sábado, 30 de março de 2013

O MITO DA DEFESA GANHAR JOGOS

Não passa de um mito essa estória de que os jogos se ganham na defesa. Não ganham e a razão é elementar: a defesa não marca pontos e para ganhar é preciso marcá-los. No mínimo mais um do que o adversário.

Para ganhar é preciso saber atacar, saber utilizar a bola, saber atacar a defesa, descobrindo-lhe os pontos fracos e explorando os desequilíbrios conseguidos. E ser suficientemente rápido para não permitir que os defensores recuperem das suas situações de inferioridade. Atacar eficazmente não é fácil mas é decisivo para garantir vitórias.

É um facto que as defesas, com organizações muito seguras, estão cada vez mais difíceis de ultrapassar. Mas ainda não conseguem o milagre de marcar pontos. Mesmo se uma boa defesa possibilita uma maior recuperação de bolas, ainda é necessário garantir a transformação de defensores em atacantes, isto é, realizar uma alteração de forma: de organização e de acção.

É óbvio que também não é possível - porque o adversário também terá posse da bola - jogar só baseado no ataque. É preciso ter uma defesa que, no mínimo, não deixe o adversário quebrar demasiadas vezes a linha defensiva e que, na melhor das hipóteses, consiga recuperar a bola.

O mito de que as defesas garantem a vitória amplia-se na ignorância do ataque.

Para que o ataque seja eficaz e se possa sobrepôr à defesa, é preciso que se cumpram os princípios que o objectivam: jogar em cima da defesa, explorar os pontos fracos, atacar os intervalos, ser capaz de apoiar em profundidade, de garantir o movimento da bola no tempo justo e saber alternar de acordo com o movimento da defesa adversária. Tudo feito colectivamente.

Rugby é um jogo de ataque - vem nos livros e resulta dos princípios que o formatam: absoluta necessidade de conquistar terreno porque a bola não é passável para a frente. A defesa é uma componente do jogo que tem a importância de impedir o adversário de marcar pontos - mas que só consegue ganhar jogos se o ataque, marcando, o permitir.

Ganha quem ataca bem e não defende mal.

domingo, 24 de março de 2013

CYMRU AM BYTH!



Desenhado no iPad com ponta de borracha
Voltei a ver o jogo - que jogo, que momentos, que vitória.

sábado, 23 de março de 2013

CARVALHO: UM AMIGO (194../2013)

Morreu o Manuel Carvalho, enfermeiro/fisioterapeuta e meu parceiro da equipa que, com o Raul Patrício, constituímos no Dramático de Cascais e, com outros como o António Coelho, o Caleia, o Fritz, o Granate e o Graça Gordo constituímos em alturas da Selecção Nacional. Era uma pessoa muito particular, profissional de excelência ajudava qualquer um sem ver a cor da camisola - larga o gajo, vem-te embora, gritava o Nicha; e para nós: ando eu a pagar as pomadas e as ligaduras e o gajo a gastá-las no adversário... Mas gostava dos nossos como de mais ninguém... a festa que fazia por cada vitória, a confiança que no balneário distribuía pelos que sabia estarem mais impressionados, era uma mais-valia para a coesão e eficácia da equipa. Era o amor ao Dramático, o amor aos seus meninos, a falar. A fazer crescer as capacidades de cada um.

Era uma jóia de um tipo, em quem se podia confiar sem hesitações. Sempre presente, sempre atento. Conhecedor das capacidades do corpo e do espírito sabia avisar-nos quando percebia algo a correr mal em alguém. Era, conforme os momentos, um pai, um irmão, um amigo dos jogadores que não receavam contar-lhe receios, dúvidas, preocupações - para todos eles tinha uma palavra que os fazia sair das salas de fisioterapia, quase sempre improvisadas, muito melhor do que tinham entrado. Mais capazes, mais libertos, mais decididos.

Excelente contador de estórias, vernáculo na expressão, era a memória viva dos tempos que passamos desportivamente juntos. Só conseguiu fazer amigos, dizia-se hoje no cemitério.

Apesar de ter dado o melhor do seu tempo às variadas modalidades do Dramático encontrou no Rugby - ouso dizê-lo - a sua âncora preferida. Os títulos que então conseguimos - jogadores e equipa de treinadores - têm uma parte sua. Uma parte importante.

O Manuel Carvalho é um amigo. A sua partida é uma perda grande: para o nós, para o Dramático, para o Rugby. Honremos-lhe a memória.

domingo, 17 de março de 2013

FRACO JOGO, FRACO RESULTADO

"Joga-se de acordo com os pontos fortes e fracos do adversário", Graham Henry

Não arriscámos, empatámos. Num péssimo jogo, de baixa nível de ambas as equipas, lembrei-me do conceito americano sobre o empate: desportivamente não faz sentido. Claro: uma série de pessoas a fazer um enorme esforço durante uma data de tempo, para terminar tudo na mesma forma em que começou. Um desperdício, portanto.

Ainda não fiz todas as contas - nem sei quando me apetecerá fazer - para perceber se este empate representa o desastre ou o prolongar da esperança. Mas que diabo! Como é que estas duas selecções, a mostrar o que mostraram hoje, pretendem estar presentes no Mundial de 2015?

De uma forma geral e visto o que viu, pode perguntar-se: que se espera para utilizar a Península Ibérica como espaço para criar, para os jogadores de ambos os países, competições que os aproximem do mais alto nível. O tempo é, embora já tardio, agora. Deixar correr vai custar muito mais à capacidade competitiva de ambos os países ibéricos.

Uma outra pergunta não pode deixar de ser feita: tendo nós um sistema de treino da Formação Ordenada reconhecido nos países europeus avançados da modalidade, como é possível que sejámos tão fracos neste domínio do jogo?

Começamos o jogo a ver o que a coisa iria dar e deixámos os espanhóis construir a confiança que tinham presa por arames - o que lhes permitiu, mesmo na mediocridade de que deram provas, aguentar o resultado até ao fim. Deste jogo, mas já visível nos jogos anteriores, há uma ilação a retirar para memória futura: não são os sistemas que ganham jogos mas sim a eficácia na utilização da bola. E ter a posse da bola e deitá-la fora com pontapés incapazes de criar qualquer problema à defesa adversária, não é forma de chegar à vitória - pelo contrário constitui uma demonstração de receio e de incapacidade. E só os confiantes chegam à vitória. Porque é preciso ter confiança e saber fazer colectivo para não deixar fugir vitórias nos últimos minutos.

Vejam-se os italianos. Há quarenta anos fiz parte da selecção portuguesa que empatou 0-0 com eles em Pádua e que perdeu em Lisboa por oito pontos de diferença. Na vitória de Coimbra, de bengalas, pude participar, a convite do seleccionador Pedro Cabrita, no antes e depois da vitória. Como responsável pela Selecção Nacional vi a equipa ser derrotada, em 1986 e em Jesi, por dois pontos com um ensaio, que nos daria a vitória, marcado na má linha no final do jogo. Hoje a que distância estamos? Muito grande se olharmos para os jogos realizados por ambas as equipas. Notável jogo, com a mão superior do francês Jacques Brunuel, que fizeram os italianos - a cada conquista da bola correspondia uma utilização eficaz com o objectivo claro de, criando enormes dificuldades à defesa irandesa, marcar pontos. O movimento e a continuidade foram constantes que permitiram o ataque à linha de vantagem. E assim, com o jogo positivo de criação e continuidade de acções, venceram França e Irlanda. E venceram bem, a jogar bem, a entusiasmar quem viu.

Contrariamente ao que os resultados de Novembro poderiam fazer parecer, Gales voltou - e só não foi uma enorme alegria pelo resultado português - a ganhar o 6 Nações. Num jogo formidável de constante, defensivo e ofensivo, avanço no terreno - jogo que deve guardar-se para quando houver necessidade de saber como se constroem vitórias - liquidaram a poderosa equipa inglesa. Sem margem para dúvidas.

Os galeses passaram por uma baixa, numa crise onde tudo parecia jogar-se ao contrário. Com trabalho - muito, com certeza - deram a chamada "volta por cima" e mostraram retornar ás capacidades que se lhes reconhecem. Venceram e convenceram! Um bom exemplo para Portugal, para os seus jogadores e treinadores, para reflectirmos sobre formas e conceitos do jogo, focalizando naquilo que importa - os princípios fundamentais do jogo - e, com trabalho adequado, voltarmos ao nível competitivo que considerámos ser o que pretendemos.

Mas não se chega lá por obra e graça de um qualquer mero desejo... só com trabalho com objectivos suportados na devida cultura táctica.

sábado, 16 de março de 2013

QUEM ARRISCA, GANHA

Que importa que na teoria a Espanha seja dada como favorita com doze pontos à maior? Que importa, aliás, que o jogo seja em Espanha? Que importa seja o que for quando a única consolação que resta nesta época internacional é ver Portugal ganhar?

Como nos vamos habituando noutras modalidades, deixamos tudo para o fim, apostando num sabe-se lá o quê que tem o sortilégio de nos proteger. E vivemos estes jogos de coração na mão, no equilíbrio de uma corda bamba, num jogo duplo de suspense e objectividade.

Já se sabe: só interessa a vitória. E como consegui-la?

Embora não devamos levar muito a sério o saco espanhol de 60 pontos conseguidos na Geórgia, (porque, como já sabemos da experiência, significa pouco sobre as suas possibilidades) esse resultado pode ajudar-nos se, marcando primeiro, obrigarmos os espanhóis a correr atrás do resultado. O fantasma de Tiblisi pode então levá-los à precipitação e ao erro aproveitável. E assim, de desconfiança em desconfiança, de pressão em maior pressão até à derrota final como resulta do corolário da Lei de Murphy: quando a pressão aumenta sheet happens!

Para que isto seja possível, para que a vitória seja real, é preciso que cada jogador mostre a confiança necessária - em si próprio com transmissão aos companheiros - para que a equipa possa correr os riscos necessários que a marcação de pontos exige. Ou seja que o XV de Portugal seja o agente criador de acções, deixando o espaço da reacção para o adversário. O que significa que Portugal deve assumir o papel de equipa atacante e obrigar a Espanha ao papel de defensores.

O que exige confiança, muita confiança. E a sorte dos que porfiam.




segunda-feira, 11 de março de 2013

DESPERDIÇAR PERSPECTIVAS

"O jogo de rugby é isto: ganhar a corrida pela conquista da Linha de Vantagem."
Graham Henry, treinador campeão mundial 2011.

Não choveu e Portugal perdeu. Rima e é verdade. Perdemos.
E de novo deitamos fora oportunidades. Três jogos em casa e duas derrotas é o que levamos. Muito pouco para chegar ao pretendido Mundial de 2015 e demasiado em exigências para os outros jogos que se aproximam.
A Russia, dados os resultados, é um adversário directo - ambos lutamos pelo 3º lugar e perder em casa como perdemos é muito mais pesado do que as aparências: perdemos quatro pontos que os russos marcaram a que se junta a perda de mais quatro que não marcamos; perdemos um possível ponto de bónus a que se junta o que os russos marcaram. Ou seja, só nos resta uma hipótese para continuar na corrida: vencer na Russia no próximo ano, conquistando cinco pontos, colcando igualdade entre nós e indo buscar pontos aos mais fortes. Possível mas muito difícil.
Neste jogo fizemos o que temos apresentado: demasiados erros e muita incapacidade de uso eficaz da posse da bola - valeu-nos ainda quem sabe (Samuel Marques) como se jogam faltas próximas da área de ensaio adversária. Na defesa fomos desastrosos, esquecendo os princípios colectivos e deixando cada um defender-se como podia. Jogamos longe daquilo que é necessário para este nível internacional.
Erros, incapacidades e decisões desadequadas - se os pontapés-a-seguir estavam a criar problemas à defesa russa porque não fizemos deles uma constante até que o pânico tomasse conta da sua última linha defensiva. Porque é que, em vez disso, insistimos no já clássico e nada surpreendente modelo de conquista e imediata perfuração no corredor central? (por jogar assim e mesmo com toda a sua capacidade física, a Inglaterra ia sendo surpreendida pela Itália...).
Esta derrota tem resultados óbvios: de conceito, de treino, de escolhas. E o esforço de muita gente merece mais.
Os russos mostraram-nos como se deve, contemporaneamente, interpretar o jogo: ataque permanente à Linha da Vantagem; construção do apoio axial; capacidade de decisão na defesa em subida imediata ou no deslizar de acordo com a relação numérica defesa/ataque; ataque à bola em velocidade; capacidade de manutenção do movimento da bola. E assim ganharam, jogando mais e melhor do que nós. Surpreendendo até.
Resta-nos a exigência de uma vitória - em que um ponto de bónus não será despisciendo - em Santiago de Compostela, contra a Espanha. E repensar métodos, sistemas e escolhas para reconstruir uma equipa capaz de chegar ao Mundial. Na próxima época não haverá peras doces em qualquer ds jogos.

[nota: apesar das dificuldades de apuramento não faz sentido desistirmos do XV e colocarmos toda a carne no assador Sevens. Por três razões: ainda não está, embora esteja mais difícil, tudo perdido para a qualificação mundial e temos, segunda razão, que ganhar, na pior das hipóteses, o número suficiente de jogos para que não desçamos de divisão; por último mas não menos importante, os actuais jogadores de sevens já mostraram do que são capazes e, sendo geridos com atenção, humildade e responsabilidade, garantirão a manutenção no objectivo fundamental das World Series.]

sexta-feira, 8 de março de 2013

GANHAR OU GANHAR




Amanhã a Selecção Nacional só tem um resultado possível: ganhar! E ganhar seja com boas ou piores maneiras no que respeita à qualidade do jogo. Trata-se apenas de uma possibilidade: ganhar! Sem mé, nem contra-mé. Ganhar!
Porque só assim poderemos continuar a manter a chama viva da esperança na presença no Mundial de 2015.
Os valores do ranking da IRB "dão-nos" a vitória - por três poucos pontos, mas dizem-nos mais favoritos do que os russos.O que significa que não se está a pedir o exagero de toda a sorte dos deuses para sair vencedor de Taveiro. Que chove, que não é o melhor terreno, que é um azar dos diabos, que vamos ter dificuldades a jogar à mão, a abrir o perimetro de jogo. Que seja! que seja um azar, um isto ou um aquilo mas que transforme cada um dos jogadores portugueses num valente e invencível guerreiro que só desiste depois da vitória garantida no apito final do árbitro.
Que se jogue ao pé, conquistando território e retirando conforto - encostando-os à linha de ensaio - ao sistema defensivo russo. Que cada momento de proximidade à área adversária se traduza em pontos no bornal. Que cada momento de aproximação crie o pânico aos nossos adversários, retirando-lhes espaço de segurança da reorganização por falta de terreno nas costas.
Como dizia Sun-Tsu: ser invencível depende da própria pessoa, derrotar o inimigo depende dos erros do inimigo. Ou seja: atitude conquistadora, de antes quebrar que torcer, a provocar a pressão necessária à desorganização adversária. E confiança, muita confiança! Tornando a chuva um aliado.


terça-feira, 5 de março de 2013

CDUL:DUAS TAÇAS SÉNIORES

Os seniores do CDUL ganharam as duas Taças de Portugal em disputa. Sem grande valia técnico-táctica no jogo dos mais velhos - continua a mostrar-se difícil a exploração dos desequilíbrios conseguidos com a ultrapassagem da Linha de Vantagem, quer seja pela incapacidade técnica de disponibilização da bola tão rápido quanto a concentração é feita, quer ainda pelo facto dos jogadores exteriores receberem a bola parados e, só depois de terem a bola nas suas mãos, tentarem atacar intervalos. E, fazendo assim, as defesas terão sempre vantagem e o jogo perde continuidade.

Nos sub-21houve alguma melhoria neste aspecto - volta não volta lá apareciam jogadores lançados em corrida a receberem a bola em cima da defesa e já com a linha de corrida directa ao intervalo defensivo, mas o progresso não é suficiente para se acreditar que o caminho estará a ser capazmente percorrido. E competirá aos treinadores fazê-lo e tão rápido quanto possível como forma de desenvolvimento de capacidades para o confronto internacional.

Mas se não houver uma maior exigência neste aspecto do jogo - libertação da bola sobre o contacto, jogadores lançados e capacidade de realizar passes de comprimento razoável à máxima velocidade - o nosso rugby ficará, internacionalmente, dependente de encontrar avançados de gabarito idêntico aos nossos adversários - o que não é fácil.

A dupla vitória do CDUL demonstrou a capacidade do clube no domínio competitivo sénior, mostrando cerca de uma meia centena de jogadores capazes de ocupar as diversas e diferentes posições que o jogo exige e fazê-lo de forma competitivamente eficaz. O que demonstra um bom trabalho interno. Parabéns!

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