sábado, 25 de janeiro de 2014

CULTURA E FORMAÇÃO

Perante uma equipa acessível como mostraram ser os England Students, porque perdeu Portugal XV contra os England Students?  Essencialmente por duas razões: cultura e formação. Por cultura porque os ingleses, vivendo no centro da modalidade, já ouvem, ainda meninos, falar das questões que dizem respeito ao rugby e, por isso, detêm uma cultura táctica superior e capaz de resolver, de forma eficaz os problemas que o jogo apresenta; por formação porque aprendem desde logo, vendo, executando ou ouvindo correcções, uma série de gestos técnicos que incorporam no espaço livre de uma brincadeira e lhes permite a bagagem de um manacial adequado a um eficaz como fazer?  E destas duas expressões se viram diferenças nas duas equipas no jogo de sexta-feira que terminou, sem problemas de maior, com a vitória (30-16) dos ingleses que, como se poderá ver no gráfico, foram construindo com relativo à-vontade.

Se os jogadores portugueses mostram um problema cultural que não permite uma fácil interiorização da necessidade permanente de avançar, conquistando terreno ou de compreensão das consequências estratégicas da Linha de Vantagem, a nossa formação - muito centrada numa importância desmesurada da vitória na competição jovem - deixa também bastante a desejar: os erros dessa clubite sem nexo, mostram-se à tona sempre que a necessidade da tomada de decisão se impõe no aperto de uma dificuldade. E por mais que aumente o esforço na formação de treinadores, se os clubes não quiserem perceber os objectivos que devem prosseguir se pretendem atingir a área do Alto-Rendimento, a tendência será para o aumento das dificuldades no nível internacional. Porque os outros países, os nossos adversários directos, estão a trabalhar cada vez melhor...

Da cultura rugbística resulta um conceito táctico das vantagens da utilização da bola recuperada: os atacantes, perdida a bola, não têm normalmente tempo para se organizarem enquanto defensores, deixam espaços e o contra-ataque, seja qual for a zona do campo onde seja lançado, tem todas as possibilidades de sucesso. E foi o conhecimento deste princípio que os ingleses mostraram para marcar o segundo ensaio, recuperando uma bola e aproveitando o desequilíbrio do posicionamento português com a maior parte dos jogadores lá longe, no lado oposto ao reagrupamento, a contar com a omoleta que a falta de ovos não garantiu, para num sprint de 80 metros chegar á área de ensaio...
E se houve erros de passes sem nexo nem comprimento com bolas a bater no chão e a atrasar o movimento de avanço, permitindo a subida da defesa, foi no jogo ao pé que estivemos, de novo, pior. Jogar ao pé sem um propósito muito claro contra os reis do rugby football - cultura desde sempre num país onde chove quase em permanência - é entregar o domínio e a iniciativa do jogo ao adversário. E foi isso que os portugueses fizeram: deitaram fora bolas, entregando terreno e perdendo posição. E mesmo uma vez ou outra em que o jogo-ao-pé foi feito com propósito, falhou a perseguição: lembro uma excelente abertura ao pé de Penha e Costa a abrir caminho para o ensaio que o perseguidor desperdiçou por evidente falta de atitude de conquista. Falta de atitude que também se viu num recuo inadmissível em duas formações-ordenadas consecutivas - e de que resultou novo ensaio - após as substituições da segunda parte.
Claro que também houve coisas boas: uma jogada com três off-loads que merecia a terra prometida. E houve melhoria na capacidade de jogar em duas linhas pelas linhas atrasadas - clara melhoria em relação à época passada - mas ainda com o defeito da distância à linha de vantagem a tornar inoperativa qualquer sequência. Jogando longe da linha de vantagem a vantagem é toda da defesa: sem grande esforço limita-se a deslizar para equilibrar com o ataque, fechando os espaços livres e tapando o caminho das penetrações. E por maior que seja o número de bolas conquistadas, o resultado é irrisório. E estes erros resultam da baixa cultura e da fraca formação com que não nos preocupamos por puro erro de perspectiva. Tratando do acessório e deixando correr o essencial no convencimento que, aqui, sabemos, melhor que ninguém, sobre as soluções a desenvolver.
Ao contrário do pensamento muito generalizado na comunidade rugbística nacional, os jogadores portugueses não tem suficientemente desenvolvidas as capacidades técnicas e físicas que lhes permitam enfrentar este nível de escalão mais elevado com garantias de sucesso sustentável. E isso, mesmo se já há acesso à experiência que a Amlin Cup proporciona, deve-se à frágil competitividade do campeonato interno. Que, apesar de algumas vantagens que agradam aos clubes, tem as desvantagens da distância ao nível competitivo de alto-rendimento, não proporcionando a necessária preparação para aquilo que o rugby português precisa: resultados internacionais!




quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

UMA CONCUSSÃO, DOIS TRATAMENTOS

Quando no jogo de Novembro passado entre Portugal e Fiji, Julien Bardy sofreu uma colisão que o deixou atordoado, o médico da equipa nacional procedeu à sua retirada de campo para utilizar o então recente protocolo de concussão que a IRB tinha recentemente elaborado. 
E assim, Bardy saiu de campo foi substituído e sujeitou-se, no balneário, aos exames médicos protocolares necessários. Voltou ao jogo no intervalo de dez minutos a que tinha direito para, desde que medicamente autorizado, poder ocupar o seu lugar na equipa.
Veio a saber-se mais tarde que este procedimento não havia sido regular porque, de acordo com a IRB, apenas se destinava ao grupo de "equipas de elite" (Tiers One, infere-se) e não se poderia aplicar a nenhum dos outros escalões, genericamente designados por Community Rugby. 
Ora esta decisão da IRB de restringir o uso do protocolo de concussão às equipas mais fortes do ranking mundial, não faz qualquer sentido. É, até e ao nível internacional, prejudicial para os jogadores.
Vejamos: as equipas mais fortes, Nova Zelândia, África do Sul, Austrália, Inglaterra, França, Gales, Irlanda, etc., têm, entre os jogadores que entraram no campo para o jogo e aqueles que ficam no banco, uma relação de qualidade muito próxima. Quer isto dizer que se um jogador sofre uma concussão os responsáveis não têm problemas na retirada desse jogador uma vez que o substituirão por um jogador do mesmo nível. E mesmo assim a IRB criou um sistema que possibilita examinar, fora do campo, o jogador atingido, permitindo-lhe voltar ao jogo se o exame médico assim o autorizar. Partindo de um princípio errado: que só no Tiers One - "elite level" como descrevem no documento - existem médicos capazes de realizar o designado PSCA (ACFC, avaliação de concussão fora do campo em tradução livre).
No entanto é nos encontros entre as equipas mais fracas que o verdadeiro problema se produz. Porque aqui a diferença entre quem joga e quem fica no banco tende a ser maior, sendo, muitas vezes, gritantemente maior. E essa distância não protege o jogador com uma concussão porque tendencialmente as equipas técnicas pretenderão mantê-lo no terreno de jogo e não quererão a sua substituição - e fazem-no sem saber nada da sua situação física. 
Situação que se evitaria com a possibilidade da sua substituição e avaliação médica fora do campo, protegendo assim estes jogadores mais vulneráveis à pressão da "defesa da pátria". Mas a estes, a resolução da IRB não se aplica! O que não faz qualquer sentido e põe em causa a pretendida visão universal do jogo por quem tem a sua responsabilidade mundial.
Cito John Le Carré: "Uma secretária é um lugar muito perigoso para analisar o mundo". Os dirigentes do rugby mundial deviam conhecer este dito de cor e ainda vê-lo escrito nas paredes para nunca se esquecerem que a realidade é um facto.


