terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

A IRLANDA: MESMO QUE TREMA, NÃO CAI


Os jogos desta jornada tiveram uma curiosidade demonstrativa: as equipas derrotadas não tiveram menor posse de bola (Itália: 50%, Gales: 51%, Escócia: 55%). E, com excepção da França, a demonstrar que o rugby é um jogo que exige a conquista territorial. Ou seja, cada vez mais o rugby joga-se com avanço no terreno (a velha regra de Graham Henry: o rugby é uma corrida pela Linha-de-Vantagem), criando engodos que permitam a quebra de linha defensiva adversária quer seja na área central, quer nas áreas laterais.
Ao contrário do que se poderia pensar, o melhor jogo desta 3ª jornada do 6Nações foi o Itália-Irlanda que terminou com a vitória dos irlandeses por 34-20 com 24-17 ao intervalo. Apesar de ter sofrido 5 ensaios e apenas ter marcado 2, a Itália defendeu muito e bem. E se a Irlanda, com 100% dos seus rucks conquistados e a colocar a bola disponível em 2,88 segundos (o tempo mais rápido de toda a jornada), teve uma enorme dificuldade em tornar-se eficaz uma vez que a defesa italiana, subindo muito bem e defendendo com grande eficácia a linha-de-vantagem, não permitiu a exploração da rapidez de disponibilidade da bola. De facto a Itália surpreendeu muito positivamente e mostrou-se um quinze muito eficaz e com uma muito interessante capacidade colectiva. 
No Gales-Inglaterra os problemas contratuais que têm atingido os jogadores galeses a que se juntam as dificuldades que as suas equipas regionais têm demonstrado, desequilibraram o jogo em favor dos ingleses. E as dificuldades do lado galês — num país tradicionalmente “fabricante” de bons médios —podem ver-se logo na falta de qualidade demonstrada — por qualquer dos dois Williams que não mostraram as capacidades necessárias para que a vantagem da posse de bola (51%) se traduzisse eficazmente em pontos — 1 ensaio contra 3 dos ingleses. Verdade seja que nos 93% dos rucks conquistados, o valor médio de disponiblização da bola, sendo de 4,29 segundos (o pior do fim‑de‑semana), também não ajudou grande coisa à eficácia atacante. Tão pouco as indecisões de Gatland  na formação da equipa com as alterações que, obviamente, em nada garantem a sua coesão tão necessária a este desporto de combate… um problema sério: não parece haver jogadores de qualidade em número suficiente e Gatland, dedicado nos últimos anos a tarefas administrativas e organizativas do seu clube na Nova Zelândia, apenas parece ter o seu passado para justificar o regresso.
O França-Escócia foi um interessante jogo em que os franceses, com menos posse de bola (45%) e menos domínio territorial (39%) conseguiram marcar 4 ensaios contra 3 dos escoceses O que mostrou, pese o poderio escocês, uma boa organização defensiva francesa (87% de sucesso contra 82%) , permitindo apenas 7 quebras defensivas. E se a isto juntarmos uma vantagem média de 7 décimas de segundo na disponibilidade da bola para o lado escocês mais se nota a excelente influência de Shan Edwards na construção da organização defensiva dos “blues”. Principalmente na defesa em cima da linha-de-ensaio.
Este jogo disputou-se com 2/3 do seu tempo com as equipas reduzidas a 14 jogadores de cada lado por punição de expulsão (cartão vermelho) por placagens altas e perigosas. E claro que logo se começaram a ouvir as reclamações de que o jogo fica estragado, que os bilhetes são pagos e por bom preço não é para ver equipas reduzidas etc. e tal. Que se deveria fazer como na Nova Zelândia que permite o retorno de um outro jogador que não o jogador expulso, após vinte minutos de suspensão.  
Esta teses ignoram que quando um jogador é expulso do terreno-de-jogo não o foi por qualquer minudência. Foi-o porque cometeu uma falta grave que pôs em causa os princípios comportamentais acordados do jogo. E tanto assim é que a forma neozelandesa dos vinte minutos e como está já a acontecer no Super Rugby, voltou à primeira forma: jogador a quem o árbitro mostre um ”cartão vermelho” é expulso do jogo, sai do campo e ningém volta mais para o substitir.
Neste retorno apenas uma ligeira nuance: se um jogador fôr castigado com um “cartão amarelo” e portanto suspenso por 10 minutos o TMO — vídeo-árbitro — tem até 8 minutos desse tempo para, eventualmente, reanalizar a situação da falta e se considerar que o “amarelo” deve passar a “vermelho”, então o jogador em causa ficará suspenso por 20 minutos e, no final do tempo de suspensão, sem poder reentrar no jogo, poderá ser substituído por um outro jogador. Ou seja, se o “cartão vermelho” fôr mostrado pelo árbitro a expulsão é absoluta; se o árbitro mostrar o “cartão-amarelo” que passará a vermelho por intervenção do TMO, a suspensão, para a equipa, será de 20 minutos e o jogador expulso pode ser substituído após terminado o tempo de 20  minutos. Porquê este pormenor? Julgo que é uma experiência para diminuir o tempo de análise de vídeo. No caso de castigo por 2 “amarelos”, a entrada de um outro jogador — que não o castigado — pode fazer-se mas apenas depois de passarem 20 minutos sobre a amostragem do segundo “amarelo” — o que significará que a equipa do amarelado jogará meia-hora numericamente reduzida.
Mas, nesta época e no outro lado do mundo não haverá dúvidas — cartão vermelho inicial representa expulsão e saída do terreno-de-jogo sem substituição.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

