segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

GANHAR ASSIM NÃO CHEGA

"A vida está cheia de oportunidades e temos que pensar em aproveitá-las." Luís Figo, El Mundo, 17/2/2013

VITÓRIA!

Conseguimos a vitória e o alívio das bancadas. Nos últimos minutos, o fantasma das derrotas dos jogos anteriores pairou sobre todos nós.

Valeu a vitória, desvaleu o jogo. Vá lá, cumpriu-se o necessário mas sem glória.

O jogo foi muito mau e Portugal deitou fora uma excelente oportunidade para se recompôr e preparar-se animicamente para o resto da prova. E perdeu também a possibilidade de conquistar um ponto de bónus atacante, acabando por ceder um ponto de bónus defensivo que entregou à Bélgica. Porque a verdade é esta: a Bélgica não pertence a este campeonato e só com a sorte de todos as estatuetas de Manneken Pis é que rasgará o bilhete de ida-e-volta. O XV belga não passa de um conjunto destruidor e com algum capacidade de combate, mas não joga.

Está aliás muito longe da mitologia com que nos foi pintado : uma primeira-linha poderosíssima - nem com truques o conseguiu demonstrar; uns centros irrequietos e bons atacantes da linha - nada vi que ultrapassasse o trivial. São de facto uma equipa normalíssima e sem nível capaz (escapa apenas o irrequieto formação).

Mas quando se usa a força contra a força em vez de utilizar a inteligência contra a força, deixa-se que a equipa menor pareça eficaz. E foi isso que Portugal fez: jogou com pouca inteligência, não se adaptando ao que tinha na frente, jogando pela sebenta, longe da linha de vantagem e permitindo que a defesa belga deslizasse e tapasse o espaço exterior numa constante relação de superioridade numérica - o ensaio do Appleton é perdido assim.

Infelizmente Portugal mostrou uma enorme falta de cultura táctica, insistindo nas mesmas previsíveis acções, com fácil espera da defesa próxima belga: quem é que se lembrou das constantes saídas de nº8 ainda por cima sobre uma FO instável? Como é que não existe mais nada na bagagem da equipa para lidar com penalidades próximas dos 5 metros: nem uma jogada rápida para tirar partido de um recuo dos adversários para dentro da área de ensaio? E as linhas atrasadas não têm nada a dizer em primeiro-tempo? Contra a Bélgica?!

A velocidade e a variedade são os ingredientes necessários para criar problemas ao adversário, retirando-os da zona de conforto e provocando os desequilíbrios necessários para abater a sua resistência. Os sistemas são a zona de recuo quando tudo parece correr mal e é preciso uma plataforma de segurança. Mas o jogo de uma equipa que pretende vencer assenta na exploração daquilo que nos surge na frente: usando a capacidade de leitura, explorando intervalos, usando o apoio axial - o ensaio de Gales contra a Itália é uma excelente demonstração de tudo isto: mindtry como refere Wayne Smith.

A arbitragem teve momentos de desastre absoluto. Embora possa haver queixa pela falta de marcação de ensaio de penalidade, também se deve lembrar que nunca marcou as entradas para dentro do nosso pilar - que não foram tão poucas assim. Mas verdade, verdadinha, o homem não percebia nada das questões da primeira-linha e passou o tempo todo a rezar para que aquilo passasse depressa. Tudo sem falar no delegado ao jogo - um também romeno - que com o seu brilhante conhecimento das Leis do Jogo deixou os belgas jogarem cerca de vinte minutos com outro pilar para o inicial descansar - uma vigaricezinha comandada pelo treinador francês a que não será estranha a conhecida aliança franco-romena que conheço desde há anos. E tudo se passou na frente de um alto representante da IRB que, como sempre, se limitou a impôr a opinião soberana da anglofilia: só à quarta falta é que é ensaio (muitos outros dizem três, mas a pergunta impõe-se como tantas vezes: onde é que isso está escrito e com acesso universal?). O resto dos comentários tinha aquele ar paternalista habitual: no fundo acham que somos uns ignorantes esforçados.

