segunda-feira, 27 de junho de 2016

A ESPANHA FAZ A DOBRADINHA E AS PORTUGUESAS SÃO FORMIDÁVEIS

A selecção feminina espanhola
No torneio de Repescagem Olímpico realizado no Mónaco,  o VII masculino espanhol conquistou - com alguma surpresa mas inteiro mérito - o 1º lugar e a possibilidade de estar presente nos Jogos do Rio 2016.
Agora, em Dublin, as raparigas repetiram o feito, derrotando na final a Rússia e vão estar também presentes nos Jogos do Rio 2016.
A Espanha é uma potência desportiva - tem 131 medalhas olímpicas conquistadas e encontra-se na 29º posição mundial (nós portugueses temos 23 medalhas e ocupamos o 60º lugar) - que terá tido, muito provavelmente, com a organização dos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 o seu maior salto qualitativo e organizacional. Mas no rugby a coisa mantinha-se em segundo plano - eram nossos adversários directos. Com a entrada do Sevens para o programa olímpico, os países que consideram o Desporto como uma demonstração de um conjunto de qualidades passaram a olhar para a modalidade com outro cuidado. E mesmo com o curto número de países admitidos à fase final - 11 equipas a que se acrescenta o Brasil enquanto país organizador - o olhar sobre a variante modificou-se e as diversas fases de apuramento espalhadas por todo o mundo foram encaradas através de preparações específicas e especiais. E a Espanha, apesar das dificuldades intrínsecas ao seu sistema, preparou-se. Criando a união necessário em torno do que reconhece ser importante: o projecto olímpico.
Nenhuma das equipas, masculina ou feminina, conseguiu no Jamor, em Lisboa, a classificação directa para os Jogos do Rio 2016 mas enquanto país com um sistema desportivo adequado às exigências competitivas de rendimento, soube criar as condições necessárias para o sucesso. Nos masculinos, perdida que foi a sua presença no Rugby World Sevens Series em 2013/2014, foram para Fiji preparar a Repescagem - onde, aliás, os seus jogadores tiveram exemplar comportamento humanitário durante as tempestades que atingiram as ilhas. Nos femininos, a situação estava alicerçada na presença continuada no grupo de residentes World Rugby Womens Sevens Series onde esta época de 2015/2016 conseguiram a 9ª posição. Mas com cada movimento, cada decisão, sempre focados na obtenção da qualificação.
Para o rugby espanhol esta qualificação constitui um grande feito que terá, com certeza, efeitos no desenvolvimento interno da modalidade para além da repercursão internacional que terá. Muito provavelmente a Espanha deixará, rugbísticamente, de ser como a conhecemos.

Olhar, ler e adaptar
Christina Ramos de Portugal
Embora tenha terminado o seu torneio de Repescagem Olímpica na 11ª posição entre 16 equipas - disputando a 1/2 final do Challenge Trophy - a Selecção Feminina de Sevens de Portugal não deixou os seus créditos por mãos alheias. Apesar das dificuldades e exigências que a capacidade atlética de algumas adversárias - mais fortes e mais rápidas - foram criando, as raparigas portuguesas sofreram 3 derrotas [China (5ª - como passamos os nossos dias? a treinar, a comer e a descansar), Irlanda (3ª) e Ilhas Cook (9ª e vencedora do Challenge Trophy] e venceram dois jogos [Trinidad&Tobago e México], tendo marcado 102 pontos (16 ensaios e 11 transformações) contra 72 pontos sofridos (12 ensaios e 6 transformações). Uma relação positiva e demonstrativa do nível competitivo conseguido.
A equipa portuguesa, que se bateu galhardamente em qualquer dos jogos, teve momentos de grande nível técnico: placaram que se fartaram, atacaram defesas mantendo a bola jogável, passaram-em-carga, fizeram notáveis dobras no justo tempo e com a eficácia requerida, bateram-se em cada disputa no chão, foram uma equipa solidária, criativa e assertiva. Jogaram umas pelas outras! Foram dignas da camisola que vestiram e mostraram uma exemplar nobreza de carácter - perdidos os dois primeiros jogos tudo poderia ter sido deixado ao deus-dará, mas, não-senhor! bateram-se até onde lhes foi possível com a dignidade requerida.
As jogadoras portuguesas são formidáveis e bom seria que a nossa comunidade rugbística soubesse retirar as lições que a sua presença neste torneio final de apuramento para os Jogos Olímpicos do Rio 2016, traduz. Elas são mesmo formidáveis!
Mais formidáveis ainda se reconhecermos, neste país em que o Desporto, por constante ignorância dos princípios que o devem reger, é posto ao serviço dos mais variados interesses e tem no Desporto Feminino, principalmente nas modalidades colectivas, uma confrangedora organização, que o seu esforço e dedicação ultrapassaram a normalidade.
Esta vintena de jogadoras lançou uma semente exemplar - a que não é alheia a equipa técnica que as tem acompanhado - que não pode ficar por aqui ou ser abandonada. E que exige uma adequada visão de futuro.

domingo, 26 de junho de 2016

NUM NOU CAMP CHEIO MELHOR A EVASÃO DO QUE A COLISÃO

Nou Camp de Barcelona com lotação esgotada na final do Top14
foto iPhone transmissão televisiva

Em Maio, em Valladolid, foram mais de 26 500 espectadores a assistir - para além do próprio que entregou a taça aos vencedores - à final da Copa del Rey 2016 entre o Silver Storm El Salvador e o VRAC Quesos Entrepinares do nosso internacional Nuno Penha e Costa.
Na passada sexta-feira o Nou Camp de Barcelona juntou 99 354 espectadores - um recorde que supera os 84 068 de Wembley no Saracens-Harlequins de 2015 - para assistirem à final do TOP 14 francês entre o Racing 92 e o Toulon. A visão do estádio foi impressionante e a qualidade do jogo reconciliou-nos - como aliás aconteceu com as meias-finais do Final Four - com o campeonato francês e a sua qualidade competitiva, técnica e táctica. Ao contrário da maioria dos jogos vistos durante a época regular - fastidiosos, de pouco interesse, subordinados mais ao não perder do que ao ganhar - estes jogos da fase final tiveram todos os ingredientes para serem recordados: competitividade, luta pelo melhor resultado, inteligência táctica, capacidade e eficácia técnica, combate e resultados indefenidos até ao apito final.
Na final de Barcelona, entre uma equipa mais apostada na evasão e outra que colocava os seus trunfos na colisão ganhou a primeira com a curiosidade de o ter feito - para além de 50 minutos em inferioridade numérica e logo de um médio-de-formação* - com apenas 43% de posse de bola mas com 186 placagens - eficácia de 91% - contra 106 e 87% de eficácia do adversário mas também com um normal número (9) de penalidades concedidas contra o exagero de 16 cometidas pelo Toulon de que resultaram 24 pontos que permitiram a vitória final dos parisienses por 29(E,8P) - 21(2E,T,3P).
Como curiosidade dos jogos internacionais deste fim de semana temos que as equipas vencedoras foram as que menos posse de bola tiveram: a Nova Zelândia com 38%, a Inglaterra com 47%, Escócia com 41%, África do Sul com 32% e a França com 48%. No entanto estas equipas com menor posse da bola marcaram, pela mesma ordem, 6, 4, 0, 1 e 3 ensaios. Ou seja, uma média de 42% de posse de bola resultou numa média de 2,8 ensaios contra 1,4 ensaios (metade) resultantes dos restantes 58% de posse da bola.
(curioso também é o facto de que nos oitavos-de-final do futebol do Euro 2016, quer Portugal quer a Polónia ultrapassaram os seus adversários com menor posse de bola e com menos remates...)
Portanto, estes dados dizem-nos que a conquista e posse da bola não garantem a vitória. Aliás a única coisa que parece evidente em relação à posse da bola é que, tê-la, impede o adversário de marcar pontos mas não permite, necessariamente, marcá-los.
Podemos então tirar a conclusão - alicerçada nos dados e na evidência do que se viu - de que é, não a mera posse da bola, mas o seu uso eficaz e adequado que permite chegar ás vitórias. Por e para isso se treina na procura da sintonia colectiva que permita explorar as oportunidades que a leitura dos movimentos em campo nos evidencia. O que exige treinar com oposição e numa velocidade tal que nos coloque no nível de intensidade exigível pela competição.

Nota: ver os três recentes jogos dos All-Blacks com o País de Gales constitui uma óptima lição sobre o que significa uso da bola eficaz, leitura colectiva das oportunidades para além de uma demonstração de que a velocidade de deslocamento e de execução são as armas fundamentais para criar os desequilíbrios necessários ao domínio do resultado. 
* - A equipa técnica do Racing 92 decidiu não substituir qualquer jogador para fazer entrar o formação  suplente. Assim, garantia jogar com oito avançados - situação fundamental contra o poderoso pack do Toulon - e ao mesmo tempo não diminuir em defesa o número de três-quartos. Como? Colocando o argentino Juan Imhoff como improvisado formação que, nas fases estáticas, ocupava o seu lugar de ponta, deixando o seu adversário directo à-vontade. Surpreendente terá sido o facto do Toulon e nas formações-ordenadas não ter sabido tirar qualquer partido da vantagem da situação...

sexta-feira, 24 de junho de 2016

SELECÇÃO FEMININA DE SEVENS DE PORTUGAL

foto jpbessa iPhone

A selecção feminina de Sevens de Portugal já está em Dublin para disputar a Repescagem Olímpica dos Jogos do Rio 2016.

Não partiram todas no mesmo dia porque uma delas - a Catarina Antunes - tinha exame na manhã do dia seguinte à partida e foi obrigada a fazer, posteriormente, a viagem sózinha, tendo assim que suportar a enorme e negativa carga psicológica que o facto representa para uma atleta de Alto
Rendimento em vésperas de competição internacional. Mas é o normal neste quadro conjunto de iliteracia desportiva e incumprimento da Lei de que fazem gala e tem caraterizado o entendimento das nossas Universidades. E provavelmente têm teses justificativas bem pensantes... ignorando tão só que os tempos de uma e outra actividade são diferentes e pesam na vida de maneira diferente. Na urgência também.

Enfim... é o resultado de um sistema ignorante dos valores desportivos que, quase como forma de vida, são sempre substituídos por um jogo de interesses assente em conceitos de encher o olho.
Voltando às raparigas e senhoras que se encontram em Dublin.
Para o reduzido nível das modalidades colectivas do Desporto feminino português, o apuramento para esta Repescagem Olímpica - onde se juntam mais quinze equipas das mais diversas origens mundiais - é uma lança em África. Se pensarmos ainda que o rugby feminino português não ultrapassa as 200 jogadoras seniores para um total de menos de 400 jogadoras inscritas, veremos que a façanha é notável.
Classificaram-se, diria surpreendentemente, há cerca de um ano, no Jamor, depois de vencerem a Alemanha, a Dinamarca, a Itália e a Holanda. Mas classificaram-se porque se mostraram lutadoras, assertivas, de mais morrer que perecer, formando um colectivo - a mão do treinador João Mirra esteve também presente nessa construção - que ultrapassou em muito o somatório das capacidades de cada uma. Foram e são formidáveis!
Umas Guerreiras!
Como vos escrevi então de S.Jorge nos Açores, escrevo agora de Lisboa: a materialização dos vossos sonhos está nas vossas mãos, na vossa capacidade colectiva de utilizar a bola e conquistar terreno, na vossa capacidade de marcar ensaios. Fazendo-o umas pelas outras! Transformando as ideias de cada uma numa força convergente capaz de garantir a eficácia colectiva das acções ao tornar o todo muito superior à soma das suas partes.
Sei que não é fácil a tarefa da qualificação - apenas uma equipa terá acesso aos Jogos. Sei até que é muito difícil. Mas sei também da vossa determinação.
Bons jogos, bons resultados, boas vitórias!

Para a história, os nomes: Antónia Braga, Arlete Gonçalves, Catarina Antunes, Catarina Ribeiro, Christina Ramos, Inês Spínola, Isabel Osório (capitã), Leonor Amaral, Maria Heitor, Maria Lezita Guerreiro, Maria Vásquez, Sara Jéssica Silva. Treinador: João Mirra

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