segunda-feira, 18 de abril de 2016

NÃO FAÇA ISSO! EU É QUE CONTROLO O JOGO!


Na final da Plate de Singapura - notável vitória e inesperada de Samoa sobre a Nova Zelândia - o árbitro, depois de uma placagem alta de um neozelandês, atribuiu "vantagem" a Samoa mas o portador da bola, lendo o jogo da forma que melhor entendeu, decidiu que não queria utilizar a vantagem, isto é, considerou que a "vantagem" atribuida pelo árbitro à sua equipa não era vantajosa. Para o demonstrar fez "adiantado" e ouviu o sermão do árbitro: "Não faça isso! Eu é que controlo o jogo!".

Muito bem! E a quem pertence a decisão sobre o uso da "vantagem"? Na situação em causa o jogador samoano entendeu que era mais vantajoso para a sua equipa realizar o "pontapé de penalidade", conquistar terreno sem esforço e ainda ter direito ao lançamento da bola no alinhamento que repõe a bola em jogo. E como estámos no domínio do jogo em que o resultado conta, como faz o jogador para demonstrar a sua decisão? Que instrumento regulamentar é possível utilizar para demonstrar que não considera a "vantagem", vantajosa?

Porque fazer um "adiantado" prepositado é ilegal, é feio, representa falta de respeito, é mais isto ou aquilo... como tenho ouvido dizer ou comentar. Então como é que o jogador deve fazer para demonstrar que não quer utilizar a considerada vantagem? Gritando?! Nem sempre se ouve e as línguas nem sempre são as mesmas. Dando saltos a ampliar gestos de desaprovação?!

O problema está, obviamente, no facto da World Rugby - e antes a IRB - não terem tido a preocupação de definir um gesto que signifique a não aceitação da proposta do árbitro. Porque é de uma proposta que se trata, procurando não beneficiar o infractor e dando ao prejudicado a possibilidade de, se o entender, explorar a situação. Mas a decisão de benefício ou não do infractor ou de explorar eventual vantagem pertence aos jogadores, não ao árbitro. Porque são razões de ordem táctica ou estratégica que determinam a decisão. Ou seja, razões do domínio dos jogadores e da sua equipa.

Ao árbitro cabe propôr a continuação do jogo através da aplicação da Lei da Vantagem - Lei 8 - mas o jogador deve ter o direito de decidir se aceita ou não a proposta. Porque o jogo pertence e faz-se de jogadores. Existe para os jogadores e só depois para os treinadores - que os ajudam a ser mais eficientes - para os árbitros - que garantem a sua segurança física e a equidade regulamentar - para os dirigentes - que proporcionam organizações que permitam as condições necessárias à melhor expressão das capacidades e talentos - e para os espectadores - apoiantes, muitas vezes pagantes, fundamentais para a expressão de alto rendimento do jogo.

O papel dos árbitros é difícil e complexo. E nem sempre compreendido. Mas, muitas vezes, pela complexidade das leis do jogo, pelo número excessivo de zonas cinzentas - quem cometeu a primeira falta no chão, resposta: aquele que o árbitro viu - pelo excesso de protagonismo ou carácter autoritário de 80 minutos de poder, tornam-se mais do que juízes e interferem, mesmo se involuntariamente, na construção da resultado.

E se a presença do árbitro, muitas vezes, se torna demasiado notada ou importante, não é preciso  comportar-se como  "dono" e considerar-se como centro absoluto do jogo. O jogo existe porque há jogadores!

E convinha que a World Rugby definisse uma forma para que os jogadores possam demonstrar a sua decisão em matéria de utilização da "vantagem". Porque, táctica e estrategicamente, essa decisão cabe aos jogadores, não ao árbitro a quem cabe apenas garantir que a exploração da situação pode ser utilizada.

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