Mas não foi por causa da arbitragem que não fizemos explodir o jogo: foi por nossa culpa, pura e simplesmente! Porque não quisemos jogar e ficámos à espera que o sistema o fizesse por nós. E para a tarefa que temos para chegar ao Mundial de 2015, seria bom que alguma coisa mudasse. Porque o sistema não chega.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

INGLESES OU FRANCESES?

O Inglaterra-França do 6 Nações de hoje reune todas as condições para mobilizar as atenções do mundo rugbístico. A França vem de duas derrotas seguidas, muda oito jogadores e, segundo Saint-Andrés, não são admitidas desculpas. E já se sabe como é: o XV francês é sempre capaz de renascer das cinzas. Mais depressa em Twickenham onde a vitória abafa quaisquer derrotas.

A Inglaterra, com três alterações, quer ganhar para manter o caminho aberto para o Grand Slam. Para o conseguir, Stuart Lancaster, diz necessitar que a sua equipa consiga três vantagens: uma, nas formações ordenadas, outra é ganhar a batalha da linha de vantagem e a última terá a ver com o desenrolar do jogo na segunda-parte, especialmente nos últimos vinte minutos.

Um combate de chefes que se espera possa ser um bom jogo de rugby e onde o XV da Rosa faz figura de favorito - a análise do posicionamento no Ranking IRB mais o factor casa dá-lhe uma vantagem de 13 pontos. Veremos.

Nos outros jogos, veremos como a Itália terá recuperado da derrota na Escócia e como Gales se adaptou finalmente à vitória depois de vencer a França - o jogo também tem os motivos suficientes para ser atractivo. Para domingo fica um Escócia-Irlanda com os irlandeses como favoritos.

Com o Portugal-Bélgica para ver ao vivo, o resto será para gravar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

À VITÓRIA!

O Portugal-Bélgica deste sábado só tem um resultado possível: vitória de Portugal. E pouco importará se o jogo fôr bonito ou feio, de grande ou pouco domínio, de maior ou menor dificuldade: Portugal tem que ganhar. Ponto, carreto, linha! E não vale a pena dissertar muito sobre a importância da vitória que, sendo fácil de perceber, vai desde a manutenção do caminho aberto para o Mundial de 2015 até às portas abertas dos patrocínios.

Jogando em casa, Portugal é o favorito, não por muitos pontos de diferença - 4 pontos é o que mostra a teoria de utilização dos pontos do Ranking IRB - mas favorito de qualquer maneira.

E mais favorito será se marcar cedo. Logo na abertura do jogo para tranquilidade da equipa e das bancadas.

Em termos de ranking - que não será o mais importante nesta altura - se Portugal vencer, ultrapassará a Bélgica e subirá alguns lugares. Mas mais importante, muito mais importante, seria a vitória com a marcação de 4 ensaios para obtenção de um ponto de bónus.

Aos jogadores portugueses pede-se a maior e melhor entrega com disponibilidade e descernimento para o combate e imposição de uma superior velocidade e ritmo de jogo. No fundo, obrigando a níveis em que a superior experiência portuguesa destas andanças possa estabelecer a diferença. A bancada lá estará para ajudar!

Só a vitória nos interessa, vamos á vitória!


domingo, 17 de fevereiro de 2013

ANTECIPAR

No Sunday Telegraph, Paul Ackford escreve sobre as qualidades do responsável do XV da Rosa, Stuart Lancaster: "durante as longas horas que passa sozinho nas viagens ou em quartos de hotel, ele reflecte constantemente sobre os cenários do 'e se?' (what if?). Como é que faço se acontecer isto? E se ele fizer aquilo, como irei reagir? As situações são muitas e variadas e o processo dá a Lancaster antídotos para potenciais problemas."

