terça-feira, 29 de agosto de 2023

DESAPOSSAMENTO, UMA VANTAGEM?

Neste final de jogos de preparação uma boa observação pode permitir obter dados muito interessantes para procurar perceber os caminhos actuais do rugby e que tácticas estarão a ser preparadas para o percurso garantido a cada equipa de quatro jogos em cada grupo.

Comecemos por olhar para as estatísticas do Nova Zelândia-África do Sul. Se alguém que não tivesse visto o jogo nem soubesse o resultado final e olhasse, num relance, apenas para as folhas das estatísticas do jogo apostaria, dobrado contra singelo, que o vencedor teria sido os AllBlacks. Com excepção dos alinhamentos de responsabilidade própria onde perderam 5 lançamentos, dos turnovers (1 ganho contra 6 do adversário) e dos metros conquistados (456 contra 543), todos os outros índices foram superiores aos sul-africanos. Desde a Posse ao domínio do Território, á eficácia de placagens (79% contra 75%) ou das formações-ordenadas (89% contra 80%), bem como as ultrapassagens da linha-de-vantagem, as vantagens dos AllBlacks — como nos 165 passes contra 101 sul-africanos — foram quase totais. Então, como perderam, sofrendo 5 ensaios e marcando apenas 1 nessa inacreditável pecha de 1,4% de eficácia do uso da bola? O que terá acontecido?

Um ponto decisivo foi a indisciplina: 14 penalidades cometidas com dois amarelos e um vermelho a resultarem em 8’ com 13 jogadores e 44’ com 14. Mas, por outro lado e porque não se notou qualquer especial desespero quer no campo, quer na bancada técnica — vejam-se os comentários finais de Ian Foster — desconfio que os erros e inconsequências (mesmo as faltas) nada habituais em jogadores AllBlacks eram esperados contra um adversário da envergadura dos sul-africanos porque se podem dever ao facto de estarem sob o efeito da sobrecarga de treino— esse vergar da mola que permite a sua “explosão” na altura pretendida — perdendo a lucidez — pelo cansaço e falta de oxigénio — de análise e de decisão mas que os libertará para a condição óptima no início do Mundial. Teremos a certeza do sim ou do não no dia 8 de Setembro. Mas é um palpite…Sendo outro palpite também com base neste jogo de que a África do Sul é um dos reais candidatos à renovação do título — lembre-se que a África do Sul é, até 7 de Setembro, a actual campeã do Mundo e agora com um modelo de jogo, menos de colisão, e mais de movimento — o que é bom para nós, espectadores — e ainda uma bela organização defensiva com subidas rápidas a permitir cunhas — explorando muito bem a lentidão demonstrada pelos neozelandeses — e interceptar movimentos adversários.E com isso foram dois ensaios…


Veja-se, no quadro acima, que, curiosamente, as equipas vencedoras tiveram menos posse de bola e menos domínio territorial do que as derrotadas. Mas e por outro lado, as mesmas derrotadas tiveram mais ultrapassagens da linha-de-vantagem do que as vencedoras, resultando, como é natural, numa muito má eficácia de uso da bola (% de ensaios sobre ultrapassagens da LV) — veja-se que os vencedores inesperados como a África do Sul e Fiji tiveram, respectivamente, 9,8% e 5,8% de eficácia de uso e a Itália conseguiu uns muito bons 10%. A França, apesar do embandeiramento em arco da comunicação social francesa, conseguiu um 4,9% de eficácia mas deixou-se apanhar em 3 ensaios com a gravidade da relação negativa da posse ter sido provocada e ser um seu objectivo táctico. É a tal dépossession (desapossamento) através do jogo-ao-pé que o Fabiem Galthié tem implementado.

Portanto e para além duma terceira-linha constituída por 4 elementos (os 3 habituais mais o talonador) já facilmente reconhecível no sistema 2-4-2 iremos juntar nas novidades tácticas o conceito galtiano de que “ao nível internacional é quase sempre a equipa que mais usa o jogo-ao-pé que ganha!” e que tem sido adoptado por outras equipas — como se pode ver na tabela acima pelo número referente a pontapés (onde a coisa só não correu bem à Inglaterra que, na maior parte das vezes, despachou a bola ao pé e não a jogou) que cada vez mais procuram tirar partido do desapossamento, “entregando” a bola ao adversário — procurando, naturalmente, colocá-la atrás dos defensores — na tentativa de poder conquistar terreno por impossibilidade dos recuperadores que, caso o acompanhamento da bola pelo ar seja bem feito, de forma organizada, bem distribuída e a diminuir opções, poderá obrigar a outro chuto, entrando-se no designado ping-pong que não tem que ser — como a grande maioria das bancadas pensará — uma fase sem sentido mas ser um momento do jogo em que a leitura das situações é crucial para que se consiga a vantagem pretendida. E isso também é muito interessante de ver e analisar. Toma lá, dá cá com parecenças de anarquia mas, nas boas equipas, a organização está lá para que a transformação se possa dar. E neste campo a França tem um tamanho de avanço sobre as outras equipas.

