parte do jogo – o restante foi fraquinho para confronto entre as duas melhores equipas portuguesas da temporada. A dificuldade de ultrapassagem das defesas foi uma constante, a incapacidade de explorar vantagens numéricas foi erro demasiado visto, a incompreensão de criar o apoio em situações de óbvia vantagem e oportunidade ou de atingir os espaços vazios foi demasiado evidente, o jogo ao pé não passou de confrangedor, para não se deixar de pôr em causa a formação e métodos dos treinos actuais.


Cada vez penso mais que há demasiado ginásio para terreno a menos: de que serve a força muscular se técnica e tacticamente as debilidades são enormes? Quantas vezes se vê a incapacidade de resolução – para não falar na incompreensão de um 3x2 – de um simples 2x1 por falta de conhecimento táctico dos movimentos e soluções possíveis?

Com a entrada dos velhos guerreiros (tão velhos que são todos eles - a que se acrescenta ainda Aguilar - internacionais do meu tempo de seleccionador), a segunda parte melhorou para o lado de Direito. A capacidade de leitura de Malheiro – e um jogo ao pé mais incisivo – a consistência de João Diogo, a presença – só ela chega para transformar companheiros – de Miguel Portela foi suficiente para dar ao jogo um novo impulso … e conseguir a jogada da tarde: bola rapidamente liberta, passe de Pipoca na linha, ataque da linha de vantagem pelo abertura, passes em tempo justo com linhas de corrida adequadas para fixar defensores e espaço para Aguilar entrar no enorme intervalo criado para ensaio no meio dos postes. Simples, eficaz, experiente. E bonito. A lembrar: that’s rugby my friends. E a lembrar ainda uma regra de sempre: podes ter as bolas que quiseres mas de nada te servirão sem um abertura capaz de lhe dar continuidade eficaz.


Porque é que esta simplicidade não constitui uma constante de outros jogadores? Distorções da formação com preocupações demasiadas na vitória e menos no ensino? Apenas incapacidades de treinadores? Desconhecimento dos princípios metodológicos do treino e formação? Treinos sem oposição para testar opções? Demasiadas jogadas e pouco treino de tomada de decisão? Seja qual for a causa, a situação é grave e necessita de ataque rápido e adequado – ou o futuro será pior que o presente e, como lembra o poeta, para pior… já basta assim.

Agronomia não foi mais longe do que o conhecido. Foi previsível e não foi capaz (houve aqui algum mérito de Direito) de tirar partido das suas capacidades. Aliás, montando a equipa como tem sido posicionada, não me parece que possa sair deste estádio. Pessoalmente, como venho repetindo há anos, gostaria de a ver jogar com Gardner no lugar de abertura – onde as suas qualidades de velocidade de arranque e de mudança de velocidade, exploração de intervalos e jogo ao pé, colocariam constantes problemas aos adversários e onde o seu ponto fraco (defesa um-contra-um) seria facilmente coberto por companheiros - e Cardoso Pinto como 1º centro (onde as suas qualidades de defensor e capacidade de ataque ao intervalo seriam melhor utilizadas e multiplicariam as dúvidas da defesa).

O jogo não foi brilhante, mas o final foi péssimo. Mais uma vez – já no ano passado, com as mesmas equipas, se assistiu a cenas deploráveis – o espírito macho ibérico sobrepôs-se ao desportivismo e uma cena de pugilato (para ser simpático) sem qualquer sentido e com uma boa maioria dos jogadores a perder o respeito pelas suas camisolas, pelos espectadores e pelas obrigações da modalidade, tomou conta do fundo do campo. Resultado e para além dos dois amarelos que castigaram Agronomia ao longo do jogo: três cartões vermelhos (dois de Direito e um de Agronomia). E a festa acabou desfocada. Com a graça das coisas estragadas.


Nota final: o árbitro - Pedro Murinello - esteve em bom plano e nada teve a ver com o resultado.

sábado, 24 de abril de 2010

UMA FINAL, UMA FESTA

(o desenho é da autoria da minha amiga Cristina Menezes)

Hoje disputa-se a Final do principal Campeonato do rugby português. Espera-se um dia de festa. Mesmo sabendo que haverá vencedores e vencidos: uns mais contentes que outros; uns mais tristes a maldizer o erro, a falta de lucidez, a indecisão; os mais contentes a deixar para trás tudo o que foi desperdício, mau jogo ou falhas. É assim, uns e outros vítimas da sorte do jogo.

