segunda-feira, 26 de abril de 2021

MODA INÚTIL

Sobre esta moda de procurar marcar um risco no chão para assinalar o local onde prosseguirá o jogo (e também sobre a outra moda do atraso no Alinhamento) já escrevi há meses (ver aqui ). No entanto sem qualquer vantagem... tudo continua na mesma com árbitros e auxiliares a riscarem o chão e as equipas a meterem ar antes de cada lançamento.
Sobre o risco no campo de relva artificial ou natural não há nada que o justifique. Principalmente num jogo em que os pontos da falta ou de saída da bola dependem do “olho” de quem tem a responsabilidade de a marcar — haverá algum auxiliar que garanta que a projecção do ponto de intercepção da bola com o plano vertical da linha-lateral seja precisamente aquele onde se coloca para reiniciar o jogo? ou árbitro que garanta que o adiantado foi naquele preciso sítio onde indica para a formação-ordenada, ou que o fora-de-jogo de uma linha de três-quartos foi naquele preciso “corredor” onde apontou o local de marcação da penalidade consequente? 
Como não há garantia que, na maior parte dos casos, exista uma precisão absoluta — que aliás não é necessária para qualquer garantia de verdade desportiva — porque é que então há esta tão preciosa moda de marcar o campo?
Na Lei 19 da Formação-Ordenada no seu ponto 2 (19.2) escreve-se: Qualquer formação-ordenada será constituída na marca indicada pelo árbitro. Para no ponto seguinte, 19.3, definir como se estabelece a marca: O árbitro deve assinalar com o pé a marca que indica a linha-média da formação-ordenada, paralela às linhas-de-ensaio. Ou seja: indicar com o pé uma marca não obriga de forma alguma a riscar, raspar ou marcar fisicamente o chão ou o campo — basta colocar o pé no local pretendido...
 No Alinhamento a bola deve ser lançada na Marca-de-Alinhamento — ver Lei 18 — que é o ponto da linha lateral que o árbitro auxiliar estabeleceu como tal e que, na maior parte dos casos é constituído pela intercepção da vertical ao solo qe ue passa pelo ponto em que a bola interceptou  o plano do limite do terreno de jogo . Ora tudo isto feito de um golpe de vista, não se aproxima do rigor de um exercício geométrico... 
O mesmo se passa com a marca para um pontapé de penalidade cujo local é definido na Lei 20.2 - A penalidade ou pontapé livre é executado sobre ou atrás da marca, numa linha que por ela passa  paralelamente à linha-lateral. Se o pontapé for executado no local errado, será repetido.
Ou seja, a dita marca para as diversas acções de reinício do jogo é constituída por um ponto do terreno-de-jogo que se definiu como tal e não é, necessária e objectivamente, o ponto da certeza absoluta onde foi executada a acção que lhe dá origem. É, verdadeiramente, um caso de palmo à frente, palmo atrás e que nada altera na garantia do rigor da verdade desportiva. Aliás, num jogo onde, nestes casos, pontifica a impressão visual é um pouco ridículo este recurso a um pseudo rigor para não mais do que inglês (espectador) ver.
Se assim é — se o rigor da marca é uma inexistência, para quê então ferir o piso do campo que já tem as marcações suficientes e necessárias para o desenrolar do jogo? Que vantagem para jogadores ou para o próprio jogo?...
... e como há, para além de algum ridículo da cena, óbvia desvantagem para a qualidade do piso do terreno-de-jogo pede-se aos senhores árbitros: deixem, por favor, de riscar o campo. Porque, para marcar o ponto de reinício o apontar com o pé ou com a mão chegam e bastam. Obrigado!

terça-feira, 13 de abril de 2021

TERMINOU A 1ª VOLTA DA DIVISÃO DE HONRA

Terminou, com a realização da 5ª jornada, a 1ª volta do Campeonato Nacional da Divisão de Honra quer no Grupo do Título quer no da Despromoção.
No Grupo do Título, numa jornada com jogos bastante mais fracos qualitivamente que o retorno da jornada anterior faria prevêr, o principal resultado — porque inesperado — foi o conseguido pelo Técnico que derrotou, em Monsanto, na bola de jogo e com um ensaio de penalidade, o Direito por 26-24.
Embora continue a haver o problema da inexistência de estatísticas que não permitem muito mais do que pouco sobre o nível quantitativo do nosso campeonato — quantas formações-ordenadas, quantos alinhamentos, quantas penalidades existem por jogo e como média do campeonato? Curiosamente pode-se saber tudo sobre qualquer campeonato por esse mundo fora, incluindo sobre o dos nossos vizinhos espanhóis, excepto no nosso, no português. Inexistência que retira interesse comparativo e que, por outro lado, não permite perceber como se coloca o nosso campeonato de acordo com os campeonatos dos nossos adversários. E, sendo estes dados públicos, melhor será o entendimento que a comunidade rugbística portuguesa pode fazer do nosso jogo. O que só tem vantagens, não se levantam falsas expectativas e existirá uma maior exigência de melhoria.


                                                                   
Tentemos, com o que há, analisar qualquer coisa...
Umas das análises possíveis é a de saber como constroem as equipas os resultados, se os seus pontos são marcados através de ensaios ou de pontapés — o que demonstra o grau de eficácia de movimento de cada equipa. Como se pode verificar pelo primeiro quadro, o Direito e o Belenenses tem 66% da totalidade dos seus pontos marcados através de ensaios, enquanto que o CDUL com apenas 61% “vive”, para obter os resultados que o colocam no 3º lugar da classificação, da marcação de pontapés. Agronomia, embora com mais alguns pontos conseguidos através de ensaios, 56%, é, depois do CDUP que apenas marcou 6 ensaios nesta fase do campeonato, a segunda pior concretizadora e, também, a segunda pior defesa.
 
Se analisarmos a capacidade competitiva de cada uma das equipas nesta 1ª volta verificámos que existe um razoável fosso de mais de 15 pontos percentuais, entre as duas equipas melhor qualificadas, Direito e Belenenses, e as restantes. Embora afastadas da frente da prova, três equipas — CDUL, Técnico e Agronomia — disputarão, nos cinco jogos que faltam, os dois lugares que darão acesso ao play-off . A tarefa mais difícil, neste acesso, pertencerá à Agronomia — obteve a sua primeira vitória na última jornada contra o último classificado, CDUP, tendo assim uma Quota de Sucesso de apenas 20% e resultados negativos entre pontos marcados e sofridos. O que indicia, para que seja possível a qualificação, a necessidade de uma grande transformação na capacidade de uso da posse da bola. Ou então que haja um abaixamento considerável de nível de uma das outras duas equipas, CDUL ou Técnico.

Como se verifica pelos valores da Quota de Pontos de Jogo (pontos marcados) as equipas não se têm mostrado brilhantes em defesa com as quatro equipas do terceiro ao sexto lugar ou com valores negativos na diferença entre marcados e sofridos ou com muito próximos da igualdade.

Com dois jogos internacionais de grande importância no final da época — contra o vencedor do Bélgica-Holanda que se disputará a 29 de maio próximo e contra a Rússia — espera-se que a segunda volta que agora se inicia traga quer uma maior qualidade de jogo quer um maior equilíbrio competitivo.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

BOA PÁSCOA


 