DOIS JOGOS DE MUITO INTERESSE

Nesta 3ª jornada do 6Nações um jogo de vencedor previsível — Itália-Irlanda — e dois jogos que, por razões diferentes, merecem as atenções competitivas. 

Gales esteve quase a não apresentar — numa situação que nunca existiu — equipa para o seu jogo contra a Inglaterra: Razões? Falta de contratos capazes a colocarem os jogadores em situação de grande dúvida sobre o seu futuro. E os maus resultados anteriores justificam-se por estas dificuldades e os adeptos galeses contam que agora, depois do acordo obtido, os jogadores possam, focados no jogo como agora poderão estar, criar um colectivo capaz de se opôr eficazmente aos ingleses. E se as previsões dão a vitória  à Inglaterra o facto do jogo ser em Cardiff pode, dadas as circunstâncias, repito, colocar de novo Gales no lugar que costuma ser o seu.

Em Paris, espera-se um grande jogo entre uns franceses que se vêem com possibilidades de serem os próximos campeões do mundo — de facto, sendo o Mundial em França, é uma óptima oportunidade — e os escoceses que se têm mostrado como uma equipa muito capaz e com grande vontade colectiva — o que, na mistura de ambos os factores, constrói poder. E a Escócia tem mostrado poder suficiente para poder sair de Paris com uma vitória. E o jogo-ao-pé para conquista de território e como garante de jogar próximo da área vermelha — área-de-22 — adversária será uma componente-chave do resultado final.

Do ponto de vista táctico e a poucos meses do Mundial o maior interesse nestes jogos centra-se no tempo de reutilização da bola nos momentos de quebra (breakdowns). A Irlanda tem a impressionante média — idêntica à que já tiveram os AllBlacks — de 2,9 segundos por bola recuperada. Esta velocidade permite, por um lado, diminuir as possibilidades de organização da defesa adversária e permitir uma melhor e mais rápida organização atacante próxima que tornará mais eficazes as perfurações de linha, vencendo a linha-de-vantagem e garantindo vantagem ao mesmo tempo que liberta as áreas laterais do terreno que serão utilizadas posteriormente.

Por outro lado, vale a pena ver o recurso dos italianos ao “I” — que sempre gostei mais de designar por “T” — que estão a procurar utilizar para explorar as capacidades do seu três-de-trás.