Antecipar é um instrumento essencial para o treinador no campo da competição. Saber utilizá-lo bem, reduz as surpresas e permite manter os níveis de confiança da equipa. Espécie de previsão de tabuleiro de xadrês, esta antecipação exige um profundo - para além do conhecimento do jogo e dos seus princípios e tácticas - conhecimento dos jogadores da sua equipa e da equipa adversária e das condições em que o jogo se irá desenrolar. Mas paga dividendos... e a Inglaterra de Stuart Lancaster é uma boa prova disso.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

GESTÃO DO RISCO E PRESSÃO

Depois dos maus resultados internacionais deste fim-de-semana do rugby português, só a vitória de Gales em Paris - e ganhar em Paris sabe muito bem mesmo para os adeptos - disfarçou o incómodo.

O fim-de-semana de resultados negativos portugueses pode deixar marcas desagradáveis se não houver capacidade de transformar a situação. Passaram-se coisas de difícil explicação para o nível em causa, no campo da "gestão de risco": no XV a decisão de chutar aos postes nos minutos finais quando já havia uma diferença que garantia o ponto de bónus defensivo - a procura de um alinhamento próximo da linha de ensaio que se traduziria num mais inteligente "na melhor, marcando ensaio, ganhamos o jogo; na pior ficamos na mesma", foi ignorada; ou nos Sevens, onde não foram feitas as contas necessárias para perceber o significado da perda de pontos - e assim ignorar o objectivo principal da manutenção no World Series - em troca da poupança dos mais eficazes para uma final tida como garantida.

Adiante... com a esperança que se cumpra a regra dos campeões: erros sim, mas nunca os mesmos.

No 6 Nações alguns momentos interessantes e um reconhecimento. A Inglaterra, jovem equipa, está um colectivo de se lhe tirar o chapéu. Brian Ashton, conceituado treinador inglês, refere que a grande qualidade de Stuart Lancaster - o responsável pela equipa da Rosa - foi a de ter "gasto" a época passada a trabalhar o Espírito de Equipa e só depois se ter preocupado com as questões que dizem respeito à organização da equipa e que isso, hoje, paga os dividendos visíveis: os jogadores, em todos os momentos, batem-se uns pelos outros.

Do Escócia-Itália retira-se a demonstração de uma regra a que nem sempre se presta a atenção devida: a posse da bola não garante vitórias; a pressão pode garanti-las. A Itália teve próximo de 60% de posse da bola e perdeu por resultado que não deixa margem para dúvidas. O que coloca a questão do jogo, da vitória e da derrota, na utilização da bola: não basta tê-la, é preciso ser eficaz no seu uso, garantindo o cumprimento dos Princípios Fundamentais do Jogo. Mas mesmo assim a Itália continua a mostrar-se interessada em desenvolver o seu jogo numa dimensão que há-de também pagar dividendos.

Em todos os campos se viram elevados níveis de pressão defensiva, com os problemas que daí resultam para o ataque. Donde ressalta a questão-chave do rugby contemporâneo: como atacar contra uma forte pressão defensiva? Há anos atrás, a França atacava "aguentando" para aproveitar a subida rápida dos britânicos (que viviam obcecados pela rapidez de chegar à Linha de Vantagem) e assim, aproveitando a auto-colocação nos "carris", ultrapassá-los pelo exterior. Mas hoje os britânicos, como toda a gente com um mínimo de nível, já sabem "deslizar". O que, exigindo uma qualidade superior da utilização da bola, impõe uma formação diferente e focada na capacidade de leitura, na tomada de decisão, adaptação aos movimentos da defesa, ataques aos intervalos com linhas, ângulos, velocidades de corrida perfurantes e apoios axiais a garantir de imediato uma segunda-linha de ataque para manter a continuidade do movimento, num tema de estudo permanente.

Neste aspecto as duas selecções francesas jovens que jogaram em Portugal deram uma boa lição sobre a construção de jogadores e do modelo do jogo de movimento e que deve ser visto, revisto e pensado pelos treinadores portugueses. Paradoxalmente a França sénior, nas duas derrotas que leva, ficou sempre muito longe deste modelo - as acusações pesam sobre um campeonato demasiado pesado (questões economicistas, naturalmente) que queima os jogadores por não lhes permitir adequada recuperação - mas parece estar lançada, se houver preocupação efectiva com os jogadores, para um futuro muito competitivo.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

VITÓRIAS PRECISAM-SE

Porque é que as equipas portuguesas de rugby entram nos jogos internacionais de forma desconcentrada e à espera que aconteça não se sabe bem o quê?

Este fim-de-semana, quer na Geórgia, quer em Las Vegas contra Fiji, as selecções nacionais de XV e VII entraram a "olhar para ontem" e sofreram de imediato ensaios. Depois, embora equilibrando o jogo e mostrando que poderiam jogar de igual para igual, correram sempre, com o avanço oferecido, atrás do resultado. Perdendo ambos os jogos e colocando-nos em posição difícil para os objectivos perseguidos, neste deixar fugir oportunidades por entre os dedos.

Nunca se pode ter a certeza porque os factores são diversos e a sua conjugação depende de diferentes aspectos, mas apetece dizer: se Portugal tivesse jogado contra a Roménia com a mesma atitude com que jogou em Tbilisi, teria vencido o jogo de Lisboa. Observação que leva a nova pergunta: porque é que ficamos sempre com a sensação que a atitude colectiva de combate dos jogadores quando jogam "fora" é superior à atitude que mostram em casa?

A pressão que os Lobos realizaram contra a Geórgia foi boa e muito mais eficaz do que a conseguida contra a Roménia - subiram mais e impediram, ao contrário do jogo anterior, que os adversários conquistassem a "linha de vantagem" e criassem o apoio com facilidade - conseguindo assim organizar a defesa para além da placagem. Também a decisão de disputar os alinhamentos de responsabilidade adversária foi eficaz e permitiu significativo roubo de bolas ... que assim fosse também nos nossos lançamentos. Mas o facto é este: continuamos sem plataformas - formações ordenadas e alinhamentos - que nos permitam bases sólidas de ataque. Principalmente as formações ordenadas não têm atingido o nível mínimo exigível para a prestação internacional, dando óbvias vantagens aos adversários quer na utilização da bola, quer no campo psicológico. As FO dependem de duas áreas: técnica e atitude. Sendo ambas colectivas, têm um número de regras e conceitos que devem ser assumidos por cada um e utilizados em conjunto - o "pack" de Portugal tem o peso necessário e a sua composição não fica a perder perante os adversários: porque é que recuamos?! E sem boas conquistas - simultaneidade de bola e terreno - não há bom ataque. E o jogo fica limitado à aparência de sermos parceiros.

Se a derrota contra a Roménia é explicada pelo treinador nacional por desconcentrações finais, o que se passou na Geórgia, deitando fora um ponto de bónus defensivo, leva a pensar que este aspecto, sendo mais do que uma casualidade, tem que ser trabalhado e controlado - a derrota com a Espanha no Sevens de Wellington sofreu do mesmo mal... Principalmente porque, como os resultados mostram, se trata de um Grupo equilibrado em que os jogos se ganham nos pormenores. E a qualificação dependerá deles.

O próximo jogo é em casa e contra a recém-promovida Bélgica. Pelos resultados, ambos em Bruxelas, conseguidos - derrota contra a Geórgia por uns reduzidos (13-17) e empate (21-21) com a Espanha - o jogo irá exigir um empenho absoluto por parte dos jogadores portugueses. Qualquer deslumbramento ou "olhar do cimo da burra" - como aconteceu no jogo contra o Uruguai nos Sevens dos USA que acabou por relativizar a excelente vitória sobre a Inglaterra - será desastroso pelos riscos que comportará. Porque é impensável outro resultado que não a vitória.

[à margem
Os árbitros franceses para o Geórgia-Portugal não chegaram ao jogo. Terão, devido ao mau tempo, ficado em Munique. Azar?! Nem por isso. Principalmente falta de respeito dos organizadores da competição pelas equipas envolvidas. Trata-se de uma competição - a segunda da Europa - que qualifica para o Mundial e que não pode ser tratada como um recreativo jogo particular - que não existe na tradição do Rugby uma vez que os jogos internacionais são oficiais e contam para o posicionamento no Ranking IRB e com as consequências - positivas ou negativas - que daí resultam. Os resultados e a credibilidade desta competição têm importância no acesso a patrocínios e não são assim irrelevantes. Fica portanto a pergunta: porque é que os árbitros se deslocam em cima da hora impedindo o recurso a alternativas que não sejam o recurso a "ir buscar árbitros à bancada"? (o caso, o regulamento determina que seja utilizado um dos árbitros-assistente nomeado e que é da "casa"). Porque é que não viajam mais cedo?]


sábado, 9 de fevereiro de 2013

NOTÁVEL VII DE PORTUGAL

Excelente! Muito bom!

A vitória contra a Inglaterra por 21-5 é um grande resultado sobre a equipa vencedora da etapa neozelandesa. E é um grande resultado de uma equipa que valeu muito mais do que a mera soma dos seus jogadores: apoio permanente, uma defesa muito agressiva e em constante reorganização, uma excelente capacidade de adaptação atacante com mudanças de angulos de corrida e acelerações no tempo certo. Notável feito.

E que seria se na última posse de bola portuguesa contra a Escócia, o jogador português em vez ...

Desenho em iPad a ponta de borracha

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

HERÓIS DO JOGO

No passado fim-de-semana dois heróis ressaltaram dos jogos. O irlandês - professor doutor de campos de rugby - Brian O' Driscoll e o francês Jacques Brunel, treinador da Itália. E Bardy - apesar do "amarelo" - e Penha e Costa - apesar de ter trocado uma negociação de um 2x1 por um inócuo pontapé - poderiam também fazer parte desta galeria, pelo que jogaram e fizeram jogar, se Portugal não tivesse perdido.

O irlandês BOD deu mais uma lição quer como centro - passes e placagens de grande nível, antecipações de grande conhecimento táctico, comando estratégico de influente capitão - quer como elemento da equipa ao passar para médio de formação, jogando reputações ou, como se gosta de dizer, "a sua imagem". O treinador francês veio demonstrar - embora neste campo também se deva lembrar o trabalho anterior desenvolvido por outro francês, Pierre Berbizier - as vantagens, a juntar aos conhecimentos técnicos e tácticos do jogo, o conhecimento da cultura das gentes e da adaptação da forma de jogar.

Se a vitória da Irlanda em Gales fez do sábado passado uma festa irlandesa - uma enorme tristeza para todos os apoiantes de Gales, entre os quais me incluo - imaginem o que terá sido no mundo "tiffosi" do rugby italiano. E houve muitas coisas que mudaram na "squadra". Começando pela saída de jogadores e continuar no novo lema italiano que se sentiu no estádio e que motivou espectadores e principalmente jogadores: "Siamo piú che compagni di squadra, siamo fratelli!" (somos mais do que companheiros de equipa, somos uma irmandade!). E viu-se no campo, na defesa e no ataque, no apoio permanente na capacidade de resistir ao assalto final do XV francês, como a transformação de uma equipa de quinze jogadores numa irmandade pode influenciar resultados neste desporto colectivo de combate que é o rugby.

De todos os jogos da primeira jornada do 6 Nações ressalta, por um lado, a expressão do valor estratégico da Linha da Vantagem e o entendimento das equipas para as consequências que implica a sua compreensão e uso táctico e, por outro, a noção clara de que a placagem, sendo necessária não é suficiente para garantir a eficácia da defesa. Factores a analisar em próximos posts.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

OPORTUNIDADE PERDIDA

Ainda não recuperei da derrota de Portugal contra a Roménia. A minutos do final do jogo, Portugal ganhava por 1 ponto e teve ainda oportunidades que, por erros tácticos, não soube aproveitar - de onde nasceu a ideia de uma saída pela esquerda numa formação ordenada em dificuldades quando, à distância de meia-dúzia de metros da área de ensaio, o ponto forte se encontrava do outro lado e na velocidade e capacidade de impacto de Adérito e Frederico Oliveira a que se poderiam juntar ainda Penha e Costa e Gonçalo Foro? Como se viu fazer no primeiro ensaio irlandês no Gales-Irlanda.

Não fomos brilhantes: dominados na formação ordenada durante grande parte do 1º tempo com repetições nos momentos cruciais da segunda parte, aleatórios na consistência dos alinhamentos, indisciplinados no cumprimento das Lei do Jogo, batidos na velocidade do apoio, demasiado expectantes do erro adversário e pouco criadores.
Desenho em  iPad a ponta de borracha
E pior: nunca variamos coisa suficiente para surpreender ou tornar desconfortável a organização adversária - fomos sempre previsíveis e continuamos um pecado que tende a ser propriedade própria: não atacámos a linha de vantagem, não jogamos na cara da defesa, impedindo-os de deslizar e multiplicar defensores. Ou seja, ao manobrar longe da linha defensiva permitimos a constante readaptação do adversário, desperdiçando os esforços da conquista e anulando desequilíbrios conseguidos.

No Inglaterra-Escócia, um ensaio resultou de um longo passe sobre as cabeças de jogadores, libertando o jogador do corredor lateral que marcou sem dificuldades; no jogo de Portugal, o mesmo tipo de passe para libertar o jogador do corredor lateral teve resultado contrário - quando a bola chegou ao último jogador da linha, também chegaram três defensores... Porquê a diferença das consequências? Porque o inglês, atacou a defesa e jogou na sua "cara", fixando os defensores e mantendo a realidade do espaço livre; ao contrário, o jogador português passou a bola a uma distância considerável dos defensores, permitindo-lhes assim deslizar e transformar em virtual o espaço livre que existiu.

Mas mesmo assim, poderíamos - deveríamos - ter ganho.

Nos jogos internacionais contam todos os pormenores por uma razão simples: as oportunidades não abundam e não podem ser desperdiçadas sob pena de aumentar as possibilidades de vitória dos adversários.

Perdemos uma importante oportunidade e é exigível que os intervenientes analisem os erros para, com o rigor que se exige aos membros de uma equipa internacional com pretensões - Portugal continua parte interessada no apuramento para o Mundial de 2015 -, evitar a sua repetição e possibilitar o crescimento adaptativo, a confiança e a disciplina que permitem vitórias.

Nota entre parentesis:
(a maior responsabilidade da derrota pertence sempre aos intervenientes e quase sempre em graus diversos do banco até à frente do combate. São raros os momentos em que a responsabilidade de derrotas ou vitórias pertencerão ao árbitro. Não foi também ontem o caso. Portugal perdeu porque não soube ganhar pelo que deixou escapar entre os dedos, mas não gostei nada do árbitro galês Neil Hennessy e da sua interpretação da Lei 15 sobre a placagem - nada o autoriza a dar vantagem ao portador da bola e desta interpretação resultaram diversas faltas contra Portugal, nomeadamente ao excelente Bardy que acabou com "amarelo" - e que na jogada final - longos 50 metros de contínua posse de bola romena - permitiu, por mais de uma vez, que jogadores romenos, já no chão sublinhe-se (Lei 15.6 (a)), cobrissem portador e bola e impedissem assim a eventual recuperação portuguesa. E disso resultou o ensaio vitorioso da Roménia.
Continuo na minha: o livro de Leis conta pouco, contando muito mais a interpretação própria do árbitro que se faz por áreas geográficas...e a globalização do mesmo jogo torna-se mais difícil)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

AU SOMMET




O mundo do rugby "au sommet" - lembrando o grande Cordeiro do Vale - mexe hoje por todos os lados. Na Europa o início dos 6 Nações A e B; do outro lado do mundo - "down under" no dizer imperial dos britânicos - o World Series de Sevens onde está Portugal que, diga-se, não tem sido brilhante, pagando provavelmente o preço de equipa jovem. Veremos, em Las Vegas, se a experiência pagará dividendos - importantes, aliás, para o objectivo de garantir a continuidade na prova na próxima época com os Jogos de 2016 em perspectiva.

Para além do Portugal-Roménia onde se espera uma boa vitória que lance o XV português para o apuramento do Mundial de 2015, há um interessante Bélgica-Geórgia para aquilatar das capacidades de cada um destes adversários - o que vale realmente a Bélgica? Capaz de surpreender como dizem, ou apenas um passageiro temporário como outros julgam? A que nível se encontram os georgianos a oito dias de defrontarem os portugueses?

E o tradicional 6 Nações recomeça com um sempre apetecível duelo celta, Gales-Irlanda. Destas duas equipas que apresentam quase sempre algumas inovações tácticas espera-se sempre uma boa construção de jogadas de ataque. Depois do péssimo mês de Novembro espera-se - eu espero - o retorno da grande equipa galesa (ao contrário do João Ataíde que resolveu pôr-se do lado dos irlandeses ...). E a vitória, claro!

No Inglaterra-Escócia, a curiosidade de saber como se comportarão os ingleses depois da inimaginável vitória sobre os All-Blacks e que farão os escoceses com nova equipa técnica. Do Itália-França espera-se a resistência habitual de italianos e a sua diluição à medida da acumulação do tempo - pesem os esforços e a vontade de Jacques Brunel, ainda parece cedo para que os italianos consigam sobrepôr-se aos franceses num jogo de vitória necessária para quem tem pretensões à vitória no Torneio.

E voltamos ao nosso jogo contra a Roménia: em casa, só a vitória nos interessa. Temos, em teoria, equipa para isso; esperemos que, na prática, a atitude colectiva, a boa adaptação às proposta de jogo adversárias, a capacidade de utilizar a bola "em cima" da defesa adversária, nos levem à vitória.





LEMBRANÇAS DO BERNARDO

Hoje, num almoço no Estádio Universitário - restaurante do Pedro Cabral - entreguei à Teresa a Medalha de Serviços Distintos da Federação Portuguesa de Rugby que recebi em nome do Bernardo Marques Pinto. Num espaço de amizade, os momentos passados tiveram o rugby como ponto notável e o Bernardo tornado vivo nas memórias de cada um dos seus amigos presentes.

Boas estórias, boas lembranças, desde a batalha pelo retorno da Taça Ibérica - lembrado pelo Carlos Moita ligando a vontade do Bernardo ao que o Lourenço conseguiu fazer realizar esta época - até à última formação ordenada contra o Belenenses quando o CDUL ganhou o campeonato antes do interregno de mais de vinte anos e só interrompido na época passada com a conquista do 18º campeonato e que o Frederico Valsassina lembrou: "Faltavam dois ou três minutos para acabar o jogo que tinha sido muito duro e o Bernardo dá a ordem para mim e para o Macieira: não é agora que nos vamos abaixo! Não fomos, cumprimos e ganhamos. Era assim o Bernardo, a liderar mesmo quando estavamos todos no limite".

O Quim Pereira lembrou a sua personalidade capaz e cativante, eu lembrei as muitas vivências rugbísticas que tive com ele na consolidação de uma amizade que ainda hoje perdura, o Lourenço falou, com grande emoção, do seu padrinho de casamento. Do almoço - agradável, excelente convívio da veterania - uma certeza: cada um de nós guarda do Bernardo uma lembrança muito viva. E todos gostamos de falar dele.

Foi um agradável almoço.

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