A INDISCIPLINA PAGA-SE


Jogar em inferioridade numérica costuma ter custos. Quer directos, dando pontos ao adversário, quer indirectos pelo desgaste que provoca o esforço para garantir o equilíbrio em inferioridade. Dois dos ensaios sofridos contra a Roménia — no mais mal perdido jogo que me lembro — foram em inferioridade numérica, sendo o último na bola-de-jogo. Neste jogo as condições eram de vitória — defendemos mais e melhor mas demos alinhamentos — perdemos 5 — e não fomos capazes de reponder fisicamente às substituições romenas dos últimos dez minutos — e com a abébia de um cartão no último minuto...
A indisciplina espanhola permitiu-nos marcar 3 ensaios em superioridade numérica (dois contra 13  e 1 contra 14 jogadores) mas também pagámos a factura de jogar 2' com 13 defensores. No entanto, tendo 92% de placagens positivas, percebe-se mal como permitimos, em superioridade numérica, que os espanhóis marcassem o seu quarto ensaio e nos retirassem, colocando a diferença de ensaios em menos de três, o ponto de bónus ofensivo. Houve, com certeza, erro colectivo defensivo — é de facto o que parece nas imagens televisivas...
No primeiro jogo contra a Geórgia marcámos um ensaio e uma penalidade em superioridade numérica e sofremos outro em inferioridade mas nada conseguimos — o que mostra a capacidade georgiana que a partir dos 50' dominou o jogo — noutro período de superioridade. Situação idêntica contra a Roménia entre os 22' e 32' em que ainda sofremos uma penalidade.
Com os 6 cartões amarelos sofridos, Portugal jogou contra a Geórgia 13% do tempo total de jogo em inferioridade, 28% do tempo de jogo em inferioridade contra a Roménia e 25% contra a Espanha num total de 52' a jogar com 14 jogadores. É muito tempo!
Noutra perspectiva pode verificar-se que os cartões amarelos parecem mostrar más entradas, no 1º e 3º quartos —  correspondendo à saída dos balneários — contra a Roménia e um péssimo 1ª quarto contra a Espanha. O que indicia demasiado nervosismo quando a responsabilidade e a pressão pelo resultado aumenta  o jogo contra a Geórgia era o de menos pressão neste trio de jogos...    
E falta ainda juntar a esta contabilidade indisciplinada as estatísticas — que continuam a não ser públicas (como se adversários não tivessem todos os meios para as dominar) — das penalidades que, sabemos visionalmente e que a suspensão com amarelo do capitão Tomás Appleton, contra a Geórgia, simboliza, foram demasiadas. 
Os jogos internacionais ganham-se e perdem-se no jogo qualificado dos pormenores técnicos, tácticos, físicos ou mentais. E a disciplina constrói-se com o seu somatório.
Disciplina precisa-se! porque dá vitórias enquanto a indisciplina as deita fora. 
 

 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

DO PESADELO INICIAL AO BOM PRENÚNCIO FINAL


 Os primeiros vinte minutos dos Lobos foram um pesadelo: dois ensaios sofridos em penaltis-touche, dois cartões amarelos, 18’ com catorze jogadores e 2’ com 13 jogadores (o 2º ensaio espanhol foi marcado nesta altura) e demasiadas faltas a dar a possibilidade ao adversário para dominar a conquista de território. O fantasma do mal perdido jogo com a Roménia voltou a pairar na relva do CAR do Jamor. Outro desastre? Assim parecia com os 14-0 do primeiro quarto...
... mas, voltados a quinze jogadores, o equilíbrio pareceu encontrado e o ensaio de Rafael Simões animou as hostes — afinal também tínhamos força para impor a conquista. Mas a dúvida voltou com a desorganização defensiva que permitiu um ensaio fácil à Espanha. Mas dois minutos depois a esperança veio pelo talento,  de Nuno Sousa Guedes — bola captada, leitura, corrida com fintas adaptadas ao posicionamento adversário e entrega da bola no momento certo para garantir a continuidade por Jerónimo Portela que marca praticamente nos postes. Ida para os balneários com sete pontos de diferença e um ânimo redobrado. 
Pouco tempo passado do reinício e Portela com um passe ao pé de grande qualidade, entrega a Marta o ensaio que permite o 21-21. O jogo estava encontrado e os espanhóis começaram com o habitual desatino — um amarelo, um vermelho e outro amarelo. E os Lobos com mais transformações a quebrar defesas de Nuno Sousa Guedes, fizeram mais três ensaios para chegar a um resultado final inesperado mas bom: 43-28. Nesta construção de pontos saliente-se Samuel Maruqes que, para além da amarelada suspensão, marcou 18 pontos (1E,5T1P). E a vitória conseguida com uma posse limitada a 46% a provar, mais uma vez, que é a eficácia do uso que define a capacidade.  E só não foi um resultado excelente porque se perdeu, a menos de dez minutos do fim, o ponto de bónus.
Duas boas surpresas: a colocação de Rafael Simões a Nº8 que — há quanto tempo não via uma acção destas? — mostrou como o uso de saídas de 3ª linha na FO podem perturbar a defesa que passa a ter que adivinhar movimentos em vez de se manter no conforto do já sabido; a, finalmente!, entrada de Nuno Sousa Guedes no XV inicial — foi só o melhor em campo pelas transformações conseguidas pela capacidade de verticalização que a sua confiança e os seus predicados técnicos lhe conferem — mostrando-se o quebra-linhas com a eficácia necessária para dar continuidade ao jogo e deixar a defesa espanhola sem recursos de recuperação. Numa linha de três-quartos com interessantes capacidades, Sousa Guedes é um elemento fundamental para lhe dar a eficácia atacante necessária.
E Jerónimo Portela, ganhando uma outra maturidade táctica também pode ser um elemento de grande valor e utilidade neste XV porque, como mostrou no jogo, tem momentos de enorme brilho — um passe ao pé de grande nível e a boa leitura do jogo da linha para aparecer em bons movimentos de apoio (e não foi só no seu ensaio que estava preparado para continuar o movimento). Mas para atingir o brilho que a sua estrela parece determinar, falta-lhe ainda algum domínio táctico, o conhecimento do jogo, que lhe permitirá a leitura com a necessária adaptação das decisões à realidade da situação com que se confronta e com o objectivo claro de criar dificuldades à defesa adversária. E neste capítulo duas coisas são necessárias a Jerónimo: um jogo ao pé assertivo absolutamente necessário para o pretendido rugby-de-movimento como forma de obrigar a defesa a manter-se "honesta" e para o qual não chega ter um bom pontapé, mas que exige saber utilizá-lo, não de acordo com um pré-registo mas sim com as circunstâncias que se apresentam à sua frente, explorando os fracos espaciais ou técnicos — do adversário; o outro consiste numa maior capacidade de receber a bola mais próximo da linha-de-vantagem para se mostrar como uma ameaça que possa surpreender a defesa contrária directa e assim aumentar as dificuldades da defesa deslizante adversária. Qualquer destes dois conceitos tácticos, que exigem decisões sobre o que fazer? e quando fazer? alimentam-se de experiência, conhecimento, tempo. Ou seja de maturidade. Que um trabalho objectivo e específico alimentado na aprendizagem da cena internacional pode acelerar.
Há ainda muito trabalho, como o próprio Patrice Lagisquet reconhece, a desenvolver com esta equipa. Nomeadamente para que o equilíbrio entre sectores funcione — os três-quartos portugueses precisam de avançados que percebam o jogo-de-movimento e que ajudem à utilização eficaz da posse da bola — para que seja atingido um nível que permita lutar, directamente e no domínio do resultado, com as equipas deste grupo da Rugby Europe Championship — neste jogo contra a Espanha, sempre que houve esse acerto, os Lobos mostraram-se muito eficazes. E com este resultado conquistaram 3 posições no Ranking da World Rugby, voltando ao 21º lugar da classificação
E a porta mostra-se, de novo, meia aberta... a ver-se o duro caminho do Mundial... mas a ver-se. Veremos que transformações serão reconhecidas neste três meses que nos separam do próximo jogo. Porque a alma é, agora, outra.



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