Por outro lado ainda, veja-se de novo — desta vez no França-Escócia — a forma de arbitrar do georgiano Nika Amashukheli — arbitrou (e bem) o Portugal-Roménia — que se limita a falar para definir que se estabeleceu um maul ou uma placagem e isto porque se o não fizer muitos jogadores não se aperceberão da situação — nunca intervindo sobre situações em que a sua voz vai favorecer uma das equipas. É bom lembrar que existem duas formas de conquistar a bola: as directas e as, por via das faltas do adversário, indirectas. Esta últimas permitem, para além da posse da bola, a conquista de três/quatro dezenas de metros de terreno… o que não, de forma alguma, é desprezável. E aos árbitros não cabe garantir que os jogos tenham poucas faltas — esse aspecto é da competência dos jogadores. Aos árbitros compete garantir que o jogo é, equitativamente, jogado dentro das Leis do Jogo estabelecidas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

UMA BOA VITÓRIA A QUE FALTA COESÃO COLECTIVA

Pronto! está decidido: o jogo das meias-finais é cá!
Com a excelente arbitragem do georgiano Nika Amashukheli — que irá arbitrar o França-Escócia do 6 Nações os Lobos, nesta 3ª jornada do Rugby Europe Championship 2023, vencendo a Roménia por 38-20 — numa diferença superior a 15 pontos — para além de garantir a disputa da meia-final contra a Espanha em “casa”, atingiram de novo o seu melhor posicionamento no ranking mundial — 16º lugar como aconteceu em 30 de Maio de 2005 — mas agora, com 66,94 pontos, conseguindo o valor de pontuação mais alto de sempre. Foi de facto um bom resultado!

Nesta última jornada definiu-se o esperado: classificaram-se para as meias-finais as quatro equipas classificadas nos 20 primeiros lugares do ranking. Ou melhor: aconteceu o que já se sabia que iria acontecer como se pode retirar do quadro de ensaios sofridos que se mostra e onde se verifica que os Países Baixos — que já disputavam anteriormente a REC 2022 — são, das restantes 4 equipas, a única que se mostra com alguma proximidade competitiva. As restantes três, não pertencem, pelo menos por enquanto, a este mundo. Ou seja: o resultado final desta competição demonstra que, de um ponto de vista competitivo, o seu interesse é nulo: existem apenas, nesta fase de grupos, dois jogos que, mesmo se apresentam favoritos quase óbvios, pode dizer-se que não têm vencedores antecipados. E a base do interesse de uma competição desportiva existe aí, na dúvida dos vencedores (note-se o que se passa no 6 Nações…). Esta organização serve interesses e não a competição desportiva — porque não serve como espectáculo nem como — como deveria acontecer em ano de Mundial — preparação competitiva para mais altos voos.

É um facto que o resultado do XV de Portugal foi bom. Mas não embandeiremos em arco porque o jogo não foi brilhante embora a equipa portuguesa tivesse mostrado qualidades na prestação de Pedro Bettencourt com 2 ensaios — finalmente foi chamado! — ou de Lionel Campergue que realizou uma excelente exibição. E mostrou-as também no momento de Lima para entregar o ensaio a Lucas que representou um momento que se espera ver muitas vezes repetido naquilo que é o rugby-de-movimento que deve caracterizar a selecção portuguesa. A isto pode ainda juntar-se a surpresa de um número pouco usual por muito diminuto — 4 — de penalidades cometidas.

No entanto é bom reparar que este número diminuto de penalidades sofridas também se deve — e muito — à falta de pressão romena que foi muito leve. Veja-se as estatísticas da Rugby Europa.

A Roménia teve uma superioridade de posse da bola em 12%, concedeu menos 4 turnovers, fez menos 56 placagens para as mesmas 19 falhadas e ganhou mais 53 rucks para um equilíbrio das fases estáticas. E com estas vantagens, mostrando-se incapaz de as explorar, os romenos apenas conseguiram dois ensaios, sofrendo cinco. Um, o segundo, em força e outro, o primeiro aos 2 minutos, como resultado da falta de coesão da equipa portuguesa que se viu muito atrapalhada para se organizar colectivamente perante um movimento elementar romeno. Aliás, e provavelmente daí — e do jogo-ao-pé que continua tacticamente errático — a incapacidade de garantir o domínio que as forças em presença lhe possibilitariam. Mas de novo a terceira-linha — que não é uma unidade onde os três elementos, apesar dos jogos conjuntamente realizados, se entendam nos movimentos a fazer e nas decisões a tomar — não contribuiu quer para a pressão ou cobertura defensivas quer para o apoio ou engodo atacantes. O que, não permite o desenvolvimento das capacidades tácticas do colectivo…