Sendo certo que o jogo-ao-pé vai ter uma importância muito grande no exercício táctico das equipas, é necessário que a arbitragem seja rigorosa e coerente. Árbitros sem rigor no fora-de-jogo sobre o jogo-ao-pé, deixando que os companheiros do chutador possam ficar parados e não recuem, esperando que chegue alguém que os coloque em-jogo, retirando assim espaço e tempo para que os recuperadores possam organizar o seu contra-ataque, favorecendo, obviamente, uma das equipas e colocando a outra numa situação muito difícil. Ora a existência de dois árbitros-assistentes, desde que percebam que o erro nestas situações desvirtua o jogo e a sua verdade desportiva, permite a ajuda necessária para que o árbitro principal tome as correctas decisões. É uma exigência que os modos de jogar actuais obrigam.

Nestas duas semanas que nos separam do início do Mundial teremos tempo de procurar perceber que inovações tácticas surgirão no desenrolar do Mundial e com que adaptações. Facto, facto, parece ser o de que o Mundial, pelo que se tem visto, vai ser interessante e com alguns jogos, logo no desenrolar dos grupos, sem vencedor antecipado. Portanto ou por cá e agarrrados à televisão ou por lá, sentados na bancada, serão quase dois meses de entretém da modalidade que gostámos! Aproveitemos!

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

ASSENTAR ESTRATÉGIAS

 Nestes últimos jogos de preparação algumas surpresas e algumas ensinadelas nas curiosidades que se formaram. O mítico Twickenham terá sido o palco das maiores surpresas: a primeira na copiosa derrota dos AllBlacks frente à África do Sul por 28 pontos de diferença no que representa a maior derrota de sempre dos neozelandeses; a segunda na inesperada derrota da Inglaterra  com os fijianos por 22-30 no que implicou, como se pode ver no quadro, a mudança de posições no ranking da World Rugby. Seja como fôr, a confiança sul-africana estará muito elevada a duas semanas do início a que muito ajuda uma defesa numa cunha muito bem estudada e muito eficaz e um banco de grande qualidade. Quanto aos fijianos, vigiados por toda a equipa técnica galesa, estarão a preparar-se para fazer a vida dura ao XV do País de Gales na procura de passagem para os quartos-de-final. Belo aquecimento para a visão mundialista.

E no fundo se estes jogos surpreendentes nos mostraram também a inconsistências de alguns jogadores considerados de nível bem elevado, também podemos ver essa inconsistência nalgumas equipas de arbitragem alertando, nomeadamente, para as diferenças de interpretação de uns e outros e da sua pouca disponibilidade para analisar foras-de-jogo na sequência do jogo-ao-pé. Se não houver o cuidado — atenção responsáveis da arbitragem! — de garantir a coerência de processos não faltarão embaraços no Mundial.


Se a Escócia ganhou com a facilidade esperada e a Itália com facilidade inesperada, já a Irlanda, cabeça do ranking, conseguiu, com a diferença de escassos 4 pontos, uma vitória muito apertada e, por isso, também estranhamente inesperada.

No França-Austrália os franceses dominaram o resultado do jogo mas no campo não foi como os números indicam ficando-se num 4-3 em ensaios, valendo-lhes uma melhor capacidade defensiva — para além da indisciplina australiana que proporcionou 5 transformações de 14 penalidades cometidas  — para garantir o resultado. Do lado da Austrália uma evidência: Eddie Jones não sabe, como mostrou não saber com a Inglaterra, o que fazer com a equipa — existe uma notória falta sistémica de conjunto e ninguém parece entender muito bem o papel que é suposto representar.

O jogo não serviu o que penso deveria ser o pretendido. Em vez de uma equipa a mostrar ritmo e intensidade elevada que nos aproximasse daquilo com que nos iremos confrontar, a Austrália A mostrou-se lenta, jogando pelo lado cómodo e, assim, este jogo, foi um treino de pouco interesse. Veja-se que a Argentina ao vencer a Espanha por 62-3 mostrou bem a diferença entre as equipas que se estão a preparar para o Mundial e as outras que se limitam a jogar sem pretensões especiais. Os Lobos confrontaram-se num erro de perspectivas com duas equipas — USA e Austrália A — que, não tendo de momento quaisquer pretensões competitivas, foram mais uma ilusão do que a realidade necessária para quem, dentro de dias, terá que dar um salto qualitativo para um nível que não está nos seus hábitos. No entanto a equipa portuguesa — indisciplinada — continuou a cometer demasiadas faltas que deram lugar a penalidades. E se algumas alterações ou substituições se percebem mal, fica-nos a garantia da qualidade de Nicolas Martins que, com um belo jogo, quer defensivo quer no apoio atacante que proporcionou. Mas este resultado de 30-17 tem uma vantagem dado o nome da equipa adversária: irá, como em 2007, atrair os portugueses que vivem em França aos estádios de Nice, Toulouse e Saint-Étienne. onde os Lobos jogarão.

