quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

PREPAREM-SE PORQUE SÓ HÁ UM OBJECTIVO

Portugal-Suíça, bancada, Estádio do Vale da Rosa, Setúbal
Pode um jogo de fraca qualidade como foi este Portugal-Suiça deixar, para além do resultado, algo de positivo? Pode e este jogo vai ter que deixar.
Ganhou-se o jogo por um 31-17 enganador, sem conquista do segundo objectivo que seria o ponto de bónus nem tão-pouco o bónus do ranking por não termos atingido os 15 pontos de diferença. E o resultado é enganador porque, por um lado, a 20' do fim Portugal perdia por 17-13 e, por outro, porque os suíços se mostraram uma equipa sem experiência e capacidade táctica para segurar um resultado que lhes era favorável - chutar aos postes daquela distância contra o vento em vez de manter a pressão sobre o fim de campo português (lembre-se que tinham na formação ordenada uma vantagem), jogar rápida e atrapalhadamente uma penalidade em vez de, aí sim, ir aos postes - dando a sensação que o seu único conhecimento do jogo é passar a bola e fazer fases.
O que, no fundo, é o que Portugal faz: passa a bola, faz fases e mostra-se incapaz de usar a bola com eficácia - o ataque à linha de vantagem é feito à distância, com jogadores parados e deixando adivinhar sem grande trabalho o que se irá passar (local de penetração ou jogo ao largo permitindo a organização eficaz da defesa, facilitada aliás pela demora da disponibilidade da bola, num simples deslizar - Louis Rodrigues foi o único a saber tirar partido desse facto) anulando assim qualquer tentativa de encurtamento da linha de defesa.
Agronomia e CDUL com 4 jogadores e Direito com 3 no XV inicial
Saído de um campeonato pouco competitivo e de muito baixa intensidade com, repete-se, as duas melhores equipas dos últimos anos (CDUL e Direito) em más posições e maus resultados, o conjunto de jogadores portugueses selecionados não consegue ultrapassar um fraco nível exibicional, de pouca eficácia e com vulnerabilidades preocupantes. Em suma: pouco jogo com pouco discernimento.
O jogo português é, de facto, fraco, sem estratégia que se veja e com factores negativos em larga medida. A formação ordenada tem-se mostrado desastrosa, sem técnica colectiva capaz e sem a solidez necessária - e não se pode ganhar jogos a nível mais elevado sem uma FO segura e capaz! O jogo-ao-pé, pesem embora as excelentes qualidades técnicas de Louis Rodrigues, surge sempre sem uma estratégia que estabeleça a vantagem do seu uso - o pontapé mais objectivo do jogou pertenceu, mesmo no seu fecho, ao pilar Hugo Valente que recuperou a bola para marcar o ensaio final depois de um excelente sprint. Nos alinhamentos também não existe a necessária e constante sintonia entre lançador e bloco do saltador - para além, claro, da total falta de variedade, nomeadamente no tempo ou forma da continuidade do jogo. Falando em continuidade, por onde anda essa arma do jogo moderno que se chama terceira-linha? Quem recupera e quem transporta? O tempo de disponibilização da bola no jogo no chão é lento e possibilita a recolocação defensiva - e isto acontece por má técnica corporal dos jogadores na entrada em contacto e na colocação da bola (imitar a entrada em "atrelado" usada pelos irlandeses talvez nos desse uma vantagem significativa...)    
O principal objectivo desta época está em garantir a vitória no jogo de barragem que designará o  país que jogará no próximo Rugby Europe Championship da época 2018-2019. Todas as outras pretensões são evidentemente secundários e esta exige a conquista de mais três vitórias - duas mais do que esperadas contra a Moldávia e Polónia e outra contra o último classificado da série superior. E são para estas três vitórias que devemos preparar a equipa nacional e os seus jogadores. Usando os dois primeiros jogos como testes definitivos: de jogadores e de meios estratégicos e tácticos.
E se os holandeses já nos tinham chamado a atenção - a que parece nada termos ligado - estes suíços vieram dizer-nos claramente: a jogarem assim correm o risco de perderem o jogo que conta.
Quadro da SportTV
Dividindo a posse territorial, Portugal conquistou em fases estáticas 32 bolas de acordo com o quadro acima, no entanto teve 104 bolas disponíveis para ultrapassar apenas 28% das vezes a Linha de Vantagem de que resultaram 10% de (3) ensaios. O que quer dizer que andamos pelo chão vezes sem conta, deixando equilibrar o que anteriormente pretendíamos ter desequilibrado.
O jogo com a Suíça traduziu a menor eficácia dos jogos já realizados
Significa isto, se olharmos para o quadro acima, que batemos contra a parede demasiadas vezes - criando as designadas fases que, fundamentalmente, premeiam defesas - numa demonstração da existente enorme dificuldade para o uso eficaz da bola. E a interrogação pertinente e alicerçada nestes factos é fácil: que modelo de jogo temos? que modelo de jogo pretendemos ter? como vamos atacar a linha de vantagem?
O positivo que este jogo Portugal-Suíça pode deixar é lembrar-nos que existe um objectivo para o qual temos de encontrar uma resposta clara, objectiva e eficaz. Porque a questão central é esta: a jogar assim Portugal não se mostra capaz de garantir a desejada saída da 3ª divisão com subida à 2ª.
Que estratégia existe para a absolutamente necessária e adequada preparação da equipa? como se pensa atingir os níveis cruciais de transformação? Ou seja: como vamos chegar lá?

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

PREVISÕES: PORTUGAL-SUIÇA E 6 NAÇÕES


Portugal tem todas as condições para vencer o jogo de amanhã contra a Suíça. O resultado previsível deve mostrar uma diferença de 16 pontos, ou seja: Portugal tem a obrigação de ganhar, conquistando um ponto de bónus (vitória com diferença de 3 ensaios) e garantindo o bónus do ranking da World Rugby por garantir uma diferença superior a 15 pontos.


Nos 6 Nações as previsões do XV contra XV e da Rugby Vision igualam-se nos vencedores e diferem - como habitualmente por recorrerem a tabelas de pontos de ranking diferentes - no valor da diferença em pontos de jogo.
É claro que e muito embora os valores do ranking dêem a vitória à Irlanda, a vitória de Gales não está posta de lado. Ainda por cima pelo retorno de Dan Biggar que garantirá uma melhor ocupação territorial com a sua capacidade de jogo ao pé e de Leigh Halfpenny que juntamente com Liam Williams garantirão uma superior capacidade de captação das bolas no jogo aéreo que a Irlanda, pelas botas de Conor Murray e Jonathan Sexton, não deixará de tentar. Independentemente do resultado final, um belo jogo em perspectiva quer pelo equilíbrio entre as duas equipas que pelas suas capacidades atacantes.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

ESCRITA DAS LEIS E APLICAÇÃO PRÁTICA

O toque na bola de Anscombe antes de Watson é visível. E a pressão de cima para baixo

A World Rugby já se tinha metido onde não devia no Mundial de 2015 ao vir a terreiro acusar o árbitro sul-africano Craig Joubert de ter proporcionado a vitória da Austrália sobre a Escócia ao conceder um penalidade no final do jogo quando deveria, dizem, ter mandado efectuar uma formação-ordenada. A polémica, pese o facto de não poder haver nenhuma anulação do facto com reposição do momento, foi grande na altura com divisão de opiniões...

... mas a World Rugby não aprendeu nada, isto é, que, se não pode modificar a situação criada, não deve comentar excepto se for para, oficialmente, clarificar uma lei mal interpretada. E voltou a fazê-lo, não clarificando nada, ajudando à confusão e retirando confiança ao sistema árbitro/vídeo-árbitro.

O vídeo-árbitro do Inglaterra-Gales, o neozelandês Glenn Newman, perguntado pelo árbitro, o francês Jerome Garcés, considerou que não houve ensaio do defesa galês, Gareth Anscombe e atribuiu o toque-de-meta ao ponta inglês, Anthony Watson. Alain Rolland, "chefe" dos árbitros da World Rugby veio dizer, em vez de estar calado como o bem senso lhe exigia, que a decisão tinha sido errada e que houve ensaio de Gales porque "de acordo com a lei 21.1 b" o ensaio deveria ter sido marcado porque "o jogador galês fez toque-no-chão."

No entanto a lei 21.1 b que Rolland cita define que, estando a bola no chão da área de ensaio, "um ensaio é marcado quando um jogador pressiona de cima para baixo a bola que está no solo.". Não tenho qualquer dúvida que Anscombe tocou primeiro na bola que Watson. Mas não faço a mais pequena ideia se fez pressão na bola de cima para baixo como refere (obriga) o texto da lei. Ou seja e voltamos ao de sempre: o que está escrito não conta! O que conta é o entendimento que o costume tem sobre o assunto e o costume entende que tocar na bola que está no solo é suficiente para considerar a marcação do ensaio.

Muito bem.

Se assim é, porque não aproveitou a World Rugby a recentíssima - entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2018 - alteração do livro das Leis do Jogo para trocar a tal pressão de cima para baixo por um elementar tocar? Porque é que não alinham a escrita das leis com a sua aplicação prática para que toda a gente, seja qual for o seu banho cultural no barril da modalidade, possa entender e praticar adequadamente o jogo?


Anscombe já tocou na bola e Watson ainda não chegou lá. Mas houve pressão de cima para baixo?
Com esta discrepância entre o escrito e o dito deveria ser feito - a FPR pode fazê-lo - um pedido de esclarecimento à World Rugby para que um rulling decida se é de pressão de cima para baixo ou de tocar que se trata. Para que em toda a parte tenhamos todos a mesma clareza sobre o jogo. E os nossos árbitros internacionais saibam, sem margem para dúvidas, como interpretar estas situações.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

ESPANHA QUASE NO MUNDIAL

Classificação do apuramento europeu para a WC2019
Com a vitória sobre a Roménia conseguida em Madrid na frente de 15.600 adeptos e por mais dois pontos de jogo do que a derrota de há um ano, a Espanha, que depende apenas de si, já tem um pé metido no Mundial do Japão.
Faltando-lhe dois jogos - a disputa com a Geórgia não conta - com a Alemanha e a Bélgica é muito improvável que não consiga duas vitórias. A garantia de ida ao Japão passa pela obtenção de um ponto de bónus - coisa nada impossível - num dos jogos, porque se mesmo que empatada em pontos com a Roménia tem a seu favor o melhor resultado entre ambos.
[Não há meio de gostar, porque o considero redutor, deste processo de desempate reduzido aos resultados entre as mesmas duas equipas - fica a posição agarrada apenas aos jogos entre as duas equipas para nada servindo os restantes resultados como o número de vitórias, diferença entre marcados e sofridos, número de ensaios conseguidos no conjunto dos jogos. Em Portugal, o critério de desempate é outro e bem mais adequado às normas desportivas de poule - todos contra todos - e na seguinte sequência: maior número de vitórias, diferença entre pontos de jogo marcados e sofridos, maior número de ensaios marcados, diferença entre ensaios marcados e ensaios sofridos e só depois, caso se mantenha o empate, se irá procurar diferenças nos jogos entre os dois clubes. Em Inglaterra (Aviva Premiership Rugby) o critério é idêntico ao português]
Com os actuais resultados e mantendo-se as perspectivas de que a Espanha não se deixará cair em  disparates, Portugal irá defrontar, para o apuramento da possível última equipa europeia presente no Mundial, a Roménia.
[Também percebo mal esta invenção da Rugby Europe em que o 7º classificado defronta o 13º - como no caso Portugal-República Checa - cujo vencedor que, na melhor das hipóteses, será a 7ª equipa classificada defrontará a classificada em 3º lugar. Por cá também aderimos à norma populista e impusemos um jogo para definir o último dos clubes da próxima 1ª divisão com oito clubes entre o 8º classificado e o 13º numa óbvia violação dos princípios da competição desportiva.]
Por falar em Portugal e na sua representação rugbística gostaria de ver considerar a hipótese de acesso ao Mundial como uma caída do céu e que fosse o jogo a realizar com o último classificado da Rugby Championship a principal preocupação da necessária preparação da equipa nacional. Porque este é o jogo que conta e marca o futuro e por isso deve ser considerado como o objectivo principal da época internacional

domingo, 18 de fevereiro de 2018

ASSIM VAI O CN1-A

Capacidades das equipas  nos jogos em casa, fora  e no conjunto
%Vitórias: relação vitórias/jogos efectuados
%Quota de Pontos: relação entre os pontos marcados e o somatório de pontos marcados e sofridos
% pontos: pontos de classificação obtidos /pontos possíveis
As rectas representam as médias de capacidade de cada equipa nos domínios CASA, FORA e GLOBAL
(para ter uma melhor visão do gráfico clique sobre ele)

A duas jornadas do final da competição regular do principal campeonato nacional o gráfico, por ordem classificativa, do posicionamento da capacidade competitiva - % de Vitórias obtidos nos jogos disputados, % de Pontos marcados (quota) da totalidade dos pontos marcados e sofridos das equipas monstrando o nível de eficácia em relação aos competidores, % de Pontos mostrando a capacidade de conquista de pontos de classificação - define, de forma clara, as capacidades competitivas demonstradas por cada uma das equipas.

  • Três equipas - Belenenses, Agronomia e Cascais - ainda não perderam em casa.
  • Quatro equipas - Cascais, CDUL, Académica e Direito - nunca ganharam fora. Neste domínio o Belenenses, com 3 vitórias fora, é a equipa mais consistente. 
  • Três equipas - Belenenses, Agronomia e Cascais - marcaram mais pontos de jogo do que aqueles que sofreram (o CDUL está igualado no marcados/sofridos).
  • Agronomia, seguida do Belenenses e Cascais, é a equipa que, em casa - obtendo 3 pontos de bónus ofensivos - mais se aproxima do máximo de pontos de classificação possíveis.
  • Belenenses é a equipa que apresenta as melhores médias de cada domínio
Se a estes elementos juntarmos as capacidades ofensivas e defensivas estabelecidas pela marcação de ensaios, teremos um quadro que nos pode permitir a análise das probabilidades de cada equipa para o futuro play-off da fase final.

Pelos resultados conseguidos, o Belenenses é a equipa mais equilibrada de um ponto de vista das suas capacidades competitivas como se pode observar pela homogeneidade das colunas que formam a sua componente gráfica daí que o seu 1º lugar na classificação geral seja, na actualidade, natural. Como factor de risco o facto de sofrer bastantes ensaios em casa o que a pode colocar em má posição ao receber o adversário da meia-final. Se é evidente que para ganhar é preciso marcar pontos é no entanto a defesa que segura os resultados.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

REDUÇÃO E SIMPLIFICAÇÃO DAS LEIS DO JOGO DE RUGBY

Com 103 países representados na tabela de ranking masculina e 83 países na tabela de ranking feminino, o rugby tem vindo a ganhar cada vez maior projecção mundial. A que Mundiais e Jogos Olímpicos masculinos e femininos têm dado a visão da sua expressão. Sendo um jogo capaz de proporcionar espectáculos desportivos de notável brilho - principalmente quando se prefere a manobra ao choque - e que facilmente, apesar do quase paradoxo de passes “para trás”, se percebe o seu objectivo principal de colocar a bola na área de ensaio adversária - numa demonstração de conquista equiparável à colocação medieval da bandeira no pátio central do castelo adversário - tem apresentado dificuldades de percepção e compreensão da forma de jogar pelas dificuldades que apresentam as suas 22 Leis do Jogo. 
De facto as Leis do Jogo são complexas - diversas e distintas formas de fora-de-jogo, relação entre as primeiras-linhas da formação ordenada ou as possibilidades de disputa do jogo no chão pouco claras e muito dependentes da interpretação quase pessoal do árbitro, são exemplos, entre outros, das dificuldades que existem pelos diversos pontos obscuros ou cinzentos. E isto para além das alterações que têm vindo a ser efectuadas e que alteram táctica e tecnicamente o jogo. 
A dificuldade interpretativa das Leis do Jogo expressa-se na necessidade das 99 clarificações oficiais interpretativas produzidas desde 2002 a que se juntam numerosas recomendações que os responsáveis internacionais da arbitragem impõem e que chegam, muitas vezes, tarde e a más horas às federações e às equipas - principalmente se não pertencem ao primeiro nível competitivo internacional. 
Tratando-se de um jogo complexo - gosto de o definir como jogo colectivo de combate organizado para a conquista de terreno com o propósito de marcar ensaios - e com diversas matizes estratégicas e tácticas, só a clareza e interpretação universal de cada uma das Leis do Jogo permite a igualdade de oportunidades que o jogo deve assegurar.
A World Rugby, entidade que superintende internacionalmente a modalidade, tendo a consciência que o actual estado de coisas no que se refere às Leis do Jogo não permitiria atingir a globalização pretendida, decidiu criar um grupo de trabalho para simplificar e tornar mais clara a leitura e compreensão das Leis do Jogo. Decisão naturalmente aplaudida por todos e principalmente por aqueles que não têm a língua inglesa como língua-mãe ou não mergulharam, ainda bebés, no barril cultural da modalidade.
As expectativas pelo resultado do grupo de trabalho eram elevadas e encaradas com grande optimismo. Até porque havia muitas vezes choque entre o que se encontrava escrito no livro de leis e o consagrado no campo - o costume, a prática cultural do direito consuetedinário britânico tinha aqui o seu peso (não foi uma nem duas as vezes em que dirigentes da mais alta responsabilidade mundial responderam à minha observação de violação do plasmado no livro das Leis do Jogo com um “mas é assim que jogamos!”).
O muito esperado trabalho foi, no primeiro dia deste ano, oficialmente, mas parcialmente, disponibilizado. Uma comissão constituída por 7 elementos conseguiu, passando para um total de 21 Leis do Jogo - diminuição de um número - reduzir em 42% a dimensão do conteúdo conhecido.
Mas, infelizmente, o resultado não me parece que possa atingir o objectivo pretendido: clarificar e universalisar o entendimento das regras que regem o jogo, uniformizando a compreensão e a adaptação ao jogo. Porque e principalmente, continua a ter por base uma visão britânica dominante - o grupo só tinha falantes de inglês e não de qualquer outra língua que facilitasse a compreensão generalizada do texto principal  - ignorando que, embora nos entendamos cada vez mais em inglês, essa língua comum não é o inglês de Inglaterra por muito que possa custar aos saudosistas do Império. E não deixa de ser curioso que no primeiro terço do ranking mundial existam 15 países que não têm o inglês como primeira ou segunda língua e que terão sido pouco ou mesmo nada achados...
Nós portugueses, já não tendo qualquer lugar - em paralelo com o nível de resultados conseguidos - nas instâncias decisórias, iremos ter problemas superiores a outros países na procura da tradução que melhor exprima a situação. Até porque a tradução oficial, como já aconteceu, deverá ser em português do Brasil...
Como método não deixa também de ser demonstrativo do posicionamento da federação internacional o facto de não ter constituído um grupo de participação funcional alargada, envolvendo e mobilizando para o processo da tomada de decisão representantes qualificados das diversas áreas culturais do mundo oval. O facto de não existirem treinadores qualificados - aqueles que mais pensam na exploração táctica e estratégica das Leis do Jogo - no grupo de trabalho é significativo e faz pressupor o aumento das dificuldades de utilização. E os erros estão lá! Erros que vão desde a incoerência com as leis experimentais actualmente em vigor - veja-se como se estabelece a introdução da bola na formação ordenada com o que se passa hoje em qualquer campo - ou mesmo por desacerto e incongruência entre pontos da simplificação efectuada ou pela falta de renovação de conceitos, mantendo discrepâncias com o jogo que se joga e que já não fazem qualquer sentido - quem percebe o sentido estratégico ou táctico da mantida definição de equipa atacante como “a adversária da equipa em cujo meio-campo se está a jogar"? Porque não terá havido uma melhor sistematização e simplificação do fora-de-jogo, nomeadamente estabelecendo a regra simples de que quem está em fora-de-jogo não pode ser colocado em-jogo pelo adversário? Porque não se trocou o conceito de "pressão" para considerar o ensaio por "tocar" na bola - deixando aberto, como se vê no pós Inglaterra-Gales, mais uma enorme zona cinzenta entre o escrito e o aceite.
Temo assim o pior com a continuidade do socorro das clarificações à medida dos pedidos de esclarecimento e que farão do conjunto das regras uma enorme confusão de difícil utilização e sistematização. E todo o trabalho realizado não servirá para aproximar competitivamente os países que não têm o rugby implantado na base da sua cultura desportiva, daqueles que o vivem desde o berço. Feito à imagem de uma visão mundial culturalmente monodireccionada e distorcida, esta diminuição de volume não trará as vantagens anunciadas ou pretendidas. Continuaremos a diversas e diferentes velocidades e com as correspondentes dificuldades de acerto universal com cada decisão dependente de um ponto de vista diferente.
Diminuição em 42% para facilidade de entendimento e consequente generalização da interpretação?!... mas será que alguém fora do reduzido mundo de eleitos - pelo erro metodológico de domínio cultural que a constituição do grupo de trabalho demonstra - consegue perceber o rugby lendo estas suas Leis do Jogo? E não é para isso que, em primeiro lugar, elas deveriam servir? Para permitir a aproximação global no respeito pelas diversidades culturais?
Desta repetição da imposição de uma cultura linguística ignorante da diversidade e da perda em traduções, não virá nenhum ganho para os que não pertencem à primeira linha da modalidade, continuando o jogo a ter um domínio interpretativo restrito a dificultar a qualidade da sua expansão.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

LÁ COMO NÃO FIZERAM CÁ

Alguns dos jogadores da selecção francesa, na noite, depois da derrota com a Escócia, tiveram comportamentos que "faltaram ao respeito do seu dever enquanto internacionais". Quer dizer: portaram-se mal e deram má nota ao rugby francês que oficialmente representavam.
O presidente da Federação francesa, Bernard Laporte, mandou abrir um inquérito oficial e Jacques Brunel, principal responsável pela selecção francesa, dispensou de imediato, num total de 8, os jogadores que tiveram tal comportamento.
Toda a gente, franceses e não-franceses do mundo de rugby, ficaram a saber que o estatuto de internacional francês -"Pelo seu comportamento inapropriado não respeitaram o seu estatuto de jogador internacional e os deveres que daí decorrem" lê-se no comunicado federativo - não tolera este tipo de comportamento anti-social à mistura com copos. No Rugby o conjunto de valores de Integridade, Paixão, Solidariedade, Disciplina e Respeito não é, não pode ser, letra morta.
Procedimento este que é o inverso da federação portuguesa que, por factos similares acontecidos no pós-jogo (Ucrânia), escolheu a via de levantar a ponta do tapete e esconder o lixo... mas continuamos a encher os olhos de valores...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

PERGUNTA

Hoje em dia qualquer pessoa interessada tem acesso a estatísticas de dezenas de jogos de rugby espalhados pelo mundo, a dados sobre idade, altura e peso de centenas ou milhares de jogadores. São dados públicos que têm a vantagem da comparação. Da aproximação. Do conhecimento. De tornar mais interessante ao adepto o interesse pelo jogo.
Em Portugal, dos jogos dos nossos campeonatos, não há estatísticas que se conheçam e, por isso, nada sabemos da efectiva qualidade do jogo que praticamos. Tão pouco as dos jogos de nível internacional que, comparando-nos, nos podiam fazer reflectir sobre os caminhos do nosso desenvolvimento técnico-táctico.
Como podemos saber quão certeiro é aquele pontapeador, quão preciso é o lançador ou qual a capacidade do saltador? Como podemos ser mais precisos na imagem que temos dos jogadores e das equipas?
E não há porquê? Porque não se preocupa a Federação em fornecer esses dados? Porque, pacoviamente, achamos que publicá-los significa dar dados ao adversário - o acesso ao vídeo, cada vez mais público e internacionalmente assegurado, terminou com a clandestinidade e garantiu o conhecimento alargado - ou porque não percebemos as vantagens que o seu conhecimento permitirá para a aproximação entre adeptos e as capacidades das suas equipas? Ou, pura e simplesmente, para que se possa falar de Rugby com uma outra dimensão?
Sem um sistema de estatísticas público e acessível, nada saberemos do nosso Rugby e das suas capacidades, ficando-nos por uma mero entretém... e muito longe do rendimento que define o nível de um desporto federado.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O RESULTADO FOI O MELHOR

Portugal-Holanda, Estádio de Honra, Jamor
iPhone JPB
O XV de Portugal cumpriu o que se exigia nesta sua segunda participação no 2018 Rugby Europe Trophy: venceu (36-12) por margem superior a 15 pontos (vantagem sobre vitória normal de +0,26 de pontuação no Ranking) e conquistou, mesmo se garantiu a diferença de 3 ensaios apenas no final do jogo, 1 ponto de bónus ofensivo, colocando-se - desde já e com menos um jogo realizado - na frente da classificação desta 2ª série europeia. E por aqui se ficou o melhor de um jogo de fraca qualidade, com muitas paragens, pouca intensidade e tecnicamente apenas razoável. E se a vitória é boa - e é o resultado que mais conta nestas coisas - não existem quaisquer razões para embandeirar em arco. A Holanda é fraca demais para servir de qualquer padrão.
De facto os holandeses mostraram, marcando 2 ensaios, a sua capacidade de jogar limitada a um período de menos de 15 minutos no início da 2ª parte. E num chão que deu uvas, esqueceram o rugby e voltaram ao jogo da bola oval - mesmo se se mostraram superiores na formação-ordenada e nalguns períodos de jogo no chão.
O uso da bola por parte dos jogadores da equipa portuguesa também não foi bom ou eficaz: dispuseram de 115 bolas mas apenas em 32% das vezes conseguiram ultrapassar a Linha de Vantagem para marcar 5 ensaios correspondentes a uma eficácia de 14%. Contra a República Checa os portugueses dispuseram de 68 bolas, ultrapassaram a Linha de Vantagem em 26% das vezes e marcaram 6 ensaios com 33% de eficácia. Ou seja e apesar da quota de pontos marcados de 75% - contra a R. Checa a quota foi de 79% - a equipa de Portugal deveria ter tido um índice de utilização bastante superior, tendo marcado bastantes mais ensaios e não ter que sofrer até ao último minuto para garantir o ponto de bónus ofensivo.
O que é que nos ensina este jogo?
Acima de tudo e porque a Holanda já com duas vitórias obtidas fora de casa, tendo derrotado a Suíça e com a R. Checa que, por sua vez já derrotou a Polónia, só por erro catastrófico é que Portugal não será o 1º classificado no grupo, indo, de novo, disputar o acesso ao grupo superior no final da época e, como manda a regra, no campo do adversário que deverá sair - o derrotado - do Bélgica-Alemanha do próximo dia 3 de Março.
O que significa, para não se repetirem erros como na época passada, que a equipa tem de ser bem preparada para esse jogo definindo-o, desde já, como objectivo principal da época. E não se julgue que será fácil. Ou existe uma preparação cuidada que possibilite aos jogadores portugueses adquirirem uma capacidade superior de intensidade ou nada se conseguirá - qualquer que seja o adversário que virá de uma habituação a um nível mais intenso.

A situação actual traz-nos um outro nível de problemas. Praticamente metade dos jogadores que constituíram o XV inicial deste jogo com a Holanda provinham dos dois clubes - CDUL e Direito - que têm constituído as melhores equipas dos últimos anos. Parece normal, mas esses clubes atravessam (ver aqui a qualidade da 1ª volta) uma má fase, ocupando o 4º e 5º lugares da classificação geral do Grupo A e com uma medíocre capacidade competitiva - o CDUL tem o negativo resultado de 40% de quota de pontos marcados, ficando-se por 10 contra 11 ensaios conseguidos e o Direito, com 35% de quota, não ultrapassa os 6 ensaios marcados contra 18 sofridos. Mas deram, respectivamente 4 e 3 jogadores ao quinze inicial e 10 aos 23 inscritos na folha de jogo. Um factor a ponderar.
Se se percebe a intenção de garantir a coesão da equipa - um dos seus factores primordiais é constituído pela quantidade de tempo de jogo comum, isto é, pelo prático conhecimento comum - existe, para o seu exercício, o limite da capacidade da prestação competitiva que cada jogador possa demonstrar. E se o campeonato continuar assim, com pouca intensidade competitiva, alinhado por baixo, será preciso dar experiência a outros jogadores que estarão em equipas que se têm mostrado com maior capacidade competitiva - e se a solução tender para os portugueses que jogam no estrangeiro, não basta trazê-los no último momento...  A preparação da selecção - constituída pelo critério de mais capazes e eficazes jogadores disponíveis em cada posição - tem que ser feita de forma compatível com os objectivos que se declaram e não há, por exemplo, equipa vencedora a nível superior cuja formação ordenada não consiga dominar a da Holanda.
Ou seja: fala-se em objectivos de voltar ao grupo superior da Rugby Europe a que se junta a vontade, pelo menos, de estar presente no Campeonato do Mundo de 2019 para o que será preciso derrotar uma Espanha ou Roménia e ainda uma Samoa. E não será com este rendimento e este nível de intensidade que isso será possível...
... e de nada servirá vir chover no molhado quando o caldo estiver entornado. Os azares caem sempre onde menos se espera e a Lei de Murphy nunca se faz esperar. Qual é o plano que se segue?


No 6 Nações, um ponto de bónus ofensivo da Irlanda e dois de bónus defensivos de Gales e França fizeram os resultados. França que continua a "quase" ganhar mas perde no fim e Gales que teve um final como deveria ter tido todo o jogo, com movimento, passes e a benção da memória - fica para lembrança a polémica sobre a decisão do TMO que terá retirado um ensaio a Gales (quando se retirará das Leis do Jogo o conceito de "pressionar a bola" e se substituirá por "tocar na bola"? Tudo ficaria mais fácil e sem subjectividades). Os jogos continuam a ser, fazendo crescer a importância e o interesse do Torneio, agradáveis de ver e deixam, claramente, tópicos para o desenvolvimento do treino. Desde que se olhe com olhos de ver.



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

DE PORTUGAL AO 6 NAÇÕES


De acordo com os pontos do ranking da World Rugby e onde ocupa a 24ª posição, Portugal deverá vencer a Holanda por uma diferença de 10 pontos de jogo. Embora equivalendo-se na percentagem de vitórias - Sucesso % - obtidas por jogos disputados - uma das derrotas de Portugal resultou de um jogo com uma equipa, Bélgica, com uma experiência de melhor nível competitivo na época em causa - a equipa portuguesa tem-se mostrado mais capaz, no mesmo nível comparativo de competição, na construção das vitórias com uma percentagem mais elevada da quota de pontos de jogo marcados nos jogos realizados.
A Holanda tem esta época duas vitórias fora. Veremos como os jogadores portugueses se adaptarão ao ritmo internacional - no salto que representa a passagem do nível interno - mesmo sabendo que se trata do 3º nível de competição e se se mostrarão capazes de se impôr nas fases de jogo no chão com recuperações suficientemente rápidas para jogar a avançar, não permitindo a total reorganização defensiva e reduzindo a largura da defesa adversária. Tudo irá depender da capacidade e eficácia táctica e técnica portuguesa do uso da bola e da consequente ultrapassagem da Linha de Vantagem em condições de tirar partido dos desequilíbrios conseguidos. E aqui a velocidade para diminuir os tempos de paragem dinâmicos, representará o factor-chave para construir a vitória.


Na 2ª jornada das 6 Nações o Inglaterra-Gales atrai as atenções. Não só de ingleses e galeses mas de todos os que gostam de rugby competitivo. As vantagens das previsões são, naturalmente, para a Inglaterra que, com melhor pontuação nos rankings, tem maior obrigação de vencer. A Rugby Vision concede-lhe um favoritismo de 87,3%, mas Gales, com as capacidades demonstradas contra a Escócia pode - todos os galeses esperam isso - fazer uma surpresa. A Inglaterra tem, na capacidade de interpretação táctica do jogo, nos seus 9-10-12 um trunfo de grande nível. A que se juntam dois pontas de grande rapidez e capacidade de evasão. Naturalmente que Gales terá que pressionar esta área central para evitar que a bola circule com facilidade.
Mas Gales também tem os seus trunfos - a defesa é um deles, a circulação da bola, independentemente da posição dos jogadores, é outra - que fazem Eddie Jones pensar e elaborar mind games: Patchell (abertura galês) é inexperiente neste nível. Jogou bem contra a Escócia mas não é o mesmo que jogar em Twickenham contra a Inglaterra. Veremos como responde a coesão de dez jogadores dos Scarlets contra a construção de uma equipa que reune, para a sua execução prática, os conhecimentos desportivos mais avançados.
A Irlanda, a jogar em casa como gosta, não deverá ter quaisquer dificuldades em vencer a Itália e do Escócia-França - com favoritismo escocês de 68,9% segundo a Rugby Vision - fica a expectativa da verificação se os franceses, mostrando evolução, conseguirão ultrapassar a qualidade defensiva, passando ao nível mais elevado de utilização eficaz da bola.
Um fim-de-semana de rugby de sofá - a Sporttv transmite todos os jogos, incluindo o de Portugal - a proporcionar muito do melhor que o jogo tem.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

LEIS: SUBSTITUIÇÕES E FORMAÇÃO ORDENADA

Nesta última jornada do 6 Nações houve duas situações de interpretação das Leis que vale a pena referir.
A primeira - de que já falei anteriormente - diz respeito à questão da Concussão - a designada HIA, Head Injury Assessement - passada no França-Irlanda e de que valerá a pena relembrar as Leis que dizem respeito à possibilidade de um jogador substituído por meras razões tácticas poder voltar a entrar em jogo. As condições estão descritas na Lei 3 - Equipa no seu ponto 32 - Jogadores tacticamente substituídos que reentram em jogo e que transcrevo:

32. Jogadores tacticamente substituídos podem voltar ao jogo para substituir:
     a. um jogador lesionado da 1ª linha;
     b. um jogador com lesão de sangue;
     c. um jogador sujeito a Avaliação de Lesão na Cabeça (HIA);
     d. um jogador lesionado em consequência de um acto de Jogo Ilegal (desde que verificado pela equipa de arbitragem)
     e. Um jogador como descrito na Lei 3.18 ou 3.19

Portanto e voltando ao caso francês: se o formação Antoine Dupont teve apenas uma lesão no joelho não poderia ser substituído, como foi, pelo já substituído Maxime Machenaud. A confirmar-se que não houve HIA, os responsáveis pelo erro terão sido o 4º árbitro (francês) e os "socorristas" (franceses) que assistiram o jogador no relvado e que induziram, pelos gestos, o médico oficial (independente) - que vê o lance pela televisão. E a questão é se essa indução foi feita propositadamente. Esperemos pelo relatório da investigação - mas alguma coisa irá com certeza alterar-se nos procedimentos.

No outro caso, este generalizado e que pode ser visto em todos os jogos, diz respeito à introdução da bola na Formação Ordenada.
Ficou esta época decidido - e houve uma reunião prévia entre árbitros e treinadores - que não seria mais tolerado a introdução da bola torta nas formações - o lançamento para os pés da 2ª linha era já a regra... A bola, como manda a Lei Experimental 20.6 (d) Introdução da bola pelo médio-de-formação, terá de ser introduzida numa direcção paralela às linhas de ensaio do campo mas sendo o médio-de-formação introdutor autorizado a, colocando um dos seus ombros alinhado pelo linha média das formações-ordenadas, introduzir a bola sob o tronco do pilar do lado da introdução que, lembre-se, pode ser realizada por qualquer dos lados. Ou seja, a exigência da introdução da bola em linha paralela às linhas de ensaio não obriga a que ela seja introduzida pela linha média da formação-ordenada. 
As razões desta vantagem na introdução da bola existem para que não haja, de acordo aliás com o que define o Código do Jogo, benefício do infractor uma vez que um dos membros da 1ª linha da equipa introdutora é obrigado a talonar a bola, colocando a sua equipa em desvantagem, num 7x8, no empurrão quando da conquista da bola. Portanto, bola direita sim mas não pela linha média da formação-ordenada.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

JOGOS COM ENSINAMENTOS

A jornada das 6 Nações, mantendo as expectativas, trouxe a continuidade de bons jogos de que já havia saudades.
A melhor vitória coube ao País de Gales que, no 7º lugar do ranking - já é 6º - venceu a Escócia que era 5ª classificada - agora é 7ª - por 27 pontos de diferença e um ponto de bónus ofensivo. Muito se falava da necessidade de modificação do tipo de jogo que Gales utilizava - cheio de Warrenballs - e parece que desta foi, com recurso a 10 jogadores - e mais dois suplentes - dos Scarlets onde o espírito de Carwyn James - Llanelli volta a lembrar-se da vitória de 1972 sobre os AllBlacks - parece pairar, o jogo mudou definitivamente e as memórias dos anos setenta voltam a encher os espaços do estádio de Cardiff. Os galeses foram notáveis na forma como souberam impedir o jogo escocês, aparente e provocadoramente caótico, com os seus jogadores a utilizarem muito mais a adaptação ao que aparece na sua frente do que com preocupações de combinações prévias. Mas a defesa galesa, subindo sempre com muita rapidez e adaptando-se colectivamente e em movimento de acordo com as necessidades - defesa com subida rápida e adaptativa (o scramble das esquadrilhas que se atacadas no solo tinham segundos para se pôr no ar organizando-se em simultâneo), foi capaz de contrariar a movimentação escocesa que não se mostrou capaz de, sustentadamente, a ultrapassar. Gales venceu o jogo seguindo um princípio simples: a bola é para ser usada e o objectivo da sua posse consiste em marcar ensaio. O que exige, como bem tem demonstrado os Scarlets, uma capacidade de passar e receber bem dominada por todos os jogadores da equipa. Curiosamente o maior erro de recepção pertenceu ao ponta Steff Evans - que soube finalizar um excelente movimento - que não conseguiu receber um passe-em-carga do seu capitão Alun-Win Jones para desperdiçar uma jogada soberba. Desperdício que se deveu apenas à manutenção da linha de corrida inicial sem qualquer aproximação ao portador da bola num erro muito comum e a deixar a dúvida: jogador de testes ou apenas de clube?  
O papel essencial das manobras de ataque é o de encurtar a linha defensiva, conseguindo assim espaço livre e superioridade numérica atacante. Situação que se alcança com passes, linhas de corrida adequadas e variação nas zonas de penetração. Ou seja, com mais manobra que colisão como procurava Nuno Álvares Pereira nas batalhas em que enfrentou exércitos de superior tamanho. O que signfica que o recurso permanente a perfurações no Canal 1 não serve de coisa alguma porque raríssimas vezes consegue encortar a linha defensiva por não implicar jogadores defensivos suficientes e por permitir uma ajuda e recolocação em tempo útil. É a variação do uso do Canal de penetração de acordo com as situações de confrontação que, retirando o tempo de apoio aos defensores, garante uma continuidade de jogo vantajosa. Como se pode ver no terceiro ensaio inglês de Orwen Farrell em que a expressão táctica da escolha da geografia ditou um fácil final de 4x1. Como resultado de um excelente trabalho de equipa.
Neste jogo Itália-Inglaterra não deixa de ser curioso que até aos 67' o resultado estivesse em 15-27 para acabar com 15-46 ao fim dos 80 minutos (19 pontos em 13'). Aquilo que Eddie Jones procura - a capacidade de terminar forte para dominar os jogos como o fazem os AllBlacks - parece começar a fazer efeito. Deslumbrado com o que encontrou em Guardiola - a designada "periodização táctica" que é criação do portuguesíssimo Vítor Frade e que tem sido utilizada pelos melhores treinadores mundiais como José Mourinho e a que se acrescentam os outros treinadores portugueses que têm marcado pontos no estrangeiro - Eddie Jones tem seguido a preceito a actualíssima tendência de aumento da intensidade e diminuição de volume para - como reconhecem os seus jogadores - sentirem a confiança que estão habituados a níveis muito superiores àqueles a que são obrigados nos jogos que disputam e assim não recearem correr os riscos que a eficácia exige. Não querendo descurar qualquer pormenor - no intervalo das 6 Nações pretende treinar com o pack avançado da Geórgia... - que os possa impedir de atingir o objectivo de vencer o Mundial de 2019, Jones tem também recorrido a um perito das Australian Rules, Neil Craig (que esteve recentemente no Algarve com a equipa inglesa) para treinar a captação de bolas do ar com recurso a diferentes técnicas que podemos apreciar nas captações de Israel Folau. A Itália - depois de ter deixado os treinadores franceses que não a levaram a lado algum - não esteve mal enquanto durou mas precisa de encontrar um grupo de avançados que possam ombrear com os seus jovens mas talentosos três-quartos - Parisse não chega para tudo e um dia destes, com 34 anos, terminará a carreira. 

O jogo França-Irlanda esteve quase a proporcionar uma surpresa: a 3ª equipa do ranking mundial não perdeu por um triz. E não perdeu porque os irlandeses, numa demonstração de inteligência táctica e qualidade técnica levaram o jogo, num encadeamento de 41 fases de jogo para cumprir a estratégia de colocar Sexton dentro da sua distância de conforto de pontapé-de-ressalto, desde a sua área de 22 até ao meio campo adversário. Um tratado: notável trabalho dos avançados irlandeses na preparação, um passe técnicamente capaz de Murray e um ressalto de Sexton de cortar a respiração até à certeza final. Mas de uma 3ª classificada, embora admitindo-se que a França com 253 placagens tenha defendido bem, espera-se mais: mais jogo, mais eficácia, mais pontos.
Mas se no jogo pelo jogo a França não ficou de todo mal na fotografia, no capítulo disciplinar voltou a borrar a pintura. Mais uma vez criou a confusão necessária - lembram-se de 20 minutos a mais de jogo por causa de uma duvidosa substituição contra Gales? - para a substituição do seu Formação em campo por outro anteriormente já substituído. Aparentemente tratou-se de uma hipótese de concussão...mas toda a gente viu o jogador substituído a sair lesionado do joelho. O que, sendo assim, não permitiria a entrada de um jogador já substituído. As dúvidas são tais que o caso está em análise e, espero, caso seja considerado batota - não há outro termo -, que o castigo seja suficientemente exemplar para impedir cópias. O caso pode ser eticamente grave e, portanto, fora dos padrões e valores que regem o Rugby.

Desta jornada fica também e como ponto positivo a demonstração que a "dobra" é uma terrível combinação atacante - sempre que foram feitas colocaram problemas de muito difícil solução às defesas. E é muito fácil de realizar - uma linha de corrida adequada e um passe, chegam.

Quanto ás previsões, se o acerto foi total nos vencedores, o XV contra XV perdeu 36 pontos nas suas previsões enquanto que o Rugby Vision perdeu 29 pontos. Está visto, no mundo das apostas acertámos no que acerta todo o mundo, mas não servimos para apostas nas diferenças de resultados. Mas quem diria que Gales enfiaria um resultadão e a Irlanda faria um resultadinho... sortilégios do Desporto.

Jogos 1ª jornada
Previsões anteriores

Resultado Dif XV contra XV Dif RugbyVision
Dif
Gales-Escócia
34-7
+27
+2
-25
+5
-22
França-Irlanda
13-15
-2
-11
-9
-4
-2
Itália-Inglaterra
15-46
-31
-33
-2
-26
-5

Total
-36
Total
-29

(nota: A Espanha, nos Sevens, já garantiu, ao fim de 4 etapas, 8 pontos de diferença para o último lugar que é ocupado pela Rússia)

sábado, 3 de fevereiro de 2018

COMEÇA O 6 NAÇÕES. PREVISÕES

O 6 Nações 2018 começa este fim-de-semana e a possibilidade de ver bons jogos de Rugby - nós através da televisão (transmissões directas na Sport TV) - aí está. E ao ver estes jogos mau não seria que tirássemos as ilações necessárias a uma melhor compreensão do jogo actual e que conseguíssemos perceber quais as adaptações que temos de fazer adequadas ao perfil dos jogadores portugueses. Mas há coisas, gestos técnicos e conceitos tácticos, que são importáveis e facilmente compreendidos pela mera observação: porque se chuta assim? qual é o objectivo? como jogam os "aberturas" e porquê? qual o tempo de conquista nos alinhamentos e que vantagens se pretendem com isso? o jogo em duas linhas é mais eficaz com ataque ao canal 1 ou ao 2? Qual é o objectivo atacante e como fazem para o conseguir?
Enfim: um enorme conjunto de perguntas e visão de soluções para quem quer ver os jogos como - para além do entretenimento - um meio de aprendizagem  e reflexão para melhorar as condições de treino das suas equipas.  

Nesta jornada do 6 Nações,  dois jogos - o Itália -Inglaterra não terá estória em termos de resultado vencedor - não têm vencedor antecipado: Gales-Escócia e França-Irlanda.

Em Cardiff, a equipa galesa - com 10 habituais titulares lesionados (7 foram Lions) - apresenta-se com 10 jogadores da equipa que considero a mais interessante - por mais criativa - equipa europeia: os Scarlets. E se existe alguma falta de experiência deste nível de jogos internacionais do mais elevado grau, também existe a vantagem do conhecimento mútuo, permitindo um elevado nível de coesão com os três primeiras-linhas, um flanqueador, dois médios, dois centros e dois três-de-trás todos habituados a jogar juntos no seu clube. Tendo a Escócia, que se tem vindo a mostrar em crescendo, vencido em Murrayfield na época passada, terá como objectivo a repetição da proeza e vencer onde não consegue desde 2002 - mas Gales também quer "vingar-se"... Um jogo de enorme tensão e de resultado imprevisível.

A França, com todas as dificuldades que tem mostrado nas últimas épocas e a que se juntou a política de decisões laportiana, joga um tudo por tudo para inverter a má impressão que fomentou junto do seu público. Mas contra uma equipa como a Irlandesa - 3ª no ranking mundial e com apenas uma derrota nos últimos sete encontros entre ambos os países - a sua tarefa não será fácil para mais tratando-se de uma equipa jovem e pouco experiente - o seu "abertura", Matthieu Jalibert, tem apenas 19 anos. No entanto as dificuldades de viajar - isto é, de jogar fora do conforto do seu Aviva Stadium - têm sido uma marca irlandesa e os 90% de eficácia  nos pontapés aos postes de Machenaud podem fazer a diferença.

Entre a Previsão do XV contra XV e da Rugby Vision - de N Winchester, economista do MIT - não há qualquer diferença sobre o prognóstico dos vencedores mas, como partem de bases diferentes - o primeiro dos pontos de ranking da World Rugby e o segundo de ranking próprio - também a previsão da diferença de pontos de jogo não é idêntica. Domingo se verá quem ficou mais próximo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

CAMPEONATOS NACIONAIS CN1- ANÁLISE DA 1ª VOLTA

Terminada a 1ª volta - embora com intromissão de jogos atrasados na 2ª volta - é agora possível analisar o ocorrido nestas cinco jornadas.
O primeiro ponto que ressalta e que tem muito mais a ver com a observação do que enquanto resultante dos parâmetros apresentados reside no facto desta 1ª volta ter mostrado um conjunto de jogos de fraco nível técnico-táctico. Isto muito embora - veja-se a proximidade da relação entre os Resultados Inesperados e Esperados - se tenha tratado, fundamentalmente pelo número dos seis melhores clubes nacionais a competir, de uma prova com nível competitivo mais equilibrado como comprova ainda o facto de existir um número superior de pontos de bónus defensivos sobre os ofensivos. O que aumenta o interesse do campeonato e dá aos jogadores possibilidades de adaptação a um nível competitivo superior permitindo-lhes exprimir a qualidade das suas qualidades técnico-tácticas. 

O quadro CAPACIDADE COMPETITIVA juntando três indicadores - a percentagem de vitórias conseguidas nos jogos realizados, a relação dos pontos de jogo marcados no conjunto de pontos marcados e sofridos, mostrando a maior ou menor facilidade média e global como foi conseguida a superioridade sobre adversários e, por último, a relação do número de pontos de classificação conseguidos com o número total de pontos possíveis - no caso, cinco pontos, por cada jogo, multiplicados pelo número de jornadas. A principal nota desta primeira volta do Campeonato Nacional das melhores equipas portuguesas resulta da surpreendente má prestação - como se pode ver no quadro abaixo - dos dois melhores clubes das últimas épocas: CDUL (37,6% de média global de capacidade competitiva) e Direito (38% de média global de capacidade competitiva). Qualquer deles longe da média global de 49% do conjunto de resultados obtidos pelas equipas em competição, sofreu mais derrotas do que conseguiu vitórias, sofreu mais pontos de jogo do que aqueles que conseguiu marcar, não conseguindo sequer metade dos pontos de classificação que disputou. Desta realidade pode resultar que o maior nível competitivo demonstrado pelos anteriores indicadores esteja nivelado por baixo, justificando assim o fraco nível técnico-táctico que as diversas equipas apresentam em jogo.
Definida pelo conjunto de vitórias obtidas, relação pontos marcados/pontos sofridos e o número de pontos de classificação sobre o total de pontos possíveis (5 x número de jornadas)
A surpresa da 1ª volta esteve no Belenenses (69% de média global contra 65% do segundo classificado) que se apresentou muito competitivo, conseguindo surpreender adversários que se têm mostrado, em épocas anteriores, sempre superiores. Equipa bem organizada com um modelo de jogo bastante bem assimilado, os Belenenses, sendo uma equipa jovem a que faltará a necessária experiência, criam a curiosidade para saber até onde chegarão. Veremos como se comportarão após as paragens do campeonato - e como resistirão a eventuais melhorias dos seus adversários.

Pelos resultados obtidos nesta 1ª volta existirá uma luta entre CDUL e Direito para garantir um lugar  na Final Four que disputará o título nacional - pelo andar da carruagem só uma destas equipas se conseguirá qualificar. Final Four que tem a particularidade, como se sabe, de se jogar a eliminar naquilo que é uma tradição prática do jogo de rugby - tudo se decide no tempo de 80 minutos. Assim a positiva regularidade demonstrada, traduzindo sustentabilidade e se estabelece a base em que as capacidades competitivas de uma equipa assentam, pode não ser suficiente para conquistar o título final. À capacidade regular é preciso juntar outra capacidade de factores como a experiência, a capacidade de tomada de decisões ou a eficácia na utilização das oportunidades, explorando erros dos adversários ou situações circunstanciais, que exigem uma superior coesão da equipa e que podem fazer dela campeão nacional. Esta forma de disputa se pode parecer injusta por poder trair a melhor regularidade de uma equipa - o campeonato deve premiar a equipa mais regular, ouve-se de acordo com a visão tradicional - ao alargar as exigências das capacidades colectivas de uma equipa, obrigando-a a atingir um estádio superior de eficácia, acaba por premiar a equipa mais capaz. Nem que seja, como explicitamente já aconteceu, pela melhor adaptação estratégica ao calendário conhecido.
Por outro lado, Agronomia com altos e baixos - 3 vitórias e 2 derrotas -  após as promessas iniciais, deve o seu lugar pontual à capacidade de conquista de pontos de bónus quer ofensivos - 3 pontos - quer defensivos - 2 pontos. O que representa uma demonstração não negligenciável de capacidade - ganhando ou perdendo fazem-no pelo máximo...

Neste Grupo A apenas três equipas conseguem vantagem nos três indicadores. As outras três - CDUL, Direito e Académica - encontram-se muito longe do equilíbrio competitivo. Esta verificação ajuda a solidificar a ideia de que o equilíbrio competitivo verificado pelos dois primeiros quadros se suporta num nivelamento por baixo.

No Grupo B o desequilibrio competitivo mostrou-se bastante superior - como se pode verificar nos gráficos que seguem com muito poucos resultados inesperados e com mais bónus ofensivos que defensivos.
O CDUP tem-se mostrado como a equipa mais capaz (85% da média global de capacidade competitiva), contando só com vitórias os jogos efectuados e com uma conquista de pontos que ultrapassa os 90% dos pontos de jogo em disputa, enquanto que o Benfica, já há muito tempo afastado destas andanças, conseguiu vencer adversários competitivamente mais experientes.
Definida pelo conjunto de vitórias obtidas, relação pontos marcados/pontos sofridos e o número de pontos de classificação sobre o total de pontos possíveis (5 x número de jornadas)


Como se pode ver pelos dados destes dois últimos quadros a experiência de jogar na divisão mais elevada não tem resultado em maiores capacidades competitivas.
Veremos como correrá a 2ª volta da fase regular e quais as tendências que se desenvolverão.


Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores