segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

BOM NATAL E BOM ANO


FORMIDÁVEL RICHIE MCCAW



O formidável Richie McCaw decidiu pendurar as botas e deixar os campos das suas inúmeras batalhas. Capitão dos recentes campeões do mundo, homem-chave de diversas vitórias, sabendo comandar os companheiros, para além do exemplo de combatente por cada bola ou centímetro de terreno, com as palavras devidas em cada momento e com ainda a qualidade de pedir a outros companheiros de equipa tacticamente mais conhecedores de determinadas áreas que, sempre que o entendeu como necessário, o fizessem por ele. Um exemplo a copiar.
Uma das suas maiores qualidades era a capacidade de leitura e consequente antecipação que lhe permitia estar em acção permanente: em ataque, correndo pela frente dos seus atacantes e percebendo, em cada momento, o local adequado para se mostrar disponível - pelo apoio - e garantir a continuidade do movimento; em defesa, lia como nenhum outro os possíveis pontos de ruptura e conseguia liderar a defesa mostrando a eficácia dos princípios que a regem, impedir o adversário de avançar e retirar-lhe a posse da bola. Antecipação e coragem para colocar o corpo onde os outros pensam duas vezes fazem de Richie McCaw como o treinador - também campeão do mundo - Steve Hansen afirma: o maior All Black de sempre.
Cento e quarenta e oito internacionalizações, Capitão em 110 jogos com 97 vitórias nos catorze anos de carreira internacional, vencedor de dois campeonatos do mundo, três vezes considerado como melhor jogador do mundo pela International Board/World Rugby, para além de 7 conquistas do Rugby Championship fazem de McCaw um caso à parte no rugby mundial. Mostrando-se claro defensor de um nós superior a qualquer eu, deixou-o bem claro na forma como respondeu aos jornalistas após a final do Mundial 2015. "Ninguém é superior à equipa. O papel de cada um é apenas o de engrandecer o legado. Nada tem a ver com ser herói. Trata-se de servir a equipa."
Muito respeitado por companheiros e adversários, considerado como uma referência, McCaw não podia deixar de ter os maldizentes habituais. Por ignorância, inveja ou apenas fanatismo que povoam muitos dos mind games que procuram desestabilizar jogadores e equipas, há quem considere que McCaw é um jogador faltoso e protegido pelos árbitros. Uma fraude, portanto.
Como se fosse possível um jogador atingir o seu nível com os prémios que obteve ou ser capitão durante anos da melhor equipa do mundo e não passar de uma fraude... A estupidez não tem limites!
McCaw jogava no limite da falta? Jogava. Como aliás é de direito de qualquer jogador: jogar no limite.
Mas o que faz dele um jogador fora-de-série é a sua capacidade de leitura e decisão: durante a aproximação ao ponto de quebra, o asa neozelandês, qual comando, analisava ameaças e decidia-se pela acção que melhor se adaptava à situação: existe ruck? se não, onde está a bola? a que distância estão os adversários? que ameaça representam? e o apoio, longe ou próximo? e a (des)organização adversária? É uma oportunidade directa ou precisa de recomeço? E a sua actuação representava eficazmente a conclusão tirada. Um modelo de método baseado numa intuição sustentada numa sempre crescente experiência de jogos atrás de jogos que constituiam a sua "aprendizagem implícita" que embora partindo de um nível superior ao habitual - um seu companheiro das equipas jovens garante que ele "já então corria para onde a bola iria estar e não para onde ela estava" - permitia a procura do caminho mais curto, uma maior rapidez de análise e de decisão e assim ganhar a fracção de segundo que garantia a recuperação da bola nos instantes anteriores à passagem do breakdown a ruck num conjunto de conhecimento táctico que fez de McCaw, para além das qualidades técnicas e tácticas que possuía - podemos recordar passes notáveis ou placagens demolidoras - uma enorme mais valia para as equipas onde jogava.
Não voltar a vê-lo jogar excepto em vídeo é uma perda. Mas tê-lo visto ao vivo foi um previlégio. De McCaw ficará o exemplo e a possibilidade de servir de modelo para todos os jovens que queiram tornar-se num camisola 7.

domingo, 13 de dezembro de 2015

MEMÓRIAS DO MUNDIAL 2015




Pai e filho no Mundial de Rugby 2015 em Twickenham, Londres, antes do África do Sul-Nova Zelândia que terminou com a vitória dos All-Blacks por 20-18.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

ANDREW MEHRTENS, ANTIGO ABERTURA ALL-BLACK

Durante o Mundial de Inglaterra, um jantar na altura dos jogos das meias-finais, juntou em Londres alguns portugueses vindos das mais diversas partes do Mundo. Conversa puxa conversa, o rugby como mote constante, uns a favor de uns, outros de outros, porque estes são melhores e aqueles têm sido excelentes. No meio da concordância de que o Mundial estava a ser extraordinário - e que, apesar da carestia dos bilhetes, estava a valer a pena - as apostas a jantares ou cervejas começavam a cantar.
E nisto de que aquele jogador era formidável, o melhor de todos na posição, que sim senhor, Carter era de outro mundo, mas - e salta a voz de um lado da mesa: o Mehrtens era melhor chutador que o Carter!
... O silêncio a marcar a incredibilidade. Mehrtens, o 944 da lista dos All-Bkacks e abertura dos neo-zelandeses com 70 internacionalizações e um anjo da guarda defensivo com o nº7 chamado Josh Kronfeld, estava na liça e tinha um superdefensor: o Mehrtens marcava pontapés de 65 metros! 65 metros?! É pá! que exagero. Verdade! É verdade! Aposto já um jantar! Vocês vão ter que me pagar jantares até ao fim do Mundial...
No dia seguinte, pelos caminhos de chegada a Twickenham, em conversas multilingues - não se falava só inglês, nós estavamos lá e os argentinos também - descobre-se, ali à conversa, o grande Andrew Merhtens. Vou lá, disse o crente.
Explicou ao que ia, que era português, que tinha jogado rugby e que tinha feito uma aposta e estava ali para tirar teimas.
- Pontapés de 65 metros? Claro, frequentemente e sempre com o meu pior pé!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

JONAH LOMU (1975-2015)


Jonah Lomu foi a primeira personagem global do mundo do rugby. Um ícon global desde a sua primeira internacionalização - com 19 anos e 45 dias de idade foi então o mais jovem All Black - em jogo contra a França.

Era um atleta espantoso e muitas das suas jogadas podem, para nosso espanto e prazer, ser vistas em vídeos do YouTube. Grande (1,96m), forte (119kg) e rápido (menos de 11s aos 100m) era um problema para qualquer defensor. AllBlack número 941, representou-os, na posição de ponta, em 73 vezes. Também fez parte dos sevens de Gordon Tietjens com quem conquistou a Medalha de Ouro dos Commonwealth Games de 1998. Em 2003, a International Rugby Players Association atribui-lhe - apenas Jason Leonard e Jonh Eales tinham tido anteriormente a mesma honra - o Special Merit Award pelo seu contributo para a internacionalização do Rugby.

Era também humilde e uma simpatia. Encontrei-o no aeroporto de Hong-Kong há muitos anos, fui ter com ele, disse-lhe que era treinador da selecção de Portugal e quanto o admirava. Convidou-me para me sentar na mesa que ocupava e ficámos um largo tempo à conversa como se nos conhecessemos desde sempre. Ainda hoje guardo excelente memória desse momento e das explicações que então me deu sobre capacidades técnicas que utilizava.

A sua simpatia mostrava-o sempre disponível: recentemente, no Mundial de Inglaterra, a mãe de um jovem internacional português mostrava-me, orgulhosa, a recente fotografia do filho com Lomu, tirada ali, nos caminhos para as bancadas do estádio.

Jonah Lomu faleceu. O rugby e a sua comunidade não o esquecerão jamais.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

TRABALHO DE CENTRO

O trabalho de um Centro - primeiro ou segundo - tem muito a ver com a capacidade de manobra para garantir espaço para os seus companheiros dos corredores exteriores. Estes dois exemplos de dois ensaios All-Blacks mostram bem essa preocupação.
TRANSFORMAR UM 2X2 EM 2X1

Ma'a Nonu quando recebeu o passe de Carter - numa clara situação de 2x2 - teve a imediata preocupação de procurar o seu adversário directo. Com um passo para o interior, atacando o "ombro fraco" do adversário, obrigou-o a abrandar a corrida para, de imediato de lançar para o intervalo. E aí o ponta sul-africano, Pietersen, fica com um problema para resolver, sendo obrigado a tomar uma decisão entre manter-se a marcar o seu adversário directo - e pode ver Nonu a marcar entre os dois defensores - ou fechar o intervalo e tentar provocar um erro ao portador. Nonu continuou a sua tarefa e, quando viu a aproximação do adversário, fez um passe tenso para Barrett marcar. Como é que se joga um 2x2? Transformando-o num 2x1.
UMA DOBRA PARA GARANTIR SUPERIORIDADE NUMÉRICA

Sobre um ruck Aaron Smith saltou Coles - um credível transportador de bola - que fixou um adversário enquanto a bola chegava, não nas melhores condições, a Conrad Smith. Ao ver a defesa adversária a deslizar na tentativa de fecharem o corredor exterior, Conrad alterou os seu ângulo de corrida, trouxe um adversário consigo e "dobrou" com Aaron Smith que, como bom "atrelado" tinha seguido o passe. Depois foi simples: Aaron Smith e Richie McCaw fixaram os seus adversários pela directas linhas de corrida e o passe para Milner-Skudder foi uma facilidade para a classe do capitão All-Black.
Capacidade técnica, leitura e adaptação à posição de adversários e companheiros, linhas de corrida adequadas e colectivismo - ninguém pensou em brilhar para a bancada mantendo sempre o "nós" acima do "eu"- são os elementos comuns a estes dois ensaios e que fazem parte do repertório permanente do XV da Nova Zelândia.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

GANHOS E PERDAS DO MUNDIAL 2015




Quem ganhou mais - em pontos ou em lugares - aparece com a cor verde superior à cor azul. Naturalmente que os três primeiros classificados - Nova Zelândia, Austrália e Àfrica do Sul - ganharam como também ganharam posições a Argentina e o Japão - três lugares cada - a Itália e Geórgia - 2 lugares cada - e Escócia, Gales, este embora perdendo pontuação, que subiram um lugar no ranking
O grande perdedor foi a Inglaterra que desceu 4 lugares no ranking e perdeu 5,27 pontos. Seguiu-se Samoa que perdeu 3 lugares e 4,78 pontos. Fiji e Tonga perderam dois lugares e os Estados Unidos perdeu um. Namíbia e Uruguai não perderam pontos nem lugares - principalmente porque defrontaram equipas que tinham mais 10 pontos de ranking o que faz, por regulamento, com que a derrota não seja penalisada - e o Canadá, embora não perdendo lugares, foi a 5ª pior equipa a perder pontos bem como a Irlanda que também não perdendo lugares ocupou a 4ª pior posição em pontos perdidos com 3,23.
Durante o mês de Novembro equipas que não estiveram no Mundial vão ter jogos e o ranking vai mexer. No caso de Portugal que se encontra na 28º posição (55,72 pts) do ranking da World Rugby e que vai jogar a Hong-Kong com a equipa da casa, a Rússia e o Zimbabwe pode, caso haja vitórias e porque todos os seus adversários se encontram em posição superior e com mais pontos, amealhar pontos suficientes para subir de posição.

sábado, 7 de novembro de 2015

TRATADÍSTICA DE UM JOGO DE RUGBY

Twickenham WRC 2015 Final  Nova Zelândia - Austrália
Foto JPB iPhone
O jogo final do Mundial entre a Nova Zelândia e a Austrália foi um tratado. Mais: foi um conjunto de tratados, de tratado estratégico, de tratado táctico, de tratado técnico, de tratado de ensaios. Tão bom, tão explicativo das boas práticas que, enquanto conjunto de formas adequadas de fazer, merece ser considerado como Tratadística do Jogo de Rugby. Ou seja, que, por tudo o que mostra, deve ser utilizado como exemplo. E como tal, visto e revisto, estudado e voltado a estudar para daí se tirarem as conclusões que permitam desenvolver o rugby no sentido do futuro.
TRATADO ESTRATÉGICO
Estrategicamente e na procura de impor os seus pontos fortes e minorar pontos fracos, a Austrália, face à tipologia morfológica actual dos jogadores que ocupam a posição de centro, decidiu poupar os seus jogadores - abertura Foley e centro Giteau - dos eventuais impactos das colisões nos "duelos" individuais; por outro lado e face às capacidades dos All-Blacks, decidiram utilizar, tirando partido das capacidades dos seus Genya, Foley e Giteau, o jogo ao pé, explorando o jogo aéreo dos pontas que consideraram como ponto fraco adversário; a pretensão de tirar partido da capacidade de recuperar bolas no chão de Pocock, levou à sua colocação como nº8 para que, podendo ser o segundo placador, pudesse ser mais eficaz na sua acção recuperadora. A isto juntava-se a confiança na capacidade da sua formação ordenada com que esperava surpreender, com combinações desequilibradoras - ensaio contra a Inglaterra - a linha de defesa neozelandesa, bem como na resposta defensiva - como se viu contra Gales e agora com 68 placagens na 1ª parte - permitiam o optimismo pretendido para jogar e vencer uma final. 
Uma vez que, com excepção do bombardeamento sobre os pontas, a Austrália já tinha mostrado nos jogos anteriores as suas intenções, a Nova-Zelândia preparou a sua estratégia de resposta com o objectivo de marcar tão cedo quanto possível como demonstram os seus 64% de posse de bola e 81% de ocupação do campo adversário nos primeiros 20 minutos de jogo para terminar a 1ª parte com 71% de posse. Decidindo antes do mais tirar partido da colocação central dos dois terceiras-linhas, Hooper e Pocock, na zona central do campo; apostando na ultrapassagem da linha de vantagem para garantir a superioridade numérica após o primeiro breakdown - o recurso a mais homens do que os necessários em defesa para garantir a continuidade seria compensado pelos jogadores adversários que tinha ficado para trás - e, utilizando o jogo ao pé para obrigar o três-de-trás a recuar, pressionar para garantir o retorno da bola para contra-atacar com espaços abertos ou, obrigar a chutar para fora, conquistando terreno e podendo utilizar o alinhamento enquanto um dos seus pontos fortes.
Os dados estratégicos, neste mastermind isolado, distante e sem intermediários, estavam lançados.
TRATADO TÁCTICO
Como forma de responder, decidindo pelas acções adaptadas às circunstâncias, à pretendida pretensão de poupar os seus centros, os australianos colocaram, nos alinhamentos, Giteau no corredor de 5 metros e Foley como 2º defesa, colocando Hooper e Pocock como defensores do centro do campo.
A vitória neozelandesa começou a desenhar-se neste domínio. Reconhecendo-se superiores nos alinhamentos (100% nos seus 14 contra 7 em 10 adversárias) e até porque, com esta táctica, não era possível aos australianos utilizarem um terceiro saltador, os All-Blacks lançaram-se em três objectivos: realizar os alinhamentos tão rápido quanto possível para tirar partido na demora organizativa do esquema táctico dos australianos; atacar a linha de vantagem por forma a garantir superioridade numérica - Carter recebia o passe na linha de Aaron Smith com os defensores australianos ainda no seu campo; atacar a "dobradiça" por forma a obrigar os dois especialistas recuperadores a manterem-se na linha defensiva exterior e não os deixando assim participar no ruck. A juntar a esta estrutura, os All-Blacks acrescentaram o seu factor genético, a organização em losango em torno do portador, para garantir o apoio necessário à manutenção da continuidade enquanto elemento principal de criação de desequilíbrios.
Não menos interessante foi a demonstração táctica da capacidade australiana de explorar a superioridade numérica quando da suspensão temporária do defesa neozelandês Ben Smith. Desta adaptação positiva, resultaram 14 pontos que fizeram passar por Twickenham a possibilidade de um volte-face.
Mas de novo o império da táctica neozelandesa se impôs na preparação soberba do tempo - até porque um estádio interno o havia adivinhado - para a realização do pontapé de ressalto com que Carter terminou com quaisquer dúvidas sobre o novo Campeão Mundial. 
No entanto e acima de tudo porque exige um cumprimento integral de diferentes conceitos - a equipa primeiro! o nós superior ao eu! o portador comanda, eu sigo! avançar sempre! manter a bola viva! - a capacidade de convergir sobre o companheiro portador da bola marca a grande diferença dos All-Blacks para todas as outras equipas. E fez a diferença, neste jogo e no campeonato em geral, correspondendo ao domínio de uma vantagem táctica inigualável.
A capacidade de compreensão táctica neozelandesa demonstrada nas alternâncias de "largo envolvente"/"penetrante agrupado" conseguidas numa constante adaptação às circunstâncias propostas pelo portador da bola ou pela organização defensiva numa cascata de tomadas de decisão que permitem a passagem do losango ao turbilhão, qual bando de estorninhos, de alterações constantes de liderança e direcção e que representam, pelo referencial que exigem, um estádio superior de entendimento do jogo a que uma técnica apurada na eficácia da acção dá a realização necessária. E tudo começa na formação de jogadores com métodos que hoje enquadramos na designação de "game sense". E com a certeza que, sendo o domínio técnico muito importante, é na sua aplicação táctica, quer individual quer colectiva, que o seu valor absoluto é atingível.
TRATADO TÉCNICO
Porque o jogo não é um circo de demonstração de habilidades, a técnica pela técnica de nada serve. Só a técnica integrada numa expressão táctica enquadrada numa determinada estratégia garante a eficácia necessária à obtenção dos resultados desportivos procurados. Neste circuito integrado, a técnica representa o domínio das ferramentas disponíveis para efectivar cada acção.
E é essa integração - na táctica individual e colectiva - que permite a fluidez do jogo que as equipas apresentaram e que se mediu pela capacidade de manuseamento da bola que deram provas as duas equipas - com superioridade, também aqui, para os neozelandeses (os australianos cometeram 12 erros) que demonstraram as vantagens do conceito "passar e agarrar" que os segue desde o início da sua formação até aos dias de hoje - meia-hora antes do início da final vi dois segundas linhas, parados e separados por cerca de sete metros, a passarem a bola, tensa, de um para o outro durante cinco minutos em gestos precisos. Assim mesmo, sem mais! Também a recepção - lembrando o conceito de Barry John "atira que eu agarro" - se realiza a níveis que permitem a continuidade de sequências quando tudo parece já perdido. Claramente com custos para a defesa.
E se a demonstração das qualidades técnicas dos dois "formações", Aaron Smith e Will Genya, foi enorme, a velocidade de passe do neozelandês - principalmente da base dos rucks - garantiu sempre, pela manutenção dos desequilíbrios conseguidos, um tempo de avanço aos seus companheiros. E se a isto juntarmos a sua capacidade de leitura de cada situação, percebemos o porquê da designação de "melhor do Mundo".
De um ponto de vista formativo, o jogo teve uma qualidade demonstrativa: o desenvolvimento indivudual para o jogo está na aprendizagem simples das técnicas básicas - passe, recepção, corrida, pontapé, placagem - introduzidas num espaço de liberdade, experiência e objectivos. Com o propósito de ordenar colectivamente cada momento de desordem que o próprio jogo produz. 
TRATADO DE ENSAIOS
Uma final com cinco ensaios não é comum. Menos ainda se se trata de uma final de um Campeonato do Mundo. Mas foi o que aconteceu e significa uma atitude diferente por parte de ambas as equipas na forma de encarar e enfrentar os fantasmas de um jogo de "matar ou morrer". O que diz muito da transformação que estas duas equipas trouxeram ao jogo e à sua expressão.
Foram cinco ensaios para todos os gostos: de criação colectiva de combinações para garantir corredor livre de penetração; de organização colectiva para impor uma força; de exploração imediata de oportunidades (3º e o 5º do jogo); de organização colectiva em movimento com jogadores disponíveis para se adaptarem à visão e gesto técnico do portador da bola. 
A criação do primeiro ensaio do jogo é notável: depois de uma série de rucks, Aaron Smith salta Cole (que corre para dentro a chamar adversários) e passa a bola para os pés de Conrad Smith que agarra, verticaliza para então direccionar a sua corrida "para dentro" e desequilibrar toda a defesa com uma "dobra" a entregar de novo a Aaron que entrega a McCaw que solta Milner-Skudder para o ensaio. Simples, tacticamente a atacar o fraco, com ângulos de corrida adequados à disposição defensiva, tecnicamente no tempo exacto e a jogar colectivamente.
No segundo ensaio All-Black e para além de um espectacular passe-em-carga de Sonny Bill Williams, é a manutenção da posição no losango de Ma'a Nonu que garante a continuidade a que um "inside-out" de escola vai permitir uma corrida de 50 metros para colocar o resultado em 21-3.
Com a suspensão de Ben Smith, os australianos viram nascer-lhes a esperança com a marcação de dois ensaios: o primeiro numa excelente organização de "maul dinâmico" - que, provavelmente, não vai ser mais autorizado desta forma após a próxima alteração das Leis do Jogo - e o segundo num excelente aproveitamento do então "dois-de-trás" dos neozelandeses. Foley, no corredor exterior direito acena a pedir a Genya que jogue ao pé para o espaço desprotegido, Genya responde, Foley capta e, dando as costas aos adversários, passa para Kuridrani marcar um ensaio de belo efeito a colocar o resultado em 4 pontos de diferença.
E se já havia o extraordinário pontapé de ressalto de Carter a pôr calma, dento e fora do campo, nas
hostes neozelandesas, o último ensaio colocou a taça no topo do bolo All-Black. E o mais impressionante desse movimento foi a perícia técnica com que Barret, em elevada velocidade e depois de ter ultrapassado os seus adversários, teve o controlo, num gesto técnico de alto nível, para tocar a bola com o pé e conduzi-la na direcção da área de ensaio. 
Realmente foi um privilégio ter assistido ao vivo a esta final. Principalmente porque, demonstrando as vantagens da evasão sobre a colisão, o vencedor foi, na expressão das duas equipas, o rugby de movimento. O que torna esta Rugby World Cup 2015 inesquecível.


Twickenham RWC 2015 Volta de Honra
Foto JPBessa iPhone





sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PALPITE FINAL

A regra da aposta para esta final Nova Zelândia- Austrália é fácil: se não se quer correr riscos mas também não se pensa em prémios elevados, aposta-se nos neozelandeses; se se pretende um maior risco mas a hipótese de um prémio mais elevado, aposta-se nos australianos.
Como mostra o quadro que segue, as vantagens da produção neste Mundial, salvo em "erros de manuseamento" pertencem aos neozelandeses.
Comparação entre os resultados estatísticos dos dois finalistas do Mundial 2015

Mas são valores que não definem um vencedor - as distâncias não serão tão grandes que permitam falar-se de vencedores antecipados. E mesmo que os valores fossem superiores para um dos lados, trata-se de de uma final de um Mundial. E numa final todas as previsões podem mudar por um pequeno pormenor que poderá afectar uma equipa de maneira imprevisível. Ou seja e por definição: uma final tem resultado final imprevisível. Para mais tratando-se do 1º classificado, Nova Zelândia, do ranking da World Rugby com 93,67 pontos, com o 2º classificado, Austrália com 91,75 pontos.

Ambas as equipas defendem muito e bem - 85% sensivelmente de eficácia - e ultrapassam a Linha de Vantagem em mais de 50% das vezes que têm a bola disponível. Para marcarem ensaios a Nova Zelândia precisa, em média, de 13 bolas disponíveis enquanto a Austrália necessita, também em média de 16 bolas disponíveis. O que, como cartão de visita, qualifica o jogo que iremos ver.

Diversas batalhas entre unidades adversárias vão dar uma particular intensidade a este jogo final: entre as terceiras linhas de McCaw, Read e Kaino pelo lado neozelandês e Hooper, Pocock e Fardy do lado australiano - e que luta se prevê nos breakdowns onde, aliás, há uma proximidade média de conquista entre ambas as equipas. Depois, ver se o título oficioso de "melhor formação do mundo" serve ou não a Aaron Smith que terá no australiano Genia um adversário de respeito. Carter, o abertura neozelandês considerado o melhor estratega mundial - para além da sua capacidade de chutar aos postes - terá na frente, não um, mas dois adversários: Foley e Giteau que fazem, em constantes adaptações às circunstâncias, o papel de abertura da Austrália. E pode-se ver a poupança a que são sujeitos para garantir a melhor das suas capacidades sempre que venha a ser necessário, com Giteau, nos alinhamentos adversários, a ser poupado do choque e colocado no corredor de 5 metros, enquanto que Foley se refugia muitas vezes na posição de defesa. Mas outro dos aspectos que terá interesse será o combate dos centros Ma'a Nonu/Colin frente-a-frente com Giteau/Kuridrani. E aqui, no melhor interesse neozelandês, vai haver choque. Como também será possível ver pontapés altos sobre Foley perseguidos pelo excelente Ben Smith - que serão mais ainda se Folau não puder jogar. Está visto: o combate dos dois meios-campos vai influenciar o vencedor. E o combate aéreo - onde se inclui a luta entre os pares Retalick/Whitelock e Douglas/ Simmons - será também um dos pontos sensíveis. E ainda falta saber como se comportarão as duas formações-ordenadas: para quem a vantagem? E o pequeno número de formações permitirá alguma importância no desenrolar do jogo?

O favoritismo, embora não muito elevado, está do lado dos All-Blacks que são, portanto, mais fortes. Que poderão fazer os mais fracos australianos para inverter a tendência?

Sabe-se da estória que David, o mais fraco, derrotou Golias, o mais forte, com recurso a tácticas e acções diferentes das usuais. 

Os designados mindgames, neste caso, estarão a passar-se no privado, na frente dos vídeos a tentar prever a estratégia adversária para escolher e montar a contra-estratégia - e o conhecimento mútuo da personalidade de cada um dos líderes, ajuda à montagem. Qualquer das duas equipas técnicas, comandadas por Hansen e Cheika, tem as competências suficientes para desmontar analiticamente as equipas adversárias, os seus pontos fortes e pontos fracos e as possibilidades de novas combinações e encontrar a forma de surpreender o adversário.

Marcar primeiro vai colocar problemas ao adversário que verá psicologicamente diminuída - numa quase proporção directa do aumento do adversário - a sua margem de sobrevivência... porque é de um verdadeiro combate que se tratará.

Palpite final: vitória da Nova Zelândia por uma diferença de 4 pontos.

MEIAS-FINAIS: DIÁRIO DE BORDO (II)


Twickenham foto iPhone JPB
No dia seguinte, domingo, o mesmo percurso com a vantagem do já conhecido: almoço de hamburgueres, metro e combóio - desta vez encontrei o também neozelandês Mannix (treinador do Pau) com quem falei do Samuel Marques - mais andarilhar rodeado pelo excitamento argentino e a confiança australiana com encontro obviamente marcado para a estátua do alinhamento à entrada do estádio. Por quem torce? perguntou um vizinho: pela Argentina do meu amigo Daniel. Mas não tinha uma fé por aí além. A experiência australiana era superior e as suas linhas atrasadas são muito boas. E os pés, direito e canhoto, de Foley e Giteau são capazes de manter a pressão territorial necessária. 

Como irão os argentinos, sob a vista do fabuloso Maradona, conquistar e ocupar terreno?

Aconteceu o que temia, apesar do muito maior domínio, os argentinos não conseguiram mais do que marcar penalidades. A usar o já referido sistema galês, o resultado final seria de 32-10 favorável aos australianos apesar de pertencer aos argentinos o domínio estatístico: 55% de posse da bola, 54% de território, 144 transportes de bola para 577 metros contra 100 transportes para 358 metros australianos, superioridade nas formações ordenadas. O que não deixa de ser estranho. Como é possível tal domínio e perder sem apelo? Razões do resultado? servirá a maior eficácia defensiva australiana com 83% contra 78% para explicar tudo? Creio que não.

O que terá tornado o jogo argentino ineficaz foi o seu conceito de jogo de ataque e, nomeadamente, o seu jogo ao largo. Mas a principal razão da derrota esteve na errada estratégia defensiva utilizada.

A Argentina saiu do balneário com uma ideia: marcar primeiro e pôr os australianos atrás do prejuízo. Situação onde serão, pensa-se, mais vulneráveis. Mas esta ideia, mista de confiança absoluta e risco, provocou o primeiro erro: a intercepção de Simmons para o primeiro ensaio. Jogar uma combinação nos primeiros minutos de jogo com passe interior à saída da área de 22 é muito risco para uma meia-final. É tentar o diabo, principalmente se o mundo inteiro já tinha percebido que esse movimento tinha criado dificuldades aos neozelandeses. E os australianos também o tinham percebido e fizeram o trabalho de casa: Simmons teve o prémio de ter cumprido o papel que o treinador lhe tinha destinado.

Meia dúzia de minutos depois uma defesa longe da lição das duas equipas do dia anterior que foram exemplares no cumprimento da regra defensiva de primeiro igualar e só depois subir, os argentinos preferiram uma defesa pressionante - blitz defence - que, pretendendo contrariar a circulação da bola à largura do campo, não conseguia igualar o número de atacantes nem ocupar todos os corredores e permitia assim que Foley, com um passe longo, abrisse caminho para um novo ensaio. Para, mais à frente e numa repetição simétrica, um passe longo de Giteau permitir novo ensaio. Resultado final: 4 ensaios sofridos contra nenhum marcado. 
Twickenham foto iPhone JPB

A ideia dos argentinos de ataque permanente pelas linhas atrasadas estava tão entranhada que pudemos assistir, após notável formação ordenada no limite da sua área de 22, que empurraram, dominaram e rodaram, afastando a 3ª linha australiana de qualquer possibilidade de intervenção e que fizeram? saída de nº8 sem sequência de 6 e 7 para atacar o canal livre e, em vez disso, passe para a linha de 3/4 que se viu, como seria natural, confrontada, sem qualquer vantagem, com o equilíbrio numérico. E assim se perdeu a última oportunidade para aproximar ou igualar o resultado.

A Austrália mostrou também ao que vinha em cada pontapé de recomeço: pontapé para a entrada dos 22 adversários com uma linha à largura do campo a subir rapidamente (quanto Foley pontapeia a bola passam por ele uma organizada linha de onze jogadores em alta velocidade) para pressionar - em superioridade numérica - os defensores argentinos, levando-os a chutar ou a cometer erros. Ou seja: colocar o jogo dentro do território argentino para tirar, como aconteceu, partido do risco.

Ao contrário dos neozelandeses que atacam intervalos em grande velocidade, procurando juntar defensores para abrir maiores intervalos, mas continuando a circular a bola sempre que a defesa fecha, os argentinos procuraram sempre a penetração em qualquer situação - mas sem capacidade de escalonar ou criar a profundidade necessária para garantir velocidade atacante e eficaz ultrapassagem da linha defensiva - a que faltou depois o apoio, a convergência, para garantir a continuidade para exploração do desequilíbrio. E assim as suas 56 ultrapassagens da linha de vantagem (contra 43 dos australianos) de nada serviram para chegar à área de ensaio.

A Argentina tinha enormes esperanças na vitória mas sobreviveu apenas através das faltas que conseguiu provocar e graças às excelentes qualidades de pontapeador do abertura Sanchez que lhe deu sequência pontual.

No final, as lágrimas de Daniel mostravam a enorme desilusão do campo argentino. Mas fica, pelo muito que se viu nos jogos efectuados, a certeza que, limadas arestas e com a maior experiência que o Super 18 lhes vai proporcionar, a equipa para 2019 será uma séria candidata. Como Daniel quer e apostou.

Retorno à cidade, desta vez de comboio. Jantar em restaurante italiano - óptima sopa - dormir e levantar às seis para, de novo, hora e meia de viagem para o aeroporto. No aeroporto de Stansted uma quase hora para ultrapassar as medidas de segurança aeroportuárias. Depois o habitual: ter que percorrer o prepositado caminho que passa por todas as montras da free-shop e deparar com um aviso: a porta para o voo para Lisboa está à distância de 12 minutos a pé. Sete horas depois da alvorada, chegamos a casa: Lisboa.  

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

MEIAS-FINAIS: DIÁRIO DE BORDO (I)


Twickenham foto iPhone JPB
O despertador tocou às 4 da manhã. Noite lá fora. Às 5 chega o táxi. No aeroporto é preciso pôr tudo à vista, tirar o cinto, segurar as calças, abrir a mala para colocar os produtos de tuálete no saco de plástico e atrelar a uma fila de gente para mostrar o cartão de cidadão. Para onde vai? Londres, respondi. Faça o favor e devolveu-me o cartão de cidadão. 

Entrei no avião, mostrei de novo o bilhete e sentei-me. Calhou-me o lugar da meio. Nos low cost não há espaço, os joelhos vão nos queixos. Não consigo dormir. Quando, com duas horas de viagem a coisa ia acontecendo, dez minutos depois estava cheio de dores no pescoço. Lá fora, pela janela, via-se um tecto de nuvens que prometia os aguaceiros da meteorologia - que raio de azar. Azar para o jogo e azar porque não há - só uma mala pequena ou paga -se mais do que pela viagem - roupa para grandes mudas (o gajo do lado quer ler o que estou a escrever, está admirado porque escrevo com a ponta do dedo no telemóvel). ATERRAMOS! e a malta bate palmas.

Bilhetes de ida e volta para uma viagem de três-quartos de hora de comboio, compra do Oister para o metro e procurar a linha justa no mapa do tube londrino. Chegada ao hotel em Kensington e apanhar o ar impávido do recepcionista: Check-in só a partir das 2 da tarde. Lá conseguimos que nos guardassem as malas e ala! Burger King e descobrir o melhor caminho para Waterloo para apanhar de novo um combóio para Twickenham - Casa do rugby inglês, como se anunciam.
Twickenham foto iPhone JPB

Os mapas avisam: 15 minutos a pé da estação até ao Estádio. Rua fora uma autêntica manifestação de entusiastas a sermos cumprimentados pelos voluntários. Um deles, com ar de chefe, ao ler no meu casaco a origem, admirou-se: From Portugal?! So nice. It's unusual... sem perceber que à volta havia outros portugueses. E o magote de diferentes adeptos, de diferentes camisolas, caminha rua fora sem atropelos, provocações ou o que quer que possa perturbar aquele momento mágico de paixão partilhada. 
Twickenham foto iPhone JPB

Nas casas do alinhamento da rua a oportunidade traduz-se na venda dos mais diversos home made, desde comida até artesanato - na janela de uma delas a estranha presença de uma enorme bandeira dos All-Blacks. Fotografias de ocasião, encontro com conhecidos - encontrei o treinador neozelandês Aussie McLean que esteve em Portugal na época passada - passagem pela loja e parar para ver os candidatos a pilares a fazer força na máquina a tentar bater-se uns aos outros e a igualar a marca de um pilar internacional inglês. Também se podem escrever mensagens pessoais na cartolina onde normalmente se lê Try!

Lugar encontrado, tudo sentado, entram as equipas, cantam-se os hinos e à volta vai correndo a cerveja para aclarar vozes e, para os mais distraídos, passarem o tempo a atropelar espectadores para irem, mesmo no meio de uma jogada, à bear room despejar o que beberam...
Twickenham foto iPhone JPB

Se os hinos representam um momento de grande emoção - as lágrimas caem por milhares de caras abaixo - o haka neozelandês é um momento único. E visto ao vivo - mesmo se as expressões faciais ficam longe das vistas na TV - tem uma dimensão dramática impressionante a que as diferentes interpretações - desde o "agarrem-me senão mato-o", ao "acagassem-se com a nossa força e desapareçam" até ao mais provável de ser apelo aos valores colectivos ancestrais de combate para, juntos, enfrentarem o adversário - dão a representação iniciática do combate. 

O jogo foi óptimo: duro, desgastante, intenso. Um combate. Com domínio, apesar da proximidade do resultado (20-18), dos neozelandeses: 57% de posse da bola, 67% de domínio territorial, 117 transportes de bola contra 76 de que resultaram 387 metros percorridos contra 149 dos sul-africanos; do lado all-black apenas 3 placagens falhadas - 96% de eficácia - contra 20 - 87% de eficácia - da parte da África do Sul; com, mais significativo ainda, 53 ultrapassagens da linha de vantagem contra apenas 25; e 2 ensaios contra nenhum. Um domínio óbvio, mesmo se uma injustificada inadaptação à arbitragem provocou o exagerado número de 14 penalidades - aceita-se por média, 10 -  e permitiu um resultado apertado a que a adaptação da actual experiência galesa de pontuação (6 pontos por ensaio e tudo o restante a valer 2) traduziria num resultado mais condizente com o visto: 20-12.

Muitas coisas ficam na memória do jogo como o passe NBA de McCaw para o ensaio de Kaino, o decisivo roubo de bola de Retallick num alinhamento sul-africano, a organização defensiva ou a capacidade de passe neozelandesa, esta última uma tradição que vem da constância, ao longo da carreira de jogador, do "catch and pass" - a jogada que deu o último ensaio na última hipótese da célebre vitória (24-22) de 2013 sobre a Irlanda, contou 25 passes. "Que outra equipa seria capaz de igual demonstração?" pergunta Graham Henry. Mas para a posteridade, para ver, rever e aprender é a jogada do segundo ensaio, a manobra atacante de Ma'a Nonu - ataque em velocidade ao intervalo, endireitamento da corrida com passada para dentro para fixar o defensor directo, continuação da corrida em ligeiro arco de círculo para chamar Petersen a vir fechar o espaço interior e aumento da largura do corredor exterior, por onde, lançado em velocidade, Barrett recebeu um passe preciso para marcar. Um 2x2 de excelência, manobrado com superior qualidade para ser transformado num mortal 2x1 a fazer jus ao velho conceito: como se lida com um 2x2? transforma-se em 2x1! Um tratado!

E de novo a qualidade de Carter, de Ben Smith, homem do jogo, ou do guerreiro capitão McCaw que voltou a demonstrar as suas capacidades de liderança - para além do exemplo, do combate, da obstinação vencedora - ao transformar a sua equipa para terminar como vencedora. Do lado sul-africano fica a enorme capacidade de luta, a força física e o pé de Pollard. De ambos os lados o rigor táctico no cumprimento do plano de jogo que oporia os pontos fortes e fracos de um e outro lado. Apesar da ansiedade dos minutos finais - dois pontos não são diferença - ganhou quem devia ganhar: a Nova Zelândia está na final, ganha o rugby de movimento e o prazer dos espectadores, perde a colisão. E a ideia da necessidade de bestas mecânicas para jogar rugby perde-se no espaço da técnica e da inteligência táctica.

A chuva aumentou. Fora do Estádio ouvia-se, pelos megafones dos voluntários, que existiam problemas na estação ferroviária de Twickenham e que devíamos apanhar os autocarros. Nunca mais saímos daqui, pensei. Bem organizados, com o plano treinado - por aqui, para tal parte, por ali para a outra - com dezenas de autocarros disponíveis saímos mais rápido do que supunha. Às oito e meia estava no hotel. Passagem rápida para marcar o ponto numa pint e ir jantar com amigos. Volta ao hotel e, já esgotado com as 18 horas de andamento, cama e dormir.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

CASO JOUBERT


Austrália-Escócia: o minuto fatal
Se fosse escocês e fanático teria a certeza que a decisão de Craig Joubert de marcar pontapé de penalidade ao pilar Welsh foi um "roubo de igreja" e que só existiu para impedir que a "minha" Escócia chegasse às meias-finais e por isso é mais do que merecido o que tem passado e tudo aquilo que dizem dele. Mas não sou nem escocês nem fanático.

Se fosse membro da World Rugby (WR) não concordaria nem assinaria - por mais que pudesse agradar a escoceses - o comunicado que, publicamente, acusa Joubert de ter errado a decisão, trocando a devida, dizem, formação ordenada por penalidade. Porque não gosto de dar tiros nos meus próprios pés. Da auto-flagelação da WR haverá - com certeza - consequências nefastas para a generalidade da arbitragem. E, para além do mais, este tiro desacredita o tão badalado processo de procura da verdade desportiva uma vez que o caso Joubert resulta, directamente, da ineficiência ou mesmo incompetência da própria World Rugby.

Por todo o lado se pergunta: com tanta conversa sobre o vídeo-árbitro (TMO) e verdade desportiva do jogo porque é que não foi ouvido numa óbvia situação de incidência no resultado final? Porque o protocolo apenas admite o seu recurso para situações de jogo violento ou desleal ou para validar ensaios que ofereçam dúvidas da sua legalidade (jogada incluída). Então para um caso destes que tem absoluta influência no resultado final não pode ser utilizado? Não! E este não, por incompreensível, representa descrédito.

E não é possível porque a World Rugby, como a sua antecessora IRB, do alto do seu pedestal de pretendida herdeira do legado das Home Unions (federações britânicas), sente-se como único baluarte da tradição e da cultura do jogo, ouvindo mal e vendo pouco - mais ainda quando se enche de marketeers que só têm olhos para números mesmo se inflacionados (veja-se o quadro WR do número mundial de jogadores). Já há muito que diversas vozes, incluindo o antigo árbitro sul-africano Kaplan, têm proposto avanços na utilização do TMO como - de acordo aliás com o que se passa noutras modalidades que usam novas tecnologias - permitir que o "capitão" tenha a possibilidade, em número previamente determinado de vezes, de apelar à visão de um lance pretendido. Como em casos idênticos ao que se passou com a decisão de Joubert e que evitaria a dúvida, consolidava o árbitro e teria impedido o disparate do comunicado. E a formação ordenada ou o pontapé de penalidade seria uma mera circunstância do jogo e falar-se-ia mais daquilo que importa: como é que não houve uma voz de comando escocesa - que pensou Laidlaw? - para garantir uma boa solução de conquista - primeiro de terreno e depois da bola - que evitasse o sufoco final?

Mas não é só aqui que termina a responsabilidade da WR para o caso Joubert.

Existe um princípio fundamental que se retira da Lei 11.1 b) e que se traduz genericamente por "nenhum jogador pode tirar qualquer vantagem da sua posição ilegal". O que significa que qualquer jogador que esteja em fora-de-jogo não pode participar no jogo até ser colocado de novo em jogo - por acção própria ou do adversário. Até aqui tudo bem.

Mas na  Lei 11.3 c) introduz-se um conceito em que se um adversário tocar intencionalmente na bola e não a agarrar colocará em jogo o jogador que, anteriormente, estaria em fora-de-jogo. E aqui é que a porca torce o rabo. Repare-se que com este conceito, um jogador que ficou para trás - dentro da área de 22 adversária, por exemplo - a apertar uma bota, pode ser colocado em jogo por um adversário que, ao carregar um pontapé, toque na bola e, satisfeito da vida, agarrar a bola e marcar ensaio. O que parece ser um rematado disparate porque para além de violar o princípio acima referido, faz com que o jogador que, legal, táctica e tecnicamente, procedeu correctamente corra um enorme risco. Ora a WR continua a fechar os olhos a esta questão que, aliás, é central no caso Joubert.

Na situação do jogo Austrália-Escócia, o árbitro Craig Joubert teve que julgar em milésimos se o australiano Phipps jogou ou não intencionalmente a bola. E em pior situação estava o pilar escocês Welsh que, no calor do combate, também tinha que resolver a mesma equação e decidir: agarro ou não a bola? E julga-se da intencionalidade com base em que critério? 

A pergunta: porque é que a WR mantém um conceito de excepção nas Leis do Jogo que abre portas ao subjectivo livre-arbítrio - teve ou não intenção? - e portanto a decisões que podem ser mal interpretadas mas com consequências graves no jogo? E se a esta situação juntarmos as múltiplas áreas cinzentas que se mantêm nas Leis do Jogo e que apenas têm um outro conceito subjectivo - a materialidade - para as resolver, fácil é perceber que, para bem do jogo e por respeito a jogadores e espectadores, deveria haver um movimento de simplificação e clarificação. Porque a interpretação subjectiva deve ser tanto quanto possível afastada da interpretação da legalidade. Para que haja equidade.

Apesar de ser, desde sempre, um jogo colectivo de combate, o rugby é cada vez mais rápido, com combates mais constantes e mais duros, decisões sob maior pressão e menos tempo e a complexidade das suas Leis do Jogo dificultam a sua execução e compreensão. O que contraria a pretensão da WR de desenvolvimento e extensão global.

Há tempos Steve Hansen, treinador principal dos All-Blacks, apelava para que se tornassem as regras do jogo mais simples sob pena de desinteresse dos espectadores. De facto inúmeras vezes os espectadores - e também os jogadores - não fazem a mínima ideia porque foi marcada determinada falta. E mesmo com conhecimentos do código gestual da arbitragem, ficam cépticos das razões.

Porque, repete-se, existem demasiadas áreas cinzentas que permitem o arbítrio subjectivo da interpretação do árbitro. O que em nada contribui para o crédito e prestígio do jogo ou para o respeito do papel do árbitro enquanto regulador. Papel que é essencial para que o jogo corra dentro do direito de igualdade de oportunidades e de comportamentos. 

Que este "Caso Joubert" em que o árbitro Craig Joubert é o menos culpado, possa levar a WR a assumir as suas responsabilidades, simplificando as Leis do Jogo para que haja uma maior clareza, simplificando o trabalho do árbitro e para que, assim, jogadores e espectadores possam dar total crédito às suas decisões. Para que o jogo da vitória e da derrota esteja no patamar da qualidade técnica, táctica e estratégica das equipas e não na arbitragem. Ganhava o jogo e os milhões de apaixonados do Rugby.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

RUGBY CHAMPIONSHIP EM LONDRES

As quatro equipas que constituem o Rugby Championship do Hemisfério Sul qualificaram-se para as meias-finais do Campeonato do Mundo 2015 que se realizarão no próximo fim-de-semana em Londres e  demonstraram à evidência uma regra do Desporto de Rendimento: o nível habitual das competições define a capacidade dos jogadores.
Os jogos foram bons e de grande intensidade - mesmo o desequilibrado Nova Zelândia-França teve momentos de se lhe tirar o chapéu. Por parte dos All-Blacks, claro.
A Argentina surpreendeu pela facilidade - mais aparente que real - com que construiu o resultado para derrotar a Irlanda recente vencedora do Europeu das Seis Nações. Mas a maior surpresa surgiu na forma como os argentinos encararam disciplinarmente a pressão imposta pelo adversário, ficando-se apenas por um cartão amarelo - mesmo se o árbitro foi simpático ao não mostrar um segundo que se traduziria em vermelho. E esse comportamento esteve na base da sua vitória - não há vitórias a este nível sem disciplina individual e colectiva.
A vitória da Argentina foi merecida e o seu desempenho foi de grande categoria ao fazer jus ao conceito de que o ataque é a melhor defesa, atacando a bola, atacando o espaço e vencendo os duelos da colisão. Uma alegria merecida para o trabalho e convicções de Daniel Hourcade.
Os All-Blacks cilindraram os franceses e puseram a imprensa gaulesa em alvoroço. Alguns perguntam mesmo se as duas equipas jogaram o mesmo jogo. E não deixa de ser intrigante - ou pretensioso apenas - que Saint-Andre tenha preparado a sua equipa para desafiar os neozelandeses no âmbito do conceito do "jogo de movimento". Como os franceses, no dia-a-dia do seu campeonato, já há muito lhe perderam o hábito, foi o que se viu: fogachos sem consequências. E foi tão mau que melhor fora que continuassem com o equívoco do jogo à moda sul-africana...
De facto o conseguido pela França não estaria muito longe do esperado como resultado de um processo interno desajustado à competição internacional - foco apenas no interesse de cada clube, tornado espécie de feudo e indiferença pelo representação nacional. Que, no entanto, enche os oitenta mil lugares do Stade de France. Mas que vem perdendo capacidade competitiva ao longo dos últimos anos: na era Skrela/Villepreux teve 64% de vitórias, com Laporte 63%, com Lievremont 60%, para cair em 45% sob a responsabilidade de Saint-Andre. E com o cúmulo de, nos seus quase 300 000 federados, ter de utilizar jogadores estrangeiros - 3 sul-africanos e um figiano - para formar a selecção nacional. Muito provavelmente esta derrota - ou pelo menos assim esperam aqueles que se lembram da qualidade do movimento do "french flair" - irá obrigar a repensar a organização, os objectivos e a focagem do rugby francês e a sua inserção no espaço europeu. Se assim fôr, a derrota constituirá um novo princípio que o rugby europeu agradecerá.
Quanto aos All-Blacks, estou com Clive Woodward: é um prazer vê-los jogar. Tudo na sua acção se move de acordo com os Princípios Fundamentais que formatam o jogo. E, pela formação que recebem, mostram que de cada especialista que as posições na equipa exigem nasce um polivalente capaz de se adaptar a cada situação de acordo com a posição no campo que ocupa a cada momento. E assim transformam o jogo, numa constante demonstração de apoio e convergência, numa permanente surpresa para adversários e delicia espectadores levando-nos a aproximar dos processos em que se baseiam. Com a clara certeza de que a bola viva cria mais problemas aos defensores que uma qualquer queda seguida de ruck.
Os jogos mais equilibrados tiveram como adversários Gales e a África do Sul e a Austrália e a Escócia. E se no primeiro o equilíbrio era reconhecido, no segundo, a Escócia esteve a um passo de conseguir uma surpresa formidável, explorando muito bem as dificuldades australianas de, sob eficaz e agressiva pressão escocesa, desenvolver o seu jogo de fases à largura do terreno de jogo e à espera da desorganizar a defesa adversária para explorar os desequilíbrios. Quanto a Gales - que ainda não é uma grande equipa por demasiado dependente de uma estrutura previamente estabelecida que a impede de se adaptar em tempo útil (veja-se o 15 contra 13 no jogo com a Austrália) ao situação do adversário, não conseguiu, pese as oportunidades de ensaio, ultrapassar o poder corrosivo da equipa sul-africana. Um pouco mais de liberdade de movimentos e aceitação do risco de acções individuais - só Biggar parece, de momento, disso capaz - poderão trazer Gales de novo para o pódio do rugby internacional. Mas foram uns heróis na capacidade defensiva montada por Shaun Williams - a terceira linha fez 59 placagens a que se juntam ainda 19 do base Wyn Jones
Apesar dos erros dos árbitros que tiveram influência nos resultados - Barnes não viu os mergulhos de dois sul-africanos no ruck e entregou-lhes a introdução da formação ordenada, que permitiu o ensaio da vitória; Joubert não percebeu (para além do fora de jogo australiano num alinhamento rápido no final da 1ª parte) que a bola terá tocado em último lugar num australiano e portanto não terá havido fora-de-jogo escocês e a penalidade que permitiu a vitória não deveria existir - e admitindo que estes erros são sempre possíveis mesmo com TMO, os jogos terminaram com vencedores e derrotados. Uns seguem e outros voltam a casa. 
Facto, facto, é que, quer Gales, quer a Escócia, tiveram a vitória nas mãos e deixaram-na fugir por entre os dedos com erros grosseiros. Mas no final do jogo com o oxigénio a rarear para manter a lucidez cerebral e quando os jogadores já se encontram no limbo do modo piloto-automático, estes erros acontecem. E definem, quantas vezes, um jogo. 
Principalmente se - como também aconteceu com a Inglaterra que na última oportunidade de marcar pontos utilizou o primeiro saltador para captar a bola no alinhamento e assim facilitar a defesa galesa que empurrou o maul para fora - as coisas não foram previstas, conversadas e treinadas. A Escócia a vencer o jogo e nos minutos finais teve um pontapé livre que deveria ser chutado comprido e para fora, ganhando assim tempo, terreno nas costas e organização; chutou de facto comprido mas para dentro do campo permitindo que o contra-ataque australiano voltasse ao meio-campo escocês. Não satisfeita com isto ainda decidiu lançar a bola no alinhamento que se seguiu para o final e não para o seu melhor saltador para garantir conquista e controlo. E o resultado foi um falhanço, penalidade e derrota.
No 89 para a esquerda que se seguiu à rotação da formação ordenada sul-africana, o ponta galês Cuthbert em vez de se manter no seu corredor defensivo, dando tempo para a recuperação da organização defensiva da sua 3ª linha e uma vez que o seu médio Lloyd Williams mantinha o Nº8 Vermulen seguro por uma perna, impedindo-o de avançar, resolveu ir "ajudar" o seu companheiro num monumental erro de apreciação de que resultou um (brilhante) passe em carga, corrida de Du Preez em corredor livre, ensaio e vitória! E tudo poderia ser diferente se Cuthbert tivesse aguentado o seu tempo de acção onde já contaria com Tipuric ou Faletau a fechar o espaço.
Ou seja, mesmo que tenha havido erro dos árbitros e por mais que custe aos adeptos - a de Gales, custou-me - a derrota nos momentos finais, apenas resultaram de erros das equipas. Resultantes das vicissitudes do próprio jogo. Venham as meias-finais.

sábado, 17 de outubro de 2015

UMA APOSTA

Gráfico retirado do jornal francês Libération  que nos desafia a escrever o nosso prognóstico 

Os All-Blacks vão ser de novo campeões mundiais depois de vencerem a Austrália na final e de terem vencido Gales nas meias-finais.
Se assim for, Gales terá feito um notável Mundial depois de ter visto cair pelo caminho uma série de notáveis guerreiros que lhe limitam as capacidades.
Também, embora com pena, penso que a Argentina não ultrapassará a Irlanda - a agressividade dos irlandeses nos breakdowns - hoje em dia muito do ganhar ou perder passa por esta fase do jogo - vai levar os argentinos a cometer faltas e a, muito provavelmente, serem castigados com amarelos. E se a isto se juntar a atenção do árbitro a impedir a tendência argentina de sair em fora-de-jogo, o dia não lhes será nada fácil.
A Austrália, com uma "formação ordenada à argentina", umas linhas atrasadas admiráveis, com os reis do breakdown, Pocock e Hooper, e uma organização defensiva exemplar como mostrou contra Gales, não deverá passar por grandes tormentos para chegar à final, face aos adversários que terá pela frente.
Gales tem hipóteses de ganhar à África do Sul - pelo menos gostaria que assim fosse - porque, para além da sua capacidade colectiva de combate, tem ainda Dan Biggar, exímio chutador aos postes mas também excelente manobrador do jogo e com faro especial - 2º ensaio contra a Inglaterra - para fazer chegar a bola rapidamente ao companheiro com espaço aberto na sua frente. Provavelmente, na luta tremenda que vai acontecer, a precisão dos pontapés aos postes vão definir o vencedor num resultado muito apertado.
Já se sabe, a França é capaz de tudo: de um péssimo jogo de permanente colisão e de, num repente, abrir os livros da memória e conseguir espantar o mundo. É verdade mas com muita mitologia à mistura: hoje em dia o XV francês não parece mentalmente apetrechado para responder com "finesse" ao molde da força em que está inscrito. E assim sendo, os All-Blacks, sem memórias ou preocupações de 1999 ou 2007, mostrar-se-ão mais fortes.
Estas são as minhas apostas num despique Norte/Sul muito equilibrado cujos resultados finais resultarão muito mais de particularidades do jogo do que de análises às qualidades de uns e outros. São os quartos-de-final de um Campeonato do Mundo e o melhor, como propõe Ricardo Costa num excelente artigo publicado no Expresso on-line, é prepararmo-nos para um fim-de-semana de oito horas no sofá.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

VISTO NO MUNDIAL

Terminada a fase de Grupos - excelente, aliás - a fase da verdade do "bota-fora" vai começar com muito boas perspectivas de interessantes jogos. 
Da primeira fase ficam-nos momentos memoráveis: a inesperada e notável vitória do Japão sobre  a África do Sul com a decisão-limite de ir à procura do ensaio e que marcaria, para o bem e para o mal, as decisões de outras equipas; a vitória de Gales sobre a Inglaterra numa demonstração de que o "fighting spirit" pode ser, mais do que uma particularidade irlandesa, uma característica celta e que Dan Biggar tem direito a fotografia, mantendo a tradição galesa de Barry John, Phil Bennett e outros, na galeria dos melhores aberturas mundiais; a derrota da Inglaterra com a Austrália com o melhor ensaio da fase e de que resultou a inesperada eliminação da organizadora Inglaterra; o jogo Austrália-Gales que possibilitou uma lição defensiva dos australianos (serão celtas?) que se baterem, diminuídos de 2 jogadores, "uns pelos outros" como disseram no final e conseguiram impedir que o sistema Warrenballs marcasse o ensaio decisivo - quem lá esteve disse-me que era impressionante o empurrão do público num walles!walles! gritado a plenos pulmões cada vez que havia uma formação ordenada; o terceiro-lugar, com apuramento para o Japão 2019 do nosso adversário europeu, a Geórgia, que, ao contrário da Roménia, mostra um rugby poderoso mas já capaz de utilizar a bola sem recorrer em permanência a colisões e procurando um alargado jogo de passes; o variado jogo de passes de algumas equipas com mudanças de sentido e retorno em cima da defesa para conseguir o intervalo de passagem numa exigência participativa que leva o sentido colectivo ao extremo. E na memória ficará também a escolha francesa, esquecida do "french flair", a comportar-se como sul-africanos incapazes de descobrir a porta aberta para bater permanentemente contra a parede - fisicalidade que o jogo de movimento dos irlandeses não temeu - pesem as lesões - e venceu.   
Fundamentalmente a primeira fase deste Mundial mostrou uma maior aproximação dos países vulgarmente designados por Tiers 2 dos mais poderosos. Aproximação que se viu quer nos resultados quer no jogo demonstrado. Esta aproximação teve ainda a enorme vantagem de não defraudar o público pagante - e são caros os bilhetes... - que acorreu em massa (o número de 1,9 milhões de espectadores é impressionante).
Do ponto de vista do que se viu nos jogos, nós portugueses, para continuar na cena internacional com resultados que nos possam garantir um lugar nos 25 primeiros do ranking mundial, podemos e devemos aprender, apetrechando-nos com as ferramentas necessárias, com a mostra que este Mundial proporciona. O que significa mudar o rugby a que nos gostamos de habituar, esquecendo estruturas demasiado rigídas e seguindo as tendências da adaptação ao adversário - e o jogo do Japão deve ser escrotinado ao mais infímo pormenor - "não somos muito grandes por isso nos alinhamentos contamos com a velocidade do salto.", dizem para explicar a adaptação do seu jogo às suas características e caoacidades. Porque a verdade é esta: pelo que se viu e embora se deva reconhecer que as equipas tiveram meses de preparação, Portugal não tem de momento condições de se bater vitoriosamente com nenhuma das vinte equipas presentes - embora quatro delas sejam do "nosso" campeonato. Razões? Acima de tudo a falta de competitividade interna que não nos deixa aproximar da intensidade necessária ao nível internacional. Esquecidos da lição de Séneca de há vinte séculos de que "um atleta não pode chegar à competição muito motivado, se nunca foi posto à prova" ou, como escreveu Duarte Pacheco Pereira à volta de mil e quinhentos, de que "a experiência é a madre das cousas, nos desengana e de todas as dúvidas nos tira", temo-nos afastado das exigências que a competição internacional impõe.
A intensidade dos jogos deste mundial tem sido enorme - a média das ultrapassagens das linhas de vantagem é de 60%, com uma média de 95 placagens e 3 ensaios por equipa e por jogo (as equipas do Tiers 2 - nossos adversários - ultrapassaram a LV em 55% da suas posses de bola, marcaram 1,4 ensaios por jogo e placaram eficazmente uma média de 94 vezes enquanto que Portugal, nos quatro jogos do último Europeu, não atingiu mais do que 40% de ultrapassagens da linha de vantagem, placando 88 vezes em média e por jogo e marcando 1 ensaio por cada jogo. Resultados obtidos sem que, ao contrário dos mundialistas, houvesse qualquer confronto com o Tiers 1).
O treinador All Black campeão mundial, Graham Henry, ensinou que o jogo de rugby era uma corrida pela linha de vantagem. E, porque assim é, o que vimos foi a rapidez de ataque à bola - os passes eram recebidos na linha da conquista apesar da subida das defesas (o rugby é também uma corrida de estafetas para que a conquista de terreno seja eficaz) a obrigarem os atacantes a jogar (e passar) na cara do placador - o que exige treino adequado na preparação e nas experiências competitivas. Ou seja, hábitos que só a competição possibilita.
Apesar da velocidade com que as acções eram realizadas, a convergência - o movimento da bola "comanda" o movimento dos jogadores - foi, ainda assim, possível. Ou seja: embora mais difícil por mais rápida, a capacidade colectiva de leitura da defesa e imediata adaptação, bem como a focagem no portador e seu movimento, permitiu convergências sobre o portador da bola e garantiu rápidas recepções ou "breakdowns" a não deixar a defesa reorganizar-se. E, quantas vezes, permitindo a manutenção da vida da bola - passes em carga, passes antes do contacto, passes antes de chegar ao chão ou, até "chestings" - mantendo a continuidade da sua circulação, garantindo a dificuldade de reorganização defensiva e, portanto, explorando os desequilíbrios conseguidos. Em sequências entusiasmantes a mostrar a beleza deste nosso jogo.
Mas para que este tipo de jogo -  de movimento que diversas equipas mostraram ser capazes de utilizar - seja bem sucedido, torna-se absolutamente necessário a disposição dos jogadores para "jogar sem bola". E essa preocupação foi constante dando-nos, a nós espectadores, a possibilidade divertida de ver movimento colectivo em cada jogada com o aparecimento em tempo útil de jogadores disponíveis. As equipas, sem excepção, mostraram, à saída dos balneários, que traziam um plano de acção elaborado e treinado para explorar com os seus pontos fortes, os pontos fracos adversários. Mas não um plano limitador ou castrador da assumpção de riscos e sim uma aposta no uso da bola para chegar ao objectivo ensaio. O que transformou o jogo e explica muito da qualidade do nível atingido. 
Neste fim-de-semana, num quase sessões contínuas, um tira-teimas Norte-Sul. Emocionante!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

BENÇÃO DOS DEUSES


O ensaio georgiano de Mamuka Gorgodze
Uma benção dos deuses para quem teve a possibilidade de assistir em Brighton à histórica vitória do Japão. Ganhar à África do Sul - actual 3ª classificada do ranking da World Rugby e bi-campeã mundial - é um feito inesquecível. Imagine-se como o recordarão os jogadores de Eddie Jones nos tempos futuros, a reverem, uma, duas, muitas vezes, o filme que as suas memórias guardarão. O sonho de uma vida de atleta, a demonstração da capacidade colectiva de uma equipa construída para garantir um todo superior à soma das partes.
Que parte teve nesta vitória o encontro de Jones com Guardiola quando quis perceber melhor as bases de uma circulação colectiva da bola que detectou como exemplar no Barcelona e no Bayern e que constituíram - como recordou na entrevista do final do jogo - os fundamentos da vitória, ainda são mistérios da mistura química conseguida. Mas não foi um acaso: foi construída durante meses até chegar ao nível de confiança que permitiu ao capitão Michael Leitch prescindir, por duas vezes nos momentos finais, da certeza de um empate para ir procurar a vitória. Os deuses sorriram pela crença e fizeram-lhe a vontade: ensaio e vitória no último minuto. Um resultado inesquecível a afirmar um momento histórico na memória dos Mundiais. E a reconhecer definitivamente Eddie Jones, novo responsável dos Stormers sul-africanos, como treinador de excelência - sem esquecer a participação do francês Del Maso, heterodoxo responsável pela área da formação ordenada.
Os Brave Blossoms - nome de guerra do quinze japonês - venceram porque pressionaram de tal maneira que obrigaram os sul-africanos a cometer faltas a mais e em zonas "proibidas" - 12 com 5 transformadas - e souberam utilizar os seus 48% de posse de bola de forma mais interessante, ultrapassando 95 vezes a Linha de Vantagem, e conseguindo, numa bem estudada capacidade de movimento, garantir a continuidade que lhes permitiu 3 ensaios. Foram ainda capazes de desdobramentos defensivos eficazes - 128 placagens correspondentes a 83% de eficácia. O que, não sendo uma marca espectacular, criou a pressão necessária para expôr os erros e fraquezas sul-africanas - a que não terá sido alheia a veterania de alguns dos seus jogadores. A inesperada derrota da África do Sul ainda lhes permitiu 2 pontos de bónus - 4 ensaios marcados e derrota por menos de 8 pontos de diferença - diminuindo-lhes assim a desvantagem da derrota e mantendo aberta a hipótese de acesso aos quartos-de-final.
Apesar da vitória japonesa ter tirado dos cabeçalhos dos jornais a excelente vitória da Geórgia (16º do ranking com 69,36 pontos) sobre o Tonga (11º com 75,69 pontos), o feito dos Lelos foi de categoria. Conseguido com uma coragem e entreajuda notáveis - 201 placagens a atingir 93% de eficácia e a impor-se aos 72% de posse de bola de Tonga - a que juntaram uma movimentação sem descanso comandados por um incansável Gorgodze - 1 ensaio e 27 placagens - os georgianos conseguiram a sua melhor vitória de sempre. Tão importante que, no mínimo, lhes pode garantir, com o terceiro lugar do Grupo, o acesso directo ao próximo Mundial e facilitar - como maneira de dizer - a vida à Selecção portuguesa que ficará sem um adversário de peso no caminho para o Japão 2019.
Mas o jogo deste início do Mundial de Inglaterra 2015 foi o Nova Zelândia-Argentina. Que jogo! Que intensidade! Que movimento! Cada uma das equipas ultrapassou a Linha de Vantagem mais vezes do que a soma de duas equipas nos outros jogos - 161 vezes para os neozelandeses, 116 vezes para os argentinos. Uma constante movimentação da bola de ambas as equipas com a Argentina a mostrar, inicialmente, uma excelente defesa que se foi perdendo para acabar em 79% de eficácia num final do jogo em que se viu acantonada no seu próprio campo. Não faltou aos Pumas organização ou espírito de equipa a que juntou uma defesa invertida que impedia aos All-Blacks o acesso aos corredores laterais do terreno-de-jogo e que provocou o desconforto e nervosismo dos campeões do Mundo. Mas apesar dos amarelos de McCaw e Smith - jogando com 13 jogadores no final do 1º tempo conseguiram manter-se dentro do resultado - os all-blacks não se deixaram abater ou desunir. Passado que foi o intervalo e com as substituições adequadas - a entrada de SBWilliams foi decisiva - o jogo mudou de rumo mesmo se e como habitual, o sr. Barnes permitisse os fora-de-jogo argentinos sem usar o apito e, não fora algumas atrapalhações injustificadas, o resultado final demonstraria a diferença real entre as duas equipas. Se ambas as equipas demonstraram um muito bom domínio do jogo de movimento, utilizando eficazmente as bolas - relembre-se as ultrapassagens da Linha de Vantagem - possibilitando um excelente espectáculo de rugby visto por quase 90 mil espectadores - a maior assistência de sempre e onde estavam José Mourinho, Silvino e Vasco Lynce - o quarto final do jogo tornou-se numa demonstração das capacidade neozelandesas na utilização da bola, no jogo de passes, nas linhas de corrida convergentes, nos apoios a dificultar as decisões defensivas. O rugby no seu melhor: combate, movimento, continuidade, pressão, intensidade, risco, espírito de equipa. E os All-Blacks a levarem a melhor e a demonstrar porque são a melhor equipa do Mundo.
Na guerra que é, como acentua Daniel Carter, o jogo internacional de Rugby, pode fazer-se uma analogia com as Teorias do Conflito para explicar os resultados destes três jogos pelas estratégias utilizadas. No jogo entre a África do Sul, que parece unicamente capaz de utilizar a colisão, e o Japão, o jogo de movimento dos japoneses permitiu a vitória do considerado mais fraco - o mais fraco pode ganhar a batalha se souber opor uma forma diferente de combate, capaz de explorar debilidades do adversário; no Tonga-Geórgia, ao jogo mais aberto e movimentado de Tonga, opuseram os Lelos uma defesa directa de antes quebrar que torcer, onde o coração, a vontade, o espírito colectivo de uma irmandade, comandaram cada momento de olhos postos numa vitória final. Ao perturbarem os movimentos tonguenses, ao cortarem-lhes o espaço de manobra, os dados como mais fracos, venceram; no Nova Zelândia-Argentina, pelo contrário, o recurso a jogos do mesmo tipo e características - a aposta de ambas no jogo de movimento e evasão - resulta, por norma, na vitória do mais forte.
O JOGO DOS PALPITES
Estes palpites, feitos - como já referi - a partir da posição dos países no ranking mundial, servem, principalmente, para perceber quais os resultados que fogem à lógica esperada. Por aqui é possível hