quarta-feira, 30 de novembro de 2016

UMA OPORTUNIDADE


No primeiro jogo que fez com o então recém-chegado Brasil há três anos em S.Paulo, Portugal venceu por 68-0. Hoje o Brasil terá mais experiência e terá jogadores mais aptos para o nível internacional - provavelmente o facto dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 terem voltado a ter Rugby, embora Sevens, terá tido influência na adesão à modalidade - pelo menos houve diversos programas escolares para dar a conhecer o jogo à juventude brasileira. E também o Brasil, como país anfitrião, esteve presente na prova olímpica e o entusiasmo dos familiares que conheci - principalmente das mães - era enorme, numa clara noção que os seus filhos tinham participado num momento histórico.
Mesmo com tudo isso Portugal é favorito - por mais experiente e com um passado mais habituado a estas andanças da competição internacional - e tem a obrigação de ganhar o jogo sem margem para dúvidas. 
O prognóstico possível através do ranking da World Rugby a que se acrescenta o índice diferenciador de grupos aponta para uma vitória de Portugal por 23 pontos. O que significa que um resultado entre 20 e 30 pontos de diferença pode ser considerado normal, um resultado superior a 30 pontos é um bom resultado e um inferior a 20 pontos começa a poder ser considerado como resultado fraco. Tudo isto baseado no ranking e no percurso que as equipas têm feito e na qualidade dos adversários defrontados.
Portugal tem 29% de vitórias - contra 18% do Brasil - mas, com excepção da comum Alemanha (o Brasil perdeu, há semanas, os dois jogos por 16-6 e 36-14), defrontou adversários mais qualificados. O que, depois, se traduz na razão da diferença prevista. Mas mesmo que Portugal ganhe pelo resultado previsto ou superior, não conseguirá ultrapassar os 58,99 da acumulação germânica que se encontra posicionada no lugar imediatamente superior (24º) aos portugueses.
Este Portugal-Brasil é uma excelente oportunidade para fixar e consolidar processos e garantir a confiança necessária para jogar de acordo com o que está na sua frente. Ser permanentemente reactiva, atacando pontos fracos e lançando os fortes, é o que se pede à equipa portuguesa num jogo em que a pressão é diminuta e apenas exige uma vitória capaz.
Nota: para tristeza dos nossos pecados - Pergunto aos deuses nos céus/ Todos me dizem que é só/Má fortuna e erros meus. - começa este fim‑de‑semana o World Rugby Sevens Series 2016-17 no Dubai e sem a presença portuguesa. Tenho pena!


