segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O CURTO CAMPEONATO

Começou este fim-de-semana a prova-rainha do rugby português: a prova que atribui o título de campeão nacional mais importante – e digo assim porque, hoje em dia, é confuso dizer simplesmente Campeão Nacional ou Campeão da I divisão. Diga-se assim: começa agora “o Campeonato”. Mas começa cedo e acaba muito cedo – em Janeiro. E não percebo as vantagens competitivas deste modelo – curto e ainda a braços com o salto sobre a janela internacional de Novembro.

A não paragem do campeonato durante a janela internacional de Novembro – uma atenção ao mito de um campeonato com “intervalos” ser (a que título?) prejudicial – vai introduzir um conflito de interesses dispensável: entre a Selecção e jogadores; entre jogadores e clubes; entre clubes e Selecção. Jogando três jogos sem os seus melhores jogadores os clubes podem, naturalmente, sentir-se prejudicados pela possível perda de pontos – nomeadamente de bónus - que podem ser fundamentais para a classificação dos quatro primeiros classificados ou para garantir a permanência. E para as perguntas, não encontro respostas: que vantagens? com que interesse? com que resultado junto de parceiros, de patrocinadores e de espectadores? e o resto do ano com que interesse competitivo? para que jogadores? etc.

E se não vejo nenhuma vantagem neste modelo – percebi que a única vantagem que via (passagem de oito a seis clubes na próxima época) se esvaneceu – também não vejo qualquer vantagem na proposta de época da ARS para os sub-14: sevens no primeiro trimestre da época? no campo todo e sem participação dos absolutamente necessários “gordos” que irão formar os cinco-da-frente do futuro? (é a isso que se refere o termo “gordos”: aos membros do cinco-da-frente, que, embora vindo a tornar-se atletas, correspondem àqueles que, no ataque do XV, as “gazelas” pretendem, por razões visíveis em qualquer jogo internacional, ver a defendê-los.).

Portanto e com esta medida, admite-se que o gesto técnico do sevens iguala o do XV; que o espaço superior que cada um terá será o ideal para a iniciação e formação de um desporto colectivo de combate; que a possibilidade de jogar a recuar garante a introdução e o domínio do princípio de “avançar sempre!”; que a ampliação dos intervalos ensina o jogo colectivo de apoio e percepção das suas linhas de corrida, etc. E ainda que, numa altura que se fala muito de ampliar a influência do jogo a maior recrutamento, diminuímos as participações activas.
De facto nem uma nem outra das competições me parecer a melhor das soluções e, tão pouco, que o futuro do rugby português ganhe alguma coisa com o facto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DO BAIRRO AO CLUBE

Estive presente no primeiro treino "a sério" que o António e o Ailton fizeram nos sub-18 do CDUL. Miúdos residentes num bairro inserido nas designadas "Zonas Urbanas Sensíveis", ambos de Camarate, iniciaram a aproximação ao jogo no programa "Desperta no Desporto" da responsabilidade do Governo Civil de Lisboa e destinado a promover a inclusão social através do desporto e de que o rugby do CDUL é, com muitas outras instituições, parceiro. Não se deram mal - falei com eles no final do treino - e pese algumas dificuldades - não é fácil "saltar" de uma iniciação para um grupo já com anos de adaptação - mostravam-se francamente satisfeitos e manifestando clara vontade de continuar. Hoje mais três "iniciados" irão juntar aos sub-16. Estarão, quaisquer deles, bem entregues. Um dos directores do CDUL presente, o José Maria Caupers, deixou, numa frase lapidar, o sinal do interesse, do compromisso e da responsabilidade: "Se o rugby não serve para para isto, então não sei para que serve!".
Que se divirtam e que o rugby lhes abra as portas da oportunidade de inclusão. 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

VALORES NUCLEARES

A Rugby Football Union - RFU, Inglaterra - estabeleceu, com conceitos simples mas - ao que afirmam - após muitas horas de trabalho e discussão, o seu código ético e pretende que seja cumprido em todas as categorias e por todos os agentes. Por razões óbvias - para que possa servir como exemplo - apresenta-se a sua tradução. 


CÓDIGO DO RUGBY

Espera-se que qualquer pessoa envolvida no rugby em Inglaterra, seja como jogador, treinador, árbitro, dirigente, pai ou espectador apoie os VALORES NUCLEARES do nosso desporto


ESPÍRITO DE EQUIPA
RESPEITO
DIVERTIMENTO
DISCIPLINA
DESPORTIVISMO


Jogar para ganhar – mas não a qualquer preço
Ganhar com dignidade, perder com elegância
Cumprir as Leis e regulamentos do jogo
Respeitar adversários, árbitros e todos os participantes
Rejeitar batota, racismo, violência e drogas
Valorizar voluntários bem como os agentes profissionais
Divertir-se com o jogo



ISTO É RUGBY.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

BLACK FERNS CAMPEÃS MUNDIAIS

 Fotografia de Martin Seras Lima IRB.COM
A Nova Zelandia, pela quarta vez consecutiva, é campeã do Mundo feminino ao derrotar, na final de ontem, a Inglaterra por 13-10. A neozelandesa Carla Hohepa - três-quartos ponta - é a actual rainha do rugby feminino - uma senhora jogadora.

domingo, 5 de setembro de 2010

ADEUS TRINTA PONTOS

A regra dos trinta pontos como garante de vitória, foi-se. Desta vez a África do Sul marcou 39 pontos... mas a Austrália marcou 41. Tem sido impressionante o número de pontos que as equipas têm marcado no Tri Nations - no final do jogo, Robbie Deans (treinador neozelandês dos australianos) afirmando que tinha sido um grande jogo de rugby, acrescentou: deve ter sido bom para os espectadores pagantes. E foi. E também para os espectadores pagantes televisivos.
Foi um notável jogo com evidência de alguns pontos:
  • sempre que uma equipa abandona o seu sistema de jogo, perde - viu-se, em relação à Austrália, no anterior jogo e viu-se neste também quando tentou apenas, dada a diferença de pontos, controlar o jogo. O retorno à sua bagagem própria levou-a à vitória. O problema, no entanto, coloca-se noutro âmbito: como aguentar o ritmo do jogo de movimento durante os 80 minutos;
  • o número de fases de uma sequência de jogo não representa necessariamente qualidade do jogo - podendo apenas representar incapacidade para desequilibrar a defesa. É a velocidade de movimento e circulação da bola que cria problemas à defesa de que resulta, na maior parte dos casos, diminuição de fases por maior eficácia na conquista de terreno e pela possibilidade de jogar em pé;
  • a ida ao chão, viu-se inúmeras vezes, representa uma vitória da defesa. Manter a bola em jogo, realizando passes para companheiros colocados no eixo, permite a continuidade do movimento sem tempos de pausa e tornando-se, por isso, muito mais eficaz: houve momentos australianos de excelência neste campo. Por outro lado a capacidade técnica de levar o adversário portador da bola ao chão, levantando-se de imediato para recuperar a bola, está tornar-se numa importante arma táctica, definidora da categoria individual de um jogador;
  • a demonstração de que um jogo - seja qual for o resultado - nunca se deve dar por perdido foi feita de forma convincente pela África do Sul. Notável atitude, excelente coragem colectiva: olhar para o quadro da pontuação, ver-se a uma distância de vinte pontos e ainda sentir a possibilidade de chegar à vitória só é possível quando uma equipa atinge uma crença colectiva de grande confiança. Só possível com campeões que reconhecem a enorme diferença entre a vitória e a derrota.  

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

MUNDIAL FEMININO

Ter visto alguns dos jogos do Mundial feminino trouxe-me da memória a frase – rejeitando a ideia que o ideal rugbístico feminino seria o Sevens – de uma jogadora brasileira que disputou o recente Mundial Universitário no Porto: E as gordas?


E tenho visto gordas a jogar excelentemente e a mostrar direito próprio ao jogo. Aliás e duma maneira geral, vi excelentes demonstrações colectivas de rugby: cumprimento sistemático dos Princípios Fundamentais, recursos técnicos de bom nível – os in-out são do melhor – cultura táctica colectiva e individual muito elaborada, muito bem organizado o jogo no chão e excelente organização defensiva. Enfim, rugby de qualidade.

Jogando tanto como os homens? Não, jogando diferente. Talvez correndo mais riscos, jogando menos ao pé, fazendo menos faltas, com construção mais elaborada – menor procura de choque – na procura de intervalos. Mas com a mesma determinação, o mesmo empenho e uma enorme generosidade e espírito de equipa. No fundo, tal como nos outros desportos, construindo uma diferente imagem do jogo, tornando-o feminino, muitas vezes elegantemente feminino – mas sem lhe alterar os valores.

Black Ferns no Haka                 fotografia rugbymatters.net IRB.COM
De todas as equipas que vi – e vi as melhores – as Black Ferns (neozelandesas) são notáveis. Tem um espírito colectivo impressionante o que lhes permite um apoio permanente que garante a diferença para as outras equipas. Mostrando em qualquer momento um saber jogar cuidado na manutenção constante do movimento da bola, saliente-se nesta equipa a capacidade de recurso a combinações não anunciadas e eficazmente adaptadas às defesas contrárias, demonstrando uma elevada capacidade de leitura do jogo – cultura táctica individual muito desenvolvida - e que traduz um nível superior de treino. Há momentos surpreendentes no seu jogo – e de uma acentuada beleza rugbística. Valerá a pena ver a final – Inglaterra-Nova Zelândia – no próximo domingo.

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