sexta-feira, 31 de março de 2017

UM FINAL DE VENCEDOR E UMA FINAL A VER

Dois jogos internacionais da categoria sénior jogam-se amanhã: um, o jogo final do já conquistado 2017 REIC Rugby Europe Trophy; o outro, a final do 2017-U20 XV Men Championship que garante ao vencedor acesso ao Mundial da categoria etária.
Com uma curiosidade no caso da final U20: jogo entre latinos - final ibérica Portugal-Espanha - num também país latino - Roménia. E com resultado incerto. Mas, após o que se viu, com a certeza de que a capacidade de luta dos portugueses será uma constante a que a sorte dos deuses não puderá virar as costas. No entanto como nunca vi jogar a Espanha desta categoria não tenho ideia alguma sobre o que podem valer... e nisto de selecções etárias podem acontecer as maiores surpresas. Veremos... e veremos mesmo a partir das 15:00 horas de nariz colado ao ecrã.
O acesso da selecção portuguesa de sub-20 à final da competição fez-se num jogo muito difícil, vitória por 21-16, contra a Roménia - os últimos minutos foram de tirar o folêgo com uma defesa de grande atitude competitiva em cima da nossa linha de ensaio - e que teve no ensaio de Manuel Cardoso Pinto - um praça-a-praça exemplar que só pode ficar na história do torneio - o seu ponto mais alto. Recepção de um pontapé romeno, já a rolar no chão, dentro da área de ensaio portuguesa e contra-ataque a trocar as voltas a 3 defensores e a lançar-se numa corrida de 100 metros a encontrar os intervalos necessários e a garantir, na velocidade da corrida, a vantagem até à área de ensaio adversária. Um portento de capacidade individual! Um desplante de se lhe tirar o chapéu e guardar em vídeo. Um hino à virtude atacante e um exemplo a seguir: se há uma hipótese, usa-se! Ensaio! O objectivo essencial do jogo.
Mas a jogada é também um pequeno aviso sobre a perseguição de pontapés: como em todas as circunstâncias do jogo de rugby é necessário uma organização que permita a melhor adaptação ás possibilidades adversárias de exploração da situação. E os romenos não souberam montar essa organização - como modelo pode estabelecer-se que a equipa se deve organizar com 2 perseguidores que "atacam" o espaço da bola, outros 10 numa primeira linha defensiva e que, sem adiantamentos, procuram ocupar terreno, lateral e verticalmente, por forma a não abrir espaços e a não facilitar a colocação em jogo dos adversários pelo contra-atacante portador da bola e 3 outros em defesa profunda para poderem responder, em cobertura defensiva pendular, quer a um eventual pontapé quer a possíveis perfurações dos adversários - que Cardoso Pinto soube muito bem explorar. É também de louvar o espírito da construção da equipa - e conhecendo como conheço os treinadores Luís Pissarra e António Aguilar, sei das suas responsabilidades na exigente atitude de risco - que permite o nível necessário de confiança aos jogadores para explorar aquilo que resulta da leitura realizada. Ler, ponderar o risco e tomar a decisão é a sequência de acção que deve fazer parte integrante do processo de formação de jogadores. Porque será através do desenvolvimento dos processos que permitam o domínio do risco que o rugby português terá maiores capacidades na competição internacional. Principalmente se forem desenvolvidos em simultâneo com o aumento da competitividade interna.
Disto isto, que a sorte nos sorria e a audácia sirva para chegar à vitória.
No jogo da selecção principal não se espera outra coisa que não seja a vitória de Portugal como os nove lugares de diferença no ranking fazem prever, resultando da análise da diferença pontual uma previsão de diferença de 14 pontos no resultado final. De qualquer forma e desde que garantida a vitória, Portugal subirá um lugar no ranking da World Rugby - passará a 23º - trocando o Quénia (23º, 59,28). Jogo portanto de resultado esperado - vitória de Portugal, derrota da Ucrânia - mas que daria jeito que os jogadores portugueses conseguissem ultrapassar a diferença da previsão para atingir uma diferença de 15 ou mais pontos para garantir uma maior pontuação de ranking e, assim, tirar o maior partido da possibilidade de acumulação de pontos. Repare-se que neste tipo de ranking é necessário tirar o máximo partido dos jogos com as equipas pior qualificadas, acumulando pontos, para garantir que os jogos com as equipas mais fortes não provocam perdas demasiado significativas - veja-se a Alemanha que, embora jogando e mantendo-se numa divisão superior à de Portugal, se encontra posicionada em lugar inferior (25º, 58,40) e com todos os jogos do Championship já realizados. 
Por aqui não haverá qualquer surpresa num jogo que deve servir para aumentar os níveis de confiança para a "final" de 20 de Maio contra a Bélgica. Porque aqui, neste jogo-de-barragem, jogar-se-á o desenvolvimento qualitativo do rugby português.

domingo, 19 de março de 2017

TANTOS VALORES PARA UMA VERGONHA

% de Quota de pontos do vencedor estabelece o nível da vitória traduzível pela diferença de pontos marcados
Na última jornada do 6 Nações 2017 e nos jogos França-Gales e Irlanda-Inglaterra a pintura de uma modalidade pretendida como carregada de valores que a distinguem de todas as outras, saiu borrada. E saiu também porque de tanto se falar na excelência dos valores, acabámos por ficar tão embrenhados no conceito - nascido da visão aristocrática de que as regras, somos nós que as definimos e impomos - que não estamos preparados para lidar com as circunstâncias, acabando por encontrar justificações para o injustificável e explicações superiores para aquilo que não ultrapassa a baixeza e a mediocridade comportamental.
O Rugby é um Desporto, ponto! Não é uma escola de virtudes morais e éticas acima de qualquer suspeita como se pode perceber de cada vez que se vai a um campo e se percebe ser a mãe do árbitro a figura mais popular do jogo. É um Desporto e os seus valores centram-se nos valores desportivos: desportivismo, respeito, disciplina, responsabilidade, lealdade. E a solidariedade é um princípio importante a respeitar porque no desporto, como no tango, precisámos uns dos outros para que haja jogo. E por mais que os marketeers se esforcem por vender outros valores especiais e específicos, só nossos, não os reconheço ou consigo encontrar. Neste meu blogue junto à sua marca XV contra XV, uma série de valores que considero integrarem o jogo de Rugby, mas não os considerando como exclusivos - os outros desportos também vivem com eles.
E não há diferenças para os outros desportos? Claro que há, mas essencialmente porque o Rugby tem características próprias que o marcam e formatam e é marcado por um espírito de equipa essencial. Porque é um desporto colectivo de combate! O que faz toda a diferença que determina e exige tipo de comportamentos específicos que garantam a protecção, seja por exageros acidentais ou voluntários, da integridade física dos jogadores em confronto pela bola e pelos centímetros do terreno. E por isso as Leis do Jogo do Rugby estabelecem normas que são diferentes dos outros desportos. Não porque seja "especial" mas sim porque é diferente e porque as suas características exigem que a autoridade do árbitro - para salvaguarda dos jogadores - seja inquestionável. Tão inquestionável como noutros Desportos de Combate...
Ora o que acontece é que esta pretensão de "especiais e únicos" - que se ouve todos os dias - tem servido para desculpabilizar as mais variadas incorrecções e atentados aos valores que devem nortear o Desporto. Como se o mal que produzem tivesse consequências irrelevantes - por terem sido realizadas sem qualquer ponta de má intenção, entende-se. Mas este fim-de-semana internacional foi pródigo na negativa da sua demonstração.
No Irlanda-Inglaterra, Sexton foi, com o árbitro Jerôme Garcés distraído na crença da impossibilidade de deslealdades por parte de rugbistas, um alvo definido pelos jogadores ingleses com o objectivo de lhe diminuirem capacidades (suficientes para fazerem dele o portador da camisola 10 dos Lions) e que se serviram - numa demonstração de falta de desportivismo e respeito - da violência física provocada por placagens fora-de-tempo ou "limpezas" fora das leis. E pouco importa se elas foram "quase em-tempo" ou porque o prevaricador já iria lançado: as consequências são as mesmas e o jogador atingido não viu qualquer protecção à sua integridade física e não é admissível que se permita transformar qualquer jogador em alvo de feira.
Bom exemplo de Garcés e ao contrário destes foi a penalidade marcada à Irlanda por um dos seus jogadores ter placado um jogador inglês que se encontrava no ar. E isto apesar do jogador inglês ter saltado para receber um passe de um companheiro e não estar a captar qualquer pontapé adversário. A lei é clara: um jogador que esteja no ar, isto é, com os seus pés não assentes no chão, não pode ser placado, é intocável. E sendo-o por razões de protecção da sua integridade física uma vez que se encontra fisicamente desprotegido - como aliás sempre que sujeito a placagens tardias - o árbitro francês não teve dúvidas sobre a marcação da falta. Exemplo a reter.
Já no França-Gales as faltas ao desportivismo, à disciplina e ao respeito foram mais do que suficientes para deixar o inglês Barnes - para além de espectadores, dirigentes, treinadores e jogadores - em maus lençóis. Um fartar vilanagem, dir-se-ia. 
O árbitro Barnes esteve mal ao não atribuir ensaio de penalidade favorável a Gales por falta propositada do ponta Vakatawa que só viu "amarelo" - amarelo que deveria ter sido mostrado a Liam Williams por motivo anteriormente semelhante (apenas o "adiantado" provocado por Halfpenny terá sido acidental). O árbitro inglês - de quem tenho a dificuldade de esquecer a trapalhada do França-Nova Zelândia de 2007 em Cardiff - perdeu-se completamente no final do jogo que deverá ter atingido um recorde com os 100 minutos de formação ordenada em formação ordenada por faltas galesas propositadas e que deveria ter tido um epílogo longe dos vinte minutos de "prolongamento" com a marcação de ensaio de penalidade e vitória francesa mais cedo do que veio a acontecer.
Mas os espectadores do Stade de France não foram melhores e deram permanentes provas de má-educação, com demasiado barulho a cada pontapé de tentativa aos postes de Halfpenny. Faltando claramente ao respeito devido e que gostámos de dizer ser apanágio do Rugby.
E que dizer de um jogador francês que terá mordido o braço de George North e de que as câmaras televisivas só puderam mostrar um ângulo - quantos ângulos nos são mostrados para perceber de um pisar de linha? E numa demonstração antidesportiva, na posterior conferência de imprensa, Guy Novés - seleccionador/treinador francês - teve a desfaçatez de insinuar que o galês se teria mordido a ele próprio… Bonito e próprio!
E pior, muito pior, quando um senhor francês - que Barnes considerou "medic" (título que também tenho em diploma passado pela Ruby Union) - e que à pergunta sobre se Antoni estaria afectado por “pancada na cabeça” respondeu afirmativamente mal percebeu que assim poderia substituí-lo - naquele final de formação sobre formação - por um anteriormente já substituído (Slimani) mas, por casualidade, considerado como o melhor pilar francês e que se reaquecia junto à linha. Uma vergonha que tem um nome: fanática vigarice.
Não deixando saudades estes jogos finais do Torneio das 6 Nações violaram o conceito de Desporto que aprendi ainda na infância: é mais honroso uma derrota, por pior que seja, do que uma vitória com batota.
O Rugby, dispensando fanáticos, necessita sim de gente bem-formada e capaz de defender os bons princípios que o integram em vez da defesa acrítica e cega de uma exclusividade de valores para fechar os olhos à realidade dos comportamentos. O que se passou nesta última jornada do 6 Nações 2017, pondo em causa os valores desportivos e a decência que o Rugby exige, não me deixa tranquilo.

sábado, 18 de março de 2017

6 NAÇÕES - PREVISÕES 5ª JORNADA



Nesta última jornada do 6 Nações 2017, não vão faltar motivos de interesse mesmo se a Inglaterra já assegurou o título  - mas ainda procura o Grand Slam e o recorde de 19 vitórias consecutivas - ou se a Escócia, confiante na vitória contra a Itália, olha para um honrosíssimo 2º lugar, sonhando que a França perca mas que Gales não tenha ponto de bónus e que a Irlanda não consiga derrotar a Inglaterra. Resultado último que, ganhando em Paris, também interessa a Gales que, se assim for, será cabeça-de-série no próximo Mundial de 2019. Vale que os jogos não são ao mesmo tempo e temos a possibilidade de fazer as contas com a calma dos intervalos.
Na visita ao Stade de France os galeses - em homenagem ao velho mito dos campos desportivos de que "em equipa que ganha não se mexe" - apresentam a mesma equipa que venceu a Irlanda em Cardiff. Apostando noutro velho mito de que a importância da defesa antecede a do ataque e garante a vitória - assim pareceria contra irlandeses não fora o facto de terem marcado três ensaios - Gales corre de novo o risco de pretender atacar com o hábito confortável de Biggar jogar longe da Linha de Vantagem, possibilitando assim que a defesa avance os seus componentes exteriores e "entale" o ataque. Fieis à ideia que as defesas não permitem ataques exteriores em 1º tempo (Shaun Edwards, dixit), os galeses - esquecendo as suas próprias evidências do contrário - encontram-se divididos entre o velho e previsível estilo das Warrenbals e a procura dos espaços exteriores. E contra franceses que foram formados no deslizar da defesa para, mesmo cedendo inofensivo terreno, imporem uma superioridade numérica capaz de cortar os apoios interiores, Gales corre grandes riscos de ineficácia atacante. E, como habitualmente, Sam Davies, que nasceu para atacar a Linha de Vantagem e fixar defesas, continuará a assistir ao jogo do banco.
Em Dublin, a Inglaterra procurará impôr o seu jogo - hoje mais rápido, com acelerações devastadoras a atacar intervalos - a uns irlandeses que irão precisar de todo o seu tradicional "fighting spirit" para resistir e repetir a proeza feita aos All Blacks: impedir a existência de 19 vitórias consecutivas entre equipas do Tiers 1. 
Sabendo-se que as maiores dificuldades inglesas estão - como se viu em Itália -  na adaptação a algo de novo ou diferente do habitual, fica a curiosidade de saber qual a surpresa táctica que os comandados de Joe Schmidt irão apresentar. Ou veremos a superioridade inglesa crescer com ataques sistemáticos ao canal de Sexton, desgastando-o e retirando-lhe lucidez atacante para aplicar as suas desequilibradoras "dobras"? De qualquer forma, um combate com bola oval a mediar.
Seja como fôr, os jogos vão garantir um sábado na frente da televisão. Entre as 12:30 e as 18:30 o rugby vai comandar e o almoço vai confundir-se com um lanche. Sandes portanto.

quinta-feira, 16 de março de 2017

DE OLHOS NO JOGO DECISIVO

Num jogo que não pode - pela diferença notória de capacidades - ser qualificado de competitivo, o XV de Portugal, sem recorrer a qualquer dos seus membros da "armada profissional", venceu a Moldávia por 59-0 com a marcação de 9 ensaios. No entanto e pese a vitória e a diferença "de 15 ou mais pontos de jogo", Portugal não somou quaisquer pontos - porque, jogando em casa, tem uma diferença de dez ou mais pontos de ranking sobre o adversário - e o jogo serviu para pouco.

Dos nove ensaios marcados apenas um - o 3º - mostrou o caminho daquilo que devem ser as preocupações do modelo português: apoio e continuidade em velocidade, ataque aos intervalos, mudanças de ângulos de linhas corridas com passes em carga (off-loads) e rapidez na reciclagem e relançamento. A jogada começou no 1/2 campo de Portugal e teve 3 fases - qualquer delas sem paragem que permitisse a reorganização defensiva - com 3 ultrapassagens da Linha de Vantagem (verticalidade portanto e não jogo lateral) e 12 passes com a particularidade da equipa se encontrar com 14 jogadores. Mas foi a única genuína construção - o restante dos ataques bem sucedidos foram mais por culpas da (des)organização defensiva dos moldavos do que da construção portuguesa - porque, verdade seja dita, a Moldávia - basta saber a forma como constituiu a equipa - não tem qualquer nível competitivo no rugby. E houve ainda muitas falhas - sempre que a necessidade do jogo obrigava a acelerações eram visíveis as dificuldades técnicas de execução ou de abertura de linhas de passe eficazes - e demasiadas penalidades. Ou seja, sempre que se pretendia sair do conforto habitual que nos proporciona o nosso campeonato, havia falhas - como demonstra o facto de, na quantidade de posse da bola, ter havido apenas uma diferença de 10% - Portugal com 55% e a Moldávia com 45%.

Para além de picar o ponto no calendário, o jogo não serviu para mais nada - não por culpa da equipa portuguesa e dos seus jogadores mas porque o adversário a nada obrigou que preparasse a nossa selecção para maiores exigências. E era bom que não fosse assim. Porque desenganem-se aqueles que julgam que estamos a fazer uma época formidável: não estamos! Estamos apenas, se não deixarmos que o fumo da percepção se sobreponha à realidade, a fazer uma época normal plena de resultados esperados - 83%, conquistando, com as 6 vitórias conseguidas, 4 posições e 4,58 pontos de ranking -  com excepção do resultado contra a Bélgica em Novembro que, de acordo com a teoria, terá sido um resultado inesperado uma vez que a obrigação de vitória, por mais elevada pontuação no ranking e na altura, estaria do lado belga.


Mas a vitória tem, para além da pouca coesão mostrada pela equipa belga, uma explicação que retira o inesperado da situação: a Bélgica jogou, nas duas épocas anteriores, nesta mesma III categoria e, por isso, o seu nível estabeleceu-se alinhando por baixo; Portugal chegava com outros hábitos - anos da categoria acima - e outras capacidades. E a diferença foi, inicialmente, evidente, chegando para uma vitória por 26-21 mas com um último quarto de aflitos e sem marcação de pontos na 2ª parte. E a 20 de Maio vai ser diferente: a Bélgica com hábitos mais competitivos (mesmo se só com derrotas) e Portugal com um nível de hábitos mais baixo (mesmo se só com vitórias) e portanto com prováveis maiores dificuldades para suportar o ritmo de um jogo decisivo. O que significa a necessidade de criar condições que permitam uma presença ao mais alto nível das capacidades competitivas do colectivo da selecção portuguesa no provável jogo de barragem em Bruxelas. O que exige atenção e, muito provavelmente, alterações por forma a libertar jogadores das suas obrigações com os clubes.

