terça-feira, 25 de outubro de 2011

O MUNDO É ALL-BLACK

"Car, chez le rugbyman, si le collectif est l'alpha,
l'élégance n'est pas loin d'être l'oméga. Pour
être bien joué, le rugby doit être beau."
anúncio da roupa da selecção francesa

Official RWC2011

A Nova Zelândia, através dos All-Blacks, é campeã mundial. Ainda bem: é justo e bom para o jogo. Justo porque ao longo dos anos tem sido – com excepção dos anteriores mundiais – a melhor equipa como demonstra a sua quase permanente ocupação do primeiro lugar no ranking IRB; bom, porque sendo uma equipa que faz um bom uso da bola, utiliza a alternância como forma de desequilibrar e surpreender as defesas é ainda capaz de dar ao rugby a emoção e elgância do espectáculo. É ainda bom porque pode ser dado como exemplo de que o rugby de ataque pode ganhar. E é bem mais agradável de ver.

Não é que a final fosse um bom jogo – bem melhor do que 2007, no entanto. Foi um jogo mais interessante pela incerteza do resultado do que por qualquer outra coisa. Culpas? dos franceses em primeiro lugar: porque se limitaram a organizar-se defensivamente, sem correr qualquer risco mantiveram a posse da bola à espera do erro adversário - assim marcaram um ensaio. E com um bom pontapeador, poderia resultar… estiveram quase lá. Por um só ponto...

A cultura neozelandesa – que é muito bem representada no agarrem-me senão eu mato-o que o haka, embora manifestação de inteligência segundo Sun Tzu, traduz e que sempre os paralisou nos momentos-chave dos jogos decisivos dos campeonatos anteriores – esteve quase a pregar nova partida na última meia-hora da final. Valeu-lhes a espera francesa por uma penalidade que não caiu do céu em vez da coragem do risco total nos últimos cinco minutos: perdido por cem…E entre uma coisa e outra foi passando o tempo sem que a chama - para além do ensaio neozelandês - pegasse fogo à relva.

A vitória dos neozelandeses tem outra vantagem: constituem um óptimo exemplo para, na formação dos futuros jogadores adultos, recorrer ao conceito do ensino e uso dos princípios básicos com que se fundamenta uma capacidade técnica e táctica individuais que, mais tarde, permitam a melhor expressão colectiva. Os novos campeões do mundo são – depois de alguns anos de rugby-percentagem – um bom exemplo. Porque o rugby, o rugby agradável de ver, trata de usar a bola e usar o campo. Com criatividade e imaginação.   

domingo, 23 de outubro de 2011

O DIABO NOS PORMENORES

O Cisne Negro - que Nassim Taleb caracteriza como inesperado, catastrófico e posteriormente previsível, mesmo facilmente explicável - de Gales foi aquele falhanço, aquela escorregadela, de James Hook que não transformou um pénalti contra a França. O aviso vem do corolário da Lei de Murphy - quando a pressão aumenta, shit happens - e o homem mostrou, com os outros falhanços, não ter perfil psicológico para toda a areia que a camioneta de chutador exige. E como é fácil perceber e explicá-lo depois: porque não consegue a concentração exigível, porque a linha de corrida é desequilibrada, porque a esquina é demasiado prolongada. Fácil mas factual: foram os pontapés que impediram que Gales estivesse na final.

Porque no resto estiveram bem (vá lá, excepto quando os dois centros galeses se deixaram enganar pelo isco do aparecimento de O'Connor e abriram uma auto-estrada de bandeira para o ensaio de Barnes).   O diabo está nos pormenores, diz-se. Os pormenores, em jogos de bota-fora(1), são o diabo. E foram, se tivermos - como tenho - o ponto de vista galês. E pormenor foi também o facto de bola ter sido passada para a frente no ensaio de Shane Williams (que raio de pormenor aquela tentativa de ressalto...). Foi passada para a frente mas só é visível quer pela televisão - fácil, facílimo - quer por um observador parado na linha de passe. Acontece que tudo estava em movimento: árbitro, árbitro auxiliar vulgo juíz-de-linha, jogador receptor e mais importante de tudo, o portador da bola quando parou, derrubado por adversários, já se encontrava á frente da linha de recepção - impossível de ver no momento. Um simples erro de paralaxe (já agora: no outro momento parecido e da responsabilidade australiana não, era fácil de verificar, não havia movimento do passador ou do árbitro).  

