terça-feira, 30 de outubro de 2018

REFORMA E TRANSFORMAÇÃO DA FP RUGBY (II)

(continuação)
A sustentabilidade de um clube mede-se pelo número de jogadores existentesdesde as classes
de formação até ao nível competitivo. O mínimo de garantias exige uma equipa de Sub-16
Pretender a cobertura da totalidade do país que mostra os desequilíbrios demográficos e as diferenças de produção de riqueza conhecidos, é uma utopia. Porque se uma equipa de Rugby é a mais difícil de construir entre as diversas modalidades colectivas ao precisar de, pelo menos, 10 morfo-perfis diferentes (um pilar não é um asa e este não é um ponta), a sustentabilidade de um clube exige ainda um elevado número de jogadores distribuídos pelas diversas equipas dos diferentes escalões etários ( cf. tabela acima) e o facto de ser uma modalidade amadora exige ainda disponibilidade temporal e financeira dos familiares dos jogadores mais jovens. O que não é, na realidade do país, conjugação fácil. 
Tão pouco para os clubes que são obrigados a demonstrar uma enorme capacidade de captação e de formação bem como dominarem a logística inerente.
Pelo que se pode retirar do quadro superior, o pretendido e necessário aumento de praticantes e adeptos exige uma diferente visão, devendo iniciar-se a pretensão de criação de novas equipas, masculinas ou femininas, pela variante de Sevens porque, exigindo um menor número de jogadores, também porque permite uma muito menor diferenciação de morfologias. E daqui, da criação de um espaço-rugby, poderá resultar em algumas das construções o desenvolvimento necessário para atingir o estatuto de XV - mas sempre com a clara ideia de que muitas delas não atingirão esse nível... 
Aliás o Sevens, com o estatuto Olímpico que possui, não pode mais ser considerado como uma variante secundária da modalidade e deve ser objecto de transformação competitva por forma a garantir o retorno das equipas portuguesas ao patamar onde já se encontraram. Ter perdido a sua posição na World Series foi um tremendo erro de estratégia que exigirá enormes esforços e capacidades para que possa ser ultrapassado. Mas desistir da sua transformação e melhoria é deitar fora uma das componentes do rugby português que pode permitir maior notoriedade e melhores resultados internacionais e, consequentemente, melhores condições financeiras.
Neste capítulo da sustentabilidade dos clubes deve também retornar – que interesses estiveram por trás da sua anulação? – a regra que limitava a 3 o número de jogadores em simultâneo e por jogo que estejam impossibilitados de jogar na Selecção Nacional. Porque numa modalidade que não tem receitas é um disparate gastar dinheiro na contratação de “estrangeiros” ... dinheiro que depois faltará para garantir a formação ou a inserção de jogadores que garantirão a continuidade da equipa dos clubes.
O caso do rugby feminino deve também ser olhado com outros cuidados garantindo a competição organizada e equilibrada quer em XV - com os clubes possíveis e com um quadro competitivo adequado - quer em Sevens e terminando, de uma vez por todas, com a variante de Tens que, ao contrário do que poderão julgar os menos informados, não constitui qualquer aproximação ao XV, não passando de um Sevens com esforço facilitado – ou seja é um desperdício desportivo sem quaisquer objectivos. E sendo as regras desportivas a comandar e tendo em atenção que as competições internacionais de prestígio se centram no XV e Sevens, fácil é perceber que não faz qualquer sentido despender grande parte da época com torneios que estão fora da estrada que transporta até à cena internacional.
A Federação Portuguesa de Rugby necessita, para que os resultados desportivos possibilitem proveitos superiores às despesas, de uma reforma profunda que coloque o Rugby português num patamar internacionalmente competitivo como consequência de uma prática interna interessante, sustentada e atraente. Reforma que é urgente, exigindo a vontade e compreensão de todos os agentes, sob pena de vermos o jogo de que gostámos definhar sem retorno.
E a primeira transformação passa, estatutariamente e de acordo com a permissão conferida pela lei que rege as Federações Desportivas (cf. preâmbulo do Decreto-Lei  nº 93/2014 de 23 de Junho que introduz alterações no Regime Jurídico das Federações Desportivas consubstanciado no Decreto-Lei nº 248-B/2008 de 31 de Dezembro) altera o ) da maior liberdade de decisão na sua organização interna, pela criação de dois domínios coordenados pela direcção federativa mas distintos e auto-geríveis: o de rendimento com o rigor das suas regras, compromissos e responsabilidades e o de lazer, menos rigoroso nas suas responsabilidades mas não menos divertido e apreciado.

REFORMA E TRANSFORMAÇÃO DA FP RUGBY (I)

 
Existem algoritmos que permitem analisar e comparar o nível de
competitividade das competições desportivas
O Desporto, com as suas características particulares, rege-se por conceitos e princípios próprios que, devendo estar sempre presentes, devem enquadrar qualquer decisão ou acção das federações desportivas. Sendo o Desporto caracterizado pela superação – como estabelece o lema olímpico de “mais alto, mais forte, mais rápido – tem no resultado um dos seus valores demonstrativos e decisivos de análise e da sua qualidade.
As Federações Desportivas não podem, portanto, ignorar esses princípios e a sua organização e as diversas decisões que são obrigadas a tomar devem ser articuladas e coerentes com esses princípios e conceitos.
O resultado é, como facilmente se compreenderá, um factor decisivo para que uma modalidade aumente a sua visibilidade, o nível da sua notoriedade e a possibilidade de aumentar a penetração territorial, patrocínios e receitas, nomeadamente, no caso do nosso Rugby, da World Rugby e Rugby Europe. Aliás e por falta de resultados internacionais de qualidade das selecções nacionais presentes nas principais competições, já se tem vindo, nos últimos tempos, a verificar uma diminuição das receitas resultantes dos envios das instituições internacionais.
Para que uma Federação Desportiva possa ter norte, necessita de um propósito claro, sabendo para que serve e como deve agir. Assim e em Portugal, uma Federação Desportiva deve definir a sua Visão como: Consolidar competitivamente a modalidade e atingir as competições europeias de topo. E deve declarar a sua Missão nestes termos: Criar as condições competitivas necessárias para que os seus atletas e as suas equipas se possam desenvolver qualitativamente e defrontar os seus adversários internacionais em condições tão próximas da igualdade competitiva quanto possível.
O que significa que uma Federação Desportiva deve estabelecer os seus objectivos de forma concordante com a Visão expressa e Missão definida. E esses objectivos competitivos, para o caso português, estabelecem-se no atingir, quanto antes, o nível da II divisão europeia no XV e em garantir a possibilidade de disputar o acesso aos Jogos Olímpicos na variante de Sevens. 
Objectivos que exigem, para além de uma formação capaz, o cumprimento de sub-objectivos de melhoria e sustentabilidade competitiva interna em ambas as variantes acompanhados de forte desenvolvimento técnico-táctico de jogadores e treinadores através do estabelecimento de programas adequados ao progresso e acompanhamento dos nossos adversários internacionais directos.
Esta necessária melhoria competitiva impõe um controlo cuidado do número de equipas presentes na competição principal por forma a que o seu equilíbrio seja conseguido com o propósito de garantir a possibilidade de qualquer das equipas participantes poder ser a vencedora final. 
Uma das formas com que se pode ampliar a situação competitiva de um campeonato é através da pontuação utilizada. Actualmente os campeonatos portugueses e à semelhança de outros, utiliza o ponto de bónus para premiar a equipa que marcar 4 ou mais ensaios, mantendo uma diferença de três, ou a equipa que foi derrotada por 7 ou menos pontos de jogo. Ora este sistema que privilegia, procurando fomentar a sua marcação, o espectáculo da marcação de ensaios não é muito entusiasmante para que a equipa derrotada tente diminuir a diferença de ensaios... porque a retirada do ponto de bónus beneficia apenas quem está na luta directa e a diminuta diferença de pontos, se premeia a derrotada não prejudica a vencedora. Ou seja, este sistema não está apontado para a melhoria competitiva da prestação das duas equipas envolvidas no jogo e pode até mostrar-se como injusto na classificação final - uma equipa com menos vitórias mas com mais pontos de bónus pode ficar à frente de outra com mais vitórias como, aliás, aconteceu na última fase regular do nosso CN1. Existem no entanto sistemas que, possibilitando vantagens a quem possa, mesmo se derrotado, encurtar a diferença do resultado estabelecendo um interesse competitivo para ambas as equipas até ao final do jogo. Como este:
Em cada jogo estarão em disputa 6 pontos que serão distribuídos de acordo com a seguinte diferença de pontos:a) empate: 3 pts para cada equipa;b) vitória por 7 ou menos pontos: 4 pts para vencedor e 2 para o vencido;c) vitória entre 8 e 15 pontos: 5 pts para o vencedor e 1 pt para o vencido;d) Vitória por mais de 15 pts: 6 pts para vencedor e 0 pts para vencido. 
Conseguido o equilíbrio competitivo – e que não é independente do número de equipas como se pode constatar pela relação Índice de Competitividade/Equipas em Competição visível no quadro abaixo – há ainda, para garantir a melhor capacidade competitiva internacional, que procurar formas de competição intermédias e próximas do nível competitivo internacional como sejam as competições ibéricas que exigirão uma melhor preparação técnico-táctica das equipas quer o modelo a seguir seja estabelecido através dos clubes ou de franquias. Exigência esta que, obrigando à melhor preparação técnica/táctica/física/psicológica das equipas e dos seus jogadores, obrigará também à evolução de conhecimento dos treinadores bem como da organização dos próprios clubes.
A esta necessária melhoria e equilíbrio competitivo terá que se juntar uma revisão, atenta e adequada, das regulamentos disciplinares das provas, introduzindo penalizações individuais determinadas por jogos e não pelo aleatório período temporal e ainda estabelecendo penalizações desportivas aos clubes prevaricadores, nomeadamente em questões de violência.
(segue)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

ROSA MOTA NO RUGBY

A campionissima Rosa Mota foi ao Rugby e viu, no U Arena parisiense, o jogo entre o Racing 92 e o Lyon (13-19) a contar para o TOP 14 francês. Simpática e amigavelmente lembrou-se de mim e mandou-me a fotografia comprovativa.

domingo, 7 de outubro de 2018

UMA CARREIRA NÃO SE FAZ SOZINHO

AGRADECIMENTOS NA RECEPÇÃO DO PRÉMIO CARREIRA DESPORTIVA ATRIBUÍDO PELA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE RUGBY
Foto de Daniela Correia
Agradeço à Comissão de Gestão da Federação Portuguesa de Rugby esta distinção que muito me honra e a que posso juntar a lembrança de Duarte Leal, meu querido Amigo e figura cimeira do desporto português e agora também premiado a título póstumo e que foi o primeiro a desafiar-me para treinar, juntamente com o Olgário Borges, a Selecção Nacional de Juniores, abrindo-me assim as portas para a minha carreira de Treinador internacional. Agradeço-lhe reconhecido e com a amizade de sempre.

Agradeço também à minha família, aos meus filhos Raul e Mafalda e à minha mulher Ana que souberam conviver com esta minha vontade e me ajudaram a cumpri-la da melhor maneira.

Agradeço aos que me treinaram:
A Valdemar Lucas Caetano que me ensinou os fundamentos, a Serafim Marques que me trouxe para o CDUL e que esteve sempre presente na minha carreira de jogador, a Pinto de Magalhães, Barreira da Ponte, Luís Miramon, Pedro Cabrita e Pedro Lynce a quem, mais tarde, coadjuvei numa Selecção Nacional. E ainda a Joaquim Pereira — que, espantosamente, ainda treinei numa Selecção Nacional — e César Pegado, companheiros de equipa e que também me treinaram.
Agradeço ao CDUP onde iniciei a minha carreira de jogador e ao CDUL, o meu clube.

Aos meus companheiros de equipa no clube e na Selecção.

Ao Capitão e Presidente da FPR, Raul Martins, ao Presidente da FPR, José Trindade, ao Presidente da FPR, Carlos Amado da Silva. Ao Miguel Ferreira que me convidou para treinar o GD Direito, ao José Maria Vilar Gomes que me convidou para treinar o GDS de Cascais.

Agradeço aos "meus" treinadores: Raúl Patrício, António Coelho, Vasco Lynce, Bernardo Marques Pinto, meu irmão Luís Bessa, Nuno Mourão com quem fiz equipas coesas e determinadas.

Agradeço a todos os que seguraram as pontas para garantir que o trabalho se centrasse no treinar e seleccionar:
Os Directores de Equipa: Albano Rodrigues, João Ataíde, António Silvestre, Armando Fernandes, António Faím e Caleia Rodrigues; os médicos Pedro Granate e Dídio de Aguiar; os enfermeiros Graça Gordo e Manuel Carvalho; o Mário Ferreira, o Fritz.
Agradeço aos jogadores e jogadoras que treinei no Direito, Cascais, CDUL, Sporting e nas selecções nacionais que sempre deram o seu melhor pelos objectivos que nos eram comuns, sendo, naturalmente, parte importante da minha carreira.

Agradeço também aos treinadores que ajudei a formar e que me obrigam a manter-me permanentemente actualizado.

Agradeço ainda aos funcionários e funcionárias da FPR pela pronta, permanente e generosa disponibilidade que sempre me demonstraram.

Agradeço a todos os que colaboraram comigo nas diversas áreas desportivas em que trabalhei e ainda a todos que me me ajudaram em qualquer momento da minha carreira.

Ao receber nesta cidade esta distinção do prémio Carreira Desportiva não quero deixar de lhe acrescentar o valor da memória, lembrando Floris Van der Merwe da Universidade de Stellenbosh que, no seu texto "Rugby in Prisoner-of-War camps During the Anglo-Boers War, 1898/1902"*, admite a possibilidade — "In the case of Portugal, it appears that the Boers introduced rugby to the Portuguese" — de ter sido, precisamente aqui, nas Caldas da Rainha e em 1901, o local onde os refugiados Boers deram a conhecer, com o seus jogos, o Rugby aos portugueses, começando assim a aventura da bola oval que nos trouxe até hoje. Uma particularidade que juntarei ao prémio que recebi.

A todos a quem me referi e em particular aos meus amigos que cabem neste prémio da minha carreira, estou profundamente reconhecido e grato.

MUITO OBRIGADO!

* — texto que me foi dado a conhecer pelo David Evans.

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