segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

UMA DERROTA DE COMPETIÇÃO E UMA DERROTA DE SEI LÁ

Uma derrota é uma derrota e é muito difícil sair contente do campo depois de a sofrer. 

Mas a equipa feminina de Portugal conseguiu um resultado normal — a sua diferença para a Holanda é de 26 pontos de jogo e perderam pela diferença de 24 — contra uma equipa muito mais experiente, mais pesada, mais rodada, com boa organização colectiva e, obviamente, mais capaz. Mas deram uma luta tremenda como demonstram as 212 (!!!) placagens realizadas — um número de categoria a demonstrar a abnegação e o estoicismo mantidos durante todo o tempo de jogo. Vê-las a lutar da maneira que o fizeram — nunca desistindo do combate apesar das dificuldades — impõe, pesem os 5 ensaios sofridos, que mostremos a nossa confiança nas suas capacidades. Lembre-se que também se tratou da estreia portuguesa no Rugby Women’s European Championship…

Pena foi o jogo-ao-pé que foi muito fraco e com entrega constante da posse da bola — as holandesas tiveram 71% de posse mas só conseguiram, graças à defesa portuguesa, o dobro de passes. De facto o jogo-ao-pé em Portugal é muito fraco e, para além de não possuir uma técnica por aí além, tem erros tácticos que se devem considerar inadmissíveis. Quando é necessário recorrer ao jogo-ao-pé pelo posicionamento no terreno e pelo organização adversária a decisão assenta em duas bases fundamentais: pontapé-longo a ultrapassar a última linha de cobertura adversária, fazendo juz ao conceito de Barry John num “mostrem-me lá os números que trazem nas costas”, obrigando as adversárias a recuar e a correr os riscos inerentes a quem não vê com que tipo de pressão se vai confrontar; pontapé-curto-e-alto que permita companheiras a lutar pela conquista aérea da bola e permitindo um apoio muito rápido para garantir a velocidade da reciclagem e aproveitar os desequilíbrios conseguidos. Os outros pontapés que colocam a bola nas mãos das adversárias defensoras só servem para desperdício do esforço da conquista anterior. Isto, claro, para além de poder a bola ser jogada para fora porque, entregue por entregue ao adversário, se fôr colocada fora de “forma positiva” permitirá colocar o jogo mais longe da nossa “área vermelha”. E o conhecimento destes princípios tem que ser utilizado no terreno-do-jogo e não chutando por chutar.

Quanto ao jogo realizado em Inglaterra com uma derrota por 91-5 (15-1 em ensaios) — Steve Borthwick avisou, alto e bom som, que os seleccionados para a Inglaterra A eram jogadores que poderão estar na selecção principal muito em breve — não sei que dizer da constituição da equipa portuguesa nem tão pouco da oportunidade do jogo. Para além de alguns momentos interessantes a que se juntava muita inconsistência pode também ficar na memória de quem jogou, não só pela derrota avantajada mas, principalmente, por jogarem frente a uma multidão de que tão cedo não encontrarão outra igual.  

Tenho sérias dúvidas de que um jogo com este desequilíbrio possa servir para dar experiência seja a quem fôr a não ser para perceber que o rugby internacional de alto nível se joga com uma intensidade muito, mas muito, superior àquela a que os jogadores portugueses estão habituados e que, pelo menos, sirva para exigirem aos dirigentes dos seus clubes que pretendem uma organização competitiva do campeonato nacional que aproxime a sua intensidade daquela com que se confrontaram. Para que a proximidade permita uma competição efectiva.

Mas mais grave de tudo é o facto de se ter criado tal confusão que por todo o lado apareceu o anúncio do jogo não como “Inglaterra A x Portugal A” — o próprio presidente da FPR o afirmou por diversas vezes — mas, como se pode ver quer no site da Federação portuguesa quer no site da Rugby Union, como “Inglaterra A x Portugal”. Ou seja e de acordo com o que se lê, quem fez aquele jogo desproporcionado terá sido a principal selecção de Portugal e não uma segunda equipa ou uma equipa em desenvolvimento como já lhe ouvi chamar! E isto é grave até porque houve muita gente compradora de bilhetes na ilusão de irem ver os nossos Storti, Nicolas Martins, Tomás Appleton, Sousa Guedes, Rodrigo Marta, Samuel Marques e outros que lhes chamaram a atenção no Mundial e que queriam ver ao vivo. Agora, sentindo-se ludibriados dão conta desse estado nas redes sociais. E a factura é para o rugby português… para além de que a confusão criada resulta numa falta de respeito para com os verdadeiros internacionais portugueses.