terça-feira, 29 de novembro de 2016

SÓ NO FIM


Apesar de tudo os resultados da Rugby Vision foram bem melhores do que os  conseguidos pela utilização directa dos valores da World Rugby (realidade das coisas: o recurso aos dados da Rugby Vision durante a World Cup 2015 proporcionariam um ganho de 11% a um apostador que os tivesse utilizado)
O Desporto, e, portanto o Rugby, tem esta coisa extraordinária: o único algoritmo que permite previsões fiáveis é a equação de João Pinto - Prognósticos só no fim!
E, por isso, as previsões anteriormente aqui publicadas estão longe da realidade. Mas esse facto não retira qualquer importância ao conhecimento das métricas estatísticas que servem, essencialmente para perceber razões e áreas de fraqueza ou de força que têm de ser trabalhadas ou utilizadas para que a equipa se aproxime dos níveis que garantam eficácia e confiança - dois elementos importantes para a desejada construção da coesão da equipa.
A realidade é esta: é dentro do campo com os jogadores, mesmo com a enorme importância que têm os treinadores na preparação estratégica e táctica, que o jogo e portanto o resultado se constrói e se determina. Um segundo mais cedo ou mais tarde, um metro antes ou depois, um angulo mais aberto ou mais fechado de um pontapé ou de uma corrida fazem toda a diferença no resultado final. Tudo incógnitas antes de acontecerem e que dependem da leitura instantânea de cada jogador que, quando se comportam, como gosta de sublinhar Spiro Zavos, como membros de uma orquestra sem maestro mas capazes de sincronizar os naipes, conseguem coisas extraordinárias e inesquecíveis.
Quem iria adivinhar o disparate do ponta inglês Elliot Daly que a 5´ de jogo placou um adversário no ar, levando à sua própria expulsão e colocando a equipa a jogar um 14 contra 15? E isso marcou o jogo até ao fim: a Inglaterra a jogar a maior parte do tempo em inferioridade numérica e a Argentina - pareceu ao ser vista pela televisão - a esquecer-se do dito do lençol curto que, se tapa de um lado, destapa do outro. Não se viram os argentinos, por má alternância do seu jogo ao pé e jogo ao largo, a obrigar os ingleses a precaverem a profundidade ou a largura da sua defesa, abrindo assim um dos seus espaços - a sensação que ficou foi a de que os ingleses não foram totalmente postos à prova e tuveram tempo para se desmultiplicar. No entanto, deve referir-se que a equipa inglesa foi notável na forma como se foi adaptando às situações provocadas pelas relações diferentes de adversidade numérica que o jogo forneceu. Uma óptima demonstração de cultura táctica.
O melhor resultado deste sábado passado - para além da boa vitória de Gales num jogo pouco interessante mas onde parece ter finalmente desaparecido a Warrenball- terá sido o consreguido pela Irlanda. E o pior pela França.
A Irlanda deu de novo uma demonstração da qualidade técnica dos seus jogadores e do seu tradicional fighting spirit a fazer jus ao seu mote de "quatro regiões, uma só equipa". Com mais posse de bola (58% contra 42%), menos metros percorridos para as mesmas rupturas defensivas, a vitória da Irlanda traduz-se na coesão que permitiu uma maior disciplina e menor número de faltas (3 contra 13) e com a pressão necessária para arrancar 2 amarelos aos australianos. A vitória irlandesa abre mo róxióptimas expectativas para o próximo Seis Nações e chama, com os resultados conseguidos nesta janela de Novembro, a atenção para o facto, provavelmente inédito, de as duas Irlandas terem, no caso do Rugby, apenas uma equipa representativa, juntando ombro com ombro jogadores oriundos de ambientes culturais distintos mas capazes da união de combate. O que, como modelo, é único e matéria de reflexão.
A França foi desastrosa! Teve vantagens na grande maioria dos factores-críticos transformadores: 17 a 6 nas rupturas defensivas, mais metros percorridos e mais ultrapassagem de defensores, mais passes em carga e 93% de placagens efectivas contra 84% dos adversários. Mas no final a França perdeu 3-1 nos ensaios. Do lado da Nova Zelândia a vitória assentou numa notável recuperação da quantidade da posse de bola, passando de 39% da 1ª parte para 50% no final do jogo e com menor número de erros no jogo à mão (9 contra 20), portanto com uma maior eficácia. E um sentido de oportunidade devastador - um ensaio na primeira posse, uma intercepção a explorar a lentidão de um passe longo.  Apesar de se tratar de um último jogo de uma época arrasadora - os AllBlacks substituíram 707 internacionalizações sem que os resultados se ressentissem - tratou-se de mais uma demonstração das vantagens do domínio dos gestos básicos e do conceito de utilizar temporariamente uma camisola com a obrigação de a deixar melhor colocada.
Quanto aos franceses, melhorando aparentemente - de início pareciam mostrar-se capazes mas falharam na finalização por precipitação ou atraso no apoio ou ida ao chão a parar todo o movimento nos um, dois metros da linha onde tudo se decide. Mas deixaram, no passe de "chistera" (como gostam de o designar) do formação Baptiste Serin para o ensaio de Picamoles, um perfume de rebeldia e inventiva próximas da imagem de marca do french flair que urge repôr para mudar as cadeias de interesse de resultado minimo num campeonato distorcido pelo custo exagerado de cada equipa. A rapidez e o risco da decisão de Serin traduzem uma lição para o modelo a reinventar: movimento e criatividade. E então a França poderá voltar a encher os sonhos dos amadores da modalidade.


sábado, 26 de novembro de 2016

PREVISÕES E ESTATÍSTICAS

Mais um sábado cheio de bons jogos de rugby a que poderemos assistir quer na SportTV, quer no Eurosport.

De acordo com os vaticínios possíveis - e que se encontram no Quadro 1 - através da pontuação do ranking da World Rugby que separa as duas equipas em confronto, o jogo mais equilibrado de todos deverá ser o Gales-África do Sul, jogo que opõe o 6º e o 5º classificados do ranking - os galeses não tem estado brilhantes e têm mostrado grandes dificuldades na utilização eficaz da posse da bola parecendo tardar  a encontrar a coesão necessária para que as partes possam somar-se num todo colectivo; os sul-africanos, vindos de uma derrota inimaginável contra a Itália (que assim nos recordou a sua pertença à elite mundial) têm neste jogo a última oportunidade para salvar a honra do convento e entrar de férias de forma mais descansada. 
Quadro 1 - Previsões
Recurso ao Ranking da World Rugby e aos dados da Rugby Vision de Niven Winchester
A Rugby Vision, site onde o neozelandês Niven Winchester, economista e professor no MIT dos USA, faz as suas previsões com base numa tabela de escalonamento das equipas criada de forma diferente da considerada pela World Rugby para, recorrendo a algoritmos que englobam diferentes componentes estatísticas do jogo de cada equipa, estabelecer as probalidades de vitória, considera que a probabilidade da vitória de Gales se situa apenas nos 52% e se traduzirá por um ponto de diferença - a análise dos valores do ranking oficial propõe uma vitória galesa por 4 pontos. Seja como for o que dizem estas previsões é que haverá jogo até ao fim e que os adeptos galeses, como eu, se devem preparar para aguentar a tensão.
O jogo de dificuldade seguinte será concerteza o Irlanda (4º)-Austrália (3º) que tem - entre os valores da World Rugby e os da Rugby Vision - previsões diferentes: com os dados oficiais, derrota da Irlanda por 3 pontos, com os dados propostos por Winchester, vitória da Irlanda por 4 pontos. O jogo dirá. A probabilidade proposta de vitória para a Irlanda é de 61,6% - e seria bom que assim fosse e a vitória pertencesse aos irlandeses que estão a jogar bem e de forma muito interessante sob o comando do seu excelente treinador, o neozelandês Joe Schmit. Só a enorme pressão dos AllBlacks, retirando todo o centímetro de espaço e segundo de tempo, impediu a concretização das suas manobras atacantes.
No Inglaterra-Argentina a vitória não deve fugir aos comandados de Eddie Jones - a equipa do "nosso" Daniel Hourcade não teve conseguir contrariar o poder e a, agora, muito melhor movimentação das linhas e jogadores ingleses. Do Escócia-Geórgia espera-se - o que já não é pouco - uma demonstração das cada vez maiores capacidades competitivas dos georgianos que, até há pouco tempo eram adversários do nosso nível (a-propósito: nos anos 70 empatamos 0-0 com a Itália, em Pádua, ganhamos 9-6 em Coimbra e perdemos 26-24 em Jesi nos meados dos anos 80).
Quadro 2 - Médias por jogo: Nova Zelândia e os outros
Muito provavelmente os AllBlacks ganharão com à-vontade em Paris. Porquê? Porque conseguem, como demonstra o Quadro 2 da autoria do The Economist, melhores resultados naquilo que são as situações de jogo estratégicas, isto é as que, quando realizadas resultam em transformações decisivas para o resultado final - rupturas defensivas, metros percorridos com a bola, recuperações conseguidas, formações e alinhamentos perdidos. De acordo com o desenvolvimento da investigação sabe-se que uma equipa do Nível Um consegue, em média, 5,6 rupturas da defesa adversária por jogo. Ora as investigações também demonstraram que basta uma unidade de desvio padrão nas rupturas defensivas- naquele que é o indicador mais transformador (veja-se o Quadro 3 também da autoria do The Economist) - para aumentar as possibilidades em 4,7 pontos de jogo. Ora, como se pode ler no Quadro 2, os AllBlacks têm uma média de mais de 9 rupturas defensivas o que explicará a notável capacidade de permanentes pontos de bónus nos jogos realizados na Championship ou nos restantes - com excepção da vitória de Dublin onde apenas marcou 3 ensaios. 
Quadro 3 - Vale um ensaio? Pontos de jogo associados à mudança de uma unidade de desvio padrão
A conjugação de rupturas defensivas com a capacidade que demonstram os 500 metros percorridos com bola - as outras equipas situam este parametro entre 300 a 400 metros (ver Quadro 2) - constituem a capacidade letal dos neozelandeses que têm as 15,5 recuperações como base preferencial de lançamento.
Os dados estão lançados e o resultado dos jogos mostrará a acuidade das consequências retiradas das estatísticas, mostrando também e antes das coisas acontecerem a utilidade destas ferramentas métricas.
Por aqui, pelo uso possível da análise estatística, se pode perceber a importância  - mesmo com a desconfiança que lhes atribuía Churchill ou, hoje em dia e no rugby, Wayne Smith ("as estatísticas são como um candeeiro para um bebâdo: serve mais de apoio do que de iluminação") que estes dados podem ter. E que urge, se queremos encontrar os melhores caminhos competitivos, estabelecer um programa de dados estatísticos para o rugby português.

[um abraço ao Rafael que me colocou na pista destes dados]


terça-feira, 22 de novembro de 2016

ADAPTABILIDADE

Embora vencendo, a Austrália levou um “banho” nas formações ordenadas, somando 10 perdidas entre as quais 3 de introdução própria. O que não deixa de ser estranho uma vez que Mario Ledesma - o antigo talonador argentino e dado como grande especialista na matéria - tinha vindo a conseguir melhorias substanciais naquilo que durante muito tempo foi o ponto fraco australiano. A primeira das razões para o insucesso - a França apresentou um bloco com mais 100 quilos de vantagem estática - terá sido o facto de Cheika ter mantido apenas David Pocock - o que mostra não ter em muito boa conta as capacidades francesas - do bloco que, oito dias antes, havia defrontado a Escócia em Murrayfield e assim destruir muito da coesão necessária ao equilíbrio entre estabilidade e variedade que esta fase de jogo exige. Apesar da enorme dificuldade para conseguir bolas atacáveis através da formação ordenada, a vitória acabou por ser conseguida mesmo que por margem resvés nos 2 pontos, quase idêntica à tangente de 1 ponto na Escócia. Mas muito curiosa foi a explicação dada por Michael Cheika para o caso: “Percorremos um longo caminho na formação ordenada e talvez que a combinação táctica para hoje não fosse a nosso favor. […] Foi difícil mas eu penso e não sei como dizer isto: nós tentámos fazer a formação ordenada de uma certa maneira e assim temos dito que iremos formar, o que significa correctamente. Não se pode agarrar de qualquer maneira e talvez nós estejamos a ser demasiado correctos porque os ângulos dos diferentes pilares que eles têm encontrado não supostamente aqueles que deveriam encontrar, é suposto ser uma forma correcta. O que fazer? Isto acontece algumas vezes num jogo e tem-se que ser resiliente e safar-se da situação. É tudo o que há a fazer. […] Durante o intervalo dissemos para tentarem encontrar uma solução para os problemas da formação ordenada de maneira a que pudessemos manter viva a disputa. Mas suponho que a nossa estratégia é a de formar solidamente, tentar e dominar a oposição e conseguir boas bolas a avançar e não apenas bolas ganhas. Enquanto que outras formações ordenadas apenas se preocupam em conseguir penalidades - são tácticas diferentes.”  (in The Guardian, em tradução livre).
Sob uma explicação uma bem disfarçada existe uma clara alusão a “truques” do bloco de avançados francês mas, essencialmente, uma mensagem: é preciso saber adaptarmo-nos ao que encontramos pela frente. E a adaptabilidade é a chave do sucesso nos desportos colectivos. Uma equipa, os seus jogadores, têm que ser capazes de jogar de acordo com aquilo que encontram motivado pelo movimento do jogo - seja na forma como surgem adversários ou companheiros - e saber adaptar, colectivamente, a estrutura utilizada em ensaiada às novas situações, tirando partido de novos pontos fracos e evitando os pontos fortes que a oposição tenha criado. O que significa muito treino  em situação livre - joguem de acordo com o que acontece!
Só com uma atitude que tenha na adaptação a sua base essencial é possível conseguir resultados como os dos All Blacks. No notável jogo de Dublin, os neozelandeses tiveram apenas uma quota de posse de bola de 34% mas conseguiram uma quota de pontos de jogo do resultado final de 70% - o dobro! O que significa que souberam aproveitar todas as oportunidades que lhes surgiram e foram capazes de se adaptar colectivamente às mais diversas situações que o jogo proporcionou. 
É claro que o menor número de bolas conquistadas obrigou os neozelandeses a construir uma defesa imparável - e como foi intransponível com 169 placagens realizadas sobre 193 tentadas (88%) - assente numa enorme pressão e que não permitiu que a muito boa Irlanda marcasse qualquer ensaio. E, note-se, os neozelandeses jogaram 20 minutos com 14 jogadores…
Como curiosidade compara-se a relação quota de posse de bola e quota de pontos de jogo conseguida pelos AllBlacks com as outras equipas europeias dos jogos do fim‑de‑semana.
  • Nova Zelandia: 34% de quota de posse da bola; 70% de quota de pontos de jogo marcados; vitória por 12 pontos
  • Irlanda: 66% de quota de posse da bola; 30% de quota de pontos de jogo marcados; derrota por 12 pontos
  • França: 50% de quota de posse da bola; 48% de quota de pontos de jogo marcados; derrota por 2 pontos
  • Escócia: 56% de quota de posse da bola; 54% de quota de pontos de jogo marcados; vitória por 3 pontos
  • Itália: 48% de quota de posse da bola; 53% de quota de pontos de jogo marcados; vitória por 2 pontos
  • Gales: 64% de quota de posse da bola; 52 % de quota de pontos de jogo marcados; vitória por 3 pontos
  • Inglaterra: 47% de quota de posse da bola; 79% de quota de pontos de jogo marcados; vitória por 43 pontos
E a notável - e completamente inesperada para a grande maioria de adeptos da modalidade - vitória da Itália foi conseguida com menor, embora muito proxima, posse de bola mas com determinada, excelente e também inesperada, capacidade defensiva.
Está visto: a defesa ganha  jogos… desde que o ataque marque mais pontos do que o adversário. 

E finalmente e para adaptar, uma citação de Fernando Santos em entrevista ao El País: "Está a dar-se demasiada importância à posse da bola. Obviamente que só marca quem tem a bola, donde quem tem a a bola por mais tempo tem mais possibilidades de marcar, mas isso pode levar a cair noutro extremo. O afã pela posse não pode eliminar a rapidez, a aceleração. O contra-ataque está em vias de extinção. As equipas recuperam para conseguir a posse e estar organizadas; o ataque directo, o contra-ataque, parecem não ser armas do futebol e são-no."

Parece evidente: muito mais do que a posse da bola conta a capacidade e eficácia da sua utilização.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

PEÇO DESCULPA!


Por uma qualquer razão de ainda não percebi a causa a tabela publicada no post anterior não está correcta. Como se pode ver na tabela que agora se publica a causa não está nas fórmulas utilizadas mas, muito provavelmente, na introdução errada ou troca de qualquer elemento. Desconfio que terá sido pela troca despropositada de uma célula que não estaria protegida... Pelo erro, peço desculpa.
Valeu para que não tivesse criado qualquer confusão maior que a posição do 25º lugar de Portugal estava correcta e só a Suiça - porque, pelo erro, lhe roubei pontos a mais - é que foi colocada dois lugares abaixo do seu posto real.
Renovo as minhas desculpas e irei detectar a causa para que não volte a acontecer e se possa manter a confiança nos resultados assim obtidos.


