segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

6 NAÇÕES - NOTAS DA 3ª JORNADA


Gales conseguiu o pior resultado da jornada ao perder pela diferença de 16 pontos de jogo num desafio em que a derrota, sendo o mais provável, seria por margem mínima, fazendo do jogo um combate até ao último minuto. Aliás, olhando para as estatísticas do jogo, não se compreende, pela proximidade dos valores, como foi possível tal diferença.
Erros e mais erros, enormes dificuldades sempre que a intensidade do jogo aumentava mostraram que os galeses parecem estar longe da preparação seguida pelas outras equipas. Pela segunda vez e em dois jogos seguidos morrem fisicamente e "deslaçam" na 2ª parte, mostrando um baixo nível de coesão e falta de treino a níveis de intensidade adequada. Ou seja: na equipa técnica galesa não parece haver noção de que as competições onde os seus jogadores evoluem estão abaixo do nível exigido pela competição internacional. O que significa que o conforto dessa aceitação, para além dos erros técnicos que permite, ainda levou à contestação da decisão do "capitão" Alun Wyn Jones que pretendia, com o resultado em 16-13 e com tempo de jogo suficiente (30'), chutar aos postes no que foi contrariado pelos "seus chutadores" - Halfpenny e Biggar - que decidiram, ignorando o que dizem as estatísticas para um zona de fácil êxito, procurar um alinhamento a 5 metros da linha de ensaio. Depois do que se viu, incluindo a selecção de George North sem um mínimo de condições e de novo a saída de Moriarty para entrar um Faleteau ainda sem capacidade para ser uma mas valia, Gales tem que mudar. De técnicos e de modelo.
Como curiosidade e provável consequência do modelo actual, Biggar parece desconhecer a necessária geometria do jogo-ao-pé ao utilizar a direcção mais longa para realizar pontapés de penalidade para fora - o abertura italiano, Tommaso Allan, também o fez. Mas se neste caso o cansaço pode ser a razão da pouca clareza, no de Biggar será o de um modelo pouco exigente - que, aliás, já fez a derrota contra a Inglaterra.
Por outo lado a França demonstrou em Dublin que, por maior que seja o esforço de Guy Novés, vai levar muito tempo a conseguir uma equipa com a destreza técnica que permita tirar parido das condições físicas que os jogadores franceses apresentam. Um momento ou outro em que se percebem tentativas de jogo de acordo com os princípios do rugby de movimento não são suficientes para dar à equipa da França a consistência necessária para se impôr como equipa de nível internacional elevado.
Mais uma vez a Inglaterra - sem ter jogadores da melhor qualidade (pelo que se tem visto poucos serão os que constituirão a primeira equipa dos Lions) - conseguiu vencer na parte final do jogo depois de demonstrar enormes dificuldades, nomeadamente sempre que os italianos não faziam o esperado - como quando decidiram não se opôr, de acordo com as Leis do Jogo, às placagens, evitando a construção dos habituais rucks. As razões desta capacidade de impôr uma impressionante pressão com a aproximação do final do jogo estão, de acordo com Eddie Jones, nos conhecimentos adquiridos no manual de José Mourinho e nos conhecimentos da "periodização táctica" transmitidos pelo espanhol Villanueva e desenvolvidos pelo português Vítor Frade e que estabelecem um princípio de treino que, não dividindo as componentes em acções independentes, se realiza em níveis de intensidade muito superiores às necessidades do jogo normal, levando a menos tempo de treino mas com muito maior velocidade de acção e decisão. Com este sistema a coesão da equipa e a sua eficácia, à medida que o tempo passa - 43% de posse da bola na 1ª parte contra 61% na segunda - e os adversários vão ficando exaustos, aumentam a diferença e deixam o adversário sem capacidade de resposta. 
Mas interessante, interessante nesta jornada, para além do ensaio de levantar o estádio do italiano Michele Campagnaro, foi o inteligente recurso da Itália de O'Shea a uma interpretação das Leis do ruck que, surpreendendo, criaram enormes dificuldades à Inglaterra. Mas já muito pouco inteligente - em nítida montagem de mind games para os jogos que faltam - terá sido a reacção de Eddie Jones ao considerar que estes recursos se traduzem numa postura anti-rugby. Como se os Davides tivessem outro recurso para derrotar os Golias que não a inteligência e a surpresa. Mostrar a indignação que Jones mostrou e que contaminou George Ford, acusando os italianos de utilizaram processos pouco éticos e destruidores do rugby em simultâneo com a exigência à World Rugby da imediata mudança da Lei, não é próprio de quem tem sido, pelos seus processos e procura de novas soluções, considerado um percussor e reunido as atenções de muitos dos seus pares. Tanto mais que este processo é conhecido - para além do XV já foi utilizado pelo Sevens -  e segue o mesmo caminho do já feito para evitar os mauls penetrantes ou a exploração da Lei para aumentar o número de jogadores do alinhamento - como fez a Escócia contra a Irlanda - num procedimento conhecido há mais de vinte anos.
Sendo o "músculo" mais importante de um jogador de rugby o seu cérebro, impedir o recurso à inteligência como forma de equilibrar desvantagens tornará o jogo de rugby num mero combate de força física com vencedor antecipado. O que tirará, isso sim, todo o interesse ao jogo.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