A ITÁLIA QUASE, QUASE



O resultado do fim‑de‑semana foi da Itália que, empatada e no último momento da partida, viu  um pontapé de penalidade a bater no poste e a retorar-lhe uma surprenedente vitória. Com 14 jogadores, vermelho a Danty, durante toda a 2ª parte, a França a ganhar por 10-3 ao intervalo não teve forças suficientes — para além de um enorme tempo de reciclagem da bola — para asssegurar a vitória. E ao perder os pontos da vitória perdeu também a possibilidade de vencer o Torneio enquanto que a Itália, com os pontos ganhos por um empate em casa do adversário, voltou aos 10 lugares — 10ª posição actual — do ranking mundial.

Vitória que não deve fugir à Irlanda que, de novo deu uma notável lição de rugby-de-movimento — é formidável a técnica utilizada pelos seus jogadores sempre que se aproximam de uma colisão preparando a sequência e garantindo os meljores tempos d ereciclagem de qualquer das equipas adversárias. E o segredo é esse: ter a garntia de que a bola está disponível mal tocam no chão — treino, treino, muito treino, técnico na forma de transportar a bola e na posição do corpo para a colisão, táctico para a melhor escolha sobre o momentâneo fraco do adversário. Treino, treino, muito treino.
Gales com uma equipa muito jovem e inexperiente bem tentou ultrapassar as dificuldades que os irlandeses lhe colocavam — fizeram 194 placagens (81% de sucesso) e ainda obrigaram os irlandeses a fazer 192 mas com 92% de sucesso. Mas com apenas 47 ultrapassagens da linha-de-vantagem para apenas 1 ruptura contra 85 irlandesas para 12 rupturas o destino de 4 ensaios desfavoráveis estava estebelecido. Mas… Gales mostra futuro e daqui a alguns jogos internacionais, ganha a experiência necessária, não vão faltar bons resultados.
No Escócia-Inglaterra, a disputar a Calcutá Cup em paralelo, viu-se os escoceses com menor posse (46%) e menor domínio territorial (43%) e muito menores ultrapassagens da linha-de-vantagem — 40 contra 58 dos ingleses — conseguir 3 ensaios contra 2.  Terá sido portanto a defesa a ditar as suas leis com 150 placagens (85% sucesso) contra as 104 (82%) inglesas. 
E assim a Escócia, embora dependendo de terceiros, pode manter-se na corrida para um jogo final em Dublin.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

6 NAÇÕES E PORTUGUESES E PORTUGUESAS EM ACÇÃO


 Com dois jogos a não perder — Irlanda/Gales e Escócia/Inglaterra que disputam entre si a anual Calcuta Cup — a 3ª jornada do 6 Nações pode abrir caminho para vencedor antecipado do Torneio como será praticamente o caso se a Irlanda ganhar e a Inglaterra perder. 

Com uma equipa muito jovem, Gales terá poucas possibilidades de se opôr no Aviva Stadium com eficácia mas um dos seus jogadores, diz que o caminho para a vitória passa por um início de jogo muito rápido — tentando desgastar os irlandeses e impedi-los de passar 80 minutos nas habituais sequências demolidoras. No entanto, a Irlanda é francamente, como mostram as previsões, favorita e são evidentes as suas perspectivas de vitória. Obviamente que os adeptos galeses contam com a capacidade de Gatland para encontrar os “truques” que possam transformar a equipa de Gales em vencedora. Mas Farrell também é muito experiente e muito sabedor..

No Escócia-Inglaterra, o equilíbrio deverá ser a nota dominante com a probabilidade de vitória escocesa mais acentuada. Mas, de facto, uma vitória inglesa não surprenderia ninguém, assentando a duvida do seu êxito, no facto de continuarem a jogar um rugby de colisão — já abandonado pelas equipas dos seus melhores clubes — procurando a conquista de terreno pelo jogo-ao-pé que, muitas vezes, se transforma num ping-pong insuportável. Mas sendo uma equipa consistente como é, pode sempre conseguir a vitória.

Do França-Itália ninguém espera história pese embora a equipa francesa — que mais uma vez não contará com Dupont que se estreará nos Sevens de Vancouver — não ter ainda mostrado as capacidades que fizeram dela uma potencial , embora falhada, candidata ao titulo mundial.

Duas equipas portuguesa vão também estar em acção este fim‑de‑semana: a Selecção feminina que joga contra a Holanda e a selecção masculina Portugal A que jogará com a Inglaterra A em Leiscester apresenta uma equipa muito jovem — demasiado jovem e muito pouco experiente até — para defrontar uma equipa inglesa cheia de jogadores experientes — cinco deles já com a experiência de jogos-testes — e muito habituados a jogos de alta intensidade e que são, segundo Borthwick, referindo-se aos jogadores do quinze inicial: “que, acreditamos, têm o potencial para estar na quinze Inglaterra dentro de muito pouco tempo.

A selecção feminina estreia-se, depois de ter vencido o Trophy em 2022/23, no Women´s Championship que, pela primeira vez, tem quatro eqfprfprwww uma difícil tarefa frente a holandesas mais traquejadas — já venceram a Suécia por 59-0 — e já habituadas a este nível.— ocupam o 15º lugar do ranking mundial enquanto as portuguesas estão classificadas no 27º lugar o que representa, tendo como base o histórico do rendimento das duas equipas,  uma diferença de cerca de 26 pontos de jogo entre as duas equipas. Significa portanto — é bom não esquecer que o rugby feminino português está ainda em fase de implantação e atracção — que qualquer resultado de diferença inferior a estes números, será um bom resultado. Que façam um bom jogo e que consigam um bom resultado.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

BELA VITÓRIA


Os Lobos conseguiram um óptimo resultado na Roménia, vencendo por valores superiores à previsão da diferença. E, jogando fora, ao conseguirem uma diferença superior a 15 pontos de jogo, Portugal conquistou os pontos suficientes para, ultrapassando Tonga, subir ao 15º lugar do ranking da World Rugby. Com a vitória, Portugal vence o seu Grupo B e irá defrontar a Espanha — 2ª classificada do Grupo A — na meia-final do European Championship.
Atingindo o intervalo com a vantagem de 10 pontos de jogo (20-10), os Lobos terminaram a vencer 49-24, marcando 6 ensaios, com 41% de posse de bola mas com 125 passes, contra 3 ensaios dos romenos.
Houve, nesta vitória, uma melhoria generalizada no jogo de movimento com mais jogadores  — apoio mais eficaz — a movimentar-se de acordo com o movimento da bola. De facto, uma brutal diferença em relação ao jogo que ditou a derrota contra a Bèlgica, e — deve reconhecer-se — o enorme tributo que, para isso, tiveram os dois médios — o abertura. Aubry e o formação Camacho (boa visão e excelente passe) — fazendo recordar o velho conceito “dêem-me um par de médios que vos dou uma equipa” — e que conseguiram manter o jogo movimentado com a velocidade e variedade necessárias para garantir o ataque à linha-de-vantagem e possibilitar a eficácia da nossa evidente superioridade, em velocidade e técnica, das linhas atrasadas portuguesas que obrigaram os romenos, por ter havido uma maior preocupação de ataque aos intervalos e menos preocupação para colisões, a falhar 31 das 89 placagens tentadas. Essa capacidade de rápida articulação permitiu que, embora com metade dos rucks conquistados do que o conseguido pelos romenos, fosse possível explorar os desequilíbrios anteriormente conseguidos. A melhoria da procura do ataque  — embora, para que a adaptação a cada situação se possa fazer da melhor forma, se tenha que trabalhar mais este aspecto para o sucesso em nível mais elevado — através de encadeamentos e penetrações no intervalo, rompendo a linha-de-defesa adversária, que proporcionaram a ultrapassagem da defesa numa mais rápida reciclagem da bola e movimentos muito interessantes pelo recurso a passes-em-carga (off-loads) que tornam a organização defensiva muito complicada.
A jogada que mostra o modelo de jogo que devemos — movimento, movimento, movimento —  seguir, procurando (e treinando) as bases que o permitem, está demonstrada num dos ensaios (ver aqui) conseguido por Lucas Martins aos  51’: Vasco Baptista (nº8) recebeu a bola de um ruck ainda dentro dos 22m da sua equipa e num 5-contra-2 passa, com salto, a bola a Camacho (9) que ataca o ombro exterior do último defensor já quase nos 15 metros do lado direito do campo. Com a aproximação do defensor interior na tentativa defensiva de equilibrar num 2-contra-2, Camacho percebe que tem um enorme intervalo para explorar na zona mais central e faz, variando a direcção, um passe-interior para Cardoso Pinto (15) que, bem lançado, explora o intervalo, ultrapassando a linha-de-vantagem e já sobre o meio-campo, joga-ao-pé para ulrapassar os dois jogadores que constituíam a última cortina-defensiva adversária. Na já dentro dos 22 adversários, Cardoso Pinto, tendo que disputar, no ar, a bola com o último defensor decidiu — e muito bem1 — tocar a bola para trás onde percebeu haver três companheiros em apoio contra apenas um outro defensor. A bola acabou por ser captada de novo, quase em linha com o poste direito e sobre a linha-de-22, por Vasco Baptista  que, correndo para fora, é placado, mas com um passe-em-carga, entrega a bola a Camacho que corre para o centro do terreno e, percebendo que, para defender a sequência anterior, os jogadores da última cortina defensiva tinham vindo ocupar a zona da direita do campo decidiu, num demonstração de conhecimento táctico do jogo uma vez que a circulação em passe iria possibilitar a reposição deslizante da defesa e sabendo que no corredor exterior esquerdo estariam, como consequência da organização atacante normal da equipa, um ponta e um terceira-linha (que no caso eram os dois irmãos Martins) contra não mais do que um defensor. E chutou em diagonal com Lucas Martins a captar a bola no ar, correr e marcar. Um espectacular ensaio que demonstra uma série de decisões concordantes com o sistema de movimento: linhas de ataque variáveis em adaptações imediatas ao movimento da bola, recepção da bola em velocidade apoio organizado e preparado para diversas situações, decisões tendo em conta o posicionamento de companheiros e defensores, confiança e determinação. Muito bom — mostrando a eficaz utilização dos principios do jogo: posse, avançar, continuar e apoiar para garantir pressão sobre a organização defensiva — e boa amostra do que é possível fazer com uma equipa coesa nos métodos e nos processos. 
Pena é que não seja possível utilizar esta equipa, pelos menos os dois médios, contra a Inglaterra A para possibilitar a adaptação a jogos de intensidade superior em todos os capítulos porque, com a expressão de jogo conseguido, é altura de testes de nível mais elevado para garantir a constância de resultados.
E pena é também o facto de não ter acesso a estatísticas completas e de qualidade para uma análise profunda…mas é o que há… 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

VITÓRIA É DECISIVA



No jogo que Portugal vai realizar à Roménia para esta última jornada da fase de grupos do European Championship só a vitória interesssa. Qualquer outro resultado pode atirar-nos para o 3º lugar — a Bélgica é favorita no seu jogo em casa contra a Polónia —  e limitando-nos então à disputa do 5º lugar. 
Num jogo que nada terá de facilidades — o alinhamento romeno tem-se mostrado muito eficaz e a sua formação-ordenada tem também dado boas provas — os Lobos podem contar com o retorno do excelente  Nicolas Martins e ainda com David Wallis que viu, na 3ª feira passada, o Disciplinary Committee ilibá-lo do “cartão vermelho” que recebeu contra a Polónia permitindo assim que possa integrar a terceira-linha que contra a Bélgica — embora sem evitar a derrota — conseguiu realizar 35 placagens (o idêntico trio francês fez, na vitória contra a Escócia no 6 Nações, 42 placagens…).
A questão estratégica que se colocará aos quinze Lobos contra a Roménia será e eficácia da variabilidade do jogo, alterando as hipóteses de linhas de corrida convergentes e divergentes, jogo-ao-pé incisivo e, de uma importância fundamental para quem pretende expôr o “rugby-de-movimento”, que consiga uma elevada quantidade de tempos de reciclagem de bola nos rucks abaixo dos 3 segundos. Se conseguirem articular estas diversas formas, os Lobos conseguirão a vitória.
Na última jornada venceram todas as equipas que jogaram em casa, não necessariamente pela importância do facctor-casa mas porque se juntou a melhor pontuação do ranking com jogar em casa.  Se a tendência se mantiver, as meias-finais serão Geórgia-Roménia ou Bélgica dependendo dos resultados conseguidos (bónus, marcados-sofridos)  e Portugal-Espanha com a vantagem do jogo se realizar em casa portuguesa, juntando os dois factores mais vantajosos.
Se assim fôr, este torneio de pouca compatividade  terá para as principais equipas e finalmente, dois jogos que aproximam a sua intensidade do que é o habitual em níveis competitivos mais elevados.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

ÚLTIMA JORNADA DOS GRUPOS


Portugal fez o que lhe competia, ganhou com 47 pontos de diferença sobre a Polónia, equipa que ocupa o 33ºlugar do ranking World Rugby. Mas não se pense que o XV português teve uma prestação elevada. Os vícios do costume, os vícios do nosso campeonato, voltam a estar à vista. Uma ideia de jogar ao largo através de passes laterais que só dão eficácia à defesa deslizante, a dificuldade de garantir um apoio eficaz com linhas de corrida convergentes e/ou divergentes, garantir a perpendicularidade atacante com recepções sincronizadas à máxima velocidade do receptor com preparação para passes-em-carga. E o jogo ao pé tem que ser revisto e não ser uma permanente entrega de bolas aos adversários.

Esta vitória é importante mas não apaga a derrota contra a Bélgica porque a Polónia é demasiado fraca para servir de medida. E devemos ter também em atenção que uma equipa dos vinte primeiros mundiais não pode aceitar a justificação do processo para os resultados e para a falta de coesão da equipa. Há um mínimo que tem que ser exigido porque deve ser considerado adquirido. E isso os jogadores devem percebê-lo e não se deixarem desculpar. Interessante foi a exibição de Hugo Camacho que, com 19 anos, deu um bom ar da sua graça ao marcar 3 ensaios e que demonstrou boas qualidades para o exercício do difícil lugar de médio-de-formação — veremos agora, para avaliar a sua real capacidade actual, como se comportará contra um adversário de nível mais elevado e mais habituado a este nível competitivo como é a Roménia. Mas foi um bom princípio e o olho para o ensaio é um bom trunfo.

Nesta construção de dois grupos com algum desequilíbrio — 4 equipas dentro dos vinte primeiros mundiais, estando as outras acima dos 25 lugares do ranking — as surpresas só acontecerão, como aconteceu com a Bélgica, por acidente. E note-se que as diferenças de resultados são grandes e não parece que este tipo de competição seja interessante para que as quatro melhores equipas ganhem a experiência e adaptação necessárias para o nível internacional mais elevado. No fundo, se há vantagem, será para as equipas mais fracas . E a demonstração desse desequilíbrio faz-se de forma a que as quatro melhores equipas não conseguem — pela diferença superior a 10 pontos de ranking entre adversários — marcar pontos de ranking. O que significa, como aconteceu a Portugal, que as derrotas são irrecuperáveis.


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

E JÁ SÃO QUATRO BÓNUS DEFENSIVOS

A Irlanda mostrou de novo o que vale o seu “rugby de movimento”. Com um bloco de avançados que, ao contrário da França, trocam o peso pela boa técnica, os irlandeses usam o movimento da bola com corridas individuais de recepção variadas, desde paralelas a convergentes ou divergentes para abrir os espaços necessários à penetração nas linhas adversárias, mostrando sempre um notável movimento dos jogadores sem bola a provocar problemas decisórios aos defensores — deve ser uma dor de cabeça manter a organização defensiva contra tanto e tão variado movimento. Um exemplo a ver e rever pelas equipas portuguesas que devem procurar — pelos seus perfis morfológicos — aproximar~se deste tipo de jogo, lembrando-se sempre a pretensão de “jogar ao largo” exige muito mais do que passar a bola para o lado. E ver este tipo de jogo dos irlandeses lembrou-me uma frase de Barry John que, há uns anos perguntado sobre se gostaria de jogar hoje, respondeu: “No meu tempo nós procurávamos abrir espaços e utilizá-los. Hoje só colidem… Não não gostava!”. Mas gostaria concerteza de jogar nesta equipa irlandesa…

No Escócia-França o último segundo do jogo foi decisivo para a vitória francesa com a decisão arbitral de “no try!”. Embora possámos ter opinião diferente, o TMO fez o que lhe competia — não tendo visto nenhuma imagem que irrefutavelmente contrariásse a decisão do árbitro no terreno-de-jogo, deu cobertura à voz do árbitro. Azares dos escoceses, sortes dos franceses.

Aparentemente Gales deitou fora uma saborosa vitória em Twickenham contra os mais do que adversários ingleses. A ganhar ao intervalo por 14-5 e por 15-8 aos 62´ Gales perde o jogo em cima do fim, provavelmente — como acusa Clive Woodward na sua coluna do Daily Mail — pela decisão de Gatland, aos 55’ e assente no prévio bloco-notas, de fazer sair o pilar Keiron Assirati e o talonador Eliot Dee. A partir daí as boas prestações galesas na FO e Al começaram a vir por aí abaixo. 

De positivo o facto da jovem equipa galesa ter mostrado que começam a construir uma equipa. Quanto à Inglaterra, continua na mesma e mostra desconhecer em absoluto o conceito do futebolista brasileiro Zico: “É mais importante surpreender do que obedecer no futebol” (e no rugby também, digo eu). E o conceito é tão verdadeiro que basta ver as equipas inglesas a jogar na Championship onde atingem níveis de capacidade — veja-se o número de ensaios — muito elevados.

Pelo andar da carruagem poderemos ter uma decisão do Torneio no Irlanda-Inglaterra a 9 de março…que, seja ou não uma “final”, será sempre um grande jogo.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A CAMISOLA NÃO É UM TRAPO


Depois do desastre na Bélgica, Portugal confronta-se não só com a mais fraca das equipas neste European Championship 2024, mas também com a péssima prestação competitiva que mostraram no jogo, deixando as camisolas em muito pior posição do que elas tinham quando as receberem — perderam três lugares no ranking da World Rugby…. E há exigências competitivas a cumprir!
Seja qual fôr a composição da equipa — com ou sem erros de percepção ou composição, com mais ou menos valores — Potugal tem que ganhar! E a história das selecções de Portugal e da Polónia diz que vitória normal pertencerá aos portugueses com uma diferença de 45 pontos — lembro que contra a Bélgica a diferença da história entre os dois países deveria ter resultado numa vitória portuguesa por 30 pontos de diferença… e perdemos pela diferença de 4 pontos sem conseguir — tendo dentro do campo dois dos melhores marcadores de ensaios da PROD2 francesa — marcar qualquer ensaio. O que se passou? Que incapacidade é esta?
A preocupação de criação de um novo conjunto de jogadores que se pretendem preparar para se qualificarem e jogarem no Mundial de 2027, não pode ser servir de desculpa — veja-se Gales: também eles estão a preparar uma nova equipa, entraram em campo e foram uma desgraça mas a glória da camisola pesou mais e fizeram uma notável 2ª parte perdendo no final por apenas 2 pontos de diferença e conseguindo até, ao marcar 4 ensaios, dois pontos de bónus.
Sem pretender que tudo se mostre modificado, espero no entanto que, contra a Polónia, os jogadores que formarão a equipa e que farão parte do projecto Lobos, se comportem competitivamente de uma outra maneira. Porque, para além de não ser possível descer tão baixo como no último jogo, Portugal, neste Campeonato, tem objectivos que não podem ser os de jogar para o 5º lugar. E não se pode deixar que o facto destas duas primeiros épocas do EChampionship — a de 2024 e 2025 — não contarem para a candidatura ao Mundial. Porque o desleixo, a falta de organização, a falta de visão objectiva e desportivamente eficaz provoca um enorme desfazamento do factor coesão (factor essencial do sucesso) e, consequentemente, aumentando as dificuldades de atingir os resultados positivos necessários.
Quanto aos outros jogos, mantêm-se, de acordo com a prestação histórica de cada equipa, as vitórias — folgadas — das equipas melhor qualificadas no Ranking da World Rugby e não se prevê — jogam todas em casa — nenhuma surpresa.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

6 NAÇÕES COM BONS JOGOS

 O 6 Nações de 2024, depois desta 1ª jornada com jogos de grande competitividade e de resultado muito próximo — com excepção do França-Irlanda que teve um resultado com uma diferença (um jogaço) inesperada — dá-nos esperança para uma série de jogos de grande qualidade. Repare-se que nos 3 primeiros jogos foram marcados 19 ensaios que permitiram 4 pontos de bónus. O que mostra a dimensão táctica em que as equipas se estão a colocar. Com um segredo prioritário: rapidez na reciclagem da bola nos reagrupamentos no solo — o que exige enorme qualidade técnica no transporte da bola nas situações de colisão.


Duas outras curiosidades aconteceram nos jogos efectuados: derrotas de duas equipas que marcaram mais ensaios do que os adversários, a Itália que marcou 3 ensaios contra 2 da Inglaterra e o País de Gales que marcou 4 ensaios contra 3 da Escócia. E, normalmente, como dizem as estatísticas, a equipa que marca mais ensaios vence o jogo…

A segunda curiosidade, para além do facto de todas as vitórias terem sido conseguidas em casa dos adversários, foi também o facto de Gales ter conseguido a raridade de 2 pontos de bónus — um por ter marcado 4 ensaios e o segundo por ter sido derrotado por menos de 8 pontos de diferença.

Com a qualidade dos jogos que se tem visto em demonstrações sucessivas das expressões tácticas que ultrapassam os problemas que as defesas colocam, o 6 Nações 2024 promete… e representa um factor importante de análise para o rugby português. Porque aí se pode perceber as formas de encurtamento das defesas, variando com a extensão da defesa que abre espaços no meio-campo como nos mostra a Irlanda, percebendo-se, cada vez mais, como o jogo-ao-pé pode ser efectivo na conquista de terreno e ainda como os grupos das equipas se devem organizar em movimento, fazendo um apoio eficaz, adaptando-se às diferentes formas defensivas e utilizando bem o lançamento em velocidade dos receptores da bola para aproveitamento dos intervalos e ultrapassar a linha-de-vantagem e conseguir desequilibrar a defesa. E continua a ser verdade a visão do grande Graham Henry: “o rugby é isto: ganhar a linha-de-vantagem” a que Spiro Zavos, jornalista neozelandês,  dá a expressão total: “Uma das maiores verdades do rugby é que a equipa que ganhar a batalha da linha-de-vantagem é a equipa que ganhará o jogo.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

ENTRADA NA CURVA DESCENDENTE?

Dadas as consequências, não há outra forma de o dizer: o resultado de Portugal é um DESASTRE e põe, definitivamente e no seu próprio lugar, os exagerados optimismos da participação no Mundial e que devem ser, na sua constante referência, responsabilizados pela situação a que se chegou: convencidos da formidabilidade, desleixaram na preparação do jogo, na formação da equipa e, pior, na construção coesa de um modelo de jogo.


Portugal, com este resultado que é todo o contrário da sua obrigação de ganhar (vitória por 30 pontos de diferença como o algoritmo previa), perdeu 3 lugares no ranking — é hoje o 16º — e saiu do objectivo de manutenção nos quinze primeiros lugares mundiais — e como as possíveis próximas vitórias futuras e imediatas não vão dar pontos de ranking… 
Com o exagerado optimismo trazido do Mundial, esquecemo-nos de nos reorganizar internamente de acordo com o nível em que pretendemos estar — para a prestação no Mundial comportámo-nos, durante 4 meses, como quase profissionais numa situação impossível de manter para além de já sabermos que diversos dos Lobos então presentes iriam terminar a sua carreira internacional. O que significava a absoluta necessidade de uma reorganização interna de acordo com o nível de alto rendimento pretendido. 
O que implicava, desde logo e independentemente de outras alterações, a decisiva alteração da estrutura do principal campeonato nacional, acabando com o desequilíbrio — com óbvia diminuição da qualidade e intensidade dos jogos ao permitir uma forma anti-desportiva de resultados previamente adivinháveis. Ao contrário, mantivemos um campeonato com 10 equipas e com a particularidade — onde mais acontece uma coisa destas? — de, por jornada, adiar um dos jogos. 
A realidade é esta: para que, em Portugal, se possa atingir um nível em que seja compatível com o nível internacional onde pretendemos afirmar-nos, o nosso campeonato não pode ultrapassar SEIS EQUIPAS. Aliás ter duas divisões com 6+6 equipas iria proporcionar duas competições equilibradas e competitivas contribuindo assim para a melhoria da prestação competitiva dos jogadores portugueses. 
Por outro lado é absolutamente necessário acabar — numa mentira confundida com gestão do jogo — com o “conceito  pedagógico” da arbitragem que, para além de outos inconvenientes tácticos, não passa de oferecer “vantagens ao infractor”. Não sendo os árbitros “donos do jogo” (ver Michel Lamoulie aqui ) não lhes compete estar a ajudar os jogadores a não cometerem faltas e esse processo é da responsabilidade dos próprios jogadores e dos seus treinadores. Deixar a pedagogia das intervenções para as categorias da formação será a atitude básica para que os jogadores deixem de cometer faltas — e são muitas — no nível internacional.
A continuidade do modelo de ir buscar ao estrangeiro jogadores que podem ter a nacionalidade desportiva portuguesa mas que não falam a língua e desconhecem a cultura — a forma de estar e os hábitos normais — portuguesa deve ser abandonado (porque, para garantir a necessária coesão preciosa para o sucesso colectivo, exige um tempo de contacto muito grande) e trocado pela procura de colocação no estrangeiro de jogadores formados em Portugal. As exigências vão também para a formação de treinadores de acordo com os tempos actuais do desenvolvimento do jogo. 
Tudo isto, que é claro para os mais atentos e menos preocupados com o carácter social do jogo e sim com as capacidades do seu rendimento, tem que ser metas imediatas para o Rugby português sob pena — porque os outros não param — do caminho dos Lobos cair definitivamente na sua curva descendente.
Nesta jornada do European Championship 2024 fomos a única equipa dos óbvios favoritos que traiu as suas obrigações deixando a camisola nacional — porquê um verde em vez do tradicional vermelho? — em pior situação daquele que foi recebida. Quereremos mudar?

Como foi posível não marcar ensaios?




 

BARRY “THE KING” JOHN (1945/2024)

Barry John, “The King” e provavelmente o melhor abertura de sempre

Com 79 anos faleceu Barry John, cognominado, pela sua classe, “The King” e provavelmente o melhor abertura de sempre do rugby mundial. Para além da memória que nos deixa da clareza da sua leitura do jogo encontrando os desequilíbrios defensivos que permitiam à sua linha de três-quartos explorar a eficácia da sua qualidade, da sua capacidade de evitar, pela variedade, as estratégias defensivas adversárias e ainda pela enorme qualidade  no seu jogo-ao-pé nomeadamente nos pontapés aos postes, a sua lembrança é intemporal.

Com Gareth Edwards formou uma dupla de médios inesquecível. E a esse propósito deixou-nos uma frase que define a estrutura de uma parelha eficaz. Naquele tempo — 1967— as selecções nacionais que disputavam o Cinco Nações não tinham treinos de equipa (questão de manter o amadorismo no seu estado mais puro) e Barry John e Gareth Edwards conheceram-se na manhã do seu primeiro jogo internacional. Gareth Edwards fez-lhe a pergunta natural: “Como queres a bola?” para Barry John responder de imediato: “Atira que eu agarro!”. Resposta que, desde logo, demonstra um profundo conhecimento do jogo ao indiciar que sendo o médio-de-formação o elemento que estará sob pressão compete ao receptor adaptar-se da melhor forma possível, facilitando o canal de passe e retirando toda a pressão ao passador, deixando-o apenas com a necessidade de fazer o melhor possível dadas as circunstâncias do momento.

Também no jogo ao pé outra frase sua marca a táctica do jogo-ao-pé: “Vamos lá mostrar os números que trazem nas costas!” significando com isto que o jogo-ao-pé tacticamente eficaz é aquele que obriga os adversários defensores a recuar no terreno e de costas para os atacantes. Conseguindo assim três factores importantes para a perturbação defensiva adversária: conquista de terreno; dificuldades na adaptação à surpresa que o correr de costas para os atacantes sempre provoca; aumento da dificuldade da construção do apoio para os receptores, significando que, assim, a conquista de terreno se pode tornar efectiva e com o retorno da posse da bola.

A oportunidade de ter visto nas transmissões televisivas Barry John na sua melhor expressão rugbística permitiu-me perceber melhor o jogo e a memória dos seus ensinamentos perdurará sempre no meu entendimento do jogo. Rest in peace, dear Barry, The King, John.

Nota: Esta é a versão que conheci desde sempre. No entanto pude ler agora e na versão — bem mais picaresca — do próprio Gareth Edwards publicada no WalesOnline, a descrição da situação, num artigo de homenagem ao seu amigo de uma vida — Ele nunca, nunca será esquecido — e que levou à imortal frase. Assim a conta;

“Jogamos um contra o outro num Prováveis/Possíveis em Maesteg em 1966 e fomos ambos convocados para os Prováveis num novo teste no início de 1967. Éramos então ambos estudantes — ele no Trinity College em Carmarthen e eu no Cardiff Training College — e telefonei-lhe para sugerir que nos deveríamos encontrar antes de jogarmos juntos.

Eu tinha carro e fiquei satisfeito por guiar desde Cardiff e assim o encontro ficou marcado para um campo de Carmarthen. Quando cheguei ao Trinity College, Barry não estava encontrável em parte alguma. E aí estava eu, parecendo imaculado no meu fato-de-treino verde da faculdade, botas na mão e pronto para a acção. Mas Barry aparentemente tinha-se esquecido do nosso encontro.

Cruzei-me com alguém que conhecia e ele disse-me que tinha visto Barry numa divertida festa na noite anterior. […] Quando ele finalmente apareceu, parecia um pouco desatinado e não tinha botas, apenas ténis.

Eu estava preocupado com o meu passe porque todos diziam que não era muito bom e por isso fizemos alguns lançamentos. Ele escorregava por tudo quanto é sítio e no final aproximou-se e disse a frase imortal: Gar, you just play and I get it!”. E assim fizemos desde então.”

(tradução livre).

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

PREVISÕES DE RESULTADOS

Com uma equipa bastante diferente da que venceu Fiji no Mundial 2023, os Lobos irão defrontar a Bélgica em Mons e, de acordo com os resultados obtidos e encontrando-se na 13ª posição do Ranking Mundial — a Bélgica encontra-se na 29ª posição mundial — , o resultado normal para os Lobos será uma vitória por 30 pontos de diferença. Conseguirão?
Dada a diferença de pontos de ranking, a vitória dos portugueses não lhes aumentará o número de pontos. Com uma ligeira diferença de 10 centésimas de pontos em relação à Geórgia , o facto de os georgianos também não aumentarem os seus pontos seja a vitória contra a Alemanha pela diferença que fôr, os lugares actuais não terão qualquer troca. 


Curiosamente neste European Championship as previsões apontam para vitórias fora em qualquer dos jogos e por margens que estabelecem diferenças competitivas que só se equilibrarão por distração dos melhores.


Quanto ao 6 Nações que também se inicia este fim‑de‑semana e com excepção do jogo em que participa a Itália, os jogos tendem ao grande equilíbrio. 


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