Fonte IRB


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

LUSITANOS XV, 15 - STADE FRANÇAIS PARIS, 48


Foi um interessante resultado conseguido pela equipa portuguesa nesta importante participação na Amlin Cup. E foi o de melhor resistência: ao intervalo havia um empate total, uma penalidade, um ensaio e uma transformação, num total de dez pontos para cada lado. Como no fim do jogo concordavam diversos jogadores: é com jogos destes que nos podemos habituar a níveis mais elevados e já estamos melhores. E é precisamente para isto, com este objectivo, que a Federação decidiu participar nesta competição, para permitir uma maior experiência aos jogadores que estão limitados à competitividade da nossa Divisão de Honra.
E muito se pode aprender destes jogos apesar da natural diferença de capacidades entre o Lusitanos XV e as equipas adversárias. Mas pode aprender-se e melhorar o futuro internacional.
Logo na primeira parte os parisienses - com alguns jogadores conhecidos da cena internacional - mostraram e aplicaram princípios essenciais da competição rugbística: quando se conquista terreno e entramos na área de 22 do adversário, só de lá saímos com pontos na bagagem. E fizeram por isso, criando a pressão necessário para que à equipa portuguesa não restassem senão uma de duas: sofrer um ensaio ou fazer falta. Os portugueses, menos experientes, também estiverem durante algum tempo na área de 22 adversária com alternâncias interessantes mas, embora com condições de continuar à procura de pontos, limitaram-se a deitar fora a oportunidade com uma tentativa de pontapé de ressalto sem sentido.
Francamente mau, por inofensivo, foi o nosso jogo ao pé, deitando fora bolas gratuitas recebidas do adversário e dando-lhes a borla de constantes contra-ataques que, a juntar à entrega de terreno - por má perseguição - nos colocavam em posição de grande dificuldade defensiva. Ao contrário do habitual no nosso campeonato em que o jogo-ao-pé é simplesmente usado como forma de alívio, o pontapé deve ser utilizado com propósito de colocar problemas ao adversário. E para isso mostra-se essencial o cumprimento de duas regras:  a primeira, de acordo com o princípio Barry John, estabelecendo que um bom pontapé obriga os adversários a mostrarem o número que trazem nas costas das suas camisolas; a outra, definindo que um bom pontapé é aquele que permite uma boa perseguição. E só assim vale a pena "largar" o controlo directo da bola que, na maior parte dos casos, custou bom esforço na sua conquista.
Problema, problema, surgiu na formação-ordenada - fase onde se pôde ver o ridículo do toquezinho do árbitro a autorizar a introdução. E não há como dizê-lo de outra forma: temos que trabalhar em muito maior profundidade quer a técnica, quer a atitude - que se mostradas uma ou outra vez não têm a continuidade necessária para a competição deste nível. E aqui, neste nível, não se conseguem bons resultados sem uma formação-ordenada resistente e capaz. Mas mesmo aqui alguma lição pode ser tirada - os parisienses usaram sempre o empurrão-de-oito-homens, quer na introdução própria, quer na adversária. 
Na próxima sexta-feira o já habitual jogo com os England Students terminará a preparação 
para os jogos da selecção de Portugal no importante "6 Nações B". Aí então  já poderemos ver que perspectivas nos deixam os jogadores portugueses depois desta excelente experiência proporcionada pelos seis jogos disputados na Amlin Cup.
Mau, seriamente mau, foi o facto de no Universitário de Lisboa se encontrarem mais adeptos franceses do que portugueses! Não se percebe como é que a comunidade rugbística portuguesa, dizendo-se amante da modalidade, não aparece para ver um dos melhores jogos de rugby que podemos ter em Portugal. Porque a hipótese de vitória era mínima? Porque se tratava de uma equipa de clube como adversária? Ou simplesmente porque não gostamos do jogo sem a pimenta da clubite? E mais uma vez quem diz gostar de rugby perdeu uma oportunidade. De ver rugby!

sábado, 11 de janeiro de 2014

LONDON IRISH, 79 - LUSITANOS XV, 3


 AMLIN CUP, 5ª jornada, fase de Grupos

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ACABOU O "YES NINE!


Já está! Embora ainda a disfarçar, fazendo de conta que a indicação do árbitro é necessária para autorizar o início da formação-ordenada - durante anos e anos jogou-se com a introdução da bola com as FO a terem que estar estáticas e sem qualquer necessidade de voz ou gesto do árbitro - a IRB decidiu-se, com incidência imediata, a acabar com o disparate do "sim, nove!".
Ainda bem que acabou aquilo que nunca deveria ter começado - não consigo entender como não sendo indicação da comissão que estudou as alterações na FO foi permitido a alguém - o chefe dos árbitros da IRB, diz-se - introduzir a voz que deu cabo das melhores intenções que motivaram as alterações.
Agora resta aos jogadores a necessária readaptação e esquecer muito do que vinham a preparar. E aos médios aprender o sinal que cada árbitro irá dar - de forma pouco visível, avisa-se - para permitir a introdução da bola.
Tenho, no entanto, enorme dificuldade em entender esta alteração a meio-termo. Porque é que a IRB não volta ao que sempre se fez, sem voz, nem gesto? 
No fundo, será assim: altera-se parte para que não se perca a face. É ridiculo e mais uma vez faz desconfiar do bom entendimento rugbístico dos mais altos dirigentes do Rugby internacional. E os jogadores a pagarem...

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