6 NAÇÕES - PREVISÕES 3ª JORNADA



De novo com recurso às previsões da RugbyVision a que junto as minhas, aqui ficam as previsões das diferenças de pontos de jogo e os favoritos para cada um dos desafios desta terceira jornada das 6 Nações. 
Segundo ainda as previsões da Rugby Vision a Escócia tem 53,8% de hipóteses de vencer Gales, a Irlanda tem 81,1% de hipóteses de vencer a França e a Inglaterra é quase vencedora garantida com 98,8% de hipóteses sobre a Itália.
Sobre os vencedores não parece haver dúvidas - diferentes algoritmos apostam nos mesmos vencedores - e se as previsões se cumprirem a Escócia continuará em luta pela Triple Crown - vitórias sobre os que falam inglês - com última discussão em Twickenham a 11 de Março.
No entanto e mesmo que o meu algoritmo preveja uma curta vitória da Escócia, a minha aposta vai para Gales! Cymru am byth!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

DEVER CUMPRIDO

O vinte-e-três de Portugal, utilizando, sobre a maior corpulência dos adversários, a inteligência e capacidade técnica - conhecidas como armas vencedoras desde a vitória de David sobre Golias, fez o que lhe competia: ganhar por mais de 15 pontos de diferença - garantindo assim o máximo coeficiente na pontuação do ranking da World Rugby - e atingir o mínimo de 4 ensaios para garantir 1 ponto de bónus. Dever cumprido!
Com uma diferença de 25 pontos, o resultado de 35-10 ultrapassa o resultado previsto (16 pontos de diferença) e, ao creditar a partilha de pontos marcados em 75%, demonstra de forma indiscutível a superioridade portuguesa.
Ao contrário do que se poderia pensar, os avançados portugueses não tiveram qualquer problema no confronto com os seus adversários directos - nomeadamente nas formações ordenadas ou mauls penetrantes. O facto da Polónia ter a mais o equivalente a um jogador no seu bloco de avançados não lhe deu grande vantagem - apenas conseguiu, na meia-dúzia de tentativas, um ensaio no empurrão da formação com a bola transportada. Com uma falta absoluta de sincronismo, a formação polaca permitiu que a defesa conjunta dos avançados portugueses, numa clara demonstração que a coesão colectiva se sobrepõe à mera força, se superiorizasse na maior parte das situações. Ou seja, aquilo que se poderia temer da maior corpulência polaca não resultou em nenhum particular desgaste português.
Feito o jogo e a vitória com os resultados pretendidos, vale a pena olhar, sem entusiasmos desmedidos, para a produção portuguesa.
Contra uma defesa que não conseguia organizar a sua defesa profunda - não havia linhas defensivas de cobertura - os jogadores portugueses conseguiram encontrar os espaços de penetração que permitiram ultrapassar a linha de vantagem por diversas vezes para além daquelas que permitiram a marcação de 5 ensaios. Mas houve ainda muito desperdício: uns por individualismo escusado; outros por falhas técnicas pouco admissíveis e resultando em erros não forçados demonstrativos de menor consistência. Demonstrando assim a diferença a que ainda se encontra do nível que se pretende atingir.
A regra das coisas é simples: é da responsabilidade do jogador que apoia o portador da bola e enquanto jogador que não pode ser directamente pressionado ou incomodado, criar as melhores condições para a eficácia do passe que liga os dois jogadores. O que exige quer a abertura, através da adequação da velocidade, de uma linha de passe e ainda a aproximação ou distanciamento do portador da bola de acordo como a situação se apresente. Ou seja: as linhas de corrida dos apoiantes devem ser convergentes ou divergentes mas quase nunca paralelas. Ora os jogadores portugueses mostram grandes dificuldades na execução deste simples gesto técnico que depende  muito mais da atitude táctica competitiva do que de alguma especial capacidade técnica. Foram perdidos, para além daqueles desperdiçados por individualismos egoístas e vaidosos, alguns ensaios que construiriam um resultado condizente com o valor demonstrados pelas duas equipas no Jamor. E que colocaria, na relação com os restantes adversários, alguns pontos nos iiis.
A equipa da Polónia foi uma decepção e mostrou-se muito abaixo das capacidades de uma equipa com pretensões. As dificuldades competitivas demonstradas, podendo estar relacionadas com as dificuldades conhecidas para a realização de jogos e treinos, são demasiado visíveis para que possa ultrapassar uma mera vontade sem efeitos práticos. Mas, mesmo que tudo melhore, aquele modelo de jogo alicerçado numa visão sul-africana ultrapassada não os levará a qualquer lado significativo.
Quanto ao "quinze" de Portugal terá ainda, para que possa continuar a perseguir os objectivos a que se propôs, que alterar bastantes conceitos do seu processo. Começando desde logo por um aumento da intensidade dos seus treinos para permitir uma adaptação mais eficaz aos momentos cruciais do jogo e possibilitar o domínio dos tempos de posse de forma a que se traduzam na conquista de terreno e na conquista de terreno contra adversários de uma outra valia. E para que o jogo de continuidade possa ser mais eficaz exige-se uma muito maior velocidade de disponibilização da bola no jogo no chão. Tratando-se de uma manobra que tem que fazer parte do ADN da equipa - a sua corpolência pouco elevada obriga, para garantir a continuidade do movimento, a passar pelo chão em situações de impasse - é necessário garantir, ao contrário do que se passa na maioria dos momentos, que a bola seja disponibilizada ANTES da defesa adversária se recolocar. O que exige uma forma dustinta de encarar o jogo por parte dos médios, esses pautadores dos tempos e ritmos do jogo e responsáveis pela incerteza defensiva adversária.
Por outro lado, o jogo ao pé necessita de ser mais objectivo com propósito ofensivo mais claro para que seja possível transformar situações de jogo, alterando o campo de sujeição para dificuldades ao adversário. E a regra aqui também é simples: fazer funcionar o princípio da manta curta e explorar a área descoberta do adversário - porque uma estará sempre descoberta. O que implica melhorias na capacidade de leitura colectiva e sincronia na perseguição.
Tudo isto porque, de acordo com os resultados, a Holanda - próximo adversário - é superior a esta fraca Polónia.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

PORTUGAL É FAVORITO

Previsão: vitória de Portugal por 16 pontos de diferença

De acordo com o passado de cada equipa - uma, Portugal, vinda do European Championship (II divisão) e outra, Polónia, vinda da III divisão - com posições distintas no ranking da World Rugby - Portugal, 25º classificado e a Polónia no 32º lugar - a selecção portuguesa, para mais jogando em casa, apresenta-se como favorita e a análise da diferença da pontuação no ranking permite prevêr uma vitória por 16 pontos de diferença.
Mas será mesmo assim? Será que a história - onde se baseia a diferença de pontuação entre as duas equipas - irá prevalecer sobre a realidade?
De facto Portugal tem uma vantagem para além do hábito competitivo internacional mais elevado: tem, mesmo que competitivamente desequilibrado, um campeonato que tem tido o seu normal desenrolar enquanto que os polacos têm deparado com mau estado do tempo, o que lhes tem dificultado jogos e treinos. Ou seja, os portugueses têm, de momento, mais hábitos competitivos do que os polacos. E isso pode pesar na eficácia das oportunidades com que se deparem.
Para que possa vencer, a selecção portuguesa necessita de ter a inteligência colectiva para ultrapassar o maior poder, pelo menos estático, que a selecção polaca demonstra - veja-se o quadro do Índice da Compacticidade. Se o equilíbrio na capacidade de choque, vulgo colisões, parece existir no 1/2 campo, já no bloco de avançados a diferença favorável aos polacos parece evidente. Com um cinco-da frente português com menos 54 quilos de peso do que os polacos, a tarefa nas formações ordenadas será exigente e desgastante.
Principalmente se tivermos em atenção que o total do bloco de avançados polaco conta com o peso de mais um homem (92 quilos) - ou seja e simplificando: Portugal jogará um 8 contra 9 em cada formação ordenada. O que para além de constituir um enorme desgaste para os portugueses, poderá ainda e se houver qualquer quebra de concentração, tornar-se num foco de faltas para proveito do bom chutador que Piotrowicz Wojciech é - 17 pontos contra a Ucrânia. Para contrariar esta vantagem não resta mais aos avançados portugueses do que usarem o melhor da sua capacidade técnica com grande concentração colectiva em cada formação ordenada - e nas bolas de introdução portuguesa uma adequada sincronização será meio caminho andado para uma boa utilização da bola.
Analisando a compacticidade - gramas por centímetro da altura, correspondendo à capacidade física e traduzível na capacidade de choque - das duas equipas pode ver-se, para além do equilíbrio dos dois 1/2 campo, que no bloco avançado existem áreas críticas quer na 1ª linha - 316 contra 362 kg para alturas idênticas - quer no 5-de-trás - 508 contra 554 kg - com influência em qualquer maul pós-alinhamento próximo da área de validação portuguesa e a que acrescerá o recurso ao pilar direito de brutais 140 kg. No entanto o facto de Portugal poder contar nas suas fileiras com o mais alto jogador do alinhamento - Gonçalo Uva, 201 centímetros - pode permitir uma atitude pró-activa que contrarie a conquista polaca.
Para ganhar o jogo, Portugal terá de jogar, para além de uma demonstração de coesão e espírito de colectivo de combate - possível com o conhecimento mútuo dos jogadores em campo e por a equipa ser constituída por 11 jogadores que se dividem por duas equipas - com base na evasão, evitando colisões e atacando a linha de vantagem com linhas de corrida capazes de prenderem os defensores adversários e impedi-los de se desdobrarem defensivamente. Para que isto seja possível será necessário garantir muita rapidez - pensando um tempo antes no "o que fazer?" - na libertação da bola nas fases das formações expontâneas de jogo no chão. O que implicará uma predisposição dos médios para fluir o jogo.
Deve no entanto lembrar-se que, tendo ambas as equipas uma vitória no actual Trophy, a equipa polaca apresenta uma percentagem de 100% na partilha de pontos marcados enquanto Portugal atingiu os 76% - no total das três vitórias conseguidas no passado trimestre, a equipa portuguesa apresenta uma partilha de pontos marcados de 61% o que, mostrando dificuldades na tradução em pontos de algumas das vantagens conseguidas, demonstra maiores vulnerabilidades defensivas do que a Polónia. 
Dado o facto das dificuldades polacas para - ao que se sabe de ouvir dizer - garantir um ritmo de jogo adequado à participação internacional, o recurso a uma intensidade elevada por parte dos portugueses - procurando, em termos de resultado, abrigar-nos de difíceis vinte minutos finais - pode ser o trunfo que faça a diferença final num jogo de grande sacrifício individual e colectivo mas que, para as pretensões portuguesas de abrir caminho para o Mundial 2019, só pode terminar em vitória portuguesa.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

JOOST VAN DER WESTHUIZEN


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

ALTO RENDIMENTO

Jogadores do XV da Polónia no hotel, hoje de manhã, antes de irem para o treino

O Desporto de Rendimento exige, sem margem para dúvidas, resultados e não se confunde com a utilização da palavra Desporto noutros campos onde o marketing, por razões de propaganda de interesses económicos ou políticos, impõe os padrões e pretende definir as regras. O Desporto tem regras próprias que exigem acções e comportamentos adequados.
Para que haja resultados é necessário uma articulação complexa mas constante de diversos campos que vão da organização do ambiente onde os atletas se movem até às questões científicas e técnicas que regem a expressão da modalidade.
Com o desenvolvimento global do Rugby, com o aumento das competições internacionais - o verdadeiro motor actual da modalidade - as modificações e consequentes exigências têm sido constantes na procura dos melhores resultados possíveis tendo em vista um permanente objectivo de chegar o mais alto possível.
Quer Portugal - na 25ª posição do ranking da World Rugby e com 56,96 pontos - quer a Polónia - na 32ª posição com 52,04 pontos - encontram-se na 3ª divisão europeia e disputam o Rugby Europe Trophy. Ambos querem um lugar ao sol no final da época que lhes permita sonhar com a hipótese Mundial 2019.
Por todo este aumento do interesse internacional o Rugby, como disse, mudou muito e nada é deixado ao acaso. Portugal e Polónia defrontam-se no próximo sábado e, para preparar o jogo, a equipa polaca chegou ontem à noite, domingo.
Desporto de Rendimento é outra coisa... e tem exigências que não se compadecem com visões românticas. Os polacos mostram já o ter percebido.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

ERROS ESTRATÉGICOS

"O diabo está nos pormenores", diz-se. E os jogos desportivos entre equipas da mesma capacidade competitiva ganham-se e perdem-se num ou noutro pormenor traduzido em "azares" ou "sortes" na linguagem habitual. Mas nem sempre as coisas se definem assim e resultam do somatório de erros técnicos provocados por erros ou ignorância de cultura táctica que somados provocam erros estratégicos.
Dois exemplos de jogos vistos este fim-de-semana.
O primeiro exemplo vem de Monsanto, na manhã de sábado e dos últimos minutos do jogo Direito-CDUL. O CDUL perdia por 10-9 quando praticamente no centro do terreno teve direito à introdução de bola numa formação ordenada. A posição era excelente como plataforma atacante que, naquela posição, permite sempre surpreender o adversário e garantir a superioridade numérica num primeiro tempo - o adversário tem sempre que se adaptar ao lado do ataque e não pode limitar-se a subir defensivamente. Para o resultado que existia apenas um senão: não valia a pena procurar a falta porque a distância era damasiada para uma penalidade aos postes. Os dados estavam então lançados: conquista da bola com pressão suficiente para garantir o atraso da saída da 3ª linha defensora e ataque, em velocidade, pelo lado de menor número de defensores na procura de um 2x1 final. Embora não tendo recorrido à combinação do velhinho "T" que coloca problemas mais difíceis de resolver pela defesa, o CDUL posicionou mais jogadores no lado esquerdo do campo do que do lado direito - o objectivo era simples: atacar pelo lado que a defesa deixa mais "aberto". Verificada a posição da defesa o caminho parecia fácil: um "89" pela direita com o 9 a obrigar o 8 adversário a correr atrás de si e jogar, com os dois companheiros exteriores, um 3x2 de escola apoiado ainda pelos seus companheiros 7 e 8. A defesa adversária não tem outra hipótese que não seja correr "atrás do prejuízo" e as vantagens de conquista de terreno e, até, de marcação de ensaio são evidentes. Mas não foi isso que aconteceu. 
O "T". Variação para a direita. A realização para a esquerda é simétrica.                                                                                Se a FO  avançar pode não haver saída mas passe directo e imediato para o 9  já lançada
Para que haja eficácia em movimentos deste tipo é preciso que todos saibam o que vai acontecer e porque deve ser realizado de uma determinada maneira e, ainda, a alternativa caso a resposta adversária seja eficaz.
Os jogadores do CDUL não mostraram saber o que pretendiam: introduzida e ganha a bola na formação ordenada, o médio de formação passou demasiado cedo para o lado direito do campo enquanto que o bloco de avançados conquistava terreno - demasiado terreno! - e empurrava o bloco adversário sem que o nº8 saísse da formação e atacasse a linha de vantagem. Pior, do lado direito do bloco cdulista, alguém (o asa) fez falta e a oportunidade, gorando-se, transformou-se num erro estratégico que impediu uma boa hipótese de evitar a derrota do CDUL. A culpa não foi de A ou B mas de um conjunto que não reconheceu colectivamente o seu Norte e, por isso, não tinha os seus jogadores sintonizados no mesmo objectivo e na acção adequada. O que significa dificuldades de coesão da equipa.
O outro exemplo de erro estratégico aconteceu, já de tarde, no País de Gales-Inglaterra. No final de um formidável jogo que Gales vencia por 16-14 e, dentro da sua área de 22, resistia às investidas do rolo compressor inglês, uma notável recuperação, no chão, de Liam Williams fazia crer no melhor e que a vitória final estaria a um passo. Avançados concentrados a criar a parede protectora, deram o tempo necessário de procura da melhor solução ao "formação" Gareth Davies. A bola estava controlada, bastava um passe preciso e um pontapé para fora, tão comprido quanto possível, para que houvesse uma quase certeza de vitória galesa. 
Mas esta simples equação foi mal resolvida - bola foi passada ao único canhoto das linhas atrasadas colocado no lado esquerdo do campo - onde estava Halfpenny ou Biggar que tiveram mais do que tempo para se recolocarem e exigirem o passe? - que, com o posicionamento da linha de ombros contrária ao devido, chutou para o centro do terreno (naquela posição só o falhanço de uma "rosca" colocaria a bola fora) a permitir um contra-ataque eficaz dos ingleses.
O erro foi tremendo, mas não foi apenas de Gareth Davies que decidiu a quem passar ou Jonathan Davies que realizou o pontapé desgraçado. A culpa foi de um grupo colectivo que teve decisões erradas de mais do que um jogador: mau posicionamente de uns, má decisão de outros, má execução do último. E estes erros técnicos e tácticos somaram um erro estratégico, provocando a derrota. Para o que encontro, embora não ressalvando, uma única explicação: exaustão tal que a oxigenação do cérebro já se encontrava reduzida...
Numa situação destas a bola tem que sair e tão longe quanto possível. Mas ser posta fora sem qualquer hesitação! Porque, tendo o jogador 12 ou 13 companheiros na sua frente, se a bola não sair - como aconteceu - os companheiros do chutador não podem avançar - pelo contrário, têm que recuar - e entregam demasiado terreno ao adversário para que este possa organizar eficazmente o seu ataque. A que se acrescenta o facto de jogarem quase parados contra atacantes lançados em velocidade. Saindo a bola do terreno, os companheiros do chutador podem avançar em direcção à linha de reposição do alinhamento e mesmo a realização de um alinhamento rápido não dispõe de tanto terreno livre e a defesa afasta-se da sua área de ensaio, permitindo a construção de linhas defensivas que se apoiam.
Como jogo colectivo que o rugby é, necessita de respostas colectivas a cada situação mesmo se, aparentemente, é um único jogador que tem a visibilidade da acção. Mas sem outros jogadores para colocarem dúvidas, pelas opções que proporcionam ao portador da bola, aos defensores as acções, defensivas ou ofensivas, não têm boas possibilidades de êxito. E o êxito baseia-se no conhecimento do jogo, na cultura táctica que o colectivo consegue desenvolver.
O rugby é um jogo de ataque e exige às equipas a capacidade de correr riscos quer em ataque, quer em defesa. O que significa a possibilidade de errar, significando que os erros estratégicos devem ser tão eliminados quanto possível, aumentando o conhecimento do jogo, a cultura táctica das equipas.



sábado, 11 de fevereiro de 2017

6 NAÇÕES - 2ª JORNADA



As previsões sobre os resultados da 1ª jornada não foram brilhantes e deram, mais uma vez, razão ao conceito de João Pinto sobre as possibilidades de prognósticos - o único acerto foi da QBE que previu que Gales marcaria 33 pontos. De resto resultados contrários ou muito próximos com pontos de bónus defensivos para quem deveria ganhar ou perder por muitos. 
A Escócia foi a grande surpresa ao vencer a mais do que favorita Irlanda, marcando um excelente ensaio através de uma bem elaborada combinação no alinhamento próximo da área de ensaio irlandesa: dois três-quartos - centro e ponta - juntaram-se aos avançados dando a ideia de procurar um maul penetrante após a conquista da bola, a Irlanda adaptou-se à ideia e colocou o peso dos seus jogadores sobre a zona dos saltadores; não foi assim, houve surpresa: bola lançada curta e baixa para o centro Alex Dunbar que marcou ensaio, colocando a Escócia na frente e que 91% de placagens efectivas haveriam de garantir a vitória. Uma vitória da criatividade do neozelandês Vern Cotter sobre um outro neozelandês mais conservador, Joe Schmidt.
Também ao contrário do esperado a França reduziu a superfavorita Inglaterra ao modelo conservador de recurso sempre que se sente sob grande pressão. O ensaio da jornada - um hino ao rugby de movimento - pertenceu aos franceses, demonstrando o excelente e nada fácil trabalho que Guy Novés tem vindo a desenvolver. A um passo da vitória, a França acabou por perder o jogo - pese a superioridade mostrada em muitas das componentes de jogo - porque o processo Novés ainda não foi completamente assimilado e a equipa não apresenta a coesão necessária. Mas vai haver retorno aos princípios do french flair.
No jogo Itália-Gales aconteceu a esperada vitória galesa embora os primeiros 40 minutos fossem dominados pelos italianos. Com a saída de Biggar e a entrada de Sam Davies - o IRB Junior Player of the Year 2013 - o jogo virou e os ataques de Gales com a aproximação à linha de vantagem destroçaram a defesa italiano - e o ponto de bónus ofensivo ficou a centímetros...

Previsões para diferença de pontos da Rugby Vision e JPB


Para a 2ª jornada deste fim de semana as previsões apostam na Irlanda, Inglaterra e França como vencedores. Vantagem óbvia da Irlanda sobre a Itália, vantagem apertada da Inglaterra sobre Gales e vitória da França sobre a Escócia. 
Em Cardiff o jogo será épico - a envolvente ferve nomeadamente depois dos comentários de Eddie Jones - e se o favoritismo é dado a ingleses, os galeses têm uma boa oportunidade de demonstrar quão longe estão os ingleses da eficácia da Nova Zelândia. Se bem servidas - e tenho dúvidas que a escolha do par Weber/Biggar seja a melhor - as linhas atrasadas galesas podem criar muitos problemas aos ingleses. Principalmente quando os Davies estiverem em campo. Mas Ron Howley parece ter preferido a segurança do jogo ao pé do que o risco criativo do mais jovem produto da fábrica galesa de médios-de-abertura. E está em mãos galesas o impedir que os ingleses continuem a perseguir o record All-Balck de 18 vitórias consecutivas... o que duplicaria a festa em Cardiff.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PREVISÕES DA 1ª JORNADA DO 6 NAÇÕES


