sábado, 27 de junho de 2015

PASSARAM JÁ 20 ANOS...








... e o rugby ajudou à mudança.

terça-feira, 23 de junho de 2015

MENINAS FORMIDÁVEIS



As Meninas do Rugby Sevens Português são formidáveis
As jogadoras da selecção nacional feminina de sevens têm tido prestações competitivas francamente boas. Muito boas até para quem tem as fracas bases de partida que têm as atletas portuguesas que, em todas as modalidades, representam apenas 1/3 dos federados masculinos.
Se o sistema desportivo português deixa muito a desejar, imagine-se a distância a que a parte do desporto feminino se encontra das suas adversárias europeias: em formas de competição, em possibilidades de treino, em disponibilidades de tempo, em preparação. Em adesão! 
É claro que existem algumas atletas portuguesas de enorme qualidade internacional mas - como lembrou recentemente o Comité Olímpico de Portugal - não passarão de "exemplares únicos" que não definem a qualidade da generalidade das actividades desportivas.
No mundo feminino, o desporto português das modalidades colectivas - esse conjunto que demonstra a qualidade de um sistema - é fraco. As nossas modalidades colectivas estão mal colocadas nos rankings. As Meninas do Rugby Sevens Português conseguiram classificar-se, após duas etapas, no 10º lugar europeu, deixando atrás de si a Escócia e a Alemanha e garantindo assim a permanência na divisão principal. Um feito!
Não é fácil jogar contra equipas como a França - actual campeã europeia e já qualificada para o Rio 2016 - com a Rússia, Espanha, Holanda, Irlanda, Ucrânia, Itália, Geórgia, Alemanha, Gales ou Inglaterra que, com a entrada da variante para os Jogos Olímpicos, desenvolvem programas de preparação - algumas das equipas já são profissionais - de elevado nível. Ter que defrontar, nas duas etapas e directamente, a França, a Rússia, a Itália, Gales, Escócia em três vezes ou a Alemanha por duas vezes para garantir as 3 vitórias que permitiram a manutenção não foi tarefa fácil. Mas que as portuguesas ultrapassaram com enorme sentido colectivo, coragem e determinação. Atitude tão notada que motivou elogios dos comentadores franceses da transmissão televisiva. E desta vez a conquista da Bowl, porque correspondeu a um objectivo, deve ser comemorada como um troféu.
Obrigadas a níveis de intensidade e exigência técnica para que não têm hábitos - a competição interna onde competem nada tem a ver com o nível internacional - as jogadoras portuguesas conseguiram adaptar-se tanto quanto os treinos, feitos na sua maioria no CAR do Jamor e sob o comando do treinador João Mirra, permitiram aproximar níveis.
É claro que houve dificuldades que as impediram de atingir resultados que pareciam - pareceram em momentos de alguns jogos - que iriam permitir ultrapassar as adversárias. Mas a pressão imposta ou a velocidade de execução ou decisão exigidas levaram a "erros não provocados" que fizeram perder a bola, falhar um passe ou atrasar o apoio ou a entrada num intervalo. E depois uma natural dificuldade na velocidade de corrida - para que perceba a diferença basta comparar o recorde português dos 100m femininos com o dos outros países concorrentes - criava maiores dificuldades: muitas vezes a diferença da velocidade de corrida e de velocidade da bola nos passes longos permitia que as adversárias se desdobrassem e, deslizando, conseguissem cobrir os espaços e tirar eficácia ao esforço feito pelas portuguesas. Um esforço que foi diversas vezes recompensado por recuperações de bola mas, infelizmente também, pela vontade colocada, provocador de penalidades prejudiciais. Mas o cômputo geral é muito positivo.