O que se espera - o que eu espero - é que seja uma FESTA! Um bom jogo, divertido de ver, interessante, emotivo de vencedor inesperado até ao final.

O que se espera - o que eu espero - é que, ao contrário do ano passado (uma mesma final entre as mesmas equipas), impere o fair-play dentro e fora do campo. E que o árbitro não seja o sujeito de toda a sorte de insultos a traduzir a enorme culpa das incapacidades das equipas e das frustrações dos espectadores.

Um jogo é um jogo - tem sortes. Numa final alguém perde e alguém ganha com mais e menos justiça. É assim: faz parte do jogo. Faz parte do interesse do jogo que, vivendo também de outros interesses - soluções tácticas colectivas, de mini-unidades, de oposição do forte ao fraco, de diversas inteligências, de acutilâncias técnicas - vive muito da emoção.

Emoção e razão, dois ingredientes essenciais para que a tarde seja interessante. Deixar correr o sentimento de pertença mas adoçá-lo com a razoabilidade cívica - para um gozo maior: porque se um perde é porque o outro terá feito qualquer coisa para ganhar. O mérito há-de lá estar, bastará querer ver.

Aos jogadores das duas equipas, Agronomia e Direito - muitos deles internacionais e habituados aos grandes palcos da tensão e da pressão competitivas - os meus votos para que possam deixar fluir as suas capacidades e provoquem um bom jogo. Ao árbitro,Pedro Murinello - também ele antigo jogador internacional - os votos de uma tarde acertada e de boa arbitragem.

O que se espera - o que eu espero - é que o jogo seja BOM!: bem jogado, bem disputado e em bom clima. Que seja uma FESTA do RUGBY!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

ACUSAÇÃO IRRESPONSÁVEL

O Código do Jogo atribui – em Princípios do Jogo/ Espírito - a treinadores, capitães de equipa, jogadores e árbitros a responsabilidade do Rugby ser jogado de acordo com a letra e os espírito das Leis do Jogo. O que significa que o cumprimento da ética, do desportivismo e da boa-educação é responsabilidade de todos os participantes no jogo.

Contrariando este princípio, o treinador do Belenenses, Francisco Borges, justificou, para o som e imagem da SPORT TV, a derrota da sua equipa com Direito (24-13) assim: “Eu acho que foi uma arbitragem vergonhosa de um árbitro que tem qualidade. Não quis demonstrar esta qualidade hoje em campo. Não sei porque razão, prejudicou deliberadamente o Belenenses. Sem tirar mérito ao Direito, acho que o Belenenses foi prejudicado por uma arbitragem vergonhosa que como há muito eu não via no rugby português. Vergonhoso!”

Não foi esta a opinião que os responsáveis pelos comentários na SPORT TV deixaram no ar. António Henriques disse: "Não me parece que Rohan tenha feito uma arbitragem má, quanto mais vergonhosa…”. Luís Claro, confirmou: “Roham Hoffman, no meu ponto de vista, faz uma arbitragem capaz.”.

Pessoalmente também não acho que a arbitragem de Rohan fosse vergonhosa, tão pouco que tenha havido prejuízo do Belenenses e que o putativo deliberadamente tivesse sequer existido. Mas já acho que as afirmações do treinador do Belenenses são deslocadas, indecorosas e abusivas. E que consubstanciam uma grave e ilegítima acusação.

Se um treinador pode discordar da arbitragem e dos seus critérios, se pode, até, entender que algumas das decisões da arbitragem terão sido prejudiciais para a sua equipa, já não pode – de maneira alguma – pôr em causa, sem qualquer prova, a dignidade de um árbitro, declarando que eventuais prejuízos foram deliberadamente provocados. Que, no fundo, serviriam interesses inconfessáveis. E não pode porque, ao fazê-lo e não mostrando provas, está, ao colocar uma enorme suspeição no ar, a atingir todo o sistema da modalidade e, ao contrário do que julgará, a prestar-lhe um péssimo serviço. E um treinador responsável não tem este tipo de comportamento – quaisquer que sejam as frustrações das suas expectativas. Uma acusação desta natureza, nos termos e circunstâncias em que foi feita, é irresponsável e inadmissível.

Rohan Hoffman é um antigo e exemplar jogador internacional por Portugal. Hoje é um árbitro internacional também por Portugal. Merece mais respeito e maior tempero na linguagem.

Claramente o Belenenses não perdeu o jogo e a impossibilidade de se qualificar para a final do campeonato por causa do árbitro. Perdeu por culpa própria!

No início do jogo, marcando um ensaio – que colocava a diferença de pontos entre as equipas em 9 – e com o vento favorável, tudo parecia decidido. Mas era preciso inteligência táctica para o conseguir. Que não teve e, pelo contrário, teve erros. Que pioraram quando Direito mudou de médios e alterou o até então jogo previsível com que se vinha apresentando. Faltas desnecessárias, decisões erradas, erros primários sucederam-se e Direito limitou-se a aproveitar o pontapé curto mas certeiro de Pedro Leal que, quase no final, aproveitou ainda dois ataques pelo lado fechado para explorar a incompetência defensiva belenense e marcar os dois ensaios que garantiram a vitória absoluta à sua equipa.

Jogo perdido por culpa do árbitro? Nem um pouco! O jogo foi perdido porque o Belenenses não soube ”segurar” a diferença, jogando pelo seu ponto forte – um cinco-da-frente de boa categoria – porque decidiu mal em momentos importantes – optando por pontapés aos postes em vez da conquista de terreno – e ainda, porque a isso juntou erros técnicos e tácticos. Como pode uma equipa pretender ganhar um campeonato se não sabe organizar a defesa do “lado fechado”?

E a culpa é do árbitro?!...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

ENSAIO E A (FAMIGERADA) PRESSÃO

Não há conta para as vezes - a última foi hoje - em que comentadores da SPORT.TV exigem para a validação de um ensaio que haja pressão vertical na colocação da bola no solo.
Pura ignorância e doentia insistência. É só ler as Leis do Jogo que, claramente, estabelecem o necessário para a validação de um ensaio.
Veja-se a Lei 22 – Área de ensaio e as:

Definições
[…]
Se um jogador atacante faz primeiramente um toque-no-solo dentro da área de ensaio adversária, é marcado um ensaio.


Para, mais à frente, se encontrar a definição da forma como deve ser validado um ensaio:

1. TOQUE-NO-SOLO
Um toque-no-solo pode ser feito de duas maneiras:
(a)Jogador com a bola no solo: Um toque-no-solo é o acto dum jogador que, tendo a bola na mão (ou mãos) ou num braço (ou braços), a põe em contacto com o solo dentro da área de ensaio. Não é necessário exercer qualquer pressão vertical de cima para baixo sobre a bola.

Embora devesse estar escrito Jogador toca com a bola no solo (esta é a versão disponível de Agosto de 2008 - a de 2010 parece estar em desenvolvimento (!?)) é fácil verificar – como a própria Lei do Jogo frisa – que não é necessário exercer qualquer tipo de pressão quando se transporta a bola e se toca com ela no solo e dentro da área de ensaio para que um ensaio seja validado.

Pressão que, pelo contrário, é obrigatória para que o ensaio seja considerado válido se – e só neste caso - a bola, já no solo e dentro da área de ensaio, é tocada pela mão ou braço de um jogador atacante. Como diz a alínea b) do ponto 1 da mesma Lei 22:


(b) Jogador exerce pressão vertical de cima para baixo sobre a bola: Um toque-no-solo é o acto dum jogador que, estando a bola no solo dentro da área de ensaio, coloca a mão (ou mãos) ou o braço (ou braços) sobre ela, exercendo uma pressão vertical de cima para baixo, ou cai sobre a bola, de modo a que esta se encontra por baixo da parte anterior do seu corpo, da cintura ao pescoço, inclusive.

Em resumo: se bola transportada, o ensaio é válido desde que a bola toque no chão dentro da área de validação; se bola "solta" e no chão, a validação do ensaio dependerá:
i) da contacto da frente do tronco sobre a bola, ou;
ii) se for realizada, com a mão ou braço, a "tal" pressão vertical e de cima para baixo.

Compreendido? Importam-se de não repetir?

sábado, 3 de abril de 2010

PÁSCOA 2010


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