A partir de agora restam alguns dias para os últimos retoques na afinação das tácticas que permitem a execução das estratégias pensadas (falaremos disso no próximo texto).

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

CADA VEZ MAIS PRÓXIMOS


 A duas semanas do início do Mundial 2023, as equipas fazem o seu apronto final — a partir daqui será o isolamento nos seus quarteis-generais a colocar cada uma das equipas nas suas melhores condições e que permitam a confiança necessária para encarar cada uma das finais que terão de realizar em cada um dos jogos.

E por falar em finais, temos logo no primeiro jogo, já hoje ao final da tarde, um Nova Zelândia-África do Sul que pode muito bem ser, num estádio neutro como Twickenham, uma antecipação do que pode, eventualmente, vir a ser a verdadeira final ou… apenas o acesso de uma às meias-finais. Com proximidade na pontuação e nas posições do ranking mundial e embora a Nova Zelândia seja, teoricamente, dada como favorita — é suposto vencer por uma diferença de 3 pontos — o jogo não tem vencedor antecipado. De qualquer maneira o desenrolar do jogo dar-nos-á uma visão mais específica da capacidade de cada equipa, nomeadamente na velocidade da libertação da bola — um factor, um “X Factor”, de cada vez maior importância no domínio dos tempos do jogo. E poderemos ver se a forma de jogar em maior movimento dos sul-africanos já se adapta a jogos em que a equipa adversária é capaz de enorme pressão defensiva. Dos AllBlacks espera o costume, um jogo de encher o olho em que a continuidade do movimento assenta numa compreensão permanente das intenções do portador. Ou seja, na capacidade de leitura colectiva de um conjunto que se comporta acima da própria equipa.

O Inglaterra-Fiji, também em Twickenham mas amanhã, pode proporcionar-nos a visão do papel que a Inglaterra poderá ter no Mundial: candidata ou de mera presença. E, quanto a Fiji, mostrar-nos quão ameaçador pode ser para australianos ou galeses na procura da definição dos dois primeiros lugares do Grupo C — onde também está Portugal. Veremos se houve a necessária melhoria disciplinar que permita que a proximidade do resultado dê a confiança necessária aos jogadores fijianos para expressar o seu melhor e aparentemente aleatória forma de utilizar a posse da bola.
No França-Austrália que se jogará no Stade de France e que nos mostrará a estrutura francesa mais próxima da sua melhor equipa dando-nos a oportunidade para ver até onde — e com que eficácia — irá ser utilizado o conceito de Fabien Galthié de dépossession, isto é, de entregar, com jogo-ao-pé, a posse da bola ao adversário mas obrigando-os a correr muitos riscos para voltar à zona de terreno onde se encontravam para conseguir o apoio possível dos companheiros e tendo que manobrar uma defesa que sobe depressa na procura de obrigar os atacantes ao jogo “desorganizado” e portanto mais sujeito a erros ou a chutar a bola contra uma equipa que, lá atrás, já se encontra organizada para o contra-ataque, tirando partido da reconhecida capacidade técnica individual dos três-quartos franceses. Por sua vez a Austrália tem neste jogo a oportunidade de demonstrar que os métodos de Eddie Jones estão a funcionar e que a colocam no objectivo de vencer o Grupo C do Mundial.
Claramente a Escócia e a Irlanda, com evidentes jogos-treino, ganharão os seus jogos com facilidade e, embora num jogo mais equilibrado, a Itália deverá vencer o Japão até porque as linhas-atrasadas italianas têm vindo a mostrar boas capacidades.
Resta, no único jogo que não contará para a classificação do ranking da World Rugby, o jogo de Portugal — curiosamente existem mais informações sobre qualquer das outras equipas que disputarão o Mundial do que as existentes sobre a equipa dos Lobos que só hoje, ao final da tarde, deu a conhecer a constituição da equipa… — contra uma segunda equipa australiana que pode ajudar à adaptação dos jogadores portugueses à intensidade que os jogos internacionais de melhor nível impõem. A equipa apresenta algumas alterações — umas eventualmente por lesões, outras por decisão como será o caso do capitão Appleton — em relação ao último jogo com os Estados Unidos. Mantém-se a primeira-linha com Fernandes, Tadjer e Alves, na segunda-linha entra Torgal por Cerqueira e na terceira-linha Rafael Simões ocupa o lugar de nº 8 pelo lesionado Freitas. Nos médios retorna Portela e Pedro Bettencourt ocupará o lugar de 1ºcentro, ficando Tomás Appleton no banco. No três-de-trás entra Raffaele Storti para o lugar de Vincent Pinto, mantendo-se os capacíssimos Rodrigo Marta e Sousa Guedes nos seus lugares habituais. Num jogo de que não tenho notícia de que o poderemos ver por transmissão televisiva, ficaremos apenas à espera do resultado. A não ser — o que seria bom! — que, no mínimo, haja filmagens que permitam uma transmissão diferida via Rugby TV..