No nível elevado do alto rendimento onde o rugby do mundial se encontra é preciso, para vencer, garantir que os chutadores da equipa serão capazes de transformar em pontos as faltas adversárias - e é preciso que a equipa adversária reconheça isso e que tenha dúvidas sobre as vantagens das suas faltas. Só assim as defesas serão obrigadas, não podendo arriscar em demasia defensivamente, a deixar os intervalos por onde será possível perfurar para impor o jogo entre-linhas. Não ter um chutador capaz no alto nível é queimar baterias sem fazer a máquina avançar.E foi por isso que, entre aqueles galeses que não puderam estar presentes no jogo das meias-finais e do terceiro/quarto lugar, o maior ausente foi o jovem e notável abertura Rhys Priestland. A falta que ele fez...   No jogo da final se for verdade que o melhor ataque é a defesa, os neozelandeses vão sofrer muito para serem campeões do mundo. A França ainda não sabe bem como pode entrar em campo para disputar a final: nunca jogou grande coisa e teve a sorte dos números que fazem a chave da vitória. E uma coisa é certa: para aquele grupo de experientes jogadores, moldados num campeonato onde a derrota pesa muito mais do que a falta de pontos, estar na final é um euromilhões - e oportunidades, eles sabem, não se deitam fora.   E se os All-Blacks jogarem? se acharem que precisam da bola, que precisam de conquistar e manter território e que, no final do dia, o que contam são os pontos marcados - garantem ter aprendido a lição de 2007 quando na meia-final deixaram os pontapés de ressalto no balneário - a experiência dos franceses apenas servirá para limitar os prejuízos.

Mas os All-Blacks terãoque jogar bem e muito... o que é bom para o jogo e para nós, espectadores.  
(1) - a forma popular que conheço desde sempre para designar jogos a eliminar é bota-fora
e nunca o mata não sei quantos que, para além do mau gosto, é pouco desportivo.

domingo, 16 de outubro de 2011

QUE JOGO!

Avançar com apoio para garantir a continuidade e exercer a pressão que desorganiza a defesa
Que jogo! Do primeiro ao último minuto o jogo fez-se, quer do lado neozelandês dos vencedores, quer do lado dos australianos, de acordo com a estratégia e as tácticas que definem o rugby como um jogo de ataque. Para voltar a ver e para mostrar – tal como o outro jogo de grande nível deste Mundial, o Gales-Irlanda.

A simplicidade do jogo traduz-se nisto: o seu objectivo é fazer chegar, tão rápido quanto possível, o portador de bola á área de ensaio adversário. Tudo o resto – passes, chutos, corridas, fases, tempos e ritmos – são instrumentos colectivos a utilizar para desequilibrar e desorganizar a oposição permanente ataque/defesa. Utilizando sempre a vantagem da posse da bola – o ataque age e a defesa reage – para procurar surpreender a defesa. Aliás, se assim não fosse – se a prevalência fosse inexoravelmente da defesa, qual destino inibidor, qual seria o gozo do jogo?

Para que seja possível o objectivo – chegar à área adversária com a bola ou converter as faltas que as defesas fizeram para o evitar – é necessário saber aplicar em cada momento os Princípios Fundamentais ou Básicos do Rugby: Avançar sempre!; Apoio; Continuidade; Pressão. A que se devem acrescentar os 3 Pês de que fala Saxton (no ABC agora reeditado): Possesion (posse da bola); Position (ocupação do terreno); Pace (velocidade). E, já agora, que se junte a trilogia de recomendações dos desportos colectivos: Play Hard; Play Together; Play Smart – joguem no máximo, joguem juntos e joguem com inteligência.

E foram estas as preocupações que se viram em ambas as equipas num jogo de grande qualidade competitiva.

Os All-Blacks começando de forma superior – Piri Weepu hoje atacou a bola nos reagrupamentos com outra velocidade sendo, embora perdendo pontos nos pontapés aos postes, muito mais decisivo na dinâmica da sua equipa – não deram espaço aos australianos que nunca – muito por graça do três-de-trás neozelandês que esteve soberbo no jogo aéreo -  conseguiram a conquista territorial que lhes permitisse a posição para basear o lançamento dos seus ataques.

E houve jogadores, mais negros que amarelos, que tiveram participações excelentes. De entre os quais saliento Conrad Smith – que notável jogador na discrição da sua participação: está sempre no sítio certo, usa a bola com oportunidade e adequadamente, defende o seu corredor com determinação e eficácia. Grande nº13. Notável. Gostaria sempre de poder contar com ele numa equipa minha…

E de novo se constatou um velho preceito rugbístico: os avançados ganham os jogos; os três-quartos dizem por quanto. O bloco avançado All-Black – o seu cinco-da-frente -  dominou completamente e nas diversas fases do jogo os seus adversários e a partir daí estava lançada a plataforma que sustentaria a vitória. Sempre com base no avanço, conquistando centímetros ou metros, e no lançamento de jogadores em movimento – numa lição a reter e a transportar para o campo da formação de jogadores. Porque não se joga assim porque se nasceu assim: é porque se aprendeu a jogar assim!

Curiosamente no final do jogo, respondendo ao como preparar a final, Graham Henry declarou: trabalhando o básico! E são eles a melhor equipa do mundo…

O rugby é um jogo de ataque e desenvolve a sua eficácia colectiva em torno de princípios estratégicos que exigem a adequação e subordinação das tácticas utilizadas. Atacando e defendendo, uma equipa de rugby, para ser vitoriosa ao nível mais elevado, tem que saber ser eficaz em ambos os departamentos. Mas é o ataque que ganha jogos e a defesa que o garante.

[em relação ao cartão vermelho mostrado a Sam Warburton: de facto e lendo o esclarecimento
da IRB, quando um jogador, forçado pelo placador, atinge o solo com a cabeça ou parte superior
do corpo e os seus pés ainda estão no ar é considerado jogo perigoso e está sujeito a um cartão
vermelho. Foi o que aconteceu]

ESTRATÉGIA GALESA

Apesar da derrota na meia-final, o XV de Gales - uma das equipas mais novas, senão mesmo a mais nova, do Mundial - mostrou-se um notável conjunto capaz de exprimir um rugby positivo de conteúdos adequados aos princípios fundamentais que formatam o jogo desde a sua criação e que mantêm a sua pertinência no actual modelo.

Mas estes resultados não surgem por obra e graça de um qualquer dote. A capacidade dos jogadores galeses resulta de uma boa e adequada formação, da criação de competição de níveis elevados e mais próximos da competição internacional e de uma organização que suporta o rugby galês num quadro de alinhamento com os objectivos de elevadas prestações competitivas internacionais. Ou seja, o rugby galês tem uma estratégia e tem, pelo seu acerto, resultados.

A este propósito e com as diversas explicações o Raul Patrício Álvares, meu amigo e parceiro destas coisas rugbísticas - estivemos os dois, e também António Coelho, na equipa técnica da Selecção Nacional - escreveu o texto (em itálico) que transcrevo:

O País de Gales e nós
A presença da selecção do País de Gales nas meias-finais do Campeonato do Mundo, para mais com forte hipótese de chegar á final, deveria fazer pensar os dirigentes do râguebi português (dirigentes em sentido lato: clubes, federação, etc.).
Com efeito é espantoso como uma “região” com pouco mais de 3 milhões de habitantes, consegue produzir uma equipa de elite que não é mais do que o produto final de um sistema que engloba todas as etapas necessárias ao aproveitamento total do potencial disponível.
Quando observamos esta equipa, temos a sensação que não há um único jogador, que alguma vez tenha demonstrado poder  fazer parte dela, que não esteja lá.
Os dirigentes do râguebi galês, sabem o que querem, e o que é mais importante, sabem como lá chegar. São evidentes os princípios em que se baseia toda a “governance ”: competência, atitude e organização.
Competência para saber escolher modelos de formação, quadro competitivos , treinadores e técnicos.
Atitude em saber definir o que é realmente importante quando se trata de competição e não ter receio de “olhar para o alto”.
Organização que passou por uma impensável fusão de clubes antiquíssimos (mas em que os dirigentes têm mais amor ao râguebi do que ás camisolas), de modo a permitir que os melhores jogadores se batam com os melhores, numa competição profissional impossível de montar nos seus limites territoriais, em vez de se limitarem a exportar jogadores, método que por si só não garante uma profundidade suficiente para haver consistência competitiva.
Mesmo no “sete”, quando se tratou do Campeonato do Mundo, a aposta foi forte e teve como resultado a vitória. Nunca se preocuparam em serem campeões da Europa “que não joga râguebi”…
Que diferença para o que se passa em Portugal!
Será que os nossos dirigentes ainda não perceberam que não é preciso inventar nada? Basta aprender e adaptar. Lógico que as realidades são diferentes, mas os princípios não mudam, é só necessário fazê-los compaginar.
E escusam de vir com a conversa da aposta no “sete” porque também aí não passamos da mediania, só que não se nota tanto…
Um bocadinho de humildade talvez fizesse bem a quem manda no râguebi português, em vez de permanentemente estarem a tentar “vender” uma competência que não existe.
No desporto, como na vida, só no confronto se vê quem é capaz. A auto-satisfação dá sempre mau resultado.

Vale a pena reflectir para encontrar o caminho - a estratégia - que nos permita a frequência dos grandes momentos da modalidade. De forma sustentada.

sábado, 15 de outubro de 2011

OPORTUNIDADE JOGADA FORA

Concedo: a defesa ganhou o jogo. A passiva e quase incapaz França vê-se na final do Mundial graças à sua experiência - náo armes em campeão que a gente não se aguenta - e ao jogo de "tocaia" que soube fazer. Também concedo: é preciso alguma qualidade para o conseguir...


Para contentamento dos negativistas contentinhos - género eu não disse? - da escola a defesa é que ganha o momento é de felicidade com a folha de estatísticas na mão: França com 126 placagens contra apenas 56 de Gales. Como se isso dissesse alguma coisa do jogo para além da demonstração óbvia de que a defesa ganha, quando o ataque dos outros é incapaz (claro que a má defesa não deixa ganhar jogos ... mas isso é outra estória...)


A realidade: a defesa francesa ganhou o jogo porque o ataque galês o perdeu: nos dois pontapés imperdíveis falhados (contra uma defesa que faz o seu papel não se pode falhar a conversão das faltas ou o terreno que possa proporcionar); na cabeçada do centro Davies quando a auto-estrada o levava para o pátio do castelo adversário; no adiantado do excelente North de intervalo aberto na última linha defensiva francesa. E nas bolas perdidas em alinhamentos próprios. Ou, ainda, na incapacidade de jogar adequadamente as continuidades do jogo - sem criatividade e de acordo com as expectativas da defesa não criando quaisquer desequilíbrios que provocassem faltas ou abrissem buracos - de que foi exemplo a nulidade das 20 fases do final do jogo (que diabo, não haveria ninguém para tentar um pontapé de ressalto no período de domínio territorial após o ensaio?) Ou ainda - questão central - no disparate do jovem capitão Warburton que se deixou expulsar (embora o cartão devesse ser amarelo e se perceba mal a rigidez da atitude do árbitro) de forma gratuita e irresponsável e com absoluto prejuízo da sua equipa, quiçá com a carga de responsável primeiro pela derrota. Para não falar no único momento de azar: a saída do pilar Adam Jones. Ou da impossibilidade do importante abertura Priestland. A sorte não andou por ali mas também foi mal procurada. Sortes...


A justificação do resultado: a juventude galesa rendeu-se aos braços da ratice dos experimentados franceses e jogou fora a oportunidade de uma vida. Sortes...


A França - não jogando - está final do Mundial, no que não deixa de ser um belo feito para uma equipa dada como liquidada.


Mas o futuro está com Gales - mesmo que o consolo seja pouco e o sentimento de oportunidade jogada fora se sobreponha. Cardiff estará inconsolável... até ao jogo de disputa do terceiro lugar.


[a lucidez do francês Médard no final do jogo: os deuses do rugby estiveram connosco]

domingo, 9 de outubro de 2011

FUNCIONAMENTO DA LEI 60/20

Ao contrário das expectativas, a vitória dos All-Blacks sobre a Argentina não foi brilhante e viveu da lei dos mais fortes - cumprindo-se a lei 60/20 (ver aqui) e distanciando-se apenas no final do jogo. Mas se o jogo teve alguma coisa interessante, foi a resistência argentina.

A defesa argentina, ao não se deixar empenhar em demasia em cada movimento conseguiu sempre manter jogadores livres para intervirem em ajuda – e foram muito bons a cortar as linhas de passe, impedindo assim que o apoio neozelandês tirasse qualquer partido dos desequilibradores passes-em-carga (off-loads). Para evitar esta vantagem argentina seria preciso que às paragens das cargas neozelandesas correspondessem libertações muito rápidas da bola. Nada disso aconteceu, pelo contrário.