VENCER PARA APRENDER

O XV de Portugal fez, neste jogo contra os suíços, o que lhe era exigido: venceu o jogo sem margem para dúvidas sobre a sua superioridade como ficou demonstrado nos vinte minutos finais. E com a diferença de pontos de jogo superior a quinze, conseguiu atingir os 58,38 pontos de ranking da World Rugby o que lhe deve permitir - de acordo com as contas feitas - atingir o 25º lugar e entrar desde já no 1º quarto da classificação mundial. O que é um bom início de época. Pena foi que não houvesse capacidade para ir buscar um ponto de bónus - a Holanda já tem dois e a Moldávia um - que pode ter importância nas contas finais...
Mas feitos os resultados, parece razoável reconhecer que as vitórias conseguidas respondem a uma lógica desportiva elementar: os que vêm de baixo têm uma enorme dificuldade em derrotar os que vêm de cima. Por razões relativamente fáceis de explicar: quem vem de cima têm um binómio de talento e coesão naturalmente superiores e que, nos primeiros jogos da época, faz - quase sempre - a diferença. E foi isso que se viu nos dois jogos - contra a Bélgica e Suiça - disputados. Vitórias naturais portanto mas que deixaram um rasto de ensinamentos que não podem ser ignorados. Porque a dificuldade dos futuros jogos do Trophy será superior.
O primeiro e importante ensinamento é que temos - no rugby português - de aceitar que as Leis do Jogo são universais e não permitem interpretações especiais ou diferentes. E nós em Portugal temos que perceber quais são as interpretações, ou seja, qual a forma de arbitrar generalizada internacionalmente. De nada nos servindo, para além das penalidades, entender as coisas de outra forma - e o jogo no chão tem sido, mesmo quando a intensidade não é suficientemente elevada, uma fábrica de faltas ao nível internacional. Fazemos faltas a mais, é um facto! Situação que só nos prejudicará quando os jogos forem mais intensos e equilibrados e que necessita de um real esforço de mudança - na interpretação da lei e na técnica de entrada ao contacto - de treinadores e jogadores das equipas da Divisão de Honra.
O domínio do jogo contra a Suiça foi evidente mas já o mesmo não de pode dizer da eficácia da utilização da bola - apenas ultrapassando, de acordo com as minhas notas que podendo não ser necessariamente de um rigor absoluto estão, no entanto, muito próximas da realidade, a linha de vantagem em 33% das bolas disponíveis das quais desperdiçamos ainda 59% delas nas mais variadas maneiras como pontapés entregues ao adversário, faltas ou perdidas pelo caminho. O que é de mais e que não nos deve fazer esquecer a pouca valia técnica e táctica dos suíços que limitam o seu jogo a uma previsibilidade detectável a quilómetros de distância. 
Continuamos a cometer erros na utilização da bola: jogámos longe de mais da linha de vantagem e deixamos que o portador da bola, ao atacar o intervalo, se transforme em penetrador em vez de - porque se tornou no preferencial alvo da defesa - a entregar, imediatamente antes da zona de contacto, a um companheiro que será, então, o penetrador. Verdade tão mais eficaz quanto mais longe se estiver da cara da defesa... e este conceito táctico tem que fazer obrigatoriamente parte da bagagem de qualquer jogador internacional. O jogo ao pé, por outro lado, não tem o tempo necessário de trajectória aérea para que se cumpra o conhecido aforismo: um pontapé é tão bom quanto permita uma perseguição tal que retire soluções ao adversário receptor. E feito como tem sido, servindo apenas de alívio, torna-se uma forma de desperdício.
Mas verdadeiramente grave, grave foi, mais uma vez, a incapacidade demonstrada nas formações ordenadas. A formação ordenada - momento decisivo para a sequência do jogo ao juntar num pequeno espaço de terreno 16 jogadores e abrindo assim, se houver consistência para "segurar" o adversário, espaços de ataque - é uma questão técnica e não de força bruta. O que exige treino e aprendizagem e a selecção nacional tem que olhar para este aspecto de forma séria.
Faltando tempo suficiente para os jogos do Trophy há também tempo para melhorar, começando logo no próximo jogo contra o Brasil, equipa cujo nível permitirá a procura de soluções que se venham a mostrar futuramente eficazes. Será uma boa oportunidade que não deve ser ignorada.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

COMBATE CONSTANTE

Pesem embora os factos de nunca ter vencido Portugal nos quatro jogos disputados e ser uma equipa recém-chegada ao também recente Trophy, a Suiça não será adversário fácil. 
Com elevada percentagem de jogadores a jogar em França - e, portanto, com ritmo e habituados ao combate - os suiços vêm de sete vitórias - a última derrota foi em Novembro de 2014 contra a República Checa - e ocupam a 33ª posição no ranking, cinco lugares abaixo de Portugal e a uma distância de 2,82 pontos que se reduzem a quase nada pelo factor casa.

Sendo um país de tradição e cultura desportiva - já conquistou 185 medalhas olímpicas (47 de ouro, 73 de prata e 65 de bronze) e do Rio trouxe 7 (3 de ouro, 2 de prata e 2 de bronze) - e com um XV com 100% de sucesso na última época, tendo conseguido uma quota favorável de pontos de jogo da ordem dos 82% nos marcados para apenas 14% sofridos, o XV suiço parece mostrar-se, para além de uma coesão não negligenciável e com esta dinâmica vitoriosa, um adversário a ter em conta… e como cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, seria aconselhável que os jogadores portugueses se precavejam e se preparem para um combate de bom ritmo e elevada intensidade.
Com uma média de 19 internacionalizações por titular - embora ampliadas com o enorme número de Gonçalo Uva e Gonçalo Foro - e 67% de presenças simultâneas de jogadores em relação ao jogo contra a Bélgica, o XV português tem a experiência necessária para levar de vencida esta equipa suiça. Mas será necessário grande concentração e um foco apontado aos princípios fundamentais do jogo - quer estratégicos, quer tácticos - superiores ao jogo da semana passada. Nomeadamente no que diz respeito à constância de rendimento, evitando um equivalente “deslaçamento” colectivo. Ou seja: o que se espera da equipa portuguesa é que consiga a vitória demonstrando ao mesmo tempo que se encontra em condições para cumprir os objectivos que se pretendem.
Com um cinco-do-meio idêntico ao jogo anterior e o mútuo conhecimento no adivinhar das intenções que esse facto permite e com um jogo ao pé com propósito adequado, Portugal deve ter a vantagem - porque a isso o obriga o posicionamento internacional dos últimos anos - de poder controlar o jogo desde que o cinco-da-frente se comporte de acordo com o que se espera num nível internacional. Depois, é fazer o que se sabe fazer, atacando de formas inesperadas que, naturalmente, criarão problemas defensivos à equipa suiça que não terá tantas armas assim que lhe permitam responder em permanência com constantes adaptações.
Vencendo Portugal poderá subir - dependendo do volume do resultado de outros jogos - até dois lugares no ranking World Rugby e aproximar-se assim do pretendido primeiro quarto da classificação mundial. Uma vitória contra a Suiça tem óbvia importância para o retorno que se pretende ao lugar de onde saímos na época passada. Quer porque amealha pontos necessários - e evitar um ponto de bónus suiço é importante (penso, claro, no defensivo!) - quer ainda porque constrói uma boa rampa de lançamento para os restantes jogos. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

VITÓRIA DE PIRRO?


O aspecto mais importante do jogo Portugal-Bélgica, a vitória - no Desporto de Rendimento, repito-me, o factor primordial, o factor que conta, é o resultado - foi conseguido. Com uma quota positiva de pontos marcados de 55% e com 4 ensaios, a vitória permite ainda que Portugal suba um lugar - agora 28º - no ranking da World Rugby. É uma boa e importante vitória para iniciar o difícil caminho de retorno ao lugar de onde saímos. 
Teve ainda o jogo um momento de absoluta eficácia e rara beleza de que resultou o terceiro ensaio e que mostrou o caminho do que deve ser a utilização da bola que os portugueses devem privilegiar: ataque aos intervalos, aparecimento do apoio em plena corrida com mudanças de direcção e de ângulos de corrida a solicitar passes interiores ou exteriores a permitir a circulação de bola de acordo com a movimentação dos adversários e os seus pontos fracos. Um ensaio a levantar um estádio de dezenas de milhar em qualquer parte do mundo.
Mas foi sol de pouca dura!
Se na primeira parte ainda houve capacidade para uma ocupação de terreno de 61%, o jogo terminaria com a igualdade de 50% para cada equipa. O que significa que o domínio conseguido se foi perdendo como demonstra - de acordo com as minhas notas -  o facto de, durante a 1ª parte, ter havido 63% das bolas conquistadas num total de 49, a que corresponderam 76% do total das 17 ultrapassagens da linha de vantagem. O que, aliás, permitiu a marcação dos quatro ensaios e ainda caracterizar a taxa de esforço para a realização de cada um em 8% da posse de bola e em 25% das perfurações.
Está visto: se a vitória é boa, o jogo de Portugal foi fraco. Viveu apenas do período em que os belgas pareciam estar a trocar conhecimentos uns com os outros e começou a finar-se, perdendo coesão e comprometimento, até ao ponto de termos sido praticamente salvos pelo gongo quando um jogador belga, em cima do final do jogo e a 4 pontos de diferença, cometeu o erro infantil de não conseguir colocar o pontapé fora para um alinhamento em cima da nossa área de ensaio. Sortes...
Parece que com o acerto conseguido - mas também fruto da nossa desconcentração - pela equipa belga os jogadores portugueses, habituados na sua maioria ao campeonato nacional de baixa intensidade e pouco competitividade, deixaram fugir por entre os dedos o algum do colectivo que tinha prometido.
Tem a vantagem da vitória neste jogo ainda uma outra vantagem - felizmente ainda em tempo útil - de nos permitir perceber onde estamos e o que necessitamos de melhorar para atingir o nível necessário à competição internacional. O jogo é um livro aberto das fraquezas e incapacidades demostradas que, sem presunções deslocadas e com a humildade necessária, devem ser encaradas e resolvidas. Porque muito há a corrigir e a equipa belga não tem a qualidade para virar o jogo como o fez, quase invertendo o resultado numa meia-parte de total domínio.
Não é possível jogar ao nível internacional sem uma formação ordenada - principalmente sem um cinco-da-frente eficaz - capaz de, no mínimo, resistir ao adversário e não se deixar arrastar como aconteceu no sábado. Tendo como temos índices de compacticidade - a distribuição do peso pela altura - que não se iguala aos adversários, é necessário ser capaz de resolver o problema com a técnica adequada: ângulos das pernas, altura dos joelhos, posição das costas, ligações e sincronização em tal coordenação que a combinação do oito seja a de uma força efectiva - o argentino Mário Ledesma, agora treinador da Austrália, avisa que o essencial da FO é a unidade dos seus componentes e a atitude em cada momento. E a FO portuguesa não teve a qualidade técnica necessária - o que aliás só se conseguirá com muito trabalho e treino para ultrapassar as limitações que os nossos jogos internos propiciam. Arrasados nas FO, o domínio belga estendeu-se aos alinhamentos e a dificuldade de bolas jogáveis aumentou e o jogo passou a depender das capacidades técnico-tácticas dos jogadores belgas.
Também não é possível ser eficaz jogando posicionalmente longe da linha de vantagem. E não é possível jogar em cima da linha de vantagem - ou para utilizar a linguagem de Graham Henry - não é possível ganhar a corrida pela linha de vantagem com o atraso na disponibilidade da bola por atraso quer na reciclagem quer no tempo de passe - o que representam questões técnicas imperiosas de resolver. Jogar próximo da linha de vantagem é o que permite colocar problemas à defesa, confundindo-a e não lhe dando oportunidade de se recompor - o que aconteceu no início do jogo nos momentos de marcação dos ensaios mas com pouca duração e, com o decorrer do tempo, a aumentar as hipóteses de subida da defesa belga logo que começaram a acertar tempos e critérios.
Que dizer do jogo-ao-pé? Que não foi incisivo e não teve propósito mais parecendo surgir com a única finalidade de alívio do peso da posse de bola. Quantos contra-ataques se perderam por atrasos na recolocação ou por entrega imediata da bola ao adversário? Porque que é que e guta sem um propósito objectivo de castigar o adversário, obrigando-o a libertar os espaços de que os nossos ataques precisam?
Remédios para tudo isto e para que a óptima vitória não venha a mostrar-se como de Pirro? Todos os sabemos: de imediato, treino e disponibilidade física e mental; a breve trecho, alteração das competições internas e procura de um maior contacto competitivo com os vizinhos do lado. Mas mais do que tudo o resto tudo dependerá da noção que a comunidade rugbística portuguesa tenha da real importância que os resultados internacionais têm para o desenvolvimento da modalidade, atracção de novos jogadores e aumento do estatuto interno.



sábado, 12 de novembro de 2016

PORTUGAL-BÉLGICA, UMA PREVISÃO


De acordo com o posicionamento no ranking da World Rugby e com o facto da percentagem de vitórias da época passada de cada uma das equipas ter sido realizada em níveis diferentes, o Portugal-Bélgica desta tarde em Setúbal tem todas as condições para ser um jogo equilibrado. A previsão - meramente matemática com base na pontuação do ranking - e que baliza um parametro de análise para se poder, pela diferença de pontos do resultado final, estabelecer o nível qualitativo - no Desporto de Rendimento é o resultado que conta - da prestação competitiva, prevê a vitória, pela vantagem de um ponto, dos visitantes belgas. O que significa que qualquer resultado negativo para Portugal será aceitável até à diferença de seis pontos - uma derrota por mais de seis pontos corresponderá a um mau resultado - e todo o resultado positivo será considerado como um bom resultado. Vencendo, Portugal subirá no ranking entre uma a duas posições, dependendo se a diferença entre marcados e sofridos for ou não inferior a 15 pontos de jogo.
Com uma equipa de jogadores experientes - 7 do CDUL, 4 do GD Direito, 1 do CDS Cascais a que se juntam 3 a jogar actualmente nos campeonatos franceses - e com um elevado somatório de internacionalizações, a selecção portuguesa, embora tendo o seu maior teste no 5-da-frente - principalmente nas formações ordenadas uma vez que Gonçalo Uva tem as qualidades necessárias para garantir as bolas nos seus alinhamentos e para atrapalhar as adversárias - apresenta as condições de coesão necessárias a um jogo colectivo capaz.
A eficácia das linhas atrasadas estará, naturalmente, dependente da rapidez de disponibilidade da bola nas formações expontâneas - rucks - factor que não teve a qualidade necessária na época passada mas que constitui a chave fundamental para a boa utilização da bola e para permitir um jogo próximo da linha da vantagem, possibilitando o ataque aos intervalos, nomeadamente na exploração das áreas tácticas conhecidas por maior fraqueza defensiva e a fixação defensiva para exploração do jogo ao largo.
Numa época exigente - por todas as razões, desde as desportivas às promocionais e comerciais - em que o rugby português terá que iniciar o caminho de volta ao espaço internacional que tem sido o seu, este jogo tem a vantagem de testar, em tempo útil, o posicionamento qualitativo quer da equipa quer dos jogadores e fornecerá elementos úteis para uma positiva continuidade da época desportiva.
Que seja um bom jogo e que nos mostre que está aberto um caminho de confiança.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

HISTÓRICA VITÓRIA

Frente ao haka neozelandês o Nº8 irlandês de homenagem a Anthony Foley

A Irlanda, com a formidável e histórica vitória sobre os All Blacks, interrompeu a gloriosa caminhada de 18 vitórias e veio demonstrar a regra universal do Desporto: não há invencíveis ou vencedores antecipados. Nem prognósticos infalíveis, razão natural - uma vantagem mas também um enorme problema - da existência das apostas desportivas.
Num jogo desportivo, tudo pode, da vitória à derrota, acontecer. E a Irlanda veio lembrar-nos esta realidade das coisas. É claro que para que isto seja assim, é necessário que exista equilíbrio competitivo. Ou seja: que as duas equipas adversárias pertençam ao mesmo nível competitivo. Porque se há modalidades desportivas onde um autocarro defensivo pode equilibrar argumentos, no rugby o equilíbro só é possível no confronto directo dos argumentos e, sem eles, não há artifício que valha. Para vencer é preciso jogar - não chega defender e esperar o milagre de um momento. 
A principal curiosidade do encontro de Chicago residia na verificação de como poderia a Irlanda apresentar um nível de coesão colectiva que a pudesse aproximar da equipa neozelandesa que acabava de vencer, com altíssimas demonstrações de eficácia, a Championship. Portanto, de um lado, uma equipa jogada, colectivamente habituada e onde os seus jogadores se conhecem uns aos outros como as suas próprias mãos - repare-se que o processo allblack assenta numa preparação levada a tal ponto que trazem jogadores no grupo (como é o caso do mais novo dos Barrett que não irá jogar nenhum dos jogos) apenas para que se habituem e ganhem a necessária experiência para poderem vir a integrar a equipa - e de outro uma equipa cuja último jogo tinha sido realizado em Junho em digressão à África do Sul. Poderia um jogo assim ter o equilíbrio necessário para que a vitória resultasse da maior coesão e melhor aproveitamento das oportunidades de uma ou outra equipa? Como iria fazer Joe Schmidt para pôr fim a 111 anos (cento e onze!) anos de 27 derrotas e um empate?
O jogo começou com os irlandeses a formarem um oito em frente ao haka allblack numa bonita homenagem a Anthony Foley, treinador do Munster, internacional e capitão da Irlanda, recentee precocemente falecido.
Não deve ser nada fácil jogar com os irlandeses e o seu fighting spirit traduzido num permanente antes quebrar que torcer. E como também são jogadores tecnicamente capazes - o Leinster venceu na época passada o Guiness Pro 12 (campeonato que reune 4 equipas irlandesas, 4 galesas, 2 escocesas e 2 italianas) e encontra-se em 1º lugar esta época - as dificuldades, como aliás já se tinha visto no último jogo entre ambas as equipas, aumentam.
Entrando mais determinados e tirando imediato partido de uma segunda-linha allblack remendada os irlandeses do também neozelandês Schmidt utilizaram e superiorizaram-se naquilo que hoje (Rob Howley dixit: ”A chave de um jogo internacional está, hoje em dia, na precisão do jogo-ao-pé") é um aspecto fundamental para possibilitar o aliviar da pressão das defesas e proporcionar espaços livres. E os irlandeses foram reis, por um lado, na batalha aérea que lhes permitiu garantir uma vantagem territorial de 6% e um constante ataque à linha de vantagem em passes à justa e na cara para marcar 5 ensaios contra 4 dos AllBlacks e, por outro, na placagem com 90% de eficácia nas 112 placagens tentadas. Se a pressão foi uma constante e retirou permanentemente espaço, controlo e tempo aos neozelandeses foi, segundo Schmidt, o carácter, mais do que a coesão, que garantiu a vitória.
Referia-se o treinador irlandês ao facto de não terem podido treinar o tempo necessário. No entanto a coesão irlandesa vem da existência, desde há anos, das suas 4 equipas regionais - Leisnster, Munster, Ulster e Connacht  - que disputam o Guiness Pro 12 e onde se concentram os melhores jogadores que depois irão formar a selecção nacional. Com esta política de concentração os irlandeses, para além de criarem hábitos de jogo a elevado nível, têm ainda a vantagem de muitos dos jogadores estarem habituados a jogar juntos na mesma equipa. Para o jogo com a Nova Zelândia os 23 jogadores seleccionados pertenciam ao Leinster (8 titulares e 5 suplentes), ao Munster (4 titulares), ao Ulster (3 titulares) e ao Connacht (5 suplentes). Tecnicamente preparados, fisicamente capazes e mentalmente adaptados, não terá sido muito difícil - mesmo com o pouco tempo disponível - para Joe Schmidt estabelecer a coesão necessária para garantir as suas capacidades em pleno. 
A vitória da Irlandaé, no fundo, resultado da estratégia federativa posta em campo vai para anos. Com cerca de 7 milhões de habitantes e cerca de 60 mil jogadores que formam 224 clubes que cobrem - demonstração de inegável cultura rugbística - todo o terrritório (República da Irlanda e Irlanda do Norte) de que resultam as 4 equipas regionais  que concentram os melhores jogadores e ainda com aquele que considero o melhor programa de formação de rugby - o Long Term Player Development (e pudemos ver a sua tradução prática no recente jogo contra a selecção portuguesa de Sub18) - a federação irlandesa tem conseguido desenvolver a qualidade do seu rugby e manter-se, com o seu 5º lugar no ranking mundial, como uma das potências mundiais da modalidade. E não há fronteira que o impeça.


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