A vitória, nesta 1ª jornada do 6 Nações, não deve escapar a irlandeses, ingleses ou galeses. Pelo menos é isso que se pode ler nas previsões da Rugby Vision (figura acima) que apresenta a Inglaterra com 87,3% de hipóteses de vitória sobre a França e propõe uma diferença de 16 pontos de jogo.
Baseando-se no conceito de que "as equipas de rugby não são assim tão diferentes dos negócios uma vez que têm de compreender os riscos e prepararem-se para qualquer eventualidade", a QBE Insurance recorreu aos seus conhecimentos científicos de previsão e criou o modelo matemático QBE Rugby Predictor que, considerando as variáveis do número de ensaios, transformações e penalidades conseguidas por cada equipa ao longo dos anos, o número de internacionalizações de cada capitão, a posição e pontuação do ranking mundial e as vantagens de jogar em casa ou fora, simulou 10.000 vezes o Torneio para produzir 150.000 resultados de jogos que definiram a vantagem da Inglaterra em 54% (ver 6 Nações: Vencedor Previsível).
Mas as previsões da QBE - chamando a atenção que a certeza a 100% nunca é possível -  vão muito mais longe: propõem o resultado, analisam as probabilidades de vitória, prevêem o número de ensaios e as hipóteses de existirem pontos de bónus. Assim a Irlanda derrotará a Escócia por 24-17, o jogo terá 4 ensaios a Irlanda tem 21% de conseguir um ponto de bónus e a derrotada Escócia terá 30% de hipóteses de conseguir um ponto de bónus; no Inglaterra-França a vitória pertencerá aos ingleses por 29-15 e também com a possibilidade de 4 ensaios no jogo e com 33% de hipóteses de ponto de bónus para os vencedores e de 19% para os derrotados; no Itália-Gales a vitória sorrirá aos galeses por 33-16, são esperados 5 ensaios e as possibilidades dos vencedores conseguirem um ponto de bónus é de 48%, tendo os italianos apenas 17% de conseguirem um ponto de bónus defensivo.   
Para se poderem comparar as previsões publica-se a tabela baixo que junta as previsões da Rugby Vision, da QBE Insurance e as minhas.
A Diferença de Pontos positiva significa vitória dos visitados e a negativa vitória dos visitantes 
A Rugby Vision parte de uma base própria - criou o seu próprio ranking com pontuações distintas do ranking da World Rugby, considerando que a diferença entre os valores de pontos de cada equipa a que se soma a vantagem de jogar em casa estabelece a diferença de pontos. A QBE Business Insurance baseia as suas previsões numa complexa fórmula matemática adaptada dos seus sistemas de análise. A minha previsão baseia-se no ranking da World Rugby aplicando as formulas adequadas e contando também com a importância do factor casa.
Domingo ao final da tarde ver-se-á que sistema ficou mais próximo da realidade do resultado dos jogos

6 NAÇÕES: VENCEDOR PREVISÍVEL?



Começa este fim-de-semana o Torneio das 6 Nações que, para além do habitual interesse, junta a novidade dos pontos de bónus. Pena é que nesse enorme salto para quem se mostra sempre tão conservador, não tenha sido feito com o sistema francês - aposto que só por ser francês - e que também utilizámos em Portugal de apenas garantir o ponto de bónus atacante se a diferença for, no final, de 3 ensaios para quem já marcou 4. Mas o salto podia ainda ser maior, estabelecendo um sistema que premiasse a diferença de pontos marcados entre as duas equipas que, de acordo com o resultado, distribuiriam a totalidade de 6 pontos por jogo, assim: 6 e 0 pontos de classificação para vitória por mais de 15 pontos (acompanhando o prémio que e a WR confere na pontuação por jogo do seu Ranking), 5 e 1 pontos para vitórias superiores a 5 pontos e inferiores ou iguais a 15 e 4 e 2 pontos para vitórias até 5 pontos de diferença. O empate distribuiria 3 pontos por cada equipa.
Com este sistema a procura do melhor resultado mostra-se, provavelmente, mais intensa e melhor que a "diferença de 3" e, de certeza, muito mais emocionante que a marcação de 4 ensaios que garantem, sem mais preocupações, o ponto de bónus num 5 a 0 de pontos de classificação.
Se Paul Rees do The Guardian considera que este Torneio de 2017 pode ser o mais aberto dos últimos anos e sem vencedor previsível, o neozelandês e professor no MIT da americana Cambridge, Niven Winchester, não tem dúvidas em considerar que a vitória da Inglaterra será uma quase evidência como se pode ver no quadro acima. E isto apesar da Inglaterra, embora recebendo a França, ter que jogar fora contra Gales e contra a Irlanda.
No entanto e se Paul Rees estiver certo, a última jornada a 18 de Março vai ser decisiva e emocionante - a França recebe Gales e a Irlanda recebe a Inglaterra. Se as previsões da Rugby Vision forem mais acertadas a última jornada terá apenas como interesse a hipótese do Grand Slam pela Inglaterra para transformar os 21,8% de previsão num 100%.
Para vencer o 6 Nações a Rugby Vision coloca as previsões da Inglaterra em 57,7% - o dobro do que considera possível para a Irlanda e de quase 7 vezes superior às hipóteses de Gales.
Para além da novidade dos pontos de bónus o 6 Nações deste ano tem ainda o aliciante de, pelo ranking conseguido pelas equipas, contar para o posicionamento de cada uma no Mundial de 2019. O que é uma mais-valia competitiva.  
A coisa promete e vale a pena retirar as previsões da QBE Business Insurances e que o Guardian publicou para as comparar com as da Rugby Vision: 54% de probabilidades de vitória da Inglaterra contra 26% para a Irlanda, 12% para Gales, 6% para a França, 2% para a Escócia e 0% para a Itália. As previsões para o Grand Slam são de 64% para que ninguém o consiga e de 21% para que a Inglaterra o consiga. No que diz respeito à Triple Crown a probabilidade de que ninguém o conseguirá situa-se nos 45%.
Eis a questão: vitória das previsões e do tratamento sofisticado de dados estatísticos ou João Pinto tem toda a razão e prognósticos só devem ser feitos no fim.

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