Boa vitória mas que exije — para que as prestações desportivas seguintes sejam de boa qualidade — um reconhecimento das alterações a fazer e do alinhamento necessário entre as diversas unidades da equipa. Porque julgar que este jogo contra esta Roménia mostra um estádio superior qualitativo constitui o primeiro passo para desagradáveis surpresas.




sábado, 18 de fevereiro de 2023

DECIDIR JOGAR CÁ OU LÁ

Neste fim‑de‑semana joga-se a última jornada da fase de grupos da Rugby Europe Championship. Depois de dois jogos de evidente desequilíbrio competitivo disputar-se-ão — finalmente — jogos que mostrarão a capacidade real do momento de cada equipa. 
Esta fórmula de disputa do campeonato consegue distorsões na pontuação do ranking que fazem pouco sentido: Portugal que conseguiu 2 vitórias com 119 pontos marcados e 20 sofridos, conseguindo uma diferença de 99 pontos, obteve 00,01 pontos de ranking; a Roménia, também com duas vitórias, marcando 123 pontos e sofrendo 32, numa diferença de 91 pontos, obteve 00,63 pontos de ranking. Ou seja, jogando contra as mesmas equipas, Portugal com um melhor resultado global viu a Roménia aproximar-se em 00,62 pontos de ranking. Critérios…
Mas, amanhã, no Restelo existem possibilidades de reparação. Uma vitória colocará Portugal com 66,62 pontos e, se a diferença fôr superior a 15 pontos de jogo, traduzir-se-á em 66,95 pontos. Está portanto nas nossas mãos afastar da nossa posição classificativa este também mundialista.


De novo se coloca a questão da coesão da equipa. Embora com um número mínimo de 5 para um total de 308 selecções numa média de 21, os jogadores que iniciarão o desafio procedem de 13 diferentes clubes — 3 portugueses e 10 franceses. O que, em momentos de grande pressão, podem traduzir a sua acção num “a ver se” pouco alinhado neste desporto de enorme sentido colectivo onde à informação proveniente de uma leitura comum que permita a adaptação grupal adequada à situação que se enfrenta com recurso aos engodos que, simulando, enganem o adversário a que se tem que juntar a velocidade de corrida e de técnica e de táctica para fazer a diferença final que permitirá a vantagem.
A esta proveniência clubista e com a falta do capitão Appleton, juntam-se 40% de jogadores não formados em Portugal, provenientes, portanto, de uma linguagem formativa distinta  e que pode não ajudar quando o espaço e o tempo diminuem e a exigência do melhor entendimento aumenta.
A vitória de Portugal, neste jogo entre mundialistas, significará que o jogo das meias finais contra o segundo classificado do Grupo A (Espanha provavelmente) será jogado no território português. Em caso de derrota o jogo das meias-finais será disputado muito possivelmente na Geórgia — o mais que provável vencedor do Grupo A. O que faz uma enorme diferença para o acesso às finais que se disputarão em Badajoz…
…em casa, portanto. Vamos lá à vitória!


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

FOI MESMO UM GRANDE JOGO

Como aconteceu na Super Cup onde os Lusitanos ficaram colocados no Grupo competitivamente mais fraco — com um fraquíssimo índice competitivo em relação ao outro grupo — também Portugal, nesta invenção muito pouco competitiva que a Rugby Europe criou, aconteceu o mesmo: os nossos adversários, exceptuando a Roménia, não têm qualidades para participar neste quadro de duas equipas nos primeiros vinte lugares do ranking. E são tão fracos que em dois jogos, sofreram 38 ensaios — a Polónia, 22 e a Bélgica, 16. No outro grupo, o Grupo A, pelo menos, para além da Geórgia e Espanha, estão também os Países Baixos que se mostram um pouo mais competitivos, sofrendo 9 ensaios. Repare-se que as quatro melhores equipas sofreram uma média de 3 ensaios — o que ilustra cabalmente o desequilíbrio e demonstra que o limite dos limites para este torneio deveriam ser 6 equipas. Porque o torneio assim organizado, obriga a duas jornadas de passeio sem qualquer interesse competitivo — e não vale apena argumentar que assim são permitidas experiências e novas utilizações porque nenhuma delas serve para coida alguma. No Desporto, para que os jogos possam servir de medida, é obrigatório que haja um mínimo de equilíbrio. E quando não há, é tempo perdido. Como foram estas duas primeiras jornadas… que só existem quando se deixa vingar uma mania habitual — que é a jogar com os mais fortes que se aprende. Não é!…ou só se fôr para aprender a contar.

 

No Seis Nações a conversa é naturalmente outra. Mesmo se num ou outro jogo a diferença de resultado fôr grande — como aconteceu no Escócia-Gales — mas, mesmo com essa diferença os escoceses foram obrigados a dar o seu melhor e a mostrar-se como potenciais candidatos à vitória final no torneio.


O jogo Irlanda-França foi notável com os seus 46 minutos de tempo efectivo de jogo (tempo em que a bola pode ser disputada). Com 5 ensaios (4 da Irlanda) e uma intensidade notável correspondeu absolutamente às expectativas de disputa entre os dois primeiros classificados no ranking mundial. E meteu mesmo polémica sobre as decisões arbitrais de Wayne Barnes: o cartão “amarelo” para o pilar francês Uini Atonio (que bem podia ter sido “vermelho”…) e o ensaio de James Lowe (excelente movimento colectivo para um movimento final espectacular). Vale que os próprios franceses — membros da equipa e jornalistas especializados — não consideram que a derrota se deva ao árbitro — que, diga-se, não viu, por não lhe ter sido mostrada, a única imagem que, no caso, poderia levantar dúvidas — mas que aconteceu porque a equipa irlandesa se mostrou superior nos dómínios táctico-estratégicos. 
A equipa de Gales mostrou-se de novo muito abaixo do seu normal mas a explicação deste mau momento chegou: problemas de garantias de contratos com desconhecimento do futuro, coloando a cabeça dos jogadores muito fora do campo de jogo.. E a federação galesa, depois dos problemas que mostrou e que levaram à saída do presidente, mostra um outro tipo de dificuldades que levarão o seu tempo a resolver…e o Mundial está aí a 8 meses de distância…

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

2ª JORNADA E UM GRANDE JOGO NO 6 NAÇÕES


No Rugby Europe Championship serão quatro jogos entre os mais fortes e os mais fracos não se prevendo nenhuma surpresa — ganham os visitantes…
Os Lobos jogam na Polónia com algumas alterações em relação ao jogo contra a Bélgica: retornam os habituais Mike Tadjer e Samuel Marques a que se juntam o recuperado David Wallis e o defesa Simão Bento. No banco ficará o Nuno Sousa Guedes e voltar-se-á a ver (já não era sem tempo…) o Pedro Bettencourt.
Do jogo, para além da vitória, espera-se uma maior coesão colectiva com o apoio a surgir fluido e a eficácia a dar um ar da sua graça.


No 6 Nações um jogo entre os dois melhores qualificados do ranking mundial, a Irlanda e a França, que reune as melhores expectativas. Em Dublin a Irlanda não costuma perder e, se precisa, os espectadores transportam-na à vitória. A França que contra a Itália fez 18 penalidades ou será capaz de se mostrar disciplinada ou não conseguirá impôr-se com o jogo-ao-pé no meio-campo adversário. E com Saxton de retorno, o irlandeses vão pôr a funcionar as suas excelentes linhas atrasadas. Um grande jogo em perspectiva.
Nos outros dois jogos as vitórias dos visitados, Escócia e Inglaterra, não terão, com certeza, grande discussão. Mas o Escócia-Gales deve ser um jogo interessante de ver. 


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

DUAS COMPETIÇÕES DIFERENTES: UMA DA TRETA E OUTRA DE ALTA QUALIDADE

No Rugby Europe Championship se ignorarmos o fraco resultado da Espanha percebemos o desequilíbrio desta competição que, principalmente em ano de Mundial, nunca deveria ser realizada assim. Mas os interesses, mascarados em desenvolvimento dos mais fracos, falam mais alto e cada uma das equipas apurada para o Mundial é obrigada a fazer dois jogos que nem de treino servem.


O XV de Portugal defrontou uma medíocre Bélgica que não tem capacidades para ser adversário à altura. Num jogo cheio de facilidades — os belgas não atacam nem defendem capazmente — os portuguess mostraram as incapacidades habituais e que se lhes conhecem: falta de coesão colectiva, jogando cada um para o seu lado, sem a consistência que permite garantir a eficácia da continuidade do movimento, com constantes passagens pelo chão por falta de apoio atempado e com, como habitualmente, um jogo-ao-pé que não tem qualquer incidência na criação de dificuldades ao adversário. Enfim um jogo desinteressante mas que terá de servir como alerta para uma alteração de processos de treino e escolha de jogadores para que a nossa presença no Mundial possa ter o mínimo da qualidade necessária.

Com jogos entre equipas de tal diferença e em que a intensidade é de muito baixo nível e onde as vitórias, por mais dilatadas que sejam, não conquistam pontos de ranking. Nesta demonstração de desinteresse competitivo deste mero cumprimento de calendário, ganharam todos os visitados e pronto.


No 6 Nações a conversa é totalmente outra com vitórias de todos os visitantes. E em dois dos jogos a incógnita dos vencedores manteve-se até ao final numa demonstração de verdadeiro equilíbrio competitivo — equilíbrio esse que é o factor determinante de uma competição desportiva. 

A Escócia, ganhando em Twickenham, mantendo a posse da Calcuta Cup e subindo dois lugares e ultrapassando a Inglaterra no ranking, conseguiu o melhor (e mais surpreendente) resultado da jornada num jogo com 7 ensaios que vale a pena ver. E a Itália que mostrou uma outra capacidade — radicalmente diferente (17 alterações em 23 jogadores) da que vimos no Restelo contra Portugal — e quase surpreendeu a França, vencedora da época passada e dita principal candidata a vencer o Torneio e até o Mundial e que teve neste jogo a maior das sortes porque, com susto apanhado, terão percebido — a tempo ainda de realizar as modificações necessárias e decidir o tempo e a articulação entre as inovações tácticas da dépossession e répossession bem como eliminar a indisciplina impôr que atingiu o nível assustador de 18 penalidades (10 no seu meio-campo) 1 amarelo e 1 ensaio-de-penalidade contra apenas 7 do seu adversário— que estarão ainda longe de serem verdadeiros candidatos quer ao Torneio quer ao Mundial. 

Quanto a Gales, com o seu rugby a diminuir na qualidade do jogo, restará ainda a esperança que mais tempo com Gatland possa transformar a equipa até ao Mundial… E a Irlanda, que se preparou em Portugal, no Algarve, mostrou porque é a equipa que ocupa o 1º lugar do ranking mundial, fazendo notar as qualidades necessárias para produzir um rugby atractivo e muito eficaz mostrando-se — quer na defesa quer em ataque — no bom caminho para fazer de 2023 um ano importante da sua história

No próximo fim‑de‑semana, com a recepção da França no Aviva Stadium, ficar-se-á com melhor ideia do verdadeiro potencial das duas equipas. E também do real valor da Escócia que recebe Gales. E o Torneio a mostrar-se, pelas expectativas criadas, como uma verdadeira montra internacional, ultrapassando cada jogo o limite dos seus adeptos directos. Uma festa para quem gosta da modalidade.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

COM OS OLHOS NO MUNDIAL

Com os olhos postos no Mundial 2023 as 9 equipas europeias apuradas começam amanhã a disputar o  Rugby Europe Championship e o 6 Nações.

Portugal jogará o RE Championship que apresenta um novo formato: 2 grupos de 4 equipas que apuram as duas primeiras para as meias finais (4 e 5 de Março no campo dos primeiros classificados) e cujos vencedores disputarão a final cabendo aos derrotados disputar o 3º e 4º lugares, ambos em Badajoz a 19 de Março.

Não se pode dizer que esta nova fórmula de disputa seja de grande vantagem para a equipa portuguesa uma vez que, competitivamente, apenas previlegia as equipas mais fracas — três equipas classificadas entre as 20 melhores mundiais e apuradas para o Mundial vão jogar dois dos três jogos do grupo contra equipas próximas do 30º lugar do ranking da World Rugby. Enfim, a competitividade aparecerá nos jogos a eliminar… Sistema parecido já nos aconteceu com o European Super Cup onde os Lusitanos, Para além de terem participado no grupo menos competitivo, tiveram apenas um jogo competitivo na meia-final que, aliás, perderam.  Ou seja, campeonatos organizados para satisfazer interesses e não para melhorar a capacidade competitiva daqueles que têm mostrado resultados capazes.

O primeiro jogo de Portugal será contra a Bélgica — Jamor, 19:00 de amanhã, sábado — equipa que se encontra 12 lugares abaixo de Portugal no ranking da World Rugby possibilitando assim uma previsão de vitória dos Lobos por 26 pontos de diferença. A que se espera que juntem ao resultado a demonstração de melhoria na articulação das mini-unidades da equipa e um melhor aproveitamento táctico do jogo.

Se tudo correr com a normalidade esperada, as meias-finais serão disputadas entre a Geórgia, Espanha, Roménia e, claro, Portugal. Começando então os jogos de qualidade competitiva. E percebo mal que, em ano de Mundial, as três equipas apuradas gastem tempo com jogos em que o desequilíbrio impera. Porque, dado o histórico, qualquer derrota destas 4 equipas será um escândalo — e de pouco vale achar que a Bélgica pode surpreender porque tem … um treinador novo.

Nesta primeira jornada as previsões apontam para uma totalidade de vitórias caseiras com resultados que não deixarão dúvidas sobre a diferença qualitativa entre as equipas e que deverão traduzir-se em pontos de bónus ofensivos nos quatro jogos sem qualquer ponto de bónus defensivo.

O que se espera? Uns Lobos como deve ser e com a esperança de mostrarem progresso na sua forma de jogar: À VITÓRIA!

No mesmo dia joga-se a primeira jornada do 6 Nações que, ao que se ouve, tem na França o principal favorito. Mas é bom não esquecer a Irlanda — Nº1 mundial e que tem um modelo de jogo muito interessante e para o qual — treinadores e jogadores portugueses — deveriam olhar com muita atenção.

Como jogos de maior interesse — a vitória da França em Itália mostra-se uma evidência — o Gales-Irlanda, já sem — como resultado das alterações agora verificadas na direcção da Welsh Rugby Union — o famigerado cântico da Delilah de Tom Jones considerada (e bem!) misógina e sexista — e o Inglaterra-Escócia que terá em disputa a tradicional Calcuta Cup e será realizado em Twickenham onde também não soará o “Swing Low, Sweet Chariot” pela sua proximidade com os do esclavagismo. Valendo mais tarde que nunca, estas decisões demonstram, felizmente, que o Rugby está atento ao Mundo.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A COESÃO É A BASE DO SUCESSO

Ano de Mundial e as competições internacionais aí estão para abrir, para nós espectadores, o apetite e, para os intervenientes, para permitir uma preparação num quadro competitivo de nível elevado — embora não sendo bem verdade para o caso português (mas disso trataremos mais tarde…).

Os Lobos estão apurados para o Mundial — não de forma directa mas, principalmente, pelo disparate inaudito dos espanhóis que nos abriram o caminho para a poule final de apuramento. E aí um empate de ultimo segundo, abriu-nos a porta à segunda presença junto dos melhores.

Enfim, um misto de sorte — a que se acrescenta o convencimento dos americanos —que fez esquecer a perda de jogos nos últimos minutos na fase de apuramento directo. Porque, não fossem os erros elementares — de dentro e de fora do campo — teríamos sido apurados de forma directa e sem as aflições de última hora. E era bom que, para uma presença capaz no Mundial, olhássemos para a realidade das capacidades da equipa e aproveitássemos o tempo para as melhorar tornando a equipa colectivamente mais eficaz. Porque e essencialmente, apenas nos temos mostrado — note-se os 12 ensaios marcados contra o Kenya — capazes contra equipas que não exercem mais do que uma elementar pressão defensiva.

Não vale a pena dizer que fomos formidáveis contra o Japão, contra a Itália ou contra a ArgentinaXV. Primeiro porque não fomos assim tão bons. Voltamos a cometer erros que já deviam estar ultrapassados e mostrámos pouco avanço nas modificações, técnicas e tácticas necessárias. Nomeadamente no grande número de faltas com que nos deixamos penalizar numa indisciplina inadmissível e imperdoável e também na organização do apoio atacante para garantir a continuidade do movimento sem passar pelo chão

Apesar de tudo, conseguimos o resultado necessário contra os USA: empate! Mas se vale a pena aplaudir o resultado, a exibição, a produção ou o desempenho devem servir para reflexão. Porque o sucesso, seja ele qual fôr, deve ser um instrumento de análise tão importante e minucioso como as derrotas.

Sabe-se de ciência feita que a coesão — porque garante a consistência e alinhamento da equipa — é a base do sucesso nos desportos colectivos. Coesão que não diz respeito apenas à interligação de quem está no campo mas também à equipa técnica que os orienta e à restante envolvente de proximidade bem como elementos exteriores que têm influência na sua acção — se os jogadores cometem demasiadas faltas no nível internacional muito se deve à forma de arbitrar portuguesa que parece não estar alinhada com o aplicado nas competições internacionais — maus hábitos não se transformam em virtudes por dá cá aquela palha… E é errado olhar as aparências e não ir ao fundo das questões. E esta equipa, esta selecção, tem — desde os primeiros jogos do apuramento directo que o mostra — uma enorme falta de coesão com os jogadores a mostrarem dificuldades em articular-se uns com os outros, em terem um pensamento comum e sintonizado em cada momento.

O jogo com os USA — apesar da alegria do resultado — é um bom exemplo dessas dificuldades: marcamos um bom ensaio e, depois, pouco ou quase nada fizemos — com excepção da placagem, sector onde estivemos muito bem e com a superioridade necessária para garantir a proximidade do resultado. Mas pouco conseguimos utilizar os nossos trunfos, apesar das 4 rupturas conseguidas.

Inferioridade com excepção de rupturas e placagens a que se junta um domínio territorial e de posse da bola de 47% 

E a falta de coesão da equipa mostrou-se na incapacidade de apoios a alguns movimentos que o nosso notável três-de-trás — Marta, Storti e Guedes — lançou mas a que não se deu a necessária continuidade. Falta de coesão também na constante procura directa da colisão, esquecendo a recomendação de Nuno Álvares Pereira de “no combate fazer prevalecer a manobra sobre o choque”. A procura do fraco adversário também se mostrou pouco colectiva — as dificuldades da terceira-linha em ser o suporte evidente das rupturas e avanços são evidentes — parecendo que cada um fazia por si sem que companheiros o compreendessem ou adivinhassem. O jogo ao pé também não tem propósito: chuta-se a ver se… não há exploração assertiva e adaptada à situação dos espaços no terreno. Veja-se o exemplo exemplar dessa falta de coesão do último momento do jogo — um não viu e outro parecia desinteressado da consequência… e com a vantagem concedida, ler o jogo à procura de uma oportunidade que possa ser eficazmente, é decisivo. Não o fazer significa que a coesão colectiva está limitada e tende ao cada um por si e o ressalto — técnica nada fácil — foi feito no mesmo local da penalidade. Ou seja: sem vantagem… e o “buraco” ali ao lado com um único defensor americano pessimamente posicionado.


É claro que a selecção portuguesa tem um problema de coesão de dificil solução e que exige muito tempo de treino conjunto. E esse problema diz respeito ao facto de a equipa ser constituída por jogadores provenientes de 11 clubes diferentes — 3 portugueses e 8 franceses — com processos de treino, jogo e objectivos muitas vezes distintos.

Se olharmos, por exemplo, para a selecção francesa percebemos que a dispersão por diversos clubes — mesmo sendo todos franceses e com uma base do Toulouse — exige, no claro objectivo de criar a coesão necessária para vencer o Mundial, um substancial aumento do tempo de treino conjunto (ao ponto dos internacionais falharem jornadas do TOP14…). E o número de jogadores também é elevado para que se possam fazer treinos de alta intensidade, sempre superior ao que o jogo exige. E a nós portugueses que jogámos em diferentes equipas de diferentes processos de treino e de jogo, necessidades de encontrar as soluções eficazes no aumento da coesão da equipa. Sendo uma das formas o aumento do tempo de treino colectivo. O que, jogando uns cá e outros lá, não será fácil. Mas é necessário! Ou as vitórias ao melhor nível serão miragens… Por isso os jogos do Rugby Europe Championship que agora se inicia deverá servir para aumentar o grau de colectivismo e de eficácia.

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