quinta-feira, 30 de junho de 2022

TUDO SE TREINA E TUDO SE MELHORA


Com a derrota aparentemente lisonjeira contra a Itália veio também a sorte grande da confirmação do afastamento da Espanha — se o processo tiver terminado aqui e não houver recurso para o TAD Internacional... — e do acesso de Portugal à repescagem para o Mundial de França.

Neste jogo contra a 14ª equipa do ranking mundial, a equipa de Portugal (20º lugar) perdeu (31-38) por 7 pontos de diferença — diferença que o meu algoritmo perspectivou — e com uma diferença em ensaios de 4 para 6 (com ambas as equipas castigadas com 1 ensaio de penalidade), uma posse de bola de 46% e um domínio territorial de 36%.


O jogo não foi brilhante nem teve a esperada intensidade, tendo muitos erros de parte a parte mas teve na arbitragem de Hollie Davidson e da sua equipa feminina uma francamente boa prestação a homenagear a estreia mundial que constituíram — apenas um erro a reparar ao transformar um “50:22” num pontapé-de-22 mas que no entanto foi amplamente aplaudido pelos espectadores (!). Tiveram decisões difíceis — quatro amarelos e dois ensaios de penalidade — que resolveram adequadamente e, principalmente, não andaram o tempo todo a fazer avisos verbais que beneficiam essencialmente o infractor: verbalmente sinalizaram a passagem de bloqueio a placagem e de maul a ruck e com os braços marcavam as linhas de fora-de-jogo. 


Quem fazia falta, era castigado como deve ser neste jogo de conquista de território — Portugal, mais uma vez e repetindo a indisciplina que se tem passado em jogos anteriores, foi penalizado 15 vezes (11 no seu próprio campo) contra apenas 6 da Itália (3 no seu meio-campo).


A estreia mundial de um quarteto feminino a arbitrar um jogo internacional masculino


Mas se a repetição de erros já conhecidos e perfeitamente detectados já quase não me surpreende, fiquei completamente surpreendido — e até incomodado — com as afirmações de desresponsabilização de Patrice Lagisquet no pós-jogo. Disse assim o principal responsável pelo XV de Portugal e cito do Record: “Se não mudarmos esta mentalidade, até a repescagem para o Mundial vamos perder. É sempre a mesma coisa! Mostramos que sabemos jogar, mas a toda a hora cometemos faltas estúpidas, oferecemos a bola, eles montam “mauls” e marcam. Temos de mudar isto. Não merecemos ganhar! quando estás a ganhar por 14 pontos e tens bola, espaço e o vento contra, tens de jogar com as tuas qualidades e contra-atacar. Não somos a França para estar a defender 60 minutos sem fazer faltas.” E de A Bola: “Foi por pouco, mas falta muito. Tivemos 14 pontos de vantagem [24-10], somos capazes de fazer coisas boas, mas tivemos medo e, por isso, perdemos. É um problema de estado de espírito, temos de mudar, é o mais importante.”


Então mudem!  Porque se, como escreve Teotónio Lima, “quem faz a equipa são os jogadores” é bom lembrar que é aos treinadores, nomeadamente ao seu treinador principal, que compete adequar aos objectivos estratégicos as decisões tácticas, através de uma liderança que, como lembra Jorge Araújo, seja capaz de se focar na mudança, na criatividade e na gestão do inesperado. Liderando de tal maneira que se imponha o conceito do treinador de basquetebol, Jack Ramsay, de que “equipas bem treinadas nunca são surpreendidas; elas são capazes de se adaptar a qualquer coisa que vejam”.


E se há muito a mudar — e há — é bom lembrar, como deixou dito o escritor James Baldwin, que “nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado”. Portanto enfrente-se e não se espere que a mudança aconteça por queda dos céus.


Enfrente-se a saga, uma 5ª vez, de Portugal deixar fugir vitórias nos últimos minutos do jogo: Roménia em Lisboa com 27-21 aos 79´e 27-14 aos 73’; Roménia em Bucareste com 27-20 aos 60’ e 27-27 até aos 69’; Geórgia em Tbilisi com 25-18 aos 65’; Japão com um ensaio à vista aos 79’ que uma má leitura impediu o nosso e entregou o ensaio final japonês; e agora Itália com 31-31 aos 79´ de jogo mas com 17-10 ao intervalo, um 24-10 favorável aos 43' e mantendo-se na frente, por 31-24, até aos 73'. Cinco vezes e já sem falar do muito mau jogo contra a Espanha em Madrid.


Mas estes resultados também são consequências de decisões erradas, desde a escolha de jogadores com poucos jogos efectuados e que são colocados em posições onde a sua prestação — como agora aconteceu — não traduz justificação para a sua chamada ou de um inexplicável critério de substituições como retirar Tadjer sobre um alinhamento a 5 metros da nossa área-de-ensaio e em altura de resultado já crítico ou substituir, apenas aos 59‘, o desadaptado Thibault por Tojal, desfazendo a dupla Cerqueira/Madeira que tinha até então sido de muito boa consistência como indica o seu comportamento na formação-ordenada e as 27 placagens (15 e 12) com que eliminaram muitos ataques italianos de canal 1. E Isto sem falar na entrada de jogadores sobre o apito final que mais parece uma simpática preocupação de conceder internacionalizações do que servir a equipa, melhorando-a em tempo útil. Também se percebe mal as queixas sobre a dificuldade —ou mesmo impossibilidade — de defesa dos  mauls que é conhecida desde os primeiros jogos. E fica a pergunta: que treino foi feito desde então para garantir a melhoria da oposição do grupo e ultrapassar o visível “cada-um-por-si”? E, admitindo que algo foi feito, se não existem melhorias, há que mudar processos e garantir a eficácia. Com treino melhor e diferente, claro!


Também se percebe mal o lançamento dos ataques de fases ordenadas: o receptor recebe a bola demasiado recuado, deixando que a defesa suba sem qualquer perigo e ultrapasse a linha-de-vantagem criando superioridade numérica e diminuindo as hipóteses de exploração dos intervalos. Dois erros surgem aqui e que o treino já devia ter alterado. Graham Henry diz que o jogo de rugby é uma corrida pela linha-de-vantagem, o que exige da parte dos receptores que sigam — ao contrário do que se vê na nossa selecção — a sequência correr-receber-passar, permitindo assim ao primeiro receptor — normalmente o abertura — que fixe três adversários — o adversário directo, o terceira-linha e o médio-de-formação que tem que se manter no corredor do canal 1 e não pode partir de imediato a formar a segunda cortina defensiva — e  que garanta quer a manutenção dos intervalos, quer a construção do apoio, dando assim à linha atacante oportunidades de quebra da linha defensiva quer pelo ataque directo, quer pelo ataque envolvente . Pelo contrário, os jogadores portugueses —o abertura bem como os avançados na recepção das fases expontâneas — esperam parados pela chegada da bola para só depois arrancar, dando assim todas as vantagens ao adversário defensor e deixando o talento atacante de Sousa Guedes, Appleton ou Marta à espera de momentos em que a reutilização da bola é suficientemente rápida para não ser necessário o recomeço da tentativa de fixação e penetração próximos. Alterar a situação é uma questão de explicação, treino e confiança. E objectividade!


E se as formações-ordenadas mostram problemas, principalmente após a realização das substituições, lembro que já houve um programa designado Força 8 — internacionalmente aplaudido — que eliminou muitas das dificuldades que então tínhamos. A solução é sempre a mesma: muito treino com ensino e prática das técnicas específicas.


O jogo ao pé (28 pontapés com 8 de Portela e 6 de Guedes) também não tem passado — principalmente no jogo a partir da conquista ordenada — de uma simpática entrega de bola aos defensores adversários que, sem problemas, recuperam a sua posse sem que a equipa tenha conquistado território. Ora a modificação desta situação também tem que ver com o treino aplicado — não basta dizer, é preciso treinar para que a bola chutada coloque problemas aos defensores depois de lido o posicionamento do adversário e fazer a bola cair em espaços livres. No caso da recepção profunda de pontapés adversários e a queixa de que chutam em vez de contra-atacar também se ultrapassa pelo treino. Obrigando os restantes jogadores a recuarem e organizarem-se em apoio para permitir o contra-ataque. No que também não basta dizer, exige prática!


O rugby é um jogo de conquista de território — pouco importa ter a bola se não sairmos do nosso meio-campo — e se o domínio territorial — com vento favorável, lembre-se — pertenceu a Portugal até aos 15 minutos, a partir daí o domínio virou italiano para terminar numa vantagem de 64% (55% na 1º parte e 74% na segunda). E a partir do momento que o domínio territorial caiu para o lado italiano, as dificuldades para Portugal chegar à vitória começaram a aumentar. E que fez o responsável técnico para virar a situação? Que alterações propôs? Ficou-se pelo ver o que fariam os jogadores ou não notaram a inversão?


É claro que Lagisquet tem toda a razão quando diz que “se não mudarmos não vamos lá”. E a quem pertence a responsabilidade da mudança?

 

A concessão de um ensaio de penalidade no último momento do jogo, permitindo aos italianos não saírem de rastos do Restelo, é uma demonstração de falta de maturidade táctica e de preparação de competitividade desportiva. A mesma falta que permitiu a derrota nos últimos momentos de outros jogos. E a consistência necessária ao aumento da competitividade desportiva também se treina.


E o que custa é sabermos que poderíamos estar apurados para Mundial e ainda temos que ir jogar a última oportunidade de qualificação. Com a desvantagem do principal responsável colocar a responsabilidade da mudança nos jogadores e não no processo de treino. Mudanças que devem iniciar-se tão breve quanto possível porque Novembro é já ali.


Enfim, que a sorte nos acompanhe como administrativamente nos acompanhou até aqui…


NOTA: as estatísticas foram recolhidas na Ultimate Rugby



 

sábado, 25 de junho de 2022

UMA ESTREIA MUNDIAL

 O 13º jogo entre Portugal e Itália — 1 vitória, 1 empate e 11 derrotas — que se realiza hoje, integrado nos jogos-teste de Julho, no Estádio do Restelo num retorno interrompido por muitos anos — tenho ideia de ter lá visto, nos anos sessenta, um jogo da equipa de Portugal com o Quim Pereira a jogar a ponta-esquerdo — tem uma particularidade única: é — numa estreia mundial — arbitrado por uma equipa feminina.

A árbitra principal que chefiará a equipa constituída por Sara Cox,
Aurélie Groizeleau e a vídeo-árbitra Claire Hodnett

Esta equipa feminina comandada pela escocesa Hollie Davidson e assistida pela inglesa Sara Cox e pela francesa Aurélie Groizeleau e tendo por vídeo-árbitra a inglesa Claire Hodnett é uma clara demonstração da importância que a World Rugby está a dar ao rugby feminino, igualando-o na qualidade das suas provas internacionais e defendendo estrategicamente o seu desenvolvimento nas diversas federações nacionais. E este é um exemplo evidente dessa estratégia. E que representará um bom insentivo para as árbitras portuguesas que sentirão, com este acto, um passo maior na respeitabilidade com que devem ser tratadas.

 Não deixa, portanto, de ser interessante, num jogo visto por muita gente como meramente másculo, que Portugal — sempre muito limitado nestas coisas da Igualdade de Género — assista a este jogo internacional masculino arbitrado por uma equipa feminina. O que, para alguns, será sapo a engolir… mas como é a Selecção e foi a World Rugby que marcou…engole-se.

A Itália, que apresenta 9 titulares e mais 6 que ficarão no banco que são membros do squad que disputou as 6 Nações, não é — apesar de ter conseguido uma notável vitória em Cardiff contra o País de Gales ( a-propósito: o criador da notável jogada final, o nº 15 Capuozzo, estará no campo bem como o seu finalizador o nº11, Padovani) — uma equipa ganhadora, perdendo ao nível das 6 Nações quase todos os jogos em que participa. E daí o seu posicionamento em 14º lugar no ranking da WR e já atrás do Japáo, Fiji, Geórgia e Samoa.

Mas não vai ser uam equipa fácil principalmente para uma equipa constituída por uma grande maioria de jogadores que não têm tido competições nas últimas semanas.

Os resultados obtidos até agora dão a vitória — de acordo com os valores do ranking da WR — à Itália por uma margem de 7 pontos de diferença. Ou seja e em teoria e sendo a diferença equivalente a um ensaio transformado, Portugal pode conseguir um bom resultado e até chegar à vitória. Veremos…

… se este tempo de treino terá permitido eliminar os erros que nos retiraram a possibilidade da qualificação por mérito para a repescagem do Mundial de França.

No entanto e para além de se poder perceber o estádio em que a Selecção portuguesa se encontra, o aspecto mais importante do jogo será, sem dúvida, a estreia mundial da equipa de arbitragem feminina que  ao relacionar o Rugby com a Igualdade de Género conquistará um lugar na História do Desporto Mundial. E Portugal ficará presente.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

MICHEL LAMOULIE E A ARBITRAGEM

Qual a diferença entre uma equipa que cria o jogo e aquela que reage ao jogo?

Tenho vergonha de fazer uma tal pergunta porque a acho ridícula em comparação com o copiar-colar das técnicas de jogo.


De facto, ouço com demasiada frequência ou mesmo leio a propósito de um árbitro: "Não é um bom árbitro, ele não favorece a equipa que cria o jogo, ele tem problemas de gestão!! ". Conceitos como este ás vezes revoltam-me.


A partir desta frase, estúpida na minha opinião, colocam-se duas questões essenciais:

— O que distingue uma equipa que cria o jogo daquela que reage ao jogo?

— O árbitro deve favorecer uma equipa que cria o jogo?


Vou tentar responder a estas duas perguntas.


Jogar é atacar ou defender. Durante qualquer desafio, o estatuto de cada equipa muda de atacante para defensor. Posso então escrever sem hesitação: uma equipa que ataca joga e uma equipa que defende também joga. 


A maioria das equipas constrói o seu jogo a partir da qualidade e inteligência da sua defesa. Tendo em conta a uniformatização das técnicas de jogo, cada fase de conquista conduz a uma luta empenhada, especialmente na fase de placagem, aquela que mais vezes se repete durante um desafio. É nessa fase que aparece a qualidade da defesa na luta no chão…


Demasiadas pessoas pensam que uma equipa que faz passes cria jogo, mas isso não é suficiente, é preciso atacar especialmente avançando em direcção à linha-de-ensaio adversária para marcar pontos. No Código do Jogo da World Rugby, lê-se:


"O objetivo da equipa na posse da bola é manter a continuidade, evitando ceder a bola ao adversário, e, usando as suas capacidades técnicas, avançar no terreno e marcar pontos. Falhar este objetivo, seja por deficiências próprias ou pela qualidade defensiva da oposição, significa perder a bola e entregá-la à equipa adversária. É o ciclo virtuoso do jogo: disputa e continuidade, utilização e perda.

Sempre que uma equipa procura manter a continuidade da posse da bola, o adversário luta por conquistá-la. É este conflito de interesses, esta luta, que garante o equilíbrio essencial entre continuidade do jogo e continuidade da posse. Equilíbrio este, entre disputa e continuidade, que se aplica tanto às fases ordenadas como ao jogo-em-geral.”


Paradoxalmente, na fase de placagem, os árbitros mostram tolerância despenalizadora em relação aos jogadores da equipa atacante. Com esta tolerância, eles, inconscientemente, beneficiam a equipa que defende. Com efeito, a maioria dos árbitros aceita entradas ilegais e que os jogadores da equipa atacante vão voluntariamente ao chão para garantir a conservação da bola. Tal tolerância conduz, infelizmente, a uma vantagem da equipa defensora. Os defensores, vendo que não podem recuperar a bola, tem um ou dois jogadores no chão, enquanto que a equipa atacante consome, desnecessariamente, muito mais jogadores no chão. Os atacantes que detêm a posse da bola irão, portanto, jogar  contra uma defesa em superioridade numérica e bem organizada. A continuidade só pode ser garantida pelo "pick and go" definidos pelos media como tempos de jogo com movimentos muitas vezes laterais e pouco penetrantes na direção à área-de-ensaio adversária.


Da mesma forma, assim que a equipa defensora se encontrar em superioridade numérica, o árbitro deve aplicar a Lei da Vantagem com moderação (ao contrário do que a maioria das pessoas pensa), especialmente em relação ao placador-bloqueador. Esse desejo de jogar a vantagem sobre uma bola lenta (permitindo a reorganização efectiva da defesa) levará a equipa na posse da bola a jogar sob pressão adversa e a ter dificuldade em usar essa posse de forma eficaz, ficando limitada apenas ao recurso do pick-and-go.


Antes de 2000, as regras do jogo eram acompanhadas por Notas aos árbitros. Assim, no nível das Regras 18 e 19 intituladas Placagem, permanecer deitado o jogador deitado com, sobre ou perto da bola, a Nota (6) dizia: "Vantagem deve ser apenas jogada se acontecer imediatamente”. Para mim isto significa que a luta produziu uma bola rápida. Por uma questão de eficiência e consistência para o jogo, os árbitros actuais devem inspirar-se nesta famosa nota.


Esta uniformização do jogo e das aplicações questionáveis das regras fazem com que o vencedor nasça geralmente de jogadas individuais ou do chutador ou da riqueza do banco


"Ele não favorece o jogo da equipa, ele tem problemas de gestão!!".

Aqueles que usam este verbo "favorecer" têm uma concepção muito particular da função do árbitro. Um bom árbitro deve analisar muito rapidamente os pontos fortes e fracos de cada equipa e permitir que tanto o atacante quanto o defensor pratiquem seu jogo de acordo com as Regras.


O primeiro dever do árbitro é, portanto, levar os jogadores a cumprir a aplicação das regras. Assim, a partida será jogada de acordo com os princípios do jogo. Como prioridade, o árbitro deve garantir a segurança dos jogadores através da justa aplicação das Leis.


A palavra justa mostra imediatamente que o árbitro está ligado a um código ético que pode ser definido pelas 3 palavras: justiça, lealdade, imparcialidade. Essas três palavras destacam que o verbo "favorecer" não pode de forma alguma dizer respeito ao árbitro.


Em todos os momentos, o árbitro deve diferenciar claramente entre o que pode ser apitado e o que deve ser apitado. Ele deve estar constantemente ciente de que a gestão sempre responderá, do início ao fim de um desafio, ao código ético da arbitragem ligado às três palavras: justiça, lealdade e imparcialidade.


É por isso que um bom árbitro nunca deve favorecer uma equipa que ataca em relação à equipa que defende e vice-versa.


Michel Lamoulie, formador e treinador internacional de árbitros


(tradução livre de JPBessa)


NOTA do Código do Jogo da World Rugby apensa pelo tradutor:

Aplicação das Leis do Jogo

Os jogadores têm obrigação absoluta de respeitar as Leis do Jogo e os princípios da lealdade e do espírito desportivo. As Leis do Jogo devem ser aplicadas de forma a que o jogo possa desenrolar-se de acordo com os Princípios do Rugby. Os árbitros devem fazê-lo sendo imparciais, equitativos, consistentes, coerentes, conhecedores e, ao mais alto nível, pela sua capacidade de gestão do jogo. Por outro lado, constitui responsabilidade dos treinadores, capitães e jogadores respeitar a autoridade da equipa de arbitragem

quarta-feira, 15 de junho de 2022

A LUTAR SE GANHA!

Estava-se no último minuto de jogo do Portugal-Geórgia que decidia a passagem às meias-finais da 1ª etapa do Women’s 7S Trophy 2022 com 19-12 favorável às portuguesas. Com uma troca de passes de lado a lado, uma georgiana rompeu a linha de defesa e isolou-se em direcção à área-de-ensaio portuguesa — o empate estava à vista… e o sempre doloroso prolongamento a pouco distância de terreno…
Resiliência, coragem e determinação a construir a vontade de vencer
…mas a Vera Simões não estava pelos ajustes e lutou como pôde para que as forças do braço agarrado à cintura dos calções da adversária não desistissem no arrasto para que, atrasando-a o suficiente, permitisse o tempo necessário para que o grupo mostrasse a solidariedade de uma equipa…

… e o colectivo respondeu com o apoio da Inês Spínola que, embora não evitasse o ensaio, obrigou a que fosse marcado suficientemente longe dos postes para que, mesmo com uma possível chamada dos deuses, a transformação consequente não fosse possível. 
Determinação e atitude dignas de registo numa demonstração final da capacidade, determinação e vontade de vencer colectivas de que deram mostras ao longo do torneio.

Com agradecimento ao Nuno Miranda Coelho

O VII Feminino de Portugal conseguiu um 3º lugar nesta 1ª etapa — com a Mariana Santos a qualificar-se, com 7 ensaios, no 2º lugar das melhores marcadoras — permitindo assimo que uma boa perspectiva para uma qualificação final que permita o acesso à categoria superior da Championship. 
As 5 vitórias em 6 jogos aparenta uma facilidade de percurso que não mostra a qualidade que as 12 jogadoras deram mostras dentro do campo — placaram muito e bem, lutaram pela conquista de terreno com boas subidas defensivas e constantes adaptações ao movimento de companheiras e adversárias. E ainda tiveram a confiança para correr riscos nomeadamente em passes muito próximos de off-loads que, infelizmente, nem todos foram eficazes, criando até algumas situações de grandes dificuldades. Mas, importante, importante, é que os falhanços não as impediram de tentar de novo. Muito bem!
Com mais uma semana de treino conjunto as melhorias dessas capacidades atacantes vão-se mostrar mais eficazes e o VII feminino de Portugal, acredito, não vai parar de nos surpreender e …
… lembremos que o Sevens é uma modalidade olímpica…

segunda-feira, 13 de junho de 2022

DIOLCH YN FAWR, PHIL BENNETT (1948-2022)

Cada vez que jogava deixáva-nos maravilhados — tinha uns pés fabulosos e uma cabeça capaz de ler o jogo como ninguém, fazendo jogar como nunca os seus companheiros de equipa. Era brilhante, era genial e garania-nos a felicidade de amantes do jogo.

Durante alguns anos viveu na sombra de outro génio — Barry John — que, retirando-se aos 27 anos, ainda nos permitiu ver muito de Phil Bennett. Internacional por Gales com 29 presenças (1969/1979) a que juntou, sempre com a camisola 10, mais 8 jogos pelos British and Irish Lions e 20 jogos pelos Barbarians, tendo sido capitão dos galeses e dos Lions. Membro da Ordem do Império Britânico (OBE) passou, em 2005, a integrar o International Rugby Hall of Fame e, em 2007, o Welsh Sports Hall of Fame.

Conquistou 2 Grand Slams e 3 Triple Crowns no 5 Nations. Com o seu Llanelli, em 1972 e num resultado memorável, venceu os AllBlacks por 9-3. Mas é de um outra vitória sua sobre os neozelandeses de que todos nós melhor nos lembrámos: o jogo de 1973 em que jogou pelos Baa-Baas’ e lançou, já dentro dos seus cinco-metros, um inesquecível contra-ataque que terminaria do outro lado do campo depois da bola ter passado por cinco companheiros (dos quais 4 galeses) e chegado a outro galês, o seu parceiro internacional de sempre Gareth Edwards. para este marcar o ensaio que ainda hoje é considerado “o melhor de sempre”.

Neste vídeo, para além das suas notáveis capacidades técnico-tácticas, pode também ver o “melhor ensaio de sempre” — Barbarians-AllBlacks, 1973 — iniciado brilhantemente por Phil Bennett.
com os agradecimentos ao Nuno Miranda Coelho

Em 1977, enquanto capitão, no balneário e antes do jogo, em Cardiff, contra a Inglaterra para o Torneio das 5 Nações e num apaixonado grito de guerra, motivou assim os seus companheiros de equipa:

Olhem para o que estes bastardos fizeram a Gales. Tiram-nos o nosso carvão, a nossa água, o nosso aço. Compram as nossas casas para viver nelas quinze dias por ano. E o que é que eles nos dão em troca? Absolutamente nada! Temos sido explorados, violentados, controlados e punidos pelos ingleses — e é contra eles que nós vamos jogar esta tarde!”

Jogaram, ganharam (14-9) e conquistaram a Triple Crown!

Com agradecimentos ao Steven Evans
Diolch yn fawr, Phil Bennett! 

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