NOTA RECTIFICADORA: A FPR pôs hoje, 25 de Agosto, uma nota em NOTÍCIAS do seu site (https://fpr.pt/noticias/detalhe/transmissao-rugby-tv-portugal-x-australia-a) de que o jogo Portugal-Austrália A será transmitido, amanhã, sábado pelas 19:00 horas na RUGBYTV. Ainda bem!!! Ou, como diz o outro: mais vale tarde do que nunca!

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

GARANTIR UM LUGAR NA EQUIPA


Por jogar em casa contra um adversário para o qual tinha uma diferença superior a dez pontos de ranking, a França, apesar da vitória por mais de quinze pontos de diferença — o que normalmente lhe aumentaria em vez e meia o valor normal da vitória — perdeu o seu 3º lugar do ranking para a África do Sul que venceu em Cardiff uma equipa galesa que ainda não se encontrou depois das enormes dificuldades, inclusivamente financeiras, que a pandemia provocou nos seus clubes. No entanto — e para além de um ensaio-de-penalidade com o qual não concordo após ter visto as inúmeras repetições: o atacante sul-africano perdeu o controlo da bola para a sua frente e só depois houve desvio por parte do galês Rio Dyer, ou seja, houve adiantado sul-africano e em vez de ensaio-de-penalidade seria formação ordenada a cinco metros favorável a Gales* — deva referir-se que os sul-africanos estão a apresentar um rugby muito interessante, mais movimentado e menos de colisão directa, que fazem deles — actuais campeões mundiais, refira-se — e ao contrário do que pareceria há meses atrás, outro dos candidatos reais à conquista do título. Veremos o que nos mostrarão no próximo sábado, em Twickenham, no encontro de preparação com a Nova Zelândia…

Deixando de lado as vitórias esperadas e largas da Geórgia e da Itália — que demonstrou mais uma vez a atual incapacidade da Roménia — os dois outros jogos permitiram um bom entretenimento.

O domínio territorial da Inglaterra (59%) e mesmo a sua proximidade na posse da bola (48%) não impediu a marcação de 5 ensaios irlandeses que, mais uma vez demonstraram a sua capacidade de movimento e apoio e a manifestação de novo de uma sua bem conhecida características: a rapidez de libertação da bola (menos de 3 segundos para a maioria dos casos) nas situações de contacto o que coloca a defesa em constantes desequilíbrios, permitindo o movimento eficaz — e é de tal maneira assim que os irlandeses conseguiram ultrapassar 57 vezes a linha-de-vantagem para os 5 ensaios marcados — os ingleses ultrapassaram a linha-de-vantagem por 46 vezes para marcar apenas 1 ensaio. Como marca deste jogo fica-nos a expulsão de Owen Farrell que viu o bunker (raio de nome…) passar o amarelo a vermelho, ser ilibado por um conselho e ver a World Rugby a fazer o processo voltar atrás e a impôr um castigo de 4 jogos, com a simpatia de retirar 2 jogos aos 6 que a regra imporia.

Do jogo da França fica-nos também um caso particular e que representa um aspecto de que sou defensor — o substituto do nº 8, Alldritt, foi o talonador Maukava (que igualou o máximo de placagens da equipa com 16 realizadas) mostrando assim que a terceira-linha de uma equipa é constituída por 4 unidades: um asa, um fechado, um 8 e um talonador (e tive nas selecções bons jogadores — Nuno Morais e Luis Filipe Morais por exemplo — que desempenharam com grande qualidade o conceito). Curiosamente a França — sem poder contar com o diferenciador Ntamack e recorrendo a uma equipa ainda experimental — ganhou o jogo com uma boa diferença fá-lo com 44% de controlo de terreno (só 30% na 2ª parte) e com menor posse da bola (46%) mas vence num 3-2 de ensaios. Mas no fundo, terá sido a indisciplina fidjiana — com 6 penalidades que permitiram 15 pontos concretizados — que acabou por permitir o sossego do resultado. Note-se que enquanto que a França fez 57 ultrapassagens da linha-de-vantagem, Fiji conseguiu 80 a partir, respectivamente, da conquista de 6 formações, 13 alinhamentos e 67 rucks contra 7 formações, 16 alinhamentos e 119 rucks. No fundo a defesa dos franceses, liderada por Shaun Edwards com 87% de sucesso, terá sido a chave do êxito para o nível pouco eficaz do jogo. No próximo domingo, contra a Austrália e no último jogo de preparação encontraremos novas certezas.