O australiano Eddie Jones, treinador da Inglaterra, deixa o recado:"Podem jogar rugby pelo clube 365 dias por ano mas o rugby internacional é mais rápido, tem maiores acelerações, a velocidade de corrida é superior e é preciso recorrer a formas diferentes de treino para o rugby internacional". Este conceito, embora dirigido ao nível mais elevado da competição internacional serve, na sua relatividade, para qualquer dos níveis - o nível internacional é sempre superior ao nível competitivo interno. E é por isso que os jogadores portugueses sempre que necessitaram de acelerar cometeram erros técnicos - gestos desadequados - e tácticos - má posição, má linha de corrida ou mau tempo de chegada. E para o modificar é preciso tempo de treino disponível. Para bem do rugby português porque, como afirma o capitão, Seam Armstrong, da selecção alemã: "A única maneira para ter sucesso a curto-prazo [no desenvolvimento da modalidade] é ter uma selecção nacional que empurre e eleve o perfil da modalidade." Ou seja e ao contrário daquilo que o sistema desportivo português procura impôr: que se desenvolva a qualidade primeiro para poder atingir, posteriormente, a quantidade. Como é aliás procedimento normal em qualquer actividade que procura alargar a sua influência.

Agora falta apenas um jogo do grupo contra a Ucrânia que se tem mostrado como a mais fraca das equipas deste grupo - com 20% de quota de pontos marcados e 6 ensaios a favor contra 23 sofridos, contra 40% de quota de pontos marcados e 13 ensaios a favor contra 20 sofridos da Moldávia - e que nos deve preparar para o jogo mais importante da época a 20 de Maio - provavelmente contra a Bélgica a quem não se vê possibilidades de derrotar a Espanha em Madrid e em jogo que deve ser atentamente analisado - e libertarmos-nos de vez desta inacreditável III divisão da Rugby Europe. Porque estar aqui e nestas companhias, não nos serve, nem para o desenvolvimento, nem para aumentar a atractividade do nosso rugby.

Aliás a Rugby Europe tem, forçosamente, de olhar para o estado de não-competitividade destes grupos abaixo do Championship - não têm qualidade e provocam distorções óbvias no sistema de ranking. Não por o método adaptativo do ranking estar errado mas sim porque as competições são, para algumas equipas muito desequilibradas - e não basta a preocupação a exigir a abertura da porta do 6 Nações. É preciso, para que o rugby europeu se desenvolva competitivamente e não através de números de primária caça ao cheque, reformular muita coisa, utilizando leis e conceitos desportivos e não meros passos de marketing - como é possível considerar que uma equipa que, no ano em que se encontra na IV divisão europeia, pode, pelo menos no plano teórico, ter acesso ao Mundial? Só a brincar, só para obrigar a mais um jogo de resultado esperado, só para perder tempo sem ganhos para ninguém! Porque para desenvolver o interesse pelo rugby vale 80 minutos sem continuidade!

Como se pode ver no quadro seguinte, uma equipa como Portugal e na III divisão consegue, com as mesmas 4 vitórias, mais pontos de ranking do que equipas em níveis superiores. E no caso das últimas classificadas, a situação é idêntica: quanto pior o nível maior o número de pontos perdidos. Alguma coisa está mal e, repete-se, não é o método mas o desequilíbrio competitivo.

Ora esta situação e as suas consequências devem ser analisadas e servirem de base para as alterações necessárias, dando aos grupos um superior equilíbrio competitivo com as vantagens do aumento do interesse do público. Como aliás o desporto americano tem demonstrado ao longo dos anos.

Conclusão: O European Trophy é, ao nível do rendimento desportivo, um desastre e não ajuda nem ao desenvolvimento nem à atractividade do rugby português e, pelo contrário, contribuirá, se não lhe fugirmos, para a sua degradação e desinteresse. A ideia do rugby como convívio não é desinteressante desde que, como descobriram todas as principais potências rugbísticas, dentro do campo a qualidade dos jogadores e das suas acções se imponham. Como também se sabe, não há desenvolvimento sem resultados - a qualidade é prioritária sobre a quantidade como resulta da evidência de qualquer sucesso - e assim é necessário que ultrapassemos esta fase tão rápido quanto possível, isto é, que a Selecção de Portugal vença o jogo de barragem do próximo dia 20 de Maio. O que exige que sejam criadas as condições necessárias para que a equipa não perca esta oportunidade de relançamento. Porque o rugby português não resistirá muito tempo à manutenção na III divisão. 


sexta-feira, 10 de março de 2017

PORTUGAL-MOLDÁVIA, 4ª JORNADA DO RET

Depois de ultrpassado adversário principal, a Holanda, restam ao XV de Portugal dois jogos contra adversários que não têm hábitos competitivos de nível semelhante ao que os portugueses têm nos últimos largos anos. E essa falta de hábitos vai fazer toda a diferença para a construçãodo resultado final.
A partir da vitória sobre a Holanda os jogadores portugueses devem começar a preparar, vencendo sem margem para dúvidas quer em resultado, quer em exibição, o jogo de barragem de 20 de Maio que decidirá da subida à II divisão - lugar onde devemos pertencer - ou da manutenção nesta pouco competitiva e desinteressante III divisão.
O jogo de hoje, inserido na 4ª jornada do Rugby Europe Trophy, contra a Moldávia que não tem nem tradição nem resultados da modalidade, é uma clara manifestação desse desequilibrio: seja qual fôr resultado da vitória, Portugal não obterá qualquer ponto para o ranking da World Rugby. Porque, jogando em casa e no conceito adaptativo que constrói a pontuação e tendo mais de dez pontos do que o adversário, tem a obrigação de vencer sem qualquer prémio. 
E isto é, tendencialmente, o que se irá passar entre equipas habituadas ao nível competitivo próximo do Tiers 2 e as habituadas a qualquer coisa como o Tiers 4. Jogar sem prémio mas pagando caro, muito caro, qualquer distracção. O que significa que não sendo a III divisão Europeia qualitativamente competitiva, estar lá significa a habituação à mediocridade. Ou seja, a jogar um rugby que se apresenta como simpaticamente social mas não vale desportivamente - porque desporto é superação e não o arrastar pausado das formas do jogo.
A diferença entre as duas equipas pode ver-se nestes dados: Portugal tem 75% da quota do somatório de pontos marcados e sofridos em pontos marcados com 2 pontos de bónus atacantes, enquanto a Moldávia só atinge 52% da quota e 1 ponto de bónus atacante e outro defensivo. Por outro lado Portugal marcou 12 ensaios sofrendo apenas 3 e a Moldávia embora com 13 ensaios marcados sofreu 11. Situações que mostram a superioridade portuguesa e que deve ser mostrada em campo  dando a entender o crescimento e progresso da equipa depois dos jogos realizados e que tem a origação de garantir uma coesão colectiva superior.

O XV de Portugal tem, assim, obrigação de ganhar e impôr uma superioridade que demonstre a sua capacidade de se encontrar no patamar superior. O que significa que se espera uma vitória com uma diferença de cerca de 40 pontos - a diferença resultante do algoritmo não tem em conta factores como experiência e hábitos competitivos. Para o que é preciso jogar de acordo com os Princípios Fundamentais de Avançar, Apoiar, Continuar e Pressionar a que se devem acrescentar sub-princípios como Velocidade, Comunicação, Reacção e Adaptação. 
A responsabilidade que os jogadores da selecção nacional têm em relação à comunidade rugbística portuguesa é relevante - é com a sua demonstração de capacidade técnico-táctica e de querer que o rugby português pode resituar-se e desenvolver. Vitórias apenas sem mostrar perspectivas de melhoria qualitativa e competitiva não servem para nada no quadro em que nos situámos. É preciso mais e é nisso que a equipa deve apostar.

quinta-feira, 9 de março de 2017

4ª JORNADA DO 6 NAÇÕES

Dois jogos da 4ª jornada do 6 Nações, estarão sob todas as atenções por razões diferentes. Em Twickenham, os ingleses tentarão tudo que os conhecimentos de Eddie Jones permitam para vencer e igualar os All Blacks no número de 18 vitórias consecutivas contra equipas do Tiers 1. E embora não exista qualquer possível comparação entre o jogo que cada uma das equipas apresenta - sendo o dos neozelandeses muito mais interessante, dinâmico e inteligente. O facto é que dependemos todos dos escoceses para não ter que ouvir ou ler a prosápia inglesa que nos cairá em cima caso atinjam a vitória pretendida. 
Em Cardiff, Gales tem uma tarefa difícil contra os irlandeses. Howell decidiu manter a mesma equipa que perdeu com a Escócia na anterior jornada. Apesar da tese que apresenta - do tipo: a confiança que tramsmitimos aos jogadores mantendo-os na equipa e possibilitando-lhes reabilitarem-se perante o seu público vai levá-los a superarem-se - a decisão não parece das melhores nesta aposta na reputação mais do que na actual capacidade de cada um e tem feito correr muita tinta. Há até quem diga que a preocupação maior parece ser a de dar a North a possibilidade de garantir a sua selecção pelos Lions mas, pelos seus demasiados erros defensivos, o prejuízo tem sido para a equipa galesa. E o que está em questão é a necessidade - para evitar idêntico "grupo da Morte" como em 2015 - de garantir uma posição no ranking da World Rugby dentro dos 8 primeiros classificados. E a coisa está rés-vés com argentinos à espreita. 

Como mostra o quadro e se a vitória da Inglaterra parece, no campo das previsões (87,9% das probabilidades da Rugby Vision do neozelandês do MIT, Niven Winchester) incontestável, já o jogo Gales-Irlanda se apresenta com um grande equilíbrio. Um autêntico jogo de tripla com as equipas muito equilibradas em diversos aspectos como se pode ver no gráfico.


Do passado sabe-se que estas duas equipas se defrontaram neste actual 6 Nações por 17 vezes com 6 vitórias de Gales, um empate e com 10 vitórias da Irlanda. Do presente 6 Nações, Gales tem uma vitória e a Irlanda duas. A quota de pontos marcados no total da soma de pontos é de 52% para Gales e de 69% para a Irlanda. O que, dando vantagem aos irlandeses, puderá ser reduzida pelo factor casa e pelo tecto fechado do estádio - tanto quanto se sabe, assim será - que permitirá que as vozes de apoio retirem compostura aos visitantes. A ver. 



domingo, 5 de março de 2017

PREPARAR O RETORNO

Ao vencer a Holanda por 26-10, o XV de Portugal cumpriu as melhores expectativas: vitória contra o principal adversário; 4 ensaios marcados e um ponto de bónus; mais de 14 pontos de jogo com maior número de pontos de ranking conquistados, atingindo agora os 58,88.
Comparação ao longo de 5 anos entre as duas equipas incluindo já o último resultado
ou os pontos nos iii
Com esta vitória Portugal coloca-se em primeiro lugar do Grupo da RE Trophy 2016/2017 e afirma-se como principal favorito a disputar a subida - o retorno - ao RE Championship uma vez que os dois jogos que faltam - Moldávia e Ucrânia - são contra equipas que não têm os hábitos competitivos que a selecção portuguesa tem.
Estão, portanto, os dados lançados com tendência para mostrarem a melhor face para Portugal.
No entanto, mesmo com óptimas perspectivas, é avisado não embandeirar em arco: o jogo de "barragem" - provavelmente contra a Bélgica e em casa desta não vai ser fácil e exigirá preparação cuidada e adequada. Porque o último classificado sairá de uma divisão de maior nível competitivo para jogar contra o nosso actual hábito de jogos de menor nível qualitativo e de menor combate. E fazer a aproximação exige muito trabalho, muita focagem e, até, muita resiliência. O mesmo se passará com o nada fácil percurso para o Mundial 2019.
O objectivo está aí, à vista de todos, e obriga à melhor atenção e alinhamento: desde à organização ao treino para garantir a coesão da equipa necessária à vitória. Tudo com uma estratégia pré-estabelecida, sem últimas da hora e, principalmente, sem esperar qualquer milagre como a moda parece ter introduzido na linguagem formal. Porque apesar desta vitória, o rugby português continua com um campeonato pouco competitivo e longe das exigências da competição internacional de melhor nível e sempre com enormes dificuldades para conseguir juntar os seus melhores jogadores em tempo útil para constituir uma equipa coesa para além das dificuldades existentes na adaptação de treinadores e jogadores aos desenvolvimentos do jogo. E, ainda e sempre e como se pode ver no quadro comparativo, com dificuldades na compleição física o que exige um desenvolvimento de técnicas e tácticas que possam contrariar o poder físico dos adversários. O que exige tempo e disponibilidade competitiva.
Comparação da compacticidade por posições das equipas 
apresentadas por Portugal no Trophy 2016/2017 
e comparadas com a equipa da Geórgia que disputou o Mundial de 2015
Este resultado conseguido por Portugal mostra-nos aspectos que valerá a pena analisar. Em teoria - como o valor obtido pelo algoritmo utilizado  para a previsão e com base nas classificações do ranking demonstra - o resultado deveria mostrar grande equilíbrio entre as duas equipas mais fortes deste Trophy. Como explicar então a grande diferença - o mínimo de 15 pontos de jogo de diferença significa para a World Rugby uma vitória sem margem para qualquer dúvidas - conseguida?
Antes do mais este jogo fez voltar uma dúvida não esclarecida e que voltou com intensidade: como foi possível a derrota na Alemanha por 50-27? Que desleixos a podem explicar: organizativo? preparação do jogo? constituição da equipa? preparação do futuro? Que inconsistências existiram? que falhanços se sobrepuseram? Sejam quais forem as razões que nunca foram suficientemente analisadas por quem o deveria fazer, a consequência está na disputa deste Trophy contra equipas que estão longe de nos preparrarem para os combates que pretendemos realizar.
A explicação desta vitória e dos seus números só pode ter a ver com os percursos anteriores das duas equipas e com o evidente desequilíbrio existente entre os diferentes Tiers - desequilíbrio que afecta também a precisão das previsões, colocando problemas de difícil resolução ao nível do algoritmo utilizado. Desde há dezena e meia de anos que as duas equipas seguiram caminhos diferentes e deixaram de se encontrar: Portugal passando a jogar com equipas de nível superior; a Holanda, em baixo, jogando com os níveis onde hoje se encontra. E isto faz toda a diferença! Porque os hábitos competitivos são essenciais para garantir a capacidade competitiva e Portugal aproveitou muito bem essa capacidade para se impôr.

Por isso urge aproveitar a oportunidade - criando e desenvolvendo as necessárias condições - que temos aberta à nossa frente para garantir o retorno ao nível superior. Porque se assim não for, limitaremos o nosso rugby a vitórias de pouco significado que, por muitas que sejam, só servem a propaganda e não o desenvolvimento. Nem a nossa participação internacional...

DESAPARECIMENTO DE POST

Por um qualquer erro que cometi apaguei a página sobre o jogo Holanda-Portugal a contar para o Rugby-Europe Trophy 2016/2017.
Como não tenho forma de recuperar o texto - que falava das hipóteses de Portugal mesmo se o algoritmo utilizado previa a vitória da Holanda por 1 ponto de diferença e levantava a questão (que o algoritmo não contempla) de qual a maior importância para a construção do resultado final: se a habituação - mesmo tendo descido na última época - de jogar a nível superior dos portugueses ou se  o momento de subida holandês mas realizado a baixo nível?
Deixo aqui os gráficos então apresentados como o da previsão da diferença de pontos no resultado final e que comparam as duas equipas quer pelos resultados no Trophy, quer ao longo dos últimos cinco anos

Previsão da diferença de resultado com base nos rankings da World Rugby. 
A vantagem  holandesa reside no factor casa

Comparação das duas equipas pela prestação competitiva no Trophy 2016/2017

Comparação das duas equipas ao longo dos últimos cinco anos pala pontuação no
ranking e separação da ordenação das posições no ranking lugares.
Dados retirados em Janeiro de cada ano.


quinta-feira, 2 de março de 2017

EXIGÊNCIA DE MUDANÇA



Estatísticas - Ultimate Rugby 
Com estes dados estatísticos - de enorme equilíbrio - como é que Gales foi derrotado por uma diferença de 16 pontos? Ainda por cima com mais metros percorridos e mais ultrapassagens da Linha de Vantagem? Como foi possível?
Foi possível com erros, com desperdícios, com más decisões e com mais faltas como mostra o quadro abaixo de que resultaram 15 pontos e muita perda de terreno.

Estatísticas - Ultimate Rugby

O australiano Ben Darwin da Gain Line Analytics  sintetiza de forma brilhante e com a frase "O que acontece dentro do campo é apenas um sintoma e não a causa do sucesso ou do falhanço" aquilo que penso dever ser o ponto de vista de qualquer treinador - o que se passa no campo tem razões, positivas ou negativas, de que é necessário perceber as causas. Por este prisma os sintomas demonstrados à evidência por Gales mostram que a equipa não tem a coesão colectiva que as equipas necessitam demonstrar neste elevado nível. Falta de coesão que resulta, por um lado, do sistema de selecção - maior preocupação pelo prestígio passado do que pela capacidade presente (veja-se North ou Faletau) - e por outro pelo método de treinos empregue que parece estar longe daquilo que as equipas mais avançadas utilizam, retirando-lhe, nomeadamente, capacidade física para a totalidade do jogo. E a continuar assim, Gales não conseguirá resultados que satisfaçam a suas pretensões.
Mudança, espera-se portanto. De imediato, no método!
Até porque joga-se já neste 6 Nações o próximo Mundial do Japão cujo sorteio se realiza a 10 de Maio. Assim este torneio europeu constitui a última oportunidade para que os países pré-qualificados - os 12 que se classificaram nos três primeiros lugares de cada grupo do Mundial de 2015 - melhorem as suas classificações no ranking mundial. Porque serão aos oito melhores classificados que serão distribuídos pelos dois primeiros lugares de cada grupo. Ora Gales já tem a experiência do que pode acontecer se não se mantiver nos oito primeiros - caiu no "grupo da morte" com a Inglaterra, Austrália, Fiji e Uruguai, embora qualificando-se, terá aí deixado as energias que não lhe permitiram ir mais além. 
A mudança para garantir vitórias é decisiva - Gales entrou no 6 Nações no 5º lugar com  82,55 pontos e está hoje, à entrada da 4ª jornada, no 7º lugar do ranking mundial com 81,16 pontos, ou seja e após ter perdido 1,39 pontos, com mais 0,59 pontos do que a França (8º) e a mais 1,25 pontos do que a Argentina (9º). E se é verdade que a Argentina, ao contrário da França, não terá jogos para aumentar o seu pecúlio, a margem não é confortável...
... e Gales terá que se apresentar nas suas melhores condições e capacidades - os jogos que lhe faltam são contra a Irlanda e França - para garantir - uma vez que a total dependência de terceiros lhe retira a possibilidade de vitória no 6 Nações - uma posição inicial apropriada - às pretensões no próximo Mundial.

                                       


Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores