sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

BOM ANO!

PORTELA 13

O Miguel Portela fez-me uma entrevista que publicou no seu site PORTELA13. Dias passados após a sua publicação, transcrevo-a para o XV CONTRA XV.

Portela 13 - Os sevens… que papel tem na divulgação do Rugby?
João Paulo Bessa - Não sei… desconfio até se terão algum no que diz respeito ao rugby de XV. Espectadores que gostem de sevens não gostarão necessariamente do XV – formas e conteúdos diferentes: um mais adequado ao pouco conhecimento, à evidência, outro mais interessante se conhecido e analisado; um muito previsível e pouco surpreendente e portanto mais adequado às expectativas do espectador não-conhecedor mas admirador da performance atlética – grandes sprints; passes heterodoxos, exploração de espaços vazios evidentes; outro mais exigente de um ponto de vista da compreensão e do conhecimento – aproveitamento colectivo de desequilíbrios, antecipação organizativa, construção do espaço livre, construção do apoio, etc.
O sevens começou por ser um encontro divertido de amigos no final das épocas – a sua dimensão era a de relação social, da descontracção, do prazer de jogar uns com outros, libertos da formalidade dos campeonatos de XV. Hoje tudo isso está ultrapassado – a festa fica-se cada vez mais e só pelas bancadas – e a versão do sevens a que assistimos pertence a uma modalidade particular e quase independente – apenas sob controlo administrativo comum.
Levará o rugby a locais onde o XV não tem implantação? A bola oval levará, duvido que leve o rugby de XV – estratégica e tacticamente – como o conhecemos.

P13 - É esta uma modalidade que permite lançar jogadores que vingarão no XV? Ou os jogadores que saltam do VII para o XV seriam, por natureza e inevitavelmente, bons jogadores de XV?
JPB - Permitirá lançar jogadores mas nada garante que poderão vingar no XV. São duas modalidades diferentes e a adaptação dos potenciais jogadores de qualidade far-se-á de forma diferente. Se de um lado – XV – o princípio fundamental está definido como AVANÇAR SEMPRE! e do outro a principal preocupação consiste na MANUTENÇÃO DA POSSE DA BOLA, o jogo é necessariamente diferente e os jogadores também o serão nas suas qualidades específicas – ficarão alguns gestos comuns mas apenas de aparência idêntica: o tempo, a relação atacante/defensor, o espaço disponível – o dobro por cada jogador nos sevens -  exigem uma concretização diferente do gesto, uma outra regulação.
A maior possibilidade que vejo para o recurso ao sevens pelo XV é o de testar – em ambientes de pressão superior pelo número de espectadores e sequência de jogos – o carácter e a atitude do jogador. Aí sim, poderá ver-se a fibra de cada um e a sua disponibilidade para o combate. Mas pouco se pode retirar para uma eventual transferência de modo (por exemplo: as questões tácticas que se colocam à placagem que, sendo de natureza diferente – pela colocação do apoio, pelo maior intervalo, pelo menor número, pelo maior espaço – do XV, são também de menor complexidade, significando que um bom placador de sevens, pode não o ser no XV).  
As duas modalidades tendem à diferença – e o futuro se encarregará, como já aconteceu noutras modalidades, de aumentar a evidência. Naturalmente que os jogadores de uma ou de outra das modalidades também tenderão a ser diferentes técnica, táctica e estrategicamente, ficando, cada um, no seu ramo.

