segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

COMPETIÇÃO SÓ EXISTE NO EQUILÍBRIO

Acabou o campeonato nacional de rugby. A destempo, claro. Com que vantagem? Mérito organizativo? Apenas um e esperado: a atribuição do título de campeão nacional. Que foi para o Direito pela oitava vez na sua história. Parabéns!

Mas, como se esperava, o campeonato foi fraco e o jogo da final – mesmo dando o desconto do conceito que a formata de que “uma final não se joga, ganha-se!” – mostrou a pobreza qualitativa de um campeonato que, como outras coisas, nasceu torto para nunca mais se endireitar.

Não é possível começar um campeonato sem a preparação adequada – e este foi assim começado. Não é possível continuar um campeonato quando os seus mais importantes, influentes e capazes jogadores estão fora ou treinam fora – e este foi assim continuado. Não é possível definir a mais importante competição interna por conceitos que são exteriores à competição – e este campeonato, foi-o.

E assim temos a atribuição de um título de campeão de um campeonato que nada contribuiu para a qualidade do desenvolvimento do rugby português.

Tendo por base um mito – a sequência contínua das jornadas – o campeonato assim disputado ainda introduziu um falso equilíbrio na janela internacional de Novembro. Equilibrando por baixo e deixando as marcas para que o baixo nível fosse a norma da disputa.

Há uma obrigação óbvia para os responsáveis da organização de um campeonato nacional: que ele seja disputado de forma o mais competitiva possível e que a sua estrutura, em simultâneo, permita o desenvolvimento competitivo da modalidade. Nada disto aconteceu por uma experiência sem sentido e talhada ao fracasso – porque, como qualquer treinador poderá explicar, uma equipa organiza-se em torno de um programa competitivo anual e do qual a sequência do mesmo tipo de prova não é um valor fundamental (veja-se o que se passa em campeonatos altamente profissionalizados e das mais diversas modalidades por esse mundo fora). Exista calendário definido da época seguinte no final de cada uma e qualquer treinador saberá preparar a sua equipa…desde que lhe seja dado o devido e necessário tempo (6 semanas pelo menos) de preparação.

E viu-se nas meias-finais (não percebo o porquê de duas mãos… uma para entreter e outra para decidir?) e final que foi notória a incapacidade física para impor o ritmo mais adequado a cada equipa. E assim, outro mito prevaleceu: as defesas é que ganham jogos. Claro que ganham! se houver ataque que marque pontos. Mas de ataque podemos esquecer.

Com um campeonato de oito equipas em que, pelo menos, para uma está destinado o papel de saco – evitando deste o início qualquer problema de descida para qualquer das outras – e onde o desequilíbrio competitivo é evidente, não há retórica sobre a escolha entre o desenvolvimento e a competição que o justifiquem. Repito: um campeonato nacional tem que contribuir para o desenvolvimento qualitativo da modalidade, aumentando a sua capacidade competitiva e a qualidade dos seus jogadores. Ou seja: um campeonato nacional do melhor nível tem o caminho da excelência como objectivo. E para que isso aconteça é necessário que exista equilíbrio entre as equipas que o disputam. Verdade desportiva tão conhecida que, para o cumprir, se inventou a hierarquia das divisões.

E mais uma vez se verificou o já conhecido: o campeonato de oito equipas não garante qualidade, não permite desenvolvimento e não melhora o rugby português. Seis equipas a duas ou três voltas, com ou sem final four (a habituação ao nível internacional recomenda o recurso) é a melhor solução para o momento actual. Para aproximar o nível interno tanto quanto possível do nível internacional – como é obrigação de uma organização desportiva interna de nível elevado. Solução tão óbvia, tão ao alcance, que dói a sua rejeição.

Coloque-se a questão simples que permitirá estabelecer o caminho: o que queremos para o futuro do rugby português? visão estratégica capaz de desenvolver e qualificar ou resposta menor para garantir os interesses que envolvem o status quo? 

Da escolha resultará o futuro do rugby português. 

domingo, 23 de janeiro de 2011

A CONTINUIDADE DO JOGO DE MOVIMENTO (III)

Para garantir a continuidade do jogo de movimento exige-se, para além da posse da bola, o domínio de duas técnicas essenciais:
    passe antes do contacto
  • Antes do contacto: passe da bola, fixando o adversário directo e antes de ser bloqueado ou placado – permitindo muitas vezes lançar companheiros em intervalos reduzidos (se o apoio se apresenta atrasado, o recurso ao off-load pode chegar ao mesmo resultado);

    
    Gonçalo Uva dá as costas
    
  • Em cima do contacto: dar as costas ao defensor pela rotação do tronco para, por um lado poder soltar a bola ao apoio que se aproxima ou, por outro, preparando a ida ao solo e colocação da bola, garantindo a rapidez da reciclagem e impedindo a melhor recolocação da defesa.
Sem estes dois gestos técnicos aplicados de acordo com as circunstâncias, a posse da bola tende a burocratizar o movimento tornando-se num máximo de actividade para um mínimo de eficácia. Ou seja, ficando sempre aquém da linha de vantagem e apenas circulando a bola de um lado para outro sem qualquer desequilíbrio conseguido.

E não há interesse que resista a jogos jogados assim.

Para que estes gestos sejam aplicados adequadamente é necessário dominar a cultura táctica individual para tomar as decisões que permitam a mais eficaz utilização da bola. E isso consegue-se com treino exigente e de acordo com as condições que se encontrarão no jogo real. 

(segue)
 créditos: fotos de António Lamas

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A CONTINUIDADE DO JOGO DE MOVIMENTO (II)

São duas equipas francesas do melhor nível: Clermont e Stade Français. No final do jogo os jogadores do Clermont – á procura de um ponto de bónus – decidiram-se pela continuidade, correndo os riscos necessários, garantindo a posse da bola, movendo-se de acordo com o movimento da bola, impondo a pressão necessária à criação de constrangimentos defensivos – obrigando à dúvida na decisão -  e à libertação de espaço para que a alteração dos ângulos de corrida permita a permanência do apoio em tempo útil, tudo num alinhamento de vontade e disponibilidade colectivas que garanta uma soma das partes superior ao seu todo.


vídeo "encontrado" pelo Rafael Lucas Pereira
A continuidade como elemento essencial do jogo de movimento. E do prazer de jogar e de ver.
(segue)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

DO TIKI-TÁKA AO JOGO DE MOVIMENTO: A CONTINUIDADE (I)

Pode aplicar-se o tiki-táka culé ao rugby?
Poder, pode. É disso, desse toca-e-foge, que trata o rugby de movimento.
O futebol do Barcelona assenta, para além de uma técnica individual muito elevada, na posse da bola, nas trocas de passe e, essencial, no movimento dos jogadores que abrem contínuas linhas-de-passe para manter o apoio à continuidade do movimento. Simultaneamente existe uma organização colectiva que se baseia numa esclarecida cultura táctica que, permitindo a leitura adequada dos desequilíbrios da situação, adapta os caminhos a seguir para explorar a oportunidade de cada momento. Técnica individual desenvolvida, movimento da bola e dos jogadores, ataque de espaços vazios e intervalos, coesão e organização colectiva, posicionamento, consciência táctica, confiança,  fazem este modelo futebolístico.
O jogo de movimento do rugby, pesem as características próprias de cada modalidade, não é conceptualmente muito diferente. Para que haja movimento da bola e dos jogadores é necessária a sua posse apoiada pelo movimento dos jogadores adequado e adaptado á abertura de linhas-de-passe que garantam a possibilidade da circulação da bola nos mais diversos sentidos. O que se traduz na expressão dos mesmos conceitos de técnica individual desenvolvida, movimento da bola e dos jogadores, ataque de espaços vazios e intervalos, coesão e organização colectiva, posicionamento, consciência táctica e confiança.
Vivendo, para que o modelo possa atingir um elevado nível competitivo,  de uma outra característica comum: tem que ser apreendido, praticado e desenvolvido desde a formação inicial.
É, numa e noutra modalidade, a continuidade do movimento assente numa permanente adaptação ao espaço e tempo disponível, aos pontos fracos e fortes do adversário que permite a exploração do desequilíbrio e a utilização da oportunidade. No rugby, porque o passe não se faz para a frente e é permitido – agarrar, derrubando – placar o portador da bola, a CONTINUIDADE é um dos seus Princípios Fundamentais. Que se faz de passes, de circulação, de alternâncias de tipo, de ângulos, de direcções, de sentidos e da disponibilidade de adaptação dos jogadores ao movimento da bola, controlando o espaço livre e garantindo o tempo de execução necessário.

