segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

6 NAÇÕES - RESULTADOS DA 3.ª JORNADA

Ponto comum dos jogos desta 3.ª jornada do Torneio das 6 Nações 2019: a incapacidade dos árbitros e da sua equipa para controlar os fora-de-jogo nos reagrupamentos (breakdowns). A continuar assim, impossibilitando o espaço necessário ao desenvolvimento e continuidade do jogo, os árbitros e a sua equipa tornar-se-ão primeiros responsáveis pelo estádio de colisão permanente que o jogo aparenta.
A França ganhou mas, apesar de um estádio pleno e cheio de vibrantes bandeiras, não terá mostrado os argumentos necessários a fazer-nos pensar que os problemas da equipa estão resolvidos e que uma nova corrente do “french flair” estará encontrada — não está e muito falta ainda trabalhar para conseguir retirar do Top14 os ingredientes de uma boa equipa. A Irlanda, não sem um valente susto, cumpriu o seu papel derrotando a Itália com ponto de bónus - mas mostrou-se longe da equipa de Novembro passado.
O jogo da jornada foi o Gales-Inglaterra. De resultado imprevisível não fugiu ao esperado — no início a Inglaterra parecia que poderia vencer mas à medida que o jogo se desenrolava, Gales mostrava um crescente controlo. Bem análisadas as coisas ou para os mais atentos, Gales fez, desde o início e com uma lição muito bem estudada, figura do mais provável vencedor.
Impedindo o desenrolar do modelo inglês das anteriores jornadas ao não permitir, com uma defesa muito acertada, que os “transportadores” ingleses ultrapassassem a “linha de vantagem” e encurtassem a linha de defesa, não teve que empenhar o seu “três-de-trás” na defesa próxima para tapar os espaços laterais, não deixando assim grande espaço livre nas suas costas para que o “jogo-ao-pé” inglês tivesse eficácia. Não existiu, portanto, uma verticalização inicial que possibilitasse o lançamento da segunda verticalização. E com a superior capacidade do jogo aéreo do seu ”três-de-trás” não houve — para além da “paragem cerebral” à espera de um apito no 1º ensaio — oportunidades que diminuissem a atitude permanente de confiança na vitória desejada, mais do que qualquer outra, por todo o lado onde houvesse um galês. Que vem de longe — Gareth Edwards conta que, em miúdo e no parque, jogava sempre pelos vermelhos contra os brancos que eram os ingleses e que, obviamente, perdiam.
E com a entrada de Biggar, o verde do campo foi dominado pelo Dragão Vermelho.

Os galeses ao obrigarem os ingleses a realizar 63% (227) das placagens do jogo pela utilização de 64% das bolas disponíveis com 368 metros de terreno conquistado em 167 transportes, criaram as  condições para que no quarto final do jogo os ingleses se mostrassem incapazes de se imporem. O cansaço pesa, retira confiança e provoca faltas (9 contra 3 galesas) e a procura de Eddie Jones do acerto na combinação de “mais intensidade e menos volume” para definir um plano físico dominador 
terá que continuar — descoberta que pode colocar esta derrota, com vista ao Mundial, como um 
atempado aliado.

Porque a capacidade defensiva galesa veio pôr a nu o que sempre se desconfia da cultura rugbística inglesa: um bom plano inicial sem outras soluções quando contrariado e que tem sempre o seu retorno na velha escola da colisão directa a ver se alguém quebra. E Clive Woodward já veio dizer dos seus receios para o Mundial...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

PREVISÕES PARA A 3.ª JORNADA DO 6 NAÇÕES 2019

 A 3.ª jornada do 6Nações tem, para além de um prognóstico que não precisa dos cuidados do João Pinto — ninguém acredita numa vitória italiana sobre os irlandeses — dois outros jogos sem qualquer certeza nos resultados finais como se pode perceber pelo quadro acima.
Em Paris, a França — com uma parelha de médios, Dupont e Ntamack (ambos do Stade Toulousain), muito jovem — tem que demonstrar aos seus adeptos que a sua passagem pelo Mundial do Japão não será um desastre que exija toda uma série de mudanças internas na organização do rugby francês para garantir uma presença competitiva condigna no Mundial de França de 2023. O título da primeira página do conhecido Midi Olympique não engana sobre o que querem os franceses da sua equipa: LEVANTEM-SE!, escrevem.
Mas o jogo que está a levantar o maior interesse é o Gales-Inglaterra. Quer pelas dúvidas sobre o resultado final ou pela possibilidade de vitória com Grand Slam (só vitórias sobre todos os adversários) ou do tradicional troféu britânico designado por Triple Crown (vitórias sobre os outros adversários britânicos), mas principalmente pelo interesses táctico que o jogo propõe: como vão responder os galeses ao bem oleado sistema inglês de “dupla verticalização”? Qual será o processo que Gatland utilizará?
Os ingleses derrotaram Irlanda e França com um sistema simples a que chamo “dupla verticalização”: penetrações em passes, normalmente baseadas num esquema 1-3-3-1, para ultrapassar a “linha de vantagem” e obrigar o três-de-trás a subir, deixando terreno livre atrás que vai possibilitar o jogo-ao-pé com perseguições eficazes porque sempre mais velozes do que os defensores obrigados a uma volta atrasadora. Mas se o “três-de-trás” não subir, os atacantes, sem o problema de jogar “entre-linhas” podem organizar a continuidade do seu movimento a que os defensores terão significativas dificuldades em parar. No fundo este sistema apresenta-se como uma espécie do cobertor que, se tapado de um lado, destapa-se no outro. Como resolver? Que estratégia? Que táctica?
Parece evidente que a melhor opção galesa será a de procurar travar o início do movimento penetrante. O que significa a necessidade de dificultar as conquistas de bola seja nas fases estáticas, seja nas fases dinâmicas. Depois existe a óbvia necessidade, de acordo com a linguagem estratégica militar de combate, de decapitar a liderança — o que será papel da terceira-linha galesa dos excelentes Navidi, Tipuric e Moriarty que não deixará um centímetro de terreno para a dupla de médios inglesa, Youngs e Farrell. A reacção inglesa para garantir o seu modelo de jogo passará então pelo recurso imediato ao bloco de avançados num jogo de colisão que prenderá a mobilidade galesa. E se a defesa galesa do jogo ao pé parece, pela qualidade do seu três-de-trás e pelo facto da habituação do seu formação à defesa de cobertura, ter capacidades de oposição eficaz, o jogo deverá decidir-se pela melhor eficácia nos “breakdows” onde rapidez de reutilização de bola será o factor essencial. Barry John não põe qualquer dúvida sobre a vitória galesa e considera que a escolha de Gatland por Anscombe em vez de Biggar para o lugar de “abertura” é a correcta pela sua maior eficácia no jogo-ao-pé e pela imprevisibilidade da sua distribuição.
Mas o jogo será mais complexo do que isto e terá muito a ver com as vantagens que as unidades da primeira-linha, terceira-linha ou três-de-trás possam estabelecer. Estas unidades são de grande categoria — o seu perfil neste 6Nações pode ser visto no quadro abaixo — e têm enorme experiência internacional. A forma como se poderão impôr aos seus adversários directos, terá toda a importância na construção do resultado final.

Um jogo a não perder.
No quadro seguinte podem  ler-se os prognósticos para os resultados finais do Torneio.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

PORTUGAL DEU UMA ABADA

Que abada...
O Rugby Europe Trophy é um torneio competitivamente desequilibrado — a Polónia já venceu dois jogos... — que dificulta a possibilidade de subida para o escalão acima e a Polónia, fraca até dizer basta!, veio demonstrar que a sua derrota em casa com a Holanda (46-0) não foi uma casualidade mas uma tendência. A questão é simples: para que servem estes jogos? O que ganha cada uma das equipas nesta disputa sem oposição?
Portugal fez o que devia — vencer! — mas não foi verdadeiramente, tal as fragilidades adversárias, posto à prova. E para que este jogo possa servir para alguma coisa é necessária ter uma atitude colectiva muito pró-activa, analisando cada situação com muita clareza e não embandeirando em arco com um resultado cujo volume não tem significado competitivo relevante.
Vencer, para quem pretende melhorar e atingir níveis superiores, exige a resiliência de uma crítica tão objectiva quanto a que se faz sobre a derrota. Achar que após a vitória está tudo maravilha – em equipa que ganha não se mexe, gosta-se de dizer — é preparar um futuro de mau caminho — em equipa que ganha mexe-se o necessário para garantir que se continua a ganhar, tem que se dizer.
O jogo foi muito fácil mas houve erros pouco admissíveis com perdas de bola (18) principalmente por maus passes. E tendo em atenção a pouca pressão feita pelos polacos, a relação passe-recepção tem que ser muito trabalhada para que, em jogos mais difíceis e com menos facilidade de bolas disponíveis, possa existir uma maior eficácia na construção e aproveitamento de oportunidades.
As deficiências, resultantes de uma competição interna em que estes aspectos são pouco cuidados, no ataque à linha de vantagem (LV) continuam, com recepção das bolas a utilizar suficentemente longe da LV para colocar, por uma equipa com mais experiência, a linha de placagem completamente dentro do campo atacante com todas as consequências negativas que daí resultam: bola atrás dos avançados e inferioridade numérica.

Daqui resultam percentagens muito baixas na eficácia atacante - 39% — e elevadas, 23%, nas perdas ou desperdícios de bola.
Deste jogo, para além da subida de um lugar — por troca com a Alemanha — no ranking da World Rugby, resulta claramente a necessidade de atento e focado trabalho durante a semana para que não haja surpresas desagradáveis no jogo, fora, contra a Holanda.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

EUROPEAN TROPHY: PORTUGAL-POLÓNIA


De acordo com os valores da pontuação do ranking da World Rugby, Portugal vencerá este jogo, em casa e a contar para o Rugby Europe Trophy, contra a Polónia por 16 pontos de jogo de diferença. O que lhe garantirá e se assim for, subir um lugar no ranking, ultrapassando a Alemanha que, apesar de pertencer à divisão superior, irá jogar fora, contra a Roménia e não deverá conseguir pontos positivos.
As vantagens de Portugal para este jogo são óbvias - nos resultados desde 2017 e no mesmo nível competitivo, tem 67% de vitórias contra 33% do seu adversário bem como 57% de quota de pontos marcados no conjunto de marcados e sofridos enquanto a Polónia tem o saldo negativo de apenas 37%.
Não se reconhecendo qualquer qualidade competitiva ao campeonato polaco, os jogadores portugueses não devem ter, técnica ou tacticamente, confronto problemático. E mesmo com uma competição interna que não se situa em plano elevado — como se pode verificar no gráfico abaixo, com dez jornadas completas, apenas três equipas podem ganhar o campeonato — os hábitos competitivos dos portugueses devem chegar para garantir a vitória.
Vitória que o passado das duas equipas determina e por números que não deixam margem para dúvidas sobre a diferença entre elas mas... no último jogo disputado também em casa, Portugal passou dificuldades e apenas venceu por uns acanhados dois pontos de diferença. 

 
Como curiosidade veja-se no gráfico acima a distribuição dos jogadores seleccionados pelos clubes da Divisão de Honra e as pontuações classificativas correspondentes. O maior número de jogadores — 5 —nos 23 que constituem a equipa pertencem a Agronomia e ao CDUL. O “capitão” será o Salvador Vassalo do Cascais.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

6 NAÇÕES - RESULTADOS DA 2.ª JORNADA


Já se percebeu: a Inglaterra tem um sistema. Sistema que verticaliza o jogo sempre que se oferece a oportunidade: em jogo-de-passe e jogo-ao-pé. Por isso o designo por “dupla verticalização”: procura de perfurações pelo processo tradicional do jogo-de-passes (intervalos, passes-em-carga) para, quando se vê entre linhas, evitar a ida ao chão e procurar ao pé colocar a bola no terreno livre que o “três-de-trás”, obrigado a subir para impedir a continuidade do transporte de bola controlado, foi obrigado a deixar.
E a França, que cada vez faz mais dores de cabeça aos seus adeptos, nunca se mostrou capaz de contrariar o sistema inglês. Para além das dificuldades físicas, porque a sua subida defensiva não era suficientemente “ofensiva” e rápida. E agora a interrogação no hexágono situa-se apenas nesta preocupação: assim, que vamos fazer ao Mundial? E fala-se na mudança: de treinador, de métodos e ainda se acusa a forma de disputa do campeonato interno com o seu numeroso contingente de estrangeiros que não deixam os jovens franceses amadurecer.
Gales fez, apesar da alteração de 10 jogadores em relação aos habituais titulares, fez o que lhe competia: ganhar! Quanto à Itália mostra-se cada vez como equipa acessível aos Georgianos que usam todas as suas influências para garantir que o “sobe-desce” será uma realidade no Torneio das 6 Nações. E já esteve mais longe... apesar de que, continuando a jogar assim, a França irá opôr-se à ideia não vá o diabo tecê-las.
A Irlanda, com a vitória obtida contra a Escócia — equipa que se dizia estar a subir — em Murrayfield veio demonstrar o plano em que se encontra a Inglaterra. Afinal não são os irlandeses que enfraqueceram mas sim os ingleses que cresceram. E cresceram tanto que já são dados, com mais de oitenta por cento de hipóteses, como vencedores do Torneio de 2019. E com os entusiastas a esfregarem as mãos com a possibilidade — que pelo desenho do quadro pode perfeitamente acontecer — de uma final mundial entre a Inglaterra e a Nova Zelândia.
Na Europa começaram os jogos: a Espanha venceu a Rússia por 16-14, a Bélgica derrotou a Alemanha por 29-22 enquanto que a Geórgia não deixou os seus créditos por mãos alheias e derrotou, em Cluj, a Roménia por 18-9.
E este próximo fim‑de‑semana começamos nós...

“TENS FEMININO” - SPORTING CAMPEÃS 2019


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

PREVISÕES DA 2.ª JORNADA DO 6 NAÇÕES 2019


Os favoritos desta 2.ª Jornada — Irlanda, Gales e Inglaterra — são os mesmos para os responsáveis — XV contra XV, Rugby Vision, QBE e Sports Tron — dos prognósticos utilizados neste texto.
No entanto e como afirma um director executivo da QBE e “como dissemos anteriormente muitas vezes” por mais ciência que se utilize nos vaticínios sobre o futuro “nunca poderemos estar 100% seguros” como, aliás, a recente vitória da Inglaterra em Dublin, lembra, demonstra.
Se o caso de Gales com a Itália, mesmo com as dez alterações de jogadores numa óbvia preocupação com a constituição do grupo que estará presente no Mundial do Japão, parece resolvido por recurso, acreditam, a um velho conceito de que “as camisolas ainda ganham jogos”, já a Irlanda em Murrayfield, pesem embora as muito maiores dificuldades, deve apresentar-se com a consistência competitiva suficiente para não aceitar duas derrotas seguidas e mostrar que se posiciona verdadeiramente como candidata ao Mundial. Como maior interesse do Itália-Gales, para além da incógnita da resistência italiana, a análise da prestação dos “novos” jogadores galeses e das suas possibilidades de acesso à equipa principal.
Em Twickenham e depois da demonstração de capacidades dada em Dublin e apesar de alguns bons momentos dos franceses contra Gales, ninguém, excepto os indefectíveis adeptos do “XV do galo”, acredita numa surpresa. A maior curiosidade deste jogo estará em verificar se a dupla verticalização do jogo-de-passes e jogo-ao-pé apresentada pelos ingleses no jogo anterior, corresponderá a um sistema de jogo ou se resultou apenas das circunstâncias.

Com os resultados da 1.ª jornada e as naturais alterações provocadas nos prognósticos, a Inglaterra aparece agora como a grande favorita à vitória final no Torneio deste ano de 2019. 
Veremos o que nos reserva este fim-de-semana.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

NÚMEROS DA 1.ª JORNADA DOS 6 NAÇÕES

Algumas evidências ressaltam dos jogos da 1.ª Jornada do 6 Nações:

  1. Não é preciso ter maior posse de bola para vencer o jogo;
  2. Também não é verdade que ter o domínio territorial signifique a vitória;
De facto, nos três jogos, os vencedores não tiveram uma maior posse de bola. Mas em Murrayfield, a Itália teve mais posse de bola mas a sua menor ocupação territorial não permitiu equilibrar o jogo ficando apenas, com três ensaios nos dez minutos finais, uma aparência de equilíbrio competitivo.
As equipas ganharam os jogos porque marcaram mais ensaios, mostrando assim que é a eficácia da utilização da bola e da sua verticalização que tem a maior importância para garantir a vantagem. A que se tem de juntar a capacidade de placagem que atinge, por jogo, números impressionantes na zona das trezentas por jogo.
Interessante é também verificar a relação entre o número de rucks (entre 175 e 200) e o número de formações ordenadas que não ultrapassam as dezasseis.
Ou seja e afinal a importância das Formações Ordenadas e Alinhamentos, sendo qualitativa, tem um peso reduzido na percentagem de esforço físico do jogo. O que coloca as necessidades de treino, sem significar que o treino da conquista directa de formações e alinhamentos não sejam necessários, mais na zona de movimento — daí a necessidade do domínio completo da relação recepção-passe e da manutenção-recuperação no jogo-do-chão — do que nos momentos estáticos numa exigência de adequação do treino à realidade do jogo.
Veremos, com a continuação das jornadas e com as estatísticas que resultem do próximo Mundial, quais serão as tendências que determinarão o jogo do futuro.
Por cá, sem estatísticas públicas — tão pouco dos jogos da nossa selecção nacional e cujos dados, embora determinados, são mantidos em segredo — não é possível perceber com rigor a nossa situação comparativa. Quantas formações ordenadas, quantos rucks, quantos alinhamentos, quantas placagens existem em média nos jogos da nossa divisão principal? A que distância nos encontramos dos nossos adversários? Em que áreas do jogo somos mais deficitários? que áreas do jogo temos que desenvolver mais? em que aspectos de treino devemos focar uma maior atenção? As estatísticas ajudam muito para encontrar respostas e seria bom que a cobertura desta área fosse uma breve realidade.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

6 NAÇÕES. RESULTADOS DA 1.ª JORNADA


Uma evidência ressalta desta jornada: os resultados do jogo de rugby são imprevisíveis como se pode ver pelas previsões apresentadas. Imprevisibilidade que resulta da complexidade do jogo sempre que existe proximidade competitiva entre as equipas em disputa — por isso no ranking da World Rugby sempre que existe uma diferença de pontos de ranking igual ou superior a 10, não há qualquer vantagem para o vencedor previsível.
Se parece ser possível, na maioria dos jogos, prever a equipa vencedora por qualquer dos meios utilizados, ás vezes a realidade prega partidas. O que só é bom para o jogo e para o seu interesse.
Repare-se que são utilizados inúmeros resultados anteriores e computadores de enorme capacidade para prever o resultado final dos jogos — veja-se a complexidade do algoritmo utilizado pela seguradora QBE que com ele e com o seu super computador conseguiu, reconheça-se, a melhor aproximação aos resultados com 19 pontos de diferença.

Se a pontuação do ranking da World Rugby raramente permite uma previsão acertada ou próxima do resultado final, permite, no entanto, determinar as novas pontuação e posição de cada equipa no ranking mundial.
A vencedora deste fim‑de‑semana foi, sem qualquer dúvida, a Inglaterra com a sua vitória em Dublin. Dada por derrotada nos prognósticos, a equipa inglesa conseguiu, num jogo muito determinado e com uma estratégia adequada, vencer sem apelo nem agravo a melhor equipa de 2018, subindo para o 3.º lugar do ranking. De facto, os ingleses decidiram-se, para além de uma pressão defensiva muito apertada (87% de eficácia nas 209 placagens) e que permitiu atrasar a disponibilidade de utilização da bola no jogo no chão pelos irlandeses, por uma táctica simples: conquista e ocupação do terreno adversário — de facto é lá ao fundo que está a terra dourada que proporciona pontos. Aproveitando a necessidade de subida do três-de-trás adversário para cobrir terreno lateral que as penetrações inglesas impunham (34 ultrapassagens da Linha de Vantagem para 6 rupturas da defesa), o jogo-ao-pé (33 pontapés para 2 ensaios de perseguição) foi a escolha inteligente. De certa maneira pode dizer-se que a Inglaterra procurou duplamente a verticalização do jogo: à mão para preparar as penetrações centrais e ao pé para explorar o seu sucesso. Com esta vitória, a Inglaterra mostra-se senhora de um sistema de jogo eficaz, colocando-se como séria candidata ao Mundial do Japão — objectivo aliás que Eddie Jones nunca escondeu.
O segundo vencedor do fim‑de‑semana, embora descendo ao 4.º lugar do ranking, foi Gales. Jogando em Paris, os galeses começaram mal o jogo e num instante se viram a perder por 16-0. E não deixa de ser curioso que essa inicial desadaptação contrarie as preocupações da equipa técnica dos galeses no que refere aos processo de adaptação a hábitos diferentes face ao pouco habitual horário do jogo. Depois do intervalo, recolocadas as situações, o domínio da França decresceu apesar do pack mais pesado de sempre do rugby internacional. A estratégia francesa baseada num bloco de avançados conquistador e concentrador de defensores e numas linhas atrasadas capazes de movimento, foi diminuindo à medida do desgaste do pack, permitindo um aumento da eficácia da defesa galesa que, com a distância à Linha de Vantagem a que os três-quartos franceses começaram a jogar, pôde defender em cunha com a certeza da cobertura dos seus espaços interiores e, assim, cortar a ligação com o exterior. Esta pressão retirou confiança às linhas atrasadas francesas e levou-as a cometer erros. Como base da vitória esteve de facto a capacidade de pressão defensiva dos galeses — a sua 3.ª linha constituída pelos excelentes Josh Navidi, Justin Tipuric e Ross Moriarty fez 55 (17+18+20) placagens!
No outro jogo em que a Escócia fazia figura de favorita sem reticências, o jogo até ao seu auto-adormecimento, nada permitiu de contestação italiana que, só então e dada a diminuição do ritmo e da pressão, se mostrou uma equipa capaz. Embora ficasse, mais uma vez, a ideia de que a Itália não pertence ao mundo das tradicionais...
A possibilidade de atingir a vitória com menor percentagem de posse de bola e ocupação territorial — a Inglaterra teve 40% de posse de bola e 47% de ocupação territorial e Gales teve, respectivamente, 43% e 37% — foi a principal característica dos táctica dos jogos mais equilibrados. O que significa que a qualidade do uso e a capacidade colectiva de reagir e interpretar as oportunidades são o definidor essencial da diferença. E cada vez mais a vitória num jogo de rugby depende do seu domínio.

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