P13 - Na minha opinião a forma como os 7´s estão a ser jogados, técnica e tacticamente, tiram algum brilho e fantasia à versão reduzida. A própria fisionomia e características técnica dos jogadores, cada vez mais musculado, parece contribuir para a ideia de que se estão a criar excelentes atletas mas poucos jogadores… Como avalia esta evolução e estas criticas?
JPB - A responsabilidade competitiva que foi sendo colocada no sevens não permite mais os riscos que a fantasia admitia – o que está em jogo é demasiado... Naturalmente que essa responsabilidade levou ao caminho mais fácil e menos arriscado: aumentar a capacidade física. O que leva ao problema referido na pergunta – a criação de excelentes atletas mas pouco jogadores (macacos-de-ginásio na expressão de McGeechan) – e com a dimensão do brilho e da festa a diminuir dentro do campo em relação à festa das bancadas.
Esta evolução será com certeza uma fase quase obrigatória para o encontro de novos caminhos - com outra formação de base, uma superior análise das possibilidades de desenvolvimento do jogo e, até, com a necessária adaptação das regras actuais que, afastando-se do XV, irão proporcionar uma cada vez maior diferença de caráter entre as modalidades.

P13 - Portugal tem tido melhores prestações nos VII do que em XV. Quais as 3 ou 4 principais razões para este facto?
JPB - Não tenho a certeza que as prestações sejam assim tão diferentes se ultrapassarmos uma visão imediata de aparências e descontarmos vitórias ou troféus cujo nível não ultrapassa o que sabemos: conjunto de equipas sem qualidade internacional reconhecida.
Portugal na World Series tem cerca de 35% de vitórias nos jogos disputados – aí com a possibilidade de defrontar adversários mais acessíveis. Também aí as suas prestações têm sido definidas, pode dizer-se e com excepção das duas únicas presenças na CUP (o quadro final principal), a jogar ao nível que joga no XV, na segunda divisão.
No XV e nos últimos 23 jogos (pós-Mundial 2007), defrontando na sua maioria equipas colocadas em lugares superiores do ranking, a percentagem de vitórias estará nos 30%. O que não revela particular desequilíbrio, atendendo às circunstâncias de uma e de outra modalidade.
O impacto mediático do sevens com as diversas taças em disputa permite muitas vezes uma aparência de sucesso que não passa disso mesmo: aparência. No XV e na sua tradição mais profunda não há essa possibilidade – o jogo é entre duas equipas cujo posicionamento no ranking é conhecido e que estabelece de imediato uma relação de forças e a derrota ou a vitória podem ser qualitativamente consideradas. E dada a natureza do jogo as vitória-surpresa de médios sobre grandes são, como sabido, praticamente inexistentes.
Não acho, portanto, que haja grande diferença no posicionamento entre uma ou outra modalidade. Pelo contrário, parece-me que há equilíbrio posicional: Portugal vale o mesmo nas duas modalidades. E a expressão de estarmos quase lá tem acontecido em ambas as modalidades.  

P13 - Jogos Olímpicos ou Mundial de 2015? Qual teremos mais hipóteses de nos qualificar?
JPB - Se os Mundiais mantiverem o número de vinte equipas, se aprendermos colectivamente a exercer o “direito a ganhar” e uma vez que as diferenças entre o 14º e o 23º do ranking – no fundo os nossos possíveis adversários na qualificação final - não são inultrapassáveis, se forem limadas deficiências notórias na nossa forma de jogar, se o bloco de avançados continuar a subir nas suas capacidades e se houver a percepção de dirigentes, treinadores e jogadores das necessárias transformações competitivas internas, Portugal pode estar presente no Mundial de 2015.
Para a presença nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro as dificuldades são várias: a) são 12 equipas participantes; b) o Brasil, enquanto organizador já está qualificado, sobrando portanto 11 lugares; c) os anéis olímpicos são de 5 cores diferentes e representam os cinco continentes. O que significa que tem de haver, não os 11 melhores do Mundo, mas, no mínimo 1 representante de cada continente, sobrando 5 lugares para os melhores qualificados de diversas qualificações possíveis; d) ou pode ser outro o caso: os 11 lugares são distribuídos equitativamente pelos 5 continentes – quatro com dois e um com três equipas. E para quem vai o grupo de três? Para a Europa que, nos grandes, tem uma preocupação de qualificação menor para os organizadores pela presença da Grã-Bretanha ou para a Oceânia que se apresenta com os melhores como Samoa, Nova Zelândia, Fiji e Austrália? No meio destas hipóteses, onde cabe Portugal? Numa qualificação geral onde caberão grande parte dos trutas, numa qualificação na Europa - a dois ou a três - contra a Grã-Bretanha, Irlanda, Rússia, Geórgia, França e Itália. Não é fácil e não pode ser visto como adquirido. E nos femininos, o panorama é idêntico.
A entrada do sevens nos Jogos Olímpicos não é nenhum presente para emergentes – a IRB pensou sempre (ou melhor: deu sempre a entender) que a disputa se faria, pelo menos, um número de equipas como nos maiores torneios da World Series (16 a 24). Mas a estratégica prenda olímpica para os pequenotes – para equilibrar/calar as legítimas razões das exigências de carácter financeiro ao nível do XV – saiu pela culatra: só lá vão estar os mesmos. E agora?

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NATAL 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PORTUGAL EM NOVEMBRO (III)

(continuação)

Na sequência do post anterior segue a sequência de pontos que, de acordo com o gráfico apresentado, representam debilidades mostradas pela equipa portuguesa nos jogos de Novembro:
  • 3. Procura do chão no contacto – por incapacidade de manter a bola viva – seja por não haver garantias para um passe-em-carga ou por falta do gesto técnico de dar-as-costas no contacto, os jogadores portugueses tendem a ir para o chão ao primeiro contacto: entregando assim a vantagem à defesa que, para além de se poder reorganizar ainda se coloca em superioridade numérica. Entender o ruck, não como primeira prioridade mas apenas como razão limite para manter a posse da bola, é um passo importante para implementar o jogo de movimento que pode ampliar a eficácia do jogo, permitindo o recurso às melhores características dos jogadores portugueses. Aliás o que se exige na resolução destas situações de contacto resulta da compreensão da articulação entre a permanente necessidade de avançar e a de garantir a continuidade – avança-se até ao ponto em que não se perde a possibilidade de continuar o movimento. E, mais uma vez, falámos do colectivo e da sua compreensão.
  • 4.Manter terreno nas costas do adversário – Principalmente em ataque, a equipa portuguesa tende a deixar terreno nas costas da defesa adversária: permitindo uma melhor organização e maior eficácia das cortinas defensivas e, ainda, obrigando a cobrir distâncias tais que só um excelente apoio e continuidade conseguem – como vemos nos All-Blacks ou, por vezes, nos Australianos – garantir a conquista do espaço para além da Linha de Vantagem. É também a conquista de posição territorial que permite surpreender as defesas com o lançamento de ataques então pouco habituais – preparada para defender o jogo de conquista territorial, as defesas deixarão espaços que possibilitarão a exploração atacante.
  • 5.Lateralização do jogo – trata-se aqui do resultado daquilo que designo por “síndrome do sevens”. Habituados nos últimos anos ao maior espaço do sevens e ao jogo sem cortinas defensivas, os três-quartos portugueses tendem a lateralizar o jogo, correndo para fora e passando a bola sem fixar adversários… e a defesa de XV agradece porque passa a ter um aliado de monta: a linha lateral. A alteração deste procedimento é decisivo para o aproveitamento eficaz da maior consistência que o bloco de avançados tem dado provas. Se a melhor maneira de ultrapassar um muro é rodeá-lo, convém que não deixar que venha atrás…
  • 6.Rapidez de saída da bola nos ruck – por mais que se tente evitá-lo - porque representa uma vitória da defesa - o ruck acontece e acontecerá nos jogos. Sendo uma vantagem para a defesa – dando-lhe tempo de reorganização e facilitando-lhe a superioridade numérica – a única maneira de o tornar numa arma atacante é garantir a velocidade de disponibilização da bola, colocando convenientemente a bola em situação de imediato uso – responsabilidade do portador - e evitando reciclagens.
  • 7.Saídas de 3ª linha – se defensivamente a 3ª linha teve momentos de bom nível, de um ponto de vista atacante, foi muito fraca. Principalmente por falta de coordenação. Visto de fora a sensação era de que a saída se fazia sem ninguém saber – os olhos não viam, os corpos não falavam e as vozes não comandavam. O nº8 saía e raras vezes o 6 e o 7 formavam o losango que o 9 deveria complementar. E o mesmo se passa no domingo-a-domingo do campeonato nacional demonstrando treino pouco cuidado e incompreensão táctica.
  • 8.Utilização do Lado Fechadonão é fácil defender o lado fechado: porque tem menos jogadores, embora também com menos espaço. Mas surpreende muitas vezes a defesa que, preocupada com o maior espaço, está lançada para o lado aberto e pode ser apanhada em contra-pé. A ideia que a perfuração central – por permitir dois lados atacantes – é mais desequilibradora das defesas não é absoluta. O lado fechado deixa enormes oportunidades em aberto quer nas situações ordenadas, quer nas espontâneas. A sua exploração, abrindo o leque de opções, aumenta a dúvida dos defensores.

PORTUGAL EM NOVEMBRO (III)

Nos jogos de Novembro, a Selecção portuguesa mostrou – expondo ou ignorando – diversos formas, ou modos, de rugby que devem ser analisados e relacionados com a globalidade do rugby português, a sua formação e o seu desenvolvimento.
Do lado mais o ponto principal foi, de uma forma geral, a melhoria do bloco de avançados  – maior consistência – e que expôs dois pontos de melhoria:
  1. A defesa de cobertura da 3ª linha – Com a inclusão de Julien de Sousa Bardy, a 3ª linha passou a ter uma superior capacidade de bater a linha. Por um lado porque a correcção das linhas de corrida do asa Bardy deu a possibilidade de organização mais eficaz ao Nº8 e flanqueador – cada um passou a realizar a sua função específica sem deixar o apoio mútuo. Daí resultou uma eficácia acrescida que permitiu, nomeadamente contra os Estados Unidos, uma enorme segurança da Linha de Vantagem. Como notas para o futuro – para o treino dos jogadores dos clubes – estes dois pontos:
    1. A necessidade de estabelecer claramente o papel de cada um dos membros da 3ª linha com o objectivo de constituir uma mini-unidade coerente e capaz de criar, por esse facto, as sinergias necessárias ao aumento da sua eficácia;
    2. A complementaridade de gestos técnicos com o jogador líder do movimento – o asa – capaz de placagem derrubante e os seguintes a saber dominar a posição do ruck na tentativa de recuperação da bola ou suporte imediato, impedindo qualquer recuo de possível maul, procurando sempre impor o derrube do atacante.
  2. A conquista da bolas nos alinhamentos - Houve uma maior capacidade de conquista por melhor organização. Percebe-se assim que o treino, a automatização dos gestos, a leitura e a decisão adequada de lançamento são elementos essenciais para haver também eficácia neste sector.
  3. O jogo ao pé – Com a colocação a abertura de Garden – verdadeiramente o seu único lugar para o nível internacional – a equipa ganhou uma superior capacidade de utilização do jogo ao pé, permitindo, logo que haja maior entendimento estratégico das situações do jogo, um superior uso da alternância – jogo-á-mão (penetrante e envolvente)/ jogo-ao-pé - enquanto forma de retirar a defesa da sua zona de conforto.
Mas se estes foram os principais pontos positivos, a selecção portuguesa mostrou diversas fragilidades que terão impedido a exploração positiva das oportunidades que tivemos. Os principais pontos negativos e que resultam quer da pouca exigência do nível interno, quer de uma formação deficiente que, ao contrário do que se faz correr, é fraca e deslocada do rugby que o futuro prepara, podem traduzir-se assim:
  1. O apoio – Sendo um dos princípios fundamentais do jogo, é um dos maiores problemas do rugby português. O apoio ao portador é, por norma, desarticulado, atrasado e/ou com linhas e ângulos de corrida desadequados. E estes aspectos foram constantes nos jogos de Novembro. O que tem a ver com a formação – a cultura táctica é diminuta, não se aprende como determinar as linhas de corrida (falta de conhecimento e desalinhamento do propósito) ou como construir a disponibilidade mental necessária para garantir a presença, adaptada à situação, no ponto certo e no momento exacto. Tão pouco parece haver preocupação na construção colectiva e efectiva do losango. 
  2. A continuidade – não há continuidade porque não há apoio. E entendendo-se, por erro, o apoio como fase unidimensional dificilmente se garante a continuidade quer do movimento quer da manutenção dos desequilíbrios defensivos conseguidos. O apoio é uma relação biunívoca entre o portador da bola e o apoiador: se o apoiador deve garantir linhas de passe abertas, o portador deve procurar o apoio. E se o primeiro conceito diz respeito à dimensão táctica do jogo, o segundo insere-se na dimensão técnica: exige, caso a relação de poder ou distância não aconselhe o passe-em-carga, a capacidade de dar-as-costas na entrada em contacto – um gesto próximo do velho demi-tour contact francês – procurando os companheiros para manter a bola viva que, caso não haja possibilidade de efectuar o passe, deixará aberta a ligação necessária para a realização do maul em movimento. A relação apoio/continuidade – aquilo que estabelece o poderio de uma equipa – vive de uma percepção colectiva essencial: a detecção das oportunidades e imediata adaptação do conjunto dos jogadores. Ora também aqui os jogadores portugueses – enquanto colectivo – mostram dificuldades na sua percepção. O que também significa dificuldades de formação no domínio da cultura táctica.
(continua)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

PORTUGAL EM NOVEMBRO (II)

A ÚLTIMA FORMAÇÃO E O CISNE NEGRO
A formação ordenada do final do jogo com o Canadá – aquela oportunidade deitada fora -  chamou a atenção para uma faceta do jogo que não pode ser negligenciada: a exigência de surpreender.

Há anos, na selecção de que era responsável, tínhamos uma combinação para a linha de três-quartos que só utilizávamos em condições e necessidades muito particulares. Em Itália, perdíamos por dois pontos, o tempo estava em cima do final e conseguimos um alinhamento dentro dos 22 adversários. Era a altura ideal – bola ganha, passe do formação, movimento dos três-quartos a desviar atenções e o Paulo Maló – ponta – a entrar no meio dos centros com uma enorme auto-estrada, postes na frente e italianos a correr atrás. Para azar dos cabrais, linhas semi-marcadas do futebol e o ensaio – garantido e olímpico a dar seis pontos e a vitória – foi marcado meio metro antes da linha de ensaio.

Esta combinação – ou muito próxima – serviu, alguns anos mais tarde e de novo como responsável, em situação idêntica de terreno, para acabar com a resistência defensiva e derrotar a Holanda em Amesterdão e para o primeiro ensaio internacional do António Aguilar.

O “segredo” das combinações está sempre na construção de situações que, tirando o adversário da sua zona de conforto, o obriguem a duvidar do que vai ou pode acontecer. Juntando movimento credível.

O recurso, dentro da área de 22 adversária, a um alinhamento de dez jogadores – que com o lançador e o formação garantiam doze jogadores até aos 15 metros e que utilizámos na selecção diversas vezes com eficácia – colocava um problema de difícil solução para a defesa, permitindo duas soluções simples e directas: se o adversário seguia a lei do espelho, bola aberta para um sprint de uma diagonal enorme e garantida; se o adversário mantinha os seus três-quartos na posição habitual, jogava-se em maul com absoluta superioridade numérica e maior poder. O ensaio, pela surpresa, dúvida e improbabilidade, resultou quase sempre.

A utilização de dez jogadores – os oito habituais mais abertura e centro – em formações ordenadas a 5 metros da linha de ensaio adversária também deu resultados positivos com ensaios de empurrão do 8 ou do formação.

É óbvio que estas combinações não podem ter um uso constante e dificilmente resultarão  se repetidas num mesmo jogo e, assim, devem ser guardadas para as alturas necessárias – como acontece com as equipas de basquetebol que têm jogadas combinadas (e que parecem fechadas a sete-chaves…) para os últimos momentos de jogos de resultado encostado – para poderem surpreender.

Como um Cisne Negro – um acontecimento altamente improvável, imprevisível e com enorme poder de impacto segundo Nassim Taleb – ou como uma espécie da pequena alteração que pode ter consequências imprevisíveis como definido na Teoria do Caos de Edward Lorenz, estas combinações simples podem e tal como no Princípio 80/20 da Lei da Pareto, transformar um movimento simples num ensaio que resolva um jogo.

Na formação ordenada contra o Canadá, um Cisne Negro rugbístico deveria ter sido colocado com o objectivo de conseguir a vitória: era o momento e a posição. Colocar quatro três-quartos do lado fechado que efeito poderia ter na defesa adversária? Num primeiro momento a dúvida da resposta da defesa: espelho ou tradicional? Num segundo momento, a dúvida também colocada na 3ª linha defensora: defender o empurrão ou preocupar-se com a saída defensiva? Seja como for, a zona de conforto da defesa está atingida. E a vantagem conseguida permitiria a sequência: empurrão decidido para o ensaio, bola aberta no caso de impossibilidade e para o lado mais fraco da posição da defesa. Sempre com escolha adaptada à colocação adversária e com vantagem de tempo e espaço. Assim:



O ensaio estava lá – e a vitória seria conquistada. Colectivamente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

PORTUGAL EM NOVEMBRO (I)

Dos jogos de Novembro da selecção ficou-me travo amargo: o sentimento, a ideia, de que poderiam ser três vitórias ficou atravessada na realidade de duas derrotas.

Na aparência os adversários – todos eles mundialistas – não se mostraram melhores do que o XV de Portugal. Retirando a Namíbia – equipa que no final do mês escorregou para posição mais condizente com o que vale – os Estados Unidos e o Canadá não se mostraram superiores. E porque ganharam? Porque nós, Portugal, fomos inferiores: cometemos mais erros, fomos menos determinados e aproveitamos menos as oportunidades. Eles não –com a excepção do jogo dos grandes do Canadá que morreu em vinte minutos e apenas produziu dois ensaios.

A atitude portuguesa não foi de vencedores, de antes quebrar que torcer. Foi apenas de ver o que aconteceria, de espera, e – não poucas vezes – deixando que o individual se sobrepusesse ao interesse colectivo. Para agradar ao brilho – o que já não era recente…

Emigrante de 58 anos, Manuel Lopes, ex-três-quartos de clube francês e que acompanha Portugal nos jogos internacionais dizia-se desiludido: “Aquela méllée no final do jogo… tem que dar ensaio! Até na Federal 1 marcámos ensaio dali. Porque não marcar é um crime … contra a equipa! contra os jogadores! contra os adeptos! Contra o país!” Uma oportunidade de ouro deitada fora. E que – como lembrava o antigo treinador australiano Alan Jones – como as lanças atiradas, não tem segunda utilização. Enorme perdida, enorme desilusão. É verdade! A hipótese de uma excelente vitória morria na praia.

A sensação que tive foi a de ninguém quis assumir a responsabilidade, ninguém quis impor o seu olhar ao olhar dos outros e exigir: “O jogo é nosso! A vitória está aqui! Vamos a isto!”. E dali sair, colectivamente, o ensaio da vitória. Deixámos andar, um já ganho extemporâneo terá dominado os espíritos e imposto a desconcentração, o colectivo desfez-se e ficámos à espera que um individuo resolvesse o problema de todos. Que a sorte nos ajudasse em vez de exigirmos o “direito a ganhar”… que não cai do céu e se tem que ir buscar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

HISTÓRICO?

Parece uma moda infantil: ganha-se à Namíbia e avisa-se histórico; ganha-se, em sevens, à Inglaterra e reavisa-se histórico. Como se fossem marcos fundamentais e transformadores. Histórico? Histórico é ganhar um Campeonato do Mundo, não ganhar um jogo. Ganhar à Namíbia foi um bom resultado; ganhar à Inglaterra foi um excelente resultado. Ponto.

E nenhuma destas vitórias pode marcar um momento histórico porque nada muda na vida do rugby português por causa destes resultados. Como se diz da andorinha, uma só não faz a Primavera. E um resultado aqui, outro ali, não faz a diferença. Porque continua a haver uma enorme diferença entre ganhar um jogo e ver os derrotados partirem para o Mundial; entre ganhar um jogo à Inglaterra e ficar nos últimos lugares ou perder um jogo com Portugal e ganhar um World Series. Toda a diferença.

A consistência de resultados define a qualidade, estabelece o nível, constrói uma reputação. Permite a sustentabilidade da mudança. O resto é ficção ou propaganda – que não garante nenhum futuro melhor do que o presente. E o que o presente do rugby português precisa é de mais comedimento e menos propaganda. Bom senso e capacidade de ver e analisar… para que percebamos o patamar em que estamos e como deveremos proceder para o ultrapassar.

Sob pena de nos inebriarmos com a espuma.   

terça-feira, 30 de novembro de 2010

VIU-SE MAIS DO QUE MUDOU

Segundo The Sunday Times, Declan Kidney, o treinador irlandês, pediu à sua Federação que contratasse, tal era o receio de poder ser apanhado abaixo da Argentina, um investigador para criar um programa matemático que lhe permitisse conhecer as permutações possíveis no “misterioso sistema da Internacional Rugby Board” a que os resultados da sua equipa pudessem obrigar.

Como os falhanços da tabela que apresentei no “Ranking do Final de Novembro” se resumem a dois pormenores – uma centésima de ponto a menos na pontuação do Canadá (por óbvia falta de acesso de mais casas decimais nas classificações semanais da IRB) e uma troca de lugar (patriótica decisão apenas) entre o Uruguai e Portugal que apresentam os mesmos pontos (falta o acesso às milésimas e seguintes para garantir diferenças nos aparentes empates) – julgo, embora não matemático, poder preencher a função. A condição? Ver grandes jogos de rugby, claro!

Para se perceber perfeitamente que estou à altura e com mais uma demonstração – bónus comercial – de capacidade interpretativa e apenas recorrendo ao milagroso e exclusivo copy/paste – porque o ranking oficial de 29 de Novembro já está oficialmente publicado  – apresento as contas para os grandes de quem ganhou ou perdeu.

Norte/Sul no Ranking IRB
PAÍS
1 NOV
29 NOV
Pos
Pts
Nova Pos
Pts
N. ZELÂNDIA
92,85
=

93,19
0,34
AUSTRALIA
87,48
=

87,45
0,03
ÁFRICA do SUL
85,22
=

86,44
1,22
FRANÇA
82,75
2
81,66
1,09
IRLANDA
82,03
=

81,79
0,24
INGLATERRA
81,82
2
82,48
0,66
ESCÓCIA
79,81
=

81,20
1,39
ARGENTINA
79,70
=

78,97
0,73
GALES
78,58
=

77,04
1,54
FIJI
10º
74,39
10º
=

74,05
0,34
SAMOA
11º
74,02
11º
=

74,02
=
0,00
ITÁLIA
12º
72,97
12º
=

73,31
0,34
 
Ao fim de um mês de jogos, as seis equipas do Sul somam 494,12 pontos de ranking contra 477,78 das seis equipas do Norte marcam uma diferença significativa e com excepção da França e da Inglaterra – que trocaram de lugares – salvo uma ou outra aproximação, como a Escócia e a África do Sul, ou atraso, como Gales, tudo como dantes, … e o quartel-general monta-se nas 6 Nações e TriNations para atacar o Mundial de Setembro.

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