Barbarians-All Blacks, 1973 – A continuidade como estilo de jogo

Para que haja este jogo de movimento – esse carrossel que surpreende, desorganiza e desequilibra defesas – é preciso garantir a sua continuidade. Que exige cultura técnica e táctica, individual e colectiva, movimento, adaptação à situação, recolocação permanente, disponibilidade mental e física dos jogadores e a confiança dada por longas horas de prática. Naturalmente – no rugby mais do que em qualquer outro jogo desportivo colectivo – que a continuidade deve garantir princípios de eficácia, avançando permanentemente no terreno e aproximando-se, em sequências de jogo alternado adaptadas às circunstâncias,  cada vez mais da linha de ensaio adversário.
É claro que, do outro lado e com objectivos contrários, está a defesa adversária procurando manter-se organizada na sua zona de conforto e pretendendo impedir o avanço atacante para recuperar a bola.
Neste jogo de opostos de que sairá vencedora a equipa de maior eficácia na continuidade, como deve actuar a equipa atacante para atingir o seu objectivo mínimo de avançar no terreno? Primeiramente criando a pressão necessária à desorganização defensiva e dessincronização temporal com pronto recurso ao apoio organizado que, transformando um grupo numa unidade coesa e eficaz, garantirá a continuidade do movimento e a eficácia do propósito.
 (segue)   


 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

QUAL FOI O GANHO?

Ainda não me adaptei, entre fechos e aberturas, ao novo ano e já a fase regular do campeonato nacional terminou. Sem que, da redução, se tenha percebido vantagens. Pelo contrário, começado cedo de mais traduziu o que popularmente se sabe: o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita.

Nem mesmo a introdução do falso equilíbrio de Novembro – com a continuidade (excelente mito, este) das jornadas durante a “janela” internacional – permitiu surpreender fosse o que fosse. A Académica – jovem e promissora mas a quem faltou rodagem – já chegou tarde à festa e os quatro apurados do Final Four estavam conhecidos desde, pelo menos, a 4ª jornada: CDUL, Direito, Agronomia e Belenenses estão desde então nas posições de apuramento para as meias-finais.

Começando cedo de mais e terminando logo a seguir, o campeonato nacional, iniciado a destempo, não possibilitando a organização competitiva das equipas por falta de pré-competição preparatória, não se impõe no desenrolar da época (que dirão a isto potenciais patrocinadores?) e não eleva o seu nível competitivo. Tão pouco serviu no ponto que poderia ser visto como útil: estrangeiros contratados a três meses – quem recorreu ao expediente nada lucrou.

Dos quatro últimos, só a Académica, como mostra a diferença entre pontos marcado e sofridos, se mostrou capaz de ombrear com os melhores – e as perguntas são óbvias: porque continua o campeonato a disputar-se com oito equipas? Porque desapareceu a ideia da “passagem” a seis?


O Benfica andou por aí, o Técnico fartou-se de sofrer pontos - o número de ensaios sofridos é enorme... e o CRAV teve volta de retorno – uma espécie, sem qualquer culpa, de “útil de serviço” que sossegou as outras equipas e o seu baixo nível competitivo.


É sabido: sem equilíbrio não há competitividade interessante. Faça-se então o equilíbrio e “montem-se” as épocas – olhando para o essencial e deixando o secundário – de forma a garantir a melhor disputa competitiva para o Campeonato Nacional principal.  O rugby português ganhava com isso e nós, espectadores, também.    

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

OUTROS TEMPOS

Jogo da segunda equipa de Direito, campeonato de Reservas. Já dentro do campo e em volta do capitão Vasco Trigo – um abraço – um dos jogadores pergunta: E na touche, como vamos jogar?”.

Resposta imediata do capitão: O primeiro chega e marca a touche. Os outros formam à medida que forem chegando.”

Estratégias de outros tempos...

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