* perguntar-se-á: porque que é que depois de tantas repetições a TMO não percebeu a sequência dos factos? Porque se focou demasiado da direcção da bola pós-toque do jogador galês.

NOTA RECTIFICADORA de 23 de Agosto: Vi hoje a análise de Nigel Owens sobre o ensaio-de-penalidade atribuído à África do Sul no jogo contra Gales e que dá razão à minha análise e considera, como eu, não ter havido situação para a sua marcação ou para o cartão amarelo Lembra, no entanto, uma situação que não levei em conta e que me levou a referir que deveria ter sido marcada uma formação-ordenada. Não devia porque, como lembra Nigel Owens, estava a jogar-se uma vantagem de penalidade favorável aos sul-africanos. Logo o jogo recomeçaria com a execução de uma penalidade no sítio onde o árbitro terá designado a vantagem.           Confere: https://youtu.be/TyKyjeYCnA0?si=NCAXkgwFEHkDTwFJ 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

MAIS TENTATIVA E ERRO

A “jornada” de jogos internacionais de preparação para o Mundial deste sábado, 19 de Agosto, tem jogos interessantes e que podem permitir retirar algumas ideias, embora tendo presente que a importância destes confrontos está na “tentativa-e-erro”, com vista ao futuro comportamento das equipas. De facto continuamos com o princípio de o agora só importar como base de um futuro que começa a 8 de Setembro.


 Como se pode ver pelas previsões, a maior parte dos jogos tem “vencedor antecipado”, normalmente a equipa da casa — com excepção do Gales contra a África do Sul, campeã mundial em título. Repare-se que e dado o regulamento de ranking da World Rugby, a maior parte dos jogos — com um desnível superior a 10 pontos — não permitirão, caso os vencedores sejam os previsíveis, qualquer aumento de pontos de ranking. O mesmo se passando com os derrotados. Aumentos e perdas só se houver surpresas…

Apesar da incapacidade galesa demonstrada em Twickenham — note-se que chegaram a jogar contra uma equipa de doze ingleses — e apesar da troca de 14 jogadores efectuada por Warren Gatland em relação ao último jogo — apenas se mantém o asa Dan Lydiate, havendo ainda um saudado retorno de Jac Morgan que volta ao capitanato e, espera-se, a comandar as placagens — existe curiosidade para ver o comportamento da defesa galesa — que esteve muito bem na vitória sobre os ingleses — na oposição à eficácia do poder de colisão sul-africano que, durante 2023, conseguiu 57% de ultrapassagens da linha-de-vantagem. E outro ponto a considerar será a luta nas formações-ordenadas onde se verifica, para o ano de 2023, 100% de sucesso para os sul-africanos nas suas próprias introduções contra o fraco resultado galês de 81,4%. Mas Cardiff é Cardiff e o jogar no Principality Stadium — embora a actual previsão não lhe seja nada favorável —  não é fácil para ninguém. E haverá sempre o momento mágico do cântico do Land of My Fathers (Hen Wlad Fy Nhadau).

A Geórgia, como será fácil de calcular, não terá grandes dificuldades em vencer os Estados Unidos que, longe de preocupações imediatas, estão com as preocupações na formação futura da sua equipa — já estão com o pensamento em 2027…

A Inglaterra, abalada com o tira-não-tira do “vermelho” ao seu capitão e estratega Owen Farrell que, dada a situação, não foi convocado, vai ter que demonstrar — contra a equipa irlandesa que ocupa o 1º lugar do ranking da World Rugby — que não será uma mera figurante do Mundial. Mas o seu jogo não tem sido brilhante — últimos cinco jogos com 3 derrotas e 2 vitórias. E a Irlanda, que fez, no Algarve, um treino com a oposição dos internacionais portugueses, vai querer ganhar a confiança colectiva necessária para se apresentar em França como candidata à vitória final.

O Itália-Roménia será o jogo menos interessante deste sábado uma vez que se tratam de duas equipa que não têm grandes perspectivas para a sua participação mundialista.

