domingo, 26 de fevereiro de 2012

O PONTO CRÍTICO

No último segundo do jogo Inglaterra - Gales, David Streele, ponta inglês, parecia poder marcar o ensaio que, se transformado, daria o empate à Inglaterra. Menos pelos ajustes os galeses Jon Davies e George fizeram tudo para impedir o toque no solo - não é necessário fazer qualquer pressão (isso só é necessário quando a bola está na área de ensaio e não quando é transportada) - da bola na área de ensaio. O árbitro Steve Walsh não teve argumentos para a decisão; o árbitro assistente, Pascal Gauzere também não. Recurso para o TMO, Iain Ramage, que também disse não ter argumentos.

Escreve David Walsh, Chief Sports Editor, no The Sunday Times de hoje:

O médio de abertura suplente da Inglaterra, Toby Flood, colocou-se para a transformação mas, se bem que as várias repetições sugiram que Strettle possa ter marcado, nem uma prova que o tenha feito. Não há ensaio nem a oportunidade de empate para a Inglaterra.
Ou seja: na dúvida, em favor do réu. No caso, não havendo prova de marcação do ensaio, ganha, como ganhou, a defesa. E o Rugby, mais uma vez, mostrou como se pode procurar a verdade desportiva.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

'TÁ GANHO!

Ganho o jogo, ganha a Triple Crown!
Vamos ao Grand Slam!






[quando se diz que o Rugby é um Desporto Colectivo de Combate é a jogos como este a que nos referimos]

CYMRU AM BYTH!

AS VITÓRIAS QUE INTERESSAM

Nem um nem outro são favoritos, mas podem ganhar.
Em Tblisi a Geórgia (15º IRB) é grande favorito - a diferença de pontos de ranking aproxima dos trinta pontos a diferença dos pontos de jogo -  no jogo com Portugal (24º IRB).  Depois da derrota contra a Espanha, a Geórgia fez 9 alterações (7 nos avançados) e faz jogar 5 jogadores do TOP 14 francês contra o nosso único Julien Bardy. Na equipa georgiana jogarão 11 jogadores de clubes franceses (mais um em clube inglês) contra 8 portugueses a actuar no estrangeiro. Derrotá-los não será tarefa fácil, mas é possível.
A vitória da Geórgia para além dos pontos que acrescentará à sua classificação do Europeu das Nações, nada trará para a sua posição no ranking IRB. Não sendo fácil, a vitória de Portugal traria, para além do prestígio e do clima de confiança que criaria para o próximo jogo ibérico, um bom pecúlio de pontos de ranking com a possibilidade de subir lugares. É uma boa oportunidade: adversário a jogar em casa com melhor pontuação. Vale o esforço.





Esforço (nunca virar a cara), coragem (pôr os olhos e seguir o exemplo de Bardy ajudará a autoconfiança de cada um), sentido do risco e sentido colectivo para criar um todo muito superior à soma de cada um para aproveitar eficazmente todos os desequilíbrios defensivos é a forma de poder equilibrar um jogo difícil do princípio ao fim. Não será fácil mas será possível.
No outro jogo grande do dia só faz sentido a vitória de Gales - claro que sei que estou a ser propositadamente faccioso mas há uma enorme razão que o pode disfarçar: o jogo de Gales é, sem margem para dúvidas, muito mais interessante do que aquele que a Inglaterra consegue produzir . Mas em Twickenham e pelo posicionamento no ranking, a Inglaterra é favorita mesmo com apenas 182 internacionalizações no campo contra 230 de Gales. Mas a vitória de Gales significará a Triple Crown e o passo de gigante para o próximo tira-teimas em terras francesas.



Ganhando Gales, ultrapassada a Inglaterra, atingirá a quarta posição do ranking mostrando-se como a melhor equipa do hemisfério norte - o que realmente é, qualquer que seja o resultado do jogo (adeptos são assim: nunca deixam, como canta Liverpoool, os seus caminharem sózinhos). Ás vitórias!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

FESTAS DAS FINAIS

Com o novo esquema - finalmente que foi aplicado um esquema de disputa da prova a eliminar que não impede as equipas de jogarem competitivamente sem terem que esperar que a prova termine - disputaram-se as finais - como usual no Sevens - da Taça de Portugal no Estádio de Honra do Centro Desportivo Nacional do Jamor. Depois do Portugal-Rússia da semana passada os adeptos voltaram ao Jamor - e, ao que pareceu, com satisfação. O ambiente foi sempre agradável e os jogos tiveram - pesem vencedores anunciados demasiado cedo - razoável interesse.

Agronomia ganhou com todo o mérito - quatro conquistas consecutivas! - e a Académica mostrou em dados momentos o porquê da sua qualificação para a Fase Final do campeonato principal. Na Plate, o CDUL, com uma equipa experimental, venceu com facilidade o Benfica.

As duas equipas finalistas em campo no intervalo da Final da Taça de Portugal: lições do Portugal-Rússia ou hábitos de sempre?


Dois jogos de grande correcção com arbitragem de bom nível mas que, para os mais atentos e pese o aparente movimento de ambos os jogos, não deixaram de mostrar as dificuldades técnico/tácticas que caraterizam o actual rugby português... que só se resolverão com um substancial aumento da competitividade interna.

Situações técnicas de superioridade numérica desperdiçadas por incapacidade de fixação da defesa adversária, dificuldades de leitura da organização defensiva e percepção da localização dos pontos fracos adversários, dificuldades de utilização do apoio de forma eficaz, dificuldades de organização do apoio em tempo justo, demasiado encontrão nas "paredes" defensivas, dificuldades no passe a tempo por falta de domínio da relação espaço/tempo com o adversário directo, jogo ao pé pouco assertivo, jogo no chão lento a libertar a bola sem permitir explorar o desequilíbrio defensivo, são alguns dos domínios que precisam de melhor nível para melhorar e sustentar o nível internacional do rugby português.

Falando em causa própria, foi agradável o retorno, nestes dois fins-de-semana - do rugby ao Estádio de Honra.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ERROS

“Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos.”
Padre António Vieira (1608/1697)

Inexplicável a derrota 32-33 com a Rússia! Trinta e dois pontos marcados, quatro ensaios conseguidos, uma vantagem ao intervalo de 11 pontos, um desastre do início do segundo-tempo e derrota final por um ponto. Errol Brain, treinador principal e concordando que a entrega do resultado se fez no atípico início do segundo-tempo, aponta, numa mistura explosiva, três razões gerais para explicar a derrota: falta de concentração, demasiados erros individuais, não cumprimento do plano de jogo.

E como Portugal poderia ter ganho folgadamente... Ó se podia...

Porque não o fez? Porque teve demasiados “eus” em vez do obrigatório “nós”, pouca e curta equipa no esquecimento da obrigação dos grandes de fazer um todo superior à soma das partes. Porque falhou três-contra-um e três-contra-dois de escola, porque errou na defesa colectiva – nunca vi o recurso ao fixação-contorno (à francesa: cadrage-débordement) ser tão eficaz, para uma e outra equipa, no centro do terreno como neste jogo. E a entrada em campo para a segunda-parte deitou tudo a perder – perda de concentração num percurso demasiado longo para os balneários para um intervalo de apenas dez minutos? Tomaz Morais lembra o seu jogo contra a Roménia e as dificuldades que a distância criou na sua concentração (não tenho experiência nesta matéria, no meu jogo internacional no Estádio Nacional contra a Itália ainda não havia intervalo). Fica a nota para futuro.

“O que não se faz não existe.”, disse Vieira. Os acertos, os passes que não se fizeram, os pontapés que não se deram, as decisões que não se tomaram, não existem. Ou melhor, só existem no depois, na reflexão posterior, porque o antes dos momentos decisivos não nos trouxe o momento dos grandes jogadores mas sim o seu tempo desfasado a perder-se nas periferias do jogo individualista.

O que Portugal precisa é de uma equipa, um conjunto sólido de objectivos e vontades, de momentos sobre momentos entendidos como construção de uma vantagem final arrasadora dos adversários que nos defrontam. Uma equipa que seja muito mais do que o momento que a paixão de um Hino cria – é verdade, a paixão do Hino não cria uma equipa, cria um momento. Nada mais. O resto constrói-se em cada momento, tempo e espaço concreto.

Podíamos ter ganho, podíamos – mas isso pouco importa porque perdemos. E porque perdemos também já pouco importa o erro grosseiro da arbitragem que não atribuiu a Portugal um ensaio-de-penalidade sobre a meia-hora do jogo e na famigerada formação-ordenada em que, a escassos metros da linha de ensaio, Portugal perdeu a bola. Pouco importa porque perdemos mas teríamos ganho!


Foto da transmissão televisiva da SportTV

A formação-ordenada ainda está formada e em avanço no terreno, rodando ligeiramente para melhor garantir o destaque, e a bola – como se pode ver na foto tirada da transmissão televisiva – está ainda no seu interior e junto aos pés de Severino (nº8) que ainda não se destacou. Mas pode ver-se o nº 12 russo já com um pé dentro do terreno-de-jogo, ultrapassando a linha-de-ensaio e colocando-se em posição de fora-de-jogo. Sendo desta posição ilegal que o centro russo vai apanhar a bola, roubando-a à formação ordenada portuguesa que avançava, só há uma decisão possível de acordo com as Lei do Jogo: ensaio-de-penalidade! Coisa que não terá passado pela cabeça nem do árbitro, nem do árbitro auxiliar. Distraídos num erro imperdoável e com tremendo prejuízo para Portugal que, com a derrota, viu a sua pontuação do Ranking IRB baixar - de 59,07 para 57,91 - e ficar cada vez mais distante dos seus adversários directos – nomeadamente da Espanha (de 60,33 para 62,10) que, embora recheada de franceses que não deverão estar já disponíveis para o Mundial de 2015, cometeu a proeza europeia da jornada ao derrotar a Geórgia.     

sábado, 11 de fevereiro de 2012

CONCEITOS TÁCTICOS INTERESSANTES

A França de Saint-André parece ter recuperado algo da cultura rugbística francesa original. Do jogo com a Itália fiquei com a ideia de que a defesa voltava a uma das caraterísticas que personalizavam o rugby francês: subida mais lenta - muito menos desenfreada do que os britânicos - a preparar desde logo o deslizamento lateral para utilizar uma das duas armas usuais, ou fechar o jogo atacante na zona central superiorizando defensores, impedindo a bola de circular até às faixas laterais e fazendo então o ataque defensivo, ou abrir o exterior para encurralar o movimento atacante na zona lateral e impedir a sua continuidade por jogo interior ao mesmo tempo que, com superioridade numérica defensiva, usam a linha lateral para recuperar a bola. Hoje, contra a Irlanda, em Paris, poderemos ter uma melhor percepção sobre se este retorno é real ou casual. Para além, claro, do interesse de perceber como irão os franceses posicionar-se para defender a conquista de território irlandesa pelo seu usual instrumento de jogo-ao-pé.

Embora com favoritismo óbvio dos franceses (com a obrigação de vencer, de acordo com a pontuação do ranking, por 9 pontos de diferença) o jogo vai ter momentos de inegável interesse - o irish fighting spirit pode fazer das suas e surprender alguma presunção francesa.     

Domingo o jogo é outro e mais a meu gosto: Gales, em Cardiff, encontra a Escócia. O favoritismo galês é notório - têm mostrado constituir uma notável equipa de ataque e mais uma vez vamos poder ver a forma como irão explorar os espaços a partir do seu habitual posicionamento de 3+3 - como sempre achei que, ao nível das linhas atarasadas, se defendia em 4+2 e se atacava em 3+3, estou particularmente interessado neste processo e no seu desenvolvimento. 

Do que temos visto, Gales tem oferecido excelentes espectáculos. Nomeadamente porque se tem apresentado numa condição física invejável e que lhe tem permitido manter ritmos de jogo muito elevados e altamente desgastantes - porque também muito variados - para os adversários. No entanto esta subida de nível têm o seu contra na cobiça de que os seus melhores jogadores começam a ser alvo - o que tem levado treinadores a apresentar novas propostas de retenção dos jogadores internacionais em clubes galeses. Para o que começam a propôr que, à semelhança da Nova Zelândia, os internacionais venham a ter, em vez de com clubes, os seus contratos profissionais realizados com a federação. O que, para um país de diminuto campo de recrutamento comparativo, pode ser uma boa solução de consequências importantes para a sustentabilidade da selecção galesa: manutenção do interesse e nível competitivo interno, proximidade e acessibilidade permanente dos melhores jogadores com maiores facilidades para a preparação da selecção principal.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

EXCELENTE OPORTUNIDADE

Jogar em casa contra uma equipa equivalente, melhor qualificada, com mais pontos de Ranking IRB é uma excelente oportunidade que não se deve desaproveitar.

O Ranking IRB tem regras que o tornam muito interessante e com muito bom equilíbrio de interesses: quando a diferença entre as duas equipas ultrapassa, depois de somados os 3 pontos que representam o valor "casa", os dez pontos, só a equipa mais fraca é que pode, ganhando, marcar pontos. Ou seja, não há qualquer interesse em defrontar equipas fracas para ganhar com uma abada - não há qualquer vantagem pontual; só o risco de perder.

Com este tipo de filosofia de dar vantagens ao êxito do mais fraco e obrigações ao mais forte, o sistema da IRB equilibra, num dado intervalo, as diferenças e estabelece que jogar contra uma equipa melhor qualificada, com melhor pontuação, e vencê-la significa um bom roubo de pontos. Porque os pontos que um ganha são os mesmos que o outro perde.

O XV de Portugal (24º lugar com 59,07 pts), jogando em casa contra um adversário melhor qualificado - Rússia (20º lugar com 60,54 pts) - tem uma excelente oportunidade para ganhar pontos e subir no Ranking. Ganhando o jogo pode até subir três lugares - ultrapassando quer a Russia, quer o Chile (59,52 pts) e aproximando-se da Espanha (que não deve ter grandes hipóteses contra a Geórgia) que só será ultrapassada se πortugal vencer por 15 ou mais pontos.


O Portugal-Rússia de amanhã representa assim e como se pode ver no quadro, uma excelente oportunidade para os Lobos subirem no Ranking IRB e ampliarem a diferença para os países do terceiro terço.

Hipótese de classificação futura com vitória de Portugal e derrota da Espanha:

Espanha... 60,11... 21º
Portugal ... 59,92... 22º
(vencendo por 15 ou mais pontos, atingirá os 60,34 pts e chegará à 21ª posição)
Chile......... 59,52... 23º
Russia...... 59,27... 24º

A Geórgia, ganhando como se prevê, continuará na 14ª posição mas com 71,31 pts e, caso ganhe por uma diferença de 15 ou mais pontos, com 71,43 preparando o ataque à posição do Canadá.- equipa que só ultrapassará quando vencer um adversário de superior posição e pontuação, situação que não acontecerá neste Europeu das Nações.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

DIFERENÇAS

Próximo de Bill Beaumont, ouvi-o, inflamado, dizer-me: viste isto? Respondi-lhe que sim e que achava ter sido um gesto gratuito, despropositado e inqualificável para mais num capitão da equipa nacional. Mas também acrescentei, sem retirar qualquer das qualificações, que estavamos mais perante aparência do que realidade.

Falavamos, é claro, sobre a considerada - e assim presumida pelos  cerca de 3 mil espectadores que estavam no Estádio Universitário - cabeçada que o capitão João Correia teria enfiado a um inglês que víamos estendido no campo. Tentei explicar, porque, por mero acaso, estava a olhar para o local durante a paragem do jogo, que o gesto havia sido um estúpido mas mero encostar de cabeça. Mas o antigo capitão da Inglaterra e dos British Lions estava demasiado indignado para encarar a hipótese. E a posição de gloriosa superioridade do velho British Empire também não ajudava - um dos deles estava no chão, a torcer-se e isso bastava para a presunção. Sir Beaumont não queria ouvir mais nada.

No sábado, no Escócia-Inglaterra, o capitão inglês Chris Robshaw encostou a cabeça - igualzinho ao João Correia - ao formação escocês, Chris Cusiter. Nada se passou, ninguém caiu - e julgo que também não terá havido nenhuma particular reacção de indignação por parte de Bill Beaumont. Tão pouco qualquer exigência de verificação vídeo por parte dele ou de outro qualquer inglês assistente ao XV Português - England Students.

A diferença?

A diferença esteve apenas no carácter dos opositores!

Para um mesmo gesto, o escocês comportou-se com a dignidade exigível num momento daqueles - não estremeceu e mostrou ao que estava: para jogar sem se deixar intimidar; para um mesmo gesto, o student inglês comportou-se como um aprendiz de chico esperto da escola da rua e tentou fugir às responsabilidades atirando-se deliberada e dramaticamente para o chão, deixando aos espectadores a convicção do sofrimento de violentíssima repugnante agressão.

Resta o facto. De um gesto desajustado ao espaço desportivo de um campo de jogo o carácter de um e outro dos visados, fez a diferença essencial: João Correia, capitão da selecção portuguesa, está suspenso da actividade de jogador; Chris Robshaw, capitão inglês, vai continuar a jogar e a capitanear a Inglaterra.

Tudo por causa do outro.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

COMPETIR EXIGE EQUILIBRIO

O treinador de Portugal, Errol Brain, já tinha posto a mão na chaga: a competitividade do campeonato português não garante o ritmo competitivo necessário para o nível internacional. E foi essa falta de ritmo que impediu a adaptação dos jogadores portugueses e ditou a derrota contra os romenos.

As más condições de terreno e climatéricas tiveram influência na prestação dos jogadores portugueses? Sendo factores no mínimo desagradáveis – tenho ainda na memória um jogo, final da Taça Ibérica, de há mais de quarenta anos que joguei com o mesmo tipo de condições… - mas nada que prejudique mais uns do que outros. A grande maioria dos jogadores portugueses são cosmopolitas, não são meninos-de-coro, a maioria são ou foram profissionais habituados às mais diversas condições de jogo e treino e muitos deles são já conhecedores de muitos campos do mundo. Não terá, assim, sido esse factor a determinar a derrota.

Aliás aquele terreno – por mais paradoxal que pareça – permitiu que a equipa portuguesa iniciasse o jogo na sua zona de conforto: assentar o seu jogo na defesa, procurando a exploração do erro adversário (com dividendos no ensaio de Aguilar) ou de bolas soltas e das desorganizações colectivas adversárias, procurando ainda explorar o contra-ataque nas entregas do jogo-ao-pé adversário.

Fizemos figura de vencedores – todos acreditamos na possibilidade – até onde pudemos. Perdemos quando o desgaste do acompanhamento dos outros nos liquidou. Falta de ritmo, falta de nível competitivo, falta de hábitos contínuos do nível internacional onde competimos, foi o que foi. Mas, pode perguntar-se: então os jogadores que vêm de outros campeonatos com outros níveis, não resolvem esse problema?

Não, não resolvem porque há um princípio fundamental dos jogos colectivos que eles não conseguem fazer ultrapassar: uma equipa vale tanto quanto o seu elemento mais fraco. E portanto o que vai prevalecer no final é a desvantagem dos menos adaptados. E foi isso que se passou: a partir de determinada altura os romenos tomaram conta do jogo e a selecção portuguesa não mostrou mais capacidade de resposta – quantas vezes nos vimos a passar a linha-de-vantagem? E valeu-nos, deve referir-se, algumas incapacidades romenas sempre que pretenderam sair da área do seu ADN natural.

A conclusão a tirar deste jogo parece óbvia: da falta de bom nível competitivo interno resultam derrotas. Derrotas que nos colocam em cada vez pior posição. E mesmo podendo perceber-se que podemos jogar mais do que os romenos o facto, com os 59,07 pontos do Ranking IRB que contámos agora, é que estamos cada vez mais longe dos actuais 64,21 pontos da Roménia. E cada vez mais próximos dos membros do terceiro terço.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

CYMRU AM BYTH!*

Grande jogo! grande vitória - é sempre agradável que, tendo alguém que ganhar, que sejam os nossos.

Mas a reter, da comunidade rugbistica celta, a entrega, a lealdade combativa e competitiva, a predisposição para o jogo, a atitude de conquista permanente do tempo que permitisse a utilização do espaço de ataque.

De um lado e de outro, passe a alegria da vitória para os nossos e a tristeza da derrota para os outros, a preocupação de jogar e procurar a vitória. Bonito e excelente demonstração do que pode ser um bom jogo de rugby!
*Gales para sempre! 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

REALIDADE E DUAS CONSTATAÇÕES

Realidade. As zonas cinzentas das Leis de Jogo continuam a permitir que sejam os árbitros os maiores construtores de resultados. Não por culpa própria mas porque a falta de clareza na definição do jogo no chão e das suas irregularidades transformam esta área do jogo num espaço de quase livre-arbítrio, i.e. num espaço de presunção interpretativa ao contrário do espaço de aplicação legal que deveria ser. Disto mesmo, da falta de precisão legal e consequente influência das interpretações no resultado final, dei conta ao Raul Martins – representante da FIRA na IRB – e a Bill Beaumont – antigo vice-presidente e actual membro da IRB – com quem assisti ao Portugal-England Students. Mantendo-se a dúvida de pouco vale achar que os árbitros isto ou aquilo. A lei do jogo no chão deveria ser tão clara como isto: jogador placado tem que largar a bola de imediato e só então o placador é obrigado a largar o placado. Acabando-se assim de vez com o mito dos “direitos do ataque” com a pretendida vantagem para garantir a continuidade do jogo – mito responsável por vários erros interpretativos de árbitros, jogadores, treinadores e espectadores. Dir-se-á: mas assim a bola ficará muitas vezes presa entre os dois jogadores. Pode ser, mas pergunto: e a culpa é do defensor?

A prisão da bola no jogo no chão – só no chão existe placador e placado – existe mais por demérito do placado – o portador da bola – do que como resultado da acção do placador. Porque é o portador da bola que a coloca entre os dois jogadores. E chega-se assim a uma primeira constatação e de que o jogo de Portugal-England Students  foi exemplo. A maioria dos jogadores – de ambas as equipas e principalmente na pretensão da passagem em força – transportam a bola na frente e na altura do contacto a bola deixam entre os dois jogadores e a princípio da continuidade fica logo prejudicado. Porque o gesto técnico é errado! Ensina-se, ou deve ensinar-se, que, nas situações de contacto, a bola deve estar sempre afastada do adversário defensor. Dir-se-á que é difícil e que muitas vezes ao fazê-lo se fica numa posição vulnerável. Admito, mas então use-se o gesto técnico, dando as costas, da rotação e da colocação do tronco entre a bola e o corpo do adversário…garantindo, muitas vezes antes de chegar ao chão, a continuidade do jogo através do passe. Situação que, sendo alinhada com o conceito de que “o rugby joga-se de pé”, exige o conhecimento táctico de que a ida ao chão do atacante constitui uma óbvia vantagem para a defesa.

Segunda constatação: o cinco-da-frente e o abertura. A relação entre a capacidade e eficácia do cinco-da-frente e a forma de jogar do abertura pode parecer deslocada mas é directa. Porque se o cinco-da-frente é dominador, o abertura pode jogar quase aonde e como quiser – num sofá, diz-se na gíria; se o cinco-da-frente é dominado a eficácia do jogo do abertura exige a sua posição próxima da linha de vantagem para evitar a 3ª linha adversária, manter os intervalos na defesa e diminuir o tempo para deslizar dos defensores (lembre-se a França mundial que com a consequência da vantagem conseguida pelo cinco-da-frente ia quase , embora com pouco jogoquase ia ganahndo a prova...). No jogo de Portugal de sábado passado com um cinco-da-frente dominado e um abertura colocado na posição clássica da conquista de terreno pelo jogo ao pé, só a ingenuidade dos três-quartos ingleses é que permitiu o brilho de umas quantas jogadas de circulação da bola.

Vejamos: com a posição recuada de Ricardo – incapaz de atacar a linha de vantagem e lançar a sua gente – foi a desenfreada corrida dos defensores ingleses que criou os carris da sua própria fixação e não o posicionamento, tempo de passe ou linhas de corrida dos portugueses que, no caso, se limitaram a explorar a oferta - mas que é rara no nível internacional onde Portugal compete.

Por outro lado a menor capacidade do cinco-da-frente português exige, para o nível de jogo onde estamos inseridos, uma terceira-linha de grande raio de acção, rapidez e poder de choque para garantir a recuperação de bolas e possibilitar o lançamento do contra-ataque. E isso exige Julien Bardy e outros parceiros do mesmo nível – não chegam jogadores de perímetro curto. E exige também um abertura de boa leitura e capacidade de jogar na linha para além de jogadores lançados em velocidade e com linhas de corrida de ruptura. Não tendo sido isso, fora das aparências, que vimos a selecção portuguesa fazer, espera-se com curiosidade o jogo de hoje.      

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