sexta-feira, 15 de março de 2024

A VITÓRIA ESTÁ NO RISCO CONTROLADO


 A última vez que defrontámos a Geórgia — Mundial de 2023 — deixámos fugir a vitória encostados ao final do jogo, acabando empatados 18-18. E foi um jogo ingloriamente perdido por erros inadmissíveis — (ver aqui)

Se os Lobos souberem tirar o melhor partido das capacidades técnicas e tácticas do seus jogadores, Portugal pode perfeitamente vencer esta final do REC 2024. 
É sabido que os georgianos têm uma enorme dificuldade em defender contra um Portugal que não use os métodos clássicos de ataque. No jogo do Mundial, Portugal teve índices mais baixos nos pontos críticos do jogo — 48% de posse, 38% de território, 47 contra 71 conquistas da linha-de-vantagem, 7 contra 6 rupturas e ambas as equipas com 2 ensaios. Com poucas falhas na defesa 83% contra 82%, Portugal conseguiu ver-se como vencedor graças à utilização pouco académica do seu jogo de passes.
E é isso: Portugal pode ganhar  — as previsões dizrem que a Geórgia deverá ganhar por 2 pontos de diferença, o que é o mesmo que dizer que o jogo pode cair para qualquer dos lados.
E cairá para o lado dos Lobos se o nosso jogo, tacticamente, se desenvolver de uma forma pouco clássica e com grande movimento. Começando por deixar de utilizar a colisão nos canais imediatos aos reagrupamentos e procurando atacar os intervalos, levando a bola bem protegida para garantir a possibilidade de passes-em-carga ou, se idos ao chão, que a bola seja reciclada muito rapidamente. Ora este tipo de jogo pode levar a que os georgianos tenham que fazer subir o seu três-de-trás, abrindo o fundo do campo para que Aubry possa usar o seu jogo ao pé.De explorar também a rapidez e comprimento de passe de Camacho para variar o ataque à linha defensiva. Depois é tudo uma questão de manter o espírito da variabilidade, alterando as linhas de corrida entre convergentes e divergentes, fazendo dobras e lembrando que o jogo-entre-linhas se resolve muitas vezes com pontapés rasteiros — que, para serem eficazes, devem ser realizados em cima da linha de defesa e pelos intervalos existentes. Não esquecendo nunca que o jogo de rugby se decide pela regra de Henry Graham: uma corrida pela linha-de-vantagem. Ultrapassá-la é, portanto, vital, garantindo o apoio necessário para manter a continuidade do movimento, criando a pressão para que os defensores tenham que tomar decisões fora do seu campo de conforto. E, claro, juntando a todas estas melhores opções tácticas a disciplina necessária para terminar com o excessivo número de penalidades com que têm sido castigados, perdendo bola e terreno.
E que também não de esqueçam, como aconteceu no Mundial, que os pontapés-de-ressalto permitem obter pontos e, se falhados, permitem também, na grande maioria dos casos, a recuperação da bola com manutençao de posição territorial.
No fundo a exigência deste jogo e para que se atinja a vitória obriga a que se corra os riscos necessários sem perder de conta o custo-benefício que cada movimento transporta. Cabeça atenta, boa leitura de jogo, explorar os pontos fracos do adversário. E pôr em campo a vontade de uma atitude vencedora! Bom jogo!

quinta-feira, 14 de março de 2024

DUAS SURPRESAS, UM DESASTRE E A EXPECTATIVA DO CRUNCH

Nesta 4ª Jornada do 6Nações 2024, duas surpresas e um desastre. A maior surpresa terá sido a vitória da Itália — a primeira italiana em casa nos 6 Nações em 11anos — sobre a Escócia numa boa sequência de resultados que indiciam uma melhoria de capacidades a aproximar-se dos 5 poderosos — em Sub-20 a Itália venceu a França em Béziers (23/20) e a Escócia em Treviso (47/14) e no 6Nações deste ano empatou com a França (13/13). Com este resultado a Itália entrou para o grupo das 10 primeiras do World Ranking. 

Outra das surpresas foi a inesperada vitória da Inglaterra sobre a Irlanda — as apostas eram todas no sentido contrário até com comentários do tipo “só se os irlandeses jogarem com 13 jogadores”. Interessante foi o facto de, finalmente!, a selecção inglesa aparecer a jogar um rugby mais solto e menos clássico — chutou em movimento 23 vezes contra uma habitual média de mais de 30 — de acordo, aliás com o que temos visto realizar as suas melhores equipas de clube. E Ford, de novo com um pontapé-de-ressalto, garantiu sobre o final a vitória inglesa pela diferença de 1 ponto.

O desastre pertenceu a Gales que, em Cardiff, só conseguiu resistir aos três primeiros quartos do jogo — encontrava-se a vencer por 24-23 aos 60’… O estoiro físico no último-quarto imposto pelo fortíssimo bloco-avançado francês permitiu ampliar a diferença com a marcação de 22 pontos. Embora, enquanto teve capacidade física, Gales tivesse mostrado momentos interessantes, a crise do rugby galês pós-pandemia, é uma forte evidência. Esperemos que haja breve recuperação organizativa e competitiva.

Como curiosidade do equilíbrio entre as 6 equipas, nesta jornada, qualquer delas teve — naquilo que é cada vez mais a chave do sucesso — mais de 50% de rucks resolvidos em 3 ou menos segundos, mostrando uma nítida melhoria no conceito táctico do contacto e na disponibilização da bola quando obrigados a ir ao chão. E assim o jogo ganha uma maior velocidade com elevados níveis de intensidade. O que só melhora o espectáculo.

Se a França, com a vitória conseguida também mostrou alterações estratégicas — o desapossessamento já não parece ser a prioridade de Galthié — e compositivas — a entrada de Depoortere e Le Garrec abriram novas oportunidades ao jogo francês e muito se conta da sua parte para embaraçar o super-agressivo sistema defensivo inglês procurando a alternância de espaços-livres com a circulação da bola na esperança de que haja, na rush-defence inglesa, um atraso que permita explorar o buraco da perna-de-cão. E será mais um crunch a marcar a rivalidade exacerbada dos dois lados da Mancha e que faz os adeptos dos dois lados passarem esta semana anterior ao Inglaterra-França nas mais diversas congeminações técnico-tácticas através das redes sociais repletas dos mais diversos comentários de treinadores de bancada. Mas lê-los é, para além do interessante confronto de opiniões, uma forma, às vezes surpreendente, de conhecer novas visões do que se possa vir a passar.

Ver o comportamento da Itália em Cardiff será  também interessante — Gales precisa da vitória com ponto de bónus neste jogo para fugir à colher-de-pau (“prémio” para o último classificado) e para ganhar alento na reformulação que está fazendo na sua equipa. A Itália — que venceu em Cardiff na última vez que lá jogou — quererá demonstrar, num jogo de difícil desequílibrio, que já tem direito a ser olhada com o respeito que os últimos resultados lhe permitem exigir. E como uma vitória, ainda por cima se aumentada por um bom resultado nos Sub-20, lhe aumentará a exigência… 

Em Dublin, a Irlanda, mesmo depois da derrota, estará a criar as melhores condições para vencer a Escócia e vencer assim o Torneio das 6Nações de 2024. 

Curiosamente, com estas defesas de subida muito rápida principalmente motivadas para evitar as consequências da rapidez de reciclagem das bolas dos rucks, pede-se por todo o lado que os árbitros estejam atentos ao fora-de-jogo defensivo bem como às entradas laterais dos defensores para atrasar a saída da bola nos reagrupamentos, motivadas pela conquista de terreno dos transportadores antes da sua ida ao chão.

Teremos, tanto quanto parece, belos e equilibrados jogos, neste fim-de-semana em que, domingo, também os nossos Lobos jogarão a final do European Championship contra a Geórgia.


 

terça-feira, 12 de março de 2024

VITÓRIA FEMININA DE CATEGORIA

Houve nítida melhoria na equipa feminina de Portugal.                                                                           

Tendo feito um resultado muito superior ao que lhes era exigido — a Suécia estava no 20º lugar do Ranking feminino da World Rugby com 55,56 pontos e Portugal ocupava o 27º lugar com 44,39 pontos de ranking — uma vez que o normal seria uma vitória sueca por 16 pontos de diferença, a Selecção Feminina de Portugal teve uma notável prestação competitiva. Vencendo por 27-0, a equipa feminina portuguesa conquistou 2,73 pontos e subiu para o 24ª lugar do ranking. O que, convenhámos, é um feito!

Desta vez e pese embora a mais valia da equipa dos Países Baixos, com uma posse em minoria de 44% (o mau de todo foram os alinhamentos com 7 perdas) realizaram 155 passes (contra os Países Baixos apenas 90) que lhes permitiram 19 passes-em-carga (6 contra os Países Baixos) para 6 rupturas (1 contra os Países Baixos) e marcar 4 ensaios (1 contra os Países Baixos) conquistando um ponto de bónus. Dois aspectos tiveram evidente melhoria: o jogo-ao-pé em situação de movimento foi, ao contrário dos 19 realizados contra a Holanda, de apenas 7 e quase todos a colocar grande dificuldade de aproveitamento por parte das defensoras suecas — melhoria nítida!; a outra melhoria esteve na permanente preocupação de atacar intervalos e conquistar, mesmo tendo que ir para o chão, o terreno e ultrapassar a linha de vantagem. Juntando a estes aspectos o factor defesa com 129 placagens numa percentagem de sucesso de 94,5%. E houve uma permanente procura da continuidade de movimento com o apoio a aparecer com a proximidade e ângulos adequados. Muito interessante e com boas perspectivas, melhorando o tempo de reciclagem, de continuar a melhorar. No final, a capitã Daniela Correia — num prémio merecido — foi considerada a “melhor em campo”.

Entrou de novo em acção a Selecção A
— que não são Lobos e assim não devem ser tratados porque não são a primeira equipa de Portugal e os jogos desta equipa também não contam para internacionalizações — para jogar contra uma equipa irlandesa designada como Ireland Clubs e que, pela sua constituição se mostrou tratar de uma equipa acessível e assim, obrigando a um nível de jogo mais elevado do que os habituais, proporcionou, ao contrário do jogo contra a Inglaterra A, uma experiência importante para os jogadores que estiveram dentro de campo e que tiveram ocasião de testar as suas capacidades. No final o resultado ficou 20-17 favorável aos irlandeses num jogo que também poderia ter sido ganho pela equipa portuguesa. E porque o não foi? Porque continuámos a expressar os defeitos que são prática comum no nosso frágil campeonato e que nos levam a não tirar grande partido das oportunidades que o nosso jogo vai proporcionando.
De facto temos uma enorme dificuldade em compreender que a procura da colisão não é (não deve, nem pode ser) uma opção atacante. A colisão é provocada pela defesa para impedir que o ataque cumpra a sua mais imperiosa obrigação: AVANÇAR! E avançar significa que o portador deve procurar os intervalos entre os defensores e, mesmo se obrigado a ir para o chão, deve lançar-se o mais possível para lá da linha-de-vantagem ou, no mínimo, para lá da linha-de-defesa, criando assim e se a bola fôr transportada de forma a não ficar “entalada” entre o próprio corpo e o chão ou o adversário, uma vantagem para a continuidade de movimento pela superioridade numérica e desquilíbrio conseguidos. Aquilo que se vê, vezes sem conta, no rugby português e após reagrupamentos é o lançamento de um jogador, imediatamente reconhecível como transportador, rodeado de dois outros que, esquecendo a exigência de Nun´Álvares de dar preferência à manobra e cumprindo a ordem que se houve campos fora — Chão! Chão! — vai colidir com o adversário mais próximo que encontra na linha defensiva. E assim, perdendo a hipótese de conquistar terreno, de criar superioridade numérica e estabelecer o desequilíbrio defensivo que permite a continuidade de movimento. E perdemos também a possibilidade de uma rápida reciclagem que retira a hipótese de adaptação ao adversário, Para o jogo internacional é decisivo compreender estes princípios tácticos e evitar a provocação da colisão.
Também no jogo-ao-pé continua a ignorância táctica de fazer o contrário da colocação da defesa adversário: comprido se três-de-trás subido, curto se três-de-trás recuado — criando assim os problemas necessários à conquista de terreno que nos permita, ganhando a segurança de terreno na costas, conquistar o terreno necessário para ameaçar a área-de-ensaio adversária. Em vez disso, continuámos a entregar muitas bolas a custo-zero ao adversário…
E se na equipa feminina percebemos ajustamentos tácticos adequados ao jogo de nível elevado, é urgente que as equipas masculinas tenham a necessária compreensão táctica do jogo que lhes permita atingir os objectivos estratégicos que o jogo impõe. E se o fizermos em jogo deste nível o rugby interno depressa compreenderá as vantagens do propósito.

sexta-feira, 8 de março de 2024

6 NAÇÕES COM VENCEDOR?


 Esta 4ª Jornada do 6 Nações 2024 pode definir desde já o vencedor final desde que a Irlanda, não perca o seu jogo contra a Inglaterra em Twickenham. Caso a vitória seja inglesa e como a Escócia não deve perder com a Itália teremos a definição na última jornada.

Nesta jornada os prováveis vencedores são as equipas visitante, havendo até piadas do tipo:”Para que a Inglaterra ganhe é preciso que a Irlanda jogue com 14 ou 13 jogadores…” E se a relação vitórias/derrotas passadas indicar tendências ver-se-á que o jogo mais equilibrado será o Inglaterra-Irlanda embora no fundo as previsões da diferença são praticamente iguais e ficam-se pelos 8/9 pontos.

Mas pode também acontecer que o jovem e em reformulação XV de Gales, jogando em frente ao seu sempre muito caloroso e apoiante público, faça uma surpresa. O cantar inicial do The Land Of My Fathers, dará logo o mote do estado de espírito da ligação bancadas/relvado.

Mais uma vez teremos oportunidade de ver o excelente domínio do jogo, das suas técnicas e das suas tácticas, da Irlanda. E mostrarão o adequado posicionamento da bola nas idas ao contacto com chegadas ao chão com a bola colocada de tal maneira que permite tempos de excelência na sua reciclagem, garantindo a continuidade de exploração do desequilíbrio anterior conseguido. Depois serão as linhas de corrida com a variação das convergências e divergências, dobras para abrir intervalos, passes fora e dentro, tudo a obrigar sempre a defesa a reagir para se adaptar a novas situações que enfrentam. A esta capacidade de ataque à linha-de-vantagem juntam também um jogo-ao-pé de grande consitência a permitir uma boa ocupação de terreno. Enfim, é sempre uma delícia ver estes irlandeses a jogar que se conhecem suficientemente bem — 10, do quinze inicial, jogam no Leinster — para garantirem a coesão necessãria ao sucesso.

Com os melhores jogos a serem jogados em dias diferentes, o fim‑de‑semana do rugby internacional visível pela televisão vai ser uma óptimo tempo de sofá.


quinta-feira, 7 de março de 2024

18 INTERNACIONAIS ANTIGOS ALUNOS HOMENAGEADOS


Os 18 internacionais Antigos Alunos do Colégio Militar

No intervalo do Portugal-Espanha — 1/2 final do European Championship — realizado no Estádio do Restelo a 3 de Março, dia do 221º aniversário do Colégio Militar — os 18 internacionais Antigos Alunos do Colégio Militar — qie se identificavam por uma credencial diferenciada — foram homenageados pelo Presidente da Federação Portuguesa de Rugby, Carlos Amado da Silva. De facto ter 18 Antigos Alunos de uma escola que nem sequer tinha o rugby como uma das suas práticas desportivas traduz, para além de ser um número que coloca o Colégio Militar num dos lugares do topo da tabela de estabelecimentos mundiais de ensino médio, é também uma demonstração da notável e variada formação desportiva do seu programa escolar que permitiu a rápida adaptação à modalidade escolhida.
Ouvindo as palavras de reconhecimento do Presidente que elogiou quer os 18 internacionais quer o Colégio Militar pelo carácter grandioso da relação com o rugby português, receberam, para além de um diploma alusivo ao acto, uma “gravata de internacionais” — que alíás não existia ao tempo destas internacionalizações — enquanto se ouvia pelos altifalantes do Estádio do Restelo o locutor de serviço a dizer o texto que segue:

O Colégio Militar tem uma tradição de elevada formação desportiva que já foi reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional com a atribuição do Troféu COI. Comemorando hoje o seu aniversário que data de 3 de Março de 1803, dia deste Portugal-Espanha, decidiu a Federação Portuguesa de Rugby homenagear os seus 18 Antigos Alunos que representaram Portugal e o seu Rugby e têm o estatuto de jogadores internacionais. São eles:
    • Carlos Pardal
    • Manuel Ponte
    • Luis Matos Chaves
    • Pedro Lynce
    • Luís Lynce
    • Nuno Lynce
    • João Paulo Bessa
    • Francisco Lucena
    • António Duque
    • Carlos Moita
    • Olgário Borges
    • Duarte Lynce
    • Carlos Ferreira
    • Vasco Lynce
    • Ricardo Durão
    • António Moita

Fazem parte ainda deste grupo de Antigos Alunos Internacionais os já falecidos Júlio Faria e José Spínola que recordamos com saudade. Que descansem em paz.

Estes 18 Antigos Alunos internacionais, numa interessante distribuição, representaram os clubes Académica, Agronomia, Arcos de Valdevez, Belenenses, Benfica, Cascais, CDUL, CDUP, Direito, Medecina e Técnico,

Tendo ainda sido quatro deles, Pedro Lynce, João Paulo Bessa, Olgário Borges e Vasco Lynce Seleccionadores-Treinadores do XV principal de Portugal. Para estes internacionais que tão bem representaram as tradições desportivas do Colégio Militar e a qualidade do Rugby Português pedimos uma calorosa salva de palmas.

VIVA PORTUGAL! À VITÓRIA!”


Após o intervalo voltámos para os nossos lugares na bancada para vermos o volte-face de 13-20 para os 33-30 da vitória dos Lobos a garantir um dia de boas memórias.


No final, retorno aos camarotes para a fotografia recordatória do grupo e a terminar num ZACATRÁZ de saudação e lembrança dos já falecidos.




quarta-feira, 6 de março de 2024

UF!!!…


 Uf!!!… que susto… 
Enquanto que a Geórgia fez mais do que lhe competia, ultrapassando com os 38 pontos de diferença conseguida os 26 que lhe eram exigidos, Portugal ficou muito longe da exigência dos 22 pontos que a relação da sua qualificação para com a espanhola estabelecia e justificava. E a exigência a ambas as equipas de uma diferença superior a 20 pontos vem do facto de ser tal a diferença entre os resultados anteriores de ambas as equipas — mesmo com a derrota portuguesa contra a Bélgica e que nos custou 2 pontos — que nenhuma delas somaria, como não somaram, pontos de ranking pela vitória. E se assim era e por se tratar de uma eliminatória sem pontos de bónus, tanto faria ganhar por 22 como por 3 — o que sendo objectivamente verdade mas esquece a necessária demonstração da qualidade que pretendemos ter e que elas se fazem-se em campo. Ou seja: de pouco serve pensarmo-nos formidáveis quando o não conseguimos ser quando devemos.
E a dita juventude da equipa não serve de desculpa… porque o que foi evidente, foi que, para os objectivos estratégicos pretendidos, utilizamos tácticas desadequadas. Que primaram pela invariabilidade, esquecendo que assim não é possível surpreender o adversário que passa a ter uma defesa muito facilitada pela nula necessidade de recorrer à adaptação constante que possibilita erros defensivos que com a previsibilidade mostrada pelos portugueses pouco apareceram — e quando apareceram, deram ensaio: um duplo salto para Lucas Martins — embora levantando dúvidas provocadas por uma infantil comemoração antes do tempo — uma falsa dobra com linha de corrida convergente para José Lima marcar, um falso cruzamento com penetração e um 3x2 para Cardoso Pinto marcar. De resto uma permanente repetição de bloco em colisão curta, directa e esperada e que, por falta de diversidade — há séculos atrás que Nuno Álvares Pereira ensinou que “a manobra deve preceder a colisão” —  não permitiram mais do que 6 rupturas apesar de 29 defesas batidos, em 147 passes e 13 passes-em-carga. Mas, para além da falta de variedade, continua a existir um mau transporte de bola na ida ao contacto, o que faz com que todo o eventual desequilíbrio conseguido, se perca na demora de disponibilidade da bola que permite a reorganização defensiva e assim foram perdidos 15 agrupamentos no chão.

E embora não tenha acesso a estatísticas que o garantam, julgo termos passado demasiado tempo no nosso meio-campo — durante a 1ª parte foi desastroso, mas mesmo no final do jogo voltámos a entregar terreno, não tendo o cuidado de garantir terreno suficiente nas costas para dificultar o ataque espanhol. E sabe-se que o primeiro objectivo no jogo de rugby diz respeito à conquista de território, aproximando-nos da área de ensaio adversária para dificultar a defesa adversária que, ao mínimo erro, se pode ver ultrapassada com elevado custo.

O nosso ataque foi mau! Onde estão as variantes da convergência e divergência de linhas de corrida ou as “dobras” que muito dificultam a adaptação da defesa — muitos passes, muitos passes mas poucas ultrapassagens da linha-de-vantagem também um objectivo imediato da construção em posse da continuidade. E não houve nenhuma dinâmica na conservação — conservar sim, mas cumprindo o princípio fundamental de avançar no terreno — o que deu a aparência de que a defesa espanhola era boa. E não era — apenas 79% de sucesso contra o 93% dos portugueses. Embora com boa percentagem defensiva estivemos muito tempo em “defesa de espera”, não subindo, ao contrário dos espanhóis, com a rapidez necessária à realização de uma pressão efectiva — valeu-nos a incapacidade e a quebra física (o último quarto é a prova-dos-noves) do ataque espanhol. Que, mesmo assim, nos levaram a cometer um enorme erro que possibilitou o 2º ensaio espanhol — a troca defensiva do “abertura” não teve a organização devida a uma formação-ordenada rodada e Camacho ficou contra um 1x2 numa auto-estrada que permitiu um fácil passe-interior e o acesso ao ensaio do ponta espanhol.

E também no jogo ao pé houve enormes erros para além de alguma lentidão do Aubry de que resultaram intercepções, felizmente sem custos. Mas o que mais importa foram os ineficazes pontapés-de-ocupação que cairam sempre nas mãos espanholas e só uma vez representaram algum perigo. E porquê? Por falta de variedade: chuta-se comprido se os últimos defensores estão subidos, chuta-se para o intervalo das duas linhas se os defensores defendem o fundo do campo — isto é, o curto e comprido jogam-se em oposição ao posicionamento da última linha de defesa. E se a inexperiência de Aubry juntamente com a pressão a que está sujeito não lhe permitem aperceber-se da colocação defensiva, que lhe seja transmitida a situação. Porque ele tem pontapé — olá se tem! — para as duas situações. Só precisa de saber variar. Também o jovem e talentoso Hugo Camacho tem que ser ensinado a decidir quando deve correr com a bola antes do passe ou quando deve passar a bola imediatamente do chão. A regra de base é simples: bola rápida, passe rápido; bola lenta, hipótese de corrida para dar espaço aos receptores.

Enfim e apesar da vitória final, um fraco jogo que não impôs a nossa teórica superioridade. E agora são 15 dias para adequar as tácticas à estratégia.

sexta-feira, 1 de março de 2024

PORTUGAL FAVORITO

 

Em teoria e com bases nos resultados que formatam o ranking da World Rugby a Geórgia e Portugal serão os principais candidatos — mais uma vez — para a passagem à Final do Rugby Europe Championship.

Disputando, como habitualmente, a Antim Cup, os georgianos podem contar de novo, depois de terem estado lesionado nos últimos jogos, com Niniashvili o muito dotado três-quartos que jogará à ponta e com Gorgadze o asa habitual. 

Por seu lado a Roménia substitui 5 jogadores na equipa que defrontou Portugal, nomeadamente a totalidade da sua primeira-linha, retornando Dragos Ser à 3ª linha e fazendo entrar o centro Gabriel Pop.

Para além da melhor qualificação no ranking, a Geórgia tem demonstrado, sofrendo apenas 30 pontos e três ensaios, uma excelente defesa traduzível em 94% de eficácia. De facto, a vida da Roménia não se apresenta fácil…

Sendo naturalmente favorito, Portugal — pese embora não poder contar com Betencourt, Storti ou Marta — pode dominar o jogo contra a Espanha se as suas linhas atrasadas souberam aproveitar bem o potencial de jogo que lhes oferece o par de médios dos dois Hugos. Com o melhor tempo médio de 3,64 segundos— embora ainda longe do que deva ser — de reciclagem da bola nos rucks, Portugal, se os seus transportadores de bola souberem colocá-la quer nas colisões, quer na sua ida para o chão, de tal forma que seja possível disponibilizá-la  de imediato e assim melhorar o tempo de reciclagem, então a qualidade do trabalho dos médios irá permitir uma eficácia muito grande às linhas-atrasadas que assim poderão dar azo ao seu talento. E se assim fôr, a presença na final será uma quase certeza uma vez que nas outras dimensões do jogo os Lobos não terão qualquer tipo de dificuldades em, no mínimo, equilibrarem situações com os Leones. Basta, para isso, que a atitude do antes quebrar que torcer seja uma evidência nos 80 minutos do jogo.

Quer a Geórgia quer Portugal, por terem mais de dez pontos de ranking de diferença em relação aos seus adversários, não conquistarão pontos pelas eventuais vitórias mas, se derrotados, perderão ambos os pontos suficientes — como se pode ver no quadro para descerem um lugar e trocarem de posição, respectivamente, com Tonga e Samoa. Hipotética possibilidade, digo eu…

À vitória, Lobos! Boa sorte!

Nota: Aproveitando o facto de 3 de Março de 2024 ser o 221º aniversário do Colégio Militar, a Federação Portuguesa de Rugby decidiu homenagear os 18 internacionais que são Antigos Alunos e que resultam da notável formação desportiva colegial..

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