Não sei se existe verdadeira noção do feito das Meninas do Rugby de Sevens Português. Recém-chegadas a uma modalidade considerada até há pouco tempo como jogo de homens, sem experiência internacional suficiente - muitas das suas adversárias jogaram etapas do World Series feminino - as jogadoras portuguesas foram capazes de se superar, de ir buscar forças a uma enorme vontade competitiva e de se juntar em torno de um constante espírito de equipa e do orgulho de vestir a camisola portuguesa.
Verdadeiramente impressionantes, as jogadores portuguesas mostraram, numa elevada e constante atitude e humildade competitivas, conhecimento táctico do jogo, capacidade de adaptação em movimento, assertividade defensiva e apoio tão constante quanto a sua desmultiplicação de tarefas o permitiu. Umas lutadoras! Tão mais de elogiar quanto partiram, como já anotado, de bases muito diferentes das suas adversárias: menor cultura desportiva generalizada, menores hábitos de Alto Rendimento, maiores dificuldades de disponibilidade entre trabalhos e estudos nem sempre - ou quase nunca - facilitadores.
Estes exemplos simbolizam bem o que foi a prestação das portuguesas: a notável e belíssima placagem de Catarina Ribeiro contra uma holandesa a impedir a marcação de ensaio adversário e a demonstrar a tenacidade e atitude portuguesa de antes quebrar que torcer; a excelente demonstração técnica de entendimento táctico do jogo da Christina Ramos que, depois de uma quebra da defesa adversária com corrida de uma vintena de metros, foi placada, já próximo da área de ensaio, por uma adversária que recuperou em velocidade superior mas que com enorme presença de espírito e tirando partido da sua posição adiantada no terreno, soube largar a bola e esperar que a placadora, de acordo com as Leis do Jogo, a largasse para então se levantar, pegar na bola e marcar ensaio; ou ainda a capacidade da Catarina Antunes, placada quase em cima da linha de ensaio, de rodar no chão para entregar a bola a uma companheira e garantir assim o ensaio. Situações, bem acompanhadas por eficazes combinações e ataques a intervalos, de levantar bancadas de adeptos - e havia algumas bandeiras portuguesas...
Dentro de dias as portuguesas jogarão em Lisboa o Torneio de Repescagem Europeia que apurará três equipas para disputarem o Torneio Mundial de Repescagem que apurará a última equipa para os Jogos do Rio. Afastadas que estarão as equipas britânicas - já apuradas com a Grã-Bretanha - e ainda, por apuramento, a França e a Rússia, Portugal entra nesse torneio na sexta posição. O que obrigará, para que seja possível o apuramento, a conseguir um lugar nas oito primeiras equipas da fase de grupos para poder disputar as meias finais da Cup e da Plate - significando que o primeiro jogo do segundo dia será decisivo - obrigando ainda, no mínimo, a vencer a "pequena final" - 3º e 4º lugares. Muito difícil mas não impossível com o aproveitamento deste intervalo de tempo para tratar de acertar os pormenores técnicos necessários.
Pelo que já fizeram, pelas capacidades que já demonstraram, as Meninas do Rugby de Sevens Português merecem um enorme apoio no fim-de-semana de 18/19 de Julho próximos no Jamor. Para o que e naturalmente contarão com a comunidade portuguesa de rugby.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

OPORTUNIDADE DE UMA VIDA


Os jogadores portugueses de Sevens começam, neste sábado e com o início das etapas de apuramento europeu, o caminho real - nunca foi credível que pudessem classificar-se através da World Series - de qualificação para os Jogos Olímpicos do Rio de 2016. É o início do caminho da construção do sonho de estar presente, de ser actor, na maior festa desportiva mundial.

Por este mundo fora milhões de atletas sonham em estar presentes nos Jogos Olímpicos. Não é fácil e para a grande maioria deles não ultrapassará o sonho. Os portugueses da selecção nacional de sevens têm a possibilidade de depender deles próprios para ter acesso ao sonho que perseguem. É uma vantagem e terão possibilidades reais.

Não é fácil atingir os Jogos. De sete cães a um osso - são apenas, no caso do Rugby, onze as equipas que podem apurar-se para o Torneio Olímpico do Rio - as dificuldades das modalidades colectivas são sempre maiores do que nas modalidades individuais: não basta ser bom ou muito bom, é preciso que haja número qualitativamente suficiente para permitir os resultados colectivos necessários numa série de disputas competitivas muito exigentes. Mas têm possibilidades reais.

Mas têm possibilidades reais, pese embora a estruturação da competição imposta - apesar da contestação da Federação portuguesa - pela Rugby Europe. Resolveram fazer assim:
- considerando que o 2015 Sevens Grand Prix é o Campeonato da Europa, toda a equipa europeia classificada, como é normal, o pode disputar. Mas acontece que resolveram que este circuito europeu - três etapas: Moscovo, Lyon e Exeter - apuraria o seu melhor classificado para os Jogos do Rio. Mas se é de Apuramento Olímpico não deveria - como aliás está documentalmente estabelecido pela World Rugby - ter equipas já anteriormente apuradas a disputá-lo. Mas tem! Tem a Inglaterra e Gales (a Escócia não se inscreveu) que pertencem à Grã-Bretanha já qualificada por via, como anteriormente estabelecido, do Sevens World Series;
- como a presença da Inglaterra e de Gales só pode contar para o título europeu e não para classificação de apuramento para os Jogos, a Rugby Europe resolveu criar duas classificações paralelas: a do Campeonato Europeu classificando as 12 equipas presentes e a Classificação do Apuramento Olímpico que ordenará as dez equipas que pretendem aceder aos Jogos Olímpicos. Com este pormenor, embora diferentes, as duas tabelas utilizam os mesmos pontos classificativos conseguidos na etapa - ou seja as equipas que "não contam" podem ter uma importância decisiva no quadro final de apuramento. Porque, intrometendo-se na classificação e retirando pontos a outras equipas, podem abrir intervalos irrecuperáveis na classificação olímpica. O que significa que nestas três etapas não haverá cálculos diferentes do que o máximo esforço para ganhar tudo o que se puder. É luta sem quartel mas dependente de terceiros...;
- ainda não satisfeita com este arranjo, a Rugby Europa inventou mais: decidiu criar uma repescagem europeia a realizar em Lisboa - nas outras regiões nada existe semelhante. E por quê? Porque assim permitirá a possibilidade de classificação à Irlanda que se encontra a disputar a Divisão C europeia. Como?! Decidindo que o segundo classificado do Apuramento Olímpico ficará directamente apurado para a Repescagem Mundial, não tendo assim que se deslocar a Lisboa onde se encontrarão os oito sobrantes do Apuramento Olímpico Europeu a que se acrescentarão - porque cada prova desta natureza é obrigatoriamente realizada com 12 equipas divididas por três grupos - três equipas da Divisão A e - veja-se! - uma da Divisão B onde esperam que se encontre a Irlanda que, vencendo a Divisão C, poderá disputar este último lugar de acesso;
- a Repescagem de Lisboa, a realizar em Julho, apurará então três equipas para a Repescagem Olímpica Mundial onde se encontrarão, formando 16 equipas divididas por quatro Grupos, com a outra europeia anteriormente apurada, três equipas de África, três da Ásia, duas da América do Norte e Caraíbas, duas da Oceania e duas da América do Sul - embora o símbolo olímpico tenha cinco anéis representando os cinco continentes, no Rugby estão consideradas seis regiões - para apurar a última presença no Rio 2016.
Fácil!?
É uma oportunidade de uma vida poder estar presente nos Jogos Olímpicos. Disso terão consciência os jogadores portugueses que, para a garantirem, terão que actuar num nível muito superior ao que fizeram na Escócia e Londres e mostrarem ser capazes de se adaptarem às diversas e diferentes situações com que se irão confrontar. 
Se a responsabilidade dos jogadores portugueses é grande - representam a comunidade rugbística nacional que se deseja ver como olímpica - superior será ainda a necessidade de uma elevada  capacidade de resistência e assertividade, discernimento na adaptação às visões particulares da arbitragem e focagem permanente no melhor resultado - quanto melhor ficar classificado na tabela classificativa resultante do 1º dia de jogos, mais "fácil"  será o primeiro jogo do 2º dia e mais possibilidades de subida na classificação final existirão. Aqui, na arbitragem e como já testemunhámos, tudo é possível: interpretações próprias de um ou outro árbitro ou mesmo determinações dos directores de arbitragem dos torneios que "decidem" de uma determinada interpretação das Leis do Jogo - sempre que isto sucede, lembro-me da máxima da Juíza do Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos, Sonia Sottomayor: A tarefa de um juiz não é fazer a lei, é aplicar a lei. Conceito que, se presente, retiraria de imediato qualquer pretensão de modificação ou abusiva interpretação e garantiria que o resultado final seria conseguido pela acção dos jogadores e não pelo apito dos árbitros.
Neste quadro a Portugal coube - com a vitória conseguida em Tóquio contra a Austrália - ajudar a qualificação directa da Grã-Bretanha e assim retirar um concorrente da porta de entrada dos Jogos. Os adversários principais neste Apuramento, para além de todos os outros que aparecerão bem preparados, serão a França e a Rússia - com a Espanha à espreita. Não sendo inacessíveis, permitem que o VII de Portugal tenha um foco ajustado no apuramento. Subindo a escada degrau-a-degrau, sem desfalecimentos, distrações ou julgamentos precipitados. Com confiança, abnegação, espírito de equipa. Uma dura prova, um desafio de campeões. Boa sorte!

segunda-feira, 1 de junho de 2015

ONDE ESTAVA NO 24 DE MAIO?


Azulejo comemorativo do WR U20 Trophy
Desenho a ponta de borracha em iPad
JPBessa 

De manhã estive no Jamor e à tarde no Universitário a ver os jogos que estabeleciam a classificação final do World Rugby U20 Trophy. E se no primeiro jogo da manhã - jogava a equipa portuguesa - se viram espectadores portugueses (na maioria familiares e amigos dos jogadores), no restante do dia pouco mais houve do que apoiantes das equipas estrangeiras. E porque os jogos não foram nada maus, foi pena que a comunidade rugbística portuguesa não tivesse curiosidade pelo estado das coisas da modalidade que as selecções presentes mostravam. E, principalmente, porque vendo, seria mais simples perceber os saltos qualitativos que o rugby português tem que dar para poder, de forma consistente, manter-se com os melhores. 

Estando lá, poderiam perguntar-se como é que a Geórgia, em meia-dúzia de anos, se transformou tão positivamente? De uma equipa com conceitos tácticos de brutamontes tornou-se, como demonstrou, numa equipa de movimento onde todos os jogadores são capazes de avançar com a bola, garantir - com um passe ou um bem defendido contacto - a sua posse, manter continuidade, atacar intervalos. E assim ganharam o Trophy e apuraram-se para jogarem o U20 Championship.
Outra equipa interessante que poderiam ter visto, para além do portentoso manuseamento de bola dos fijianos, seria o Uruguai, uma equipa de dimensão mediana - o seu abertura e um dos centros não atingiam 1,80m de altura e pesavam 70 e poucos quilos... - mas de imenso querer com enorme capacidade de combate, sem desistências, pela bola e território como fizeram para vencer Tonga e conseguir o 3º lugar na prova. Dois excelentes exemplos para os jogadores e equipas portuguesas a demonstrar que a inteligência, cultura táctica e domínio dos princípios fundamentais e das técnicas de base são a essência do caminho do sucesso. E nem é preciso ser enorme... é preciso é ser eficaz com a velocidade de gestos e de recolocação a comandarem as acções e a deixarem no conhecimento da cultura táctica o alerta para tomar as decisões adequadas.
A equipa portuguesa, dentro das limitações do contexto competitivo em que se move, não esteve mal. Mostrou-se razoavelmente competitiva contra as equipas mais fortes - lembre-se que, como se viu no último dia, o Grupo de Portugal a jogar no Jamor venceu todos os respectivos jogos, era constituído pelas equipas mais fortes - que colocaram a intensidade do jogo acima dos seus hábitos e foi capaz, no único jogo em que a intensidade se estabeleceu no seu nível, de mostrar capacidades, conhecimentos do jogo e ganhar a Hong-Kong - a segunda, depois da inglesa, federação mais rica da modalidade - sem margem para dúvidas. Ou seja, mostrando efectivamente as capacidades que tinha deixado adivinhar no primeiro jogo contra Fiji. Agora resta tirar ensinamentos para melhorar e tornar a equipa mais eficaz. Jogo ao pé objectivo e com a-propósito, capacidade de jogo de passes em cima da linha da defesa, linhas de corrida a impedir o deslizamento dos defensores, um maior e mais atempado apoio, melhor reconhecimento simultâneo das oportunidades, decisões mais efectivas e, claramente, melhor placagem, serão as melhorias necessárias para garantir uma melhor capacidade na prestação internacional. E, acima de tudo, acesso a competições de bom nível.
Mas o mais interessante deste último dia da competição foi a positiva capacidade mostrada pelas 
equipas em competição pelos melhores lugares. Ao contrário do habitual refúgio na defesa à espera dos erros adversários, as equipas mostraram uma vontade atacante que fez de cada jogo um excelente espectáculo. Qualquer das equipas entrou em campo com a clara noção de que, embora tendo que garantir qualidade defensiva, venceria o jogo quem marcasse mais ensaios. E assim assistimos a jogos de ataque, com a preocupação de explorar as oportunidades, de recuperar e transformar as bolas conquistadas, de garantir um apoio permanente para que a continuidade do movimento, explorando os desequilíbrios defensivos, garantisse o toque na área de ensaio. Os resultados finais foram muito interessantes: cada equipa derrotada - numa demonstração transformadora - marcou, pelo menos vinte pontos e um mínimo de 3 ensaios. O que pode traduzir, nesta forma de jogar positiva, um maior optimismo para o espectáculo futuro da modalidade. E esta qualidade foi reconhecida como uma marca do torneio de Lisboa.
E também, no que diz respeito aos bastidores, a World Rugby, com o seu dirigente John Jeffrey - The Great White Shark, internacional escocês da década de 80 - a garantir, no jantar final, o seu descanso porque, havendo problemas no Mundial inglês, indicará os organizadores portugueses para os irem resolver, deixou largos elogios à organização.

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