O formação Piri Weepu – considerado melhor jogador em campo – man of the match – se foi o melhor marcador de pontos – 7 pontapés de penalidade – da equipa, foi também o maior enterra dos movimentos da sua equipa: levou sempre horas a tirar a bola dos reagrupamentos e nunca utilizou formas surpreendentes de continuidade – horas para reiniciar sempre o mesmo. Facilitando a vida à defesa argentina que, mesmo tendo alguma responsabilidade no atraso da saída da bola, teve sempre a possibilidade de se reposicionar e conseguiu assim respirar mais tempo.

Sem Carter os All-Blacks são outra equipa e os adversários, sabendo disso, não precisam de organizar a defesa tão profundamente – o que lhes permite dobras mais prontas e mais eficazes.

A Argentina, embora com menor qualidade do que em 2007, mostrou de novo que a sua política exportadora – apenas dois jogadores pertencem a clubes argentinos – paga dividendos e mostra-se como um bom exemplo para quem pretender subir na cena internacional.

Surpreendente mesmo foi o facto de um grupo de jogadores formados dentro de uma cultura táctica individual e colectiva de elevados níveis – uma das suas bases está no ABC do Râguebi de C.K. Saxton que Pinto de Magalhães, “o engenheiro”, traduziu e que a família agora republicou e que deve ser lido por quem se interessa pelo jogo – não tenha sido capaz de fazer a separação dos níveis muito mais cedo. Dentro de oito dias, a meia-final com a Austrália não permitirá esta pouco eficaz utilização da bola.

OS PORMENORES SÃO O DIABO

Os dados do jogo são irrefutáveis: a África do Sul perdeu o jogo – teve tudo para o ganhar. Teve o domínio territorial de 76% com 12’ 30” dentro dos 22 metros adversários; teve o domínio da posse da bola com 56% do tempo total – o que obrigou a Austrália a 147 placagens! A África do Sul conseguiu conquistar – o que é obra! - cinco dos oito alinhamentos australianos.

O mérito australiano esteve na pressão e desmultiplicação defensiva de jogadores conseguindo 9 turnovers, a maior parte em momentos decisivos…
… mas não se pode perder um jogo com tanto domínio, pensarão jogadores, treinadores e adeptos. O sonho do terceiro título mundial, perdeu-se; o sonho do próximo em 2015 começou.

O diabo está nos pormenores, diz-se. E foi nos pormenores que a ainda campeã mundial África do Sul se perdeu – um atraso mínimo no apoio, uma incapacidade de soltar a bola no milésimo antes de ir ao chão; um passe que se adianta na precipitação final do receptor, uma continuidade que se desperdiça. Mas o jogo que a África do Sul hoje mostrou foi bastante mais interessante do que o habitual: território sim mas com o objectivo de criar condições de concentração defensiva para explorar espaços. E o seu domínio reduziu a expressão australiana ao quase nada. Australianos que mostraram um ponto fraco desconhecido – a sua desagregação se sujeitos a níveis de pressão elevados. E a exploração deste factor vai ser ponto de partida dos próximos adversários.

Duas concepções de rugby – a organização e critério sul-africanos contra a australiana exploração dos espaços numa espécie de organização permanente do caos – estiveram frente-a-frente. O rugby ganhou e os espectadores também. Neste Mundial joga-se mais e melhor do que em 2007.

[apenas 10 penalidades nuns quartos-de-final de um mundial. Não é bonito?]

sábado, 8 de outubro de 2011

O DOM DO PEDROTO

A inesperada vitória da França liquidou, felizmente, um fantasma: a possibilidade de repetição da final de 2007 entre a Inglaterra e a África do Sul. E embora não tivesse sido um jogo de grande qualidade – bastantes furos abaixo do Gales-Irlanda – o quinze francês melhorou alguma coisa e, principalmente, soube tirar o melhor partido dos erros e deficiências inglesas – má organização defensiva quer pelo uso de dois aberturas no meio-campo, quer pela preocupação de demasiada pressão defensiva de que resultou subidas defensivas demasiado rápidas e apressadas.

É, a-propósito, interessante notar que a subida demasiado rápida – se não for colectivamente objectiva e subordinada a plano táctico de recuperação da bola – só serve para auto-fixar os defensores (os atacantes capazes agradecem) e libertar mais espaço para o ataque. Para uma linha como a francesa a subida defensiva moderada e capaz de deslizar é, mesmo se cedendo algum espaço, a mais indicada - situação, aliás, aplicada posteriormente pelos defensores ingleses mas já com o desastre consumado.

Os erros defensivos ingleses foram tais e de tal ingenuidade - como é possível mudar de estratégia nuns quartos-de-final sem a experimentação adequada? - que rapidamente os franceses se viram na posição privilegiada de comando e não pude deixar de associar ao jogo o que conta o meu amigo João Mota sobre a resposta de José Maria Pedroto a impertinentes jornalistas depois de mais uma vitória sobre equipas inglesas: qual o meu dom? o meu dom é explorar sempre a estupidez das equipas inglesas.

Parece que os franceses terão ouvido sobre este dom do Zé do Boné...

NA MEIA-FINAL!!!

A defesa galesa - de novo elogios para Shaun Edwards - ganhou o jogo porque o seu ataque marcou os pontos necessários para garantir a vitória.  

Excelente jogo num elogio ao rugby de movimento e a mostrar que no Hemisfério Norte há equipas que sabem jogar.

Falta só um jogo para Gales atingir a final! CYMRU!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

SESSENTA E SEIS SECOS

Para além dos habituais crentes de fé inabalável quem é que esperaria uma vitória galesa sobre Fiji de sessenta e seis secos? E a jogar bem: ataque aos intervalos, descoberta e criação de espaços livres para lançar jogadores determinados a bater a defesa e conquistar terreno. E a defesa numa aposta de que não nos marcarão? - Shaun Edwards é provavelmente o melhor treinador defensivo actual e soube, de maneira soberba, traduzir e adaptar as tácticas defensivas do XIII a uma consistente defesa do quinze galês.


Em termos de beleza de jogo, não vejo melhor exemplo: as diferentes formas possíveis aplicam-se de acordo com a leitura feita do movimento da defesa adversária - a adaptação que garante a sobrevivência (Darwin dixit) mostra-se a cada movimento galês. Está uma senhora equipa - incluindo a capacidade de penetração que desequilibra defesas e permite a exploração do espaço numa melhoria óbvia do seu jogo-entre-linhas.


Talvez mais importante - zero pontos marcaram os adversários, lembra-se - foi o facto de Gales não ter feito faltas em zonas perigosas. Facto relevante e que significa disciplina, confiança e domínio. E que pode ser um plus nos jogos que restam.
Que Gales pode ir longe? Pode, muito longe até - e que jogo se prepara nos quartos-finais entre os primos celtas. Mas apostas são apostas: Gales ganha! nem que seja rés-vés.


Agora as más notícias: os analistas da IRB apostam no habitual - as vitórias, nesta altura de bota-fora, vão pelo insuportável adágio de que a defesa é a melhor forma de defesa que, somada a um pontapeador capaz, ditará a vitória. O que significa o insuportável: África do Sul e Inglaterra colocam-se no topo - um de cada lado - dos favoritos. Já se sabe, em provas compridas e compactas como este Mundial, uns e outros são capazes de repetir a sensaborona final de Paris.

Para bem do rugby e do gosto pelo divertimento do jogo espero que haja - naqueles que usam a bola e que consideram que o jogo de passes - o ataque é a melhor defesa - é o meio mais eficaz para chegar à vitória - quem garanta a vitória final. E que os que não gostam de jogar mas apenas de garantir resultados (franceses incluídos que ainda não concordaram na forma) viajem mais cedo para casa.

domingo, 2 de outubro de 2011

NOTÁVEL TONGA

A vitória de Tonga sobre a França será, até ver, o melhor resultado deste Mundial. Para além da conquista de lugares e pontos no ranking, Tonga conseguiu, desde já, a sua qualificação para o Mundial de 2015 e daí as expressões de alegria de toda a equipa - jogadores, treinadores, técnicos e dirigentes - no final do jogo. Chegados com ligeiro atraso ao grande concerto - o quarto lugar do TriNations vai ser ocupado pela Argentina - Tonga poderá, com a qualificação conseguida, preparar a sua participação sem sobressaltos e tornar-se um incómodo para alguns dos dez grandes esperando a oportunidade de novo alargamento da melhor competiçao do hemisfério sul.

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