A França, confrontada com o grave problema que é a impossibilidade de utilizar Ntamack — o seu construtor e organizador de jogo e que percebe Dupont de olhos fechados — vai ter que aproveitar o jogo com fijianos para acertar agulhas com novo médio-de-abertura que, de entrada, será Antoine Astoy do campeão europeu La Rochelle com Mathieu Jallibert, o preferido pelos adeptos franceses, no banco. A curiosidade maior do jogo será ver de que tipo serão as alterações necessárias, quer em defesa, quer em ataque, que a equipa francesa realizará. Não esquecendo nunca que na abertura do Mundial dentro de 3 semanas terá como adversário os sempre candidatos AllBlacks.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

DE OUTRO CAMPEONATO

Com a vitória por surpreendentes 26 pontos de diferença, pode dizer-se que Portugal conseguiu o melhor resultado desta recente “jornada”de preparação para o Mundial.
Também Tonga e a Geórgia conseguiram resultados volumosos, vencendo os seus adversários sem grandes dificuldades, notando-se, no entanto que a Geórgia — nossa adversária de Grupo —  defrontou a Roménia que também se encontra apurada para disputar o Mundial, ao contrário do Canadá, a quem aplicou uma diferença de 50 pontos — sorte romena que a diferença de mais de 10 pontos de ranking não alterou a sua posição…


Se o Chile-Namíbia representou uma surpresa com a derrota em casa dos chilenos, os restante jogos tiveram resultados com diferenças muito menores do que o esperado. O Inglaterra-Gales foi um jogo sensaborão e ainda se estará para perceber como foi perdido pelos celtas — jogaram tempo suficiente contra 12 ingleses e não souberam fazer a diferença necessária para garantir a vitória. Qualquer das duas equipas cometeu erros primários de recepção e posse de bola que só pode — porque foi mau de mais — significar uma absoluta incapacidade física por treinos que têm o objectivo da melhor condição daqui a um mês. Enfim, o velho conhecido: importante é jogar bem no Mundial, agora…

Pelo contrário, o França-Escócia foi um belo jogo com as acelerações necessárias para garantir a perfuração de intervalos a quase nos fazer crer, se mais desatentos, em incapacidades defensivas elementares. Mas tratou-se mais de boas explorações de espaços e tempos do que de falhas defensivas. Mesmo se em alguns momentos a paragem do movimento mandasse mais do que a continuidade. E de um 13-10 ao intervalo e que foi de imediato transformado num 20-10 favorável aos franceses, chegou-se a um 27-27 em cima do último minuto a que um erro da primeira-linha escocesa (incapacidade física? que se confirmaria num adiantado escocês na sequente última jogada) permitiu transformar em 30-27. E viu-se a diferença que faz Ntamack, lesionado e substituído aos 53 minutos.

Se é um facto que Portugal conseguiu um muito bom resultado com 7 ensaios marcados — embora um deles de penalidade que considero erro do árbitro (Vincent Pinto, placado, manteve-se agarrado à bola…) — e fazendo uma aceitável utilização da bola com 40% de ultrapassagens da linha-de-vantagem para conseguir em 27% das rupturas 6/7 ensaios, o jogo não deixou de levantar alertas. O problema — muito grave e que resulta da mania da “arbitragem preventiva” que grassa nos campos portugueses e que leva, por um lado, ao benefício do infractor e, por outro, a que os jogadores abusem da ilegalidade para atrasar o jogo adversário porque sabem que irão ser avisados e não serão punidos — mas no nível internacional a conversa é outra e foram penalizados, para além de 2 amarelos, com 18 (ao que consta) inadmissíveis penalidades.  Portanto a indisciplina marcou a postura da equipa num jogo que deve ser visto —  como aliás o fez Patrice Lagisquet que foi, no que me surpreendeu, bastante realista e se deixou de optimismos serôdios — pelo lado das imperfeições a moldar e não como uma demonstração de eficaz capacidade. Porque a realidade é esta: a equipa americana é uma equipa em formação — jogaram apenas 5 jogadores que estiveram presentes no Dubai — e permitiu-nos fazer aquilo que sabemos demonstrar contra as bélgicas e holandas do costume, usar a posse da bola em jogo de movimento. Porque sem estar expostos a pressão os nossos três-quartos tinham o espaço/tempo necessário para mostrar as suas capacidades sem exigências de pormaior. E neste quadro, refira-se Nuno Sousa Guedes que, para além das rupturas conseguidas com espectaculares quebras-de-linha, ainda jogou, 10 minutos, a formação, fazendo-me lembrar um Portugal-Espanha de sub-18 jogado no Jamor e que ele ajudou a vencer ocupando o lugar 9 por lesão do jogador habitual. É de facto um jogador de grande categoria.

Facto, facto, é que se percebe mal a proposta que nos foi feita de marcação deste jogo contra uma equipa que está, actualmente, noutro mundo, num estádio de preparação para outros futuros. Enquanto outras equipas, mesmo posicionadas abaixo de nós, se preparam com outras equipas que estarão no Mundial, aos portugueses é dado como preparação um jogo que nada tem a ver com a intensidade e pressão que teremos de enfrentar. E a Geórgia e Fiji, os nosso adversários menos cotados, terão três jogos de preparação. A nossa adaptação não será fácil e não vale a pena criar ilusões com este jogo — foi de um outro campeonato. E um outro jogo com uma equipa com os olhos e pensamento no Mundial, daria jeito — e não parece que seja o XV australiano, pela própria constituição e pelo momento, o adversário-treinador ideal. 

 

sábado, 12 de agosto de 2023

PORTUGAL A VALER

Com a vitória de ontem do Tonga sobre o Canadá por 28-3, as equipas nacionais continuam a fazer a sua preparação para o Mundial de França.


Hoje, sábado, no primeiro dos cinco jogos, jogará a Geórgia — nossa adversária no Mundial — contra a Roménia num jogo que, pelos resultados anteriores — o último resultado entre ambas foi de 31-7 favorável aos georgianos — deverá permitir uma vitória tranquila à Geórgia.

Dois jogos, o Inglaterra contra Gales — que também será nosso adversário no Mundial — e em que os ingleses tudo farão para fazer esquecer a derrota de Cardiff de há oito dias, fazendo até regressar  Owen Farrell ao seu melhor posto de abertura, enquanto os galeses continuam a testar hipóteses e combinações, deixando para o jogo com a África do Sul de 19 de Agosto, a aproximação à equipa-tipo do Mundial. Por sua vez  os franceses, para evitar qualquer supresa. trazem uma equipa mais próxima do seu habitual — essa mistura de tulusistas, campeões de França e de rochelistas, campeões europeus, começando desde logo com o retorno do seu mágico par-de-médios, Duppont e Ntamack a garantir uma enorme coesão no eixo-central da equipa— quatro tulusistas e um rochelista. Pena é que o jogo se tenha que ver em deferido porque se sobrepõe o mais importante, para nós, jogo do dia: Portugal-USA.

Portugal, embora com um conceito de eixo-central a que faltará a visão da coesão da equipa de Fabien Galthié — 5 clubes diferentes, a que se juntam jogadores provenientes de 13 clube diferentes e com apenas 6 jogadores com formação portuguesa — não terá jogo fácil nesta “repetição” da final do apuramento que terminou num empate salvador. Encostados no ranking com uma diferença de apenas 42 centésimas de ponto e enquanto que uma vitória americana, por mais que pretendam que demonstre alguma coisa — tarde piaste…dir-se-á — apenas servirá para alguma satisfação e para subir no ranking, Portugal terá que vencer o jogo para manter a sua 16ª posição e para ganhar a confiança necessária para defrontar os seus adversários do Grupo C do Mundial que se apresentam, no momento, com um posicionamento muito equilibrado no ranking da World Rugby — Austrália no 8º lugar, Gales no 9º lugar, Fiji no 10º lugar e Geórgia no 11º lugar com 3,64 pontoa a separá-los e com Portugal — em 16º lugar — distanciado em 8,61 pontos da Ge rgia.

Grupo C do Mundial

Duas curiosidades do lado de Portugal e para este jogo: a estreia do médio de abertura do Valence Romains, Joris Moura, que subiu esta época à PROD2 e que foi, em 2020 internacional, pela equipa da França de SUB20, jogando  2 jogos no Torneio das 6Nações da categoria; constatar a aprendizagem em termos de intensidade e decisão do treino feito com os internacionais irlandeses e que, espera-se, possa ajudar a equipa a encontrar os tempos de que resulte a eficácia da posse da bola. De facto, com um campeonato interno de baixa competitividade e com uma selecção feita de diversas práticas e aprendizagens, treinos desta natureza podem dar à equipa a dimensão necessária para enfrentar, sentindo-se confortável, estes elevados níveis competitivos que caracterizam a área onde se encontra inserida. Veremos o que o jogo de hoje nos mostrará, ensinando-nos como preparar da melhor forma a nossa presença no Mundial 2023.

domingo, 6 de agosto de 2023

JOGOS A PROMETER

 Nestes jogos de preparação para o Mundial todos pretendem, mais do que o resultado, determinar as capacidades dos jogadores e a sua possibilidade de fazer parte da equipa do Mundial. No fundo é um conceito do tipo: Vitórias agora?! Não, no Mundial!

Mas as vitórias agora contam, quer para o posicionamento do ranking, quer para a confiança da equipa. E confiança ganhou Fiji — que transformou uma previsível derrota de 5 pontos numa larga vitória de 23 pontos de diferença —, a Escócia — vitória por 4 pontos em vez de uma derrota por 9 pontos sobre a França — e Gales que venceu a Inglaterra por uma demonstrativa vitória por 11 pontos e mostrando uma muito boa capacidade e organização defensiva (e com dois quase ensaios perdidos por centímetros e a garantia de um capitão capaz no asa Jac Morgan ) contra uma presumível derrota caseira por 2 pontos.



Samoa — de 13º para 12º—, USA — de 18º para 17º, encostando-se ao 16º lugar de Portugal — e mesmo a derrotada Itália pela derrota caseira do Japão — subiram lugares no ranking. Pelo contrário o Uruguai — apesar da vitória caseira mas pela vitória fora dos USA — e o Japão desceram. E estes resultados podem ter, se não forem alterados numa próxima jornada,  importância na confiança que as equipas — as quem estão qualificadas — mostrarão no Mundial.

Com uma equipa quase experimental, os neozelandeses — começando por parecer derrotados pelos australianos com 3-17 aos 22’ — reverteram o resultado após a entrada em campo, na 2ª parte, da parelha habitual de médios —  Aaron Smith e Richie Mo’unga (McKenzie teve um muito mau jogo ao pé…). Mas o resultado mais surprendente terá sido o de Fiji que, de previsível derrotado, conseguiu a vitória contra o Japão em Tóquio por uma substancial diferença de 23 pontos, ultrapassando a barreira dos 15 pontos que permite um aumento dos pontos de ranking correspondentes.

Em conclusão, o Mundial, promete!

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

MUNDIAL Á PORTA

Com a aproximação do início do Mundial, as equipas dos seus participantes — com excepção dos USA que não se apuraram em favor de Portugal — procuram garantir a sua melhor preparação realizando quer torneios como os jogos das Séries de Verão das Nações (Summer Nations Series) — Irlanda, França, Escócia, Inglaterra, Gales e Itália — num 6 Nações de verão (dura até 26 de Agosto) quer jogos-testes dos quais faz parte o Portugal-USA no próximo dia 12 de Agosto no Estádio do Algarve.

Amanhã, sábado 5 de Agosto, realizam-se oito jogos e deles se apresentam, na tabela abaixo, as previsões determinadas com base na pontuação de cada equipa no Ranking da World Rugby não se prevendo assim e teoricamente, nenhuma surpresa. No entanto estas previsões matemáticas servem precisamente para determinar a qualidade dos resultados reais pela sua aproximação à diferença prevista.


Embora a diferença estabelecida entre a Nova Zelândia e a Austrália seja próxima do anterior resultado — diferença favorável aos AllBlacks por 31 pontos — o facto dos neozelandeses apresentarem um grupo de jogadores que não são habitualmente titulares, pode aproximar competitivamente as duas equipas. No entanto, recorde-se, os jogadores que vão entrar no XV AllBlack estão com os olhos postos na conquista de um lugar na “equipa mundial”. E como a formação dos jogadores neozelandeses é muito aproximada e subordinada à mesma estratégia…nunca se sabe.

Nos outros jogos e para além do interesse de ver o comportamento francês fora de casa — venceu a Inglaterra por 53-10 e a Itália por 29-24 e perdeu com a Irlanda por 32-19 — tendo agora que se confrontar com uma capacidade defensiva escocesa de 91% de eficácia média, será interessante também e para além da 100ª internacionalização, aos 34 anos, do galês Leigh Halfpenny, ver como se comportará uma muito modificada equipa do País de Gales contra os ingleses, os seus maiores adversários de sempre e que, se bem pressionados, mostram sempre grandes dificuldades em desenvolver o seu jogo — muitas vezes porque a constituição da equipa não tem um núcleo coeso de jogadores capaz de garantir a sua unidade..

Por outro lado haverá um interesse particular no novo resultado do Argentina-África do Sul: ver até que ponto a derrota fora da Argentina por apenas 1 ponto de diferença no jogo recente entre as duas equipas traduz uma realidade ou constituíu uma mera casualidade.Entre duas equipas que se têm mostrado defensivamente muito agressivas mas com grandes dificuldades de organização atacante, o resultado poderá ser sempre uma surpresa.

Haverá ainda o Roménia-USA que interessará particularmente à equipa portuguesa para o seu jogo de Faro contra os americanos. 

Enfim, um sábado cheio de jogos com três a não perder: Nova Zelândia-Austrália (3h45); Escócia-França (15h15) e, naturalmente :-), o Gales-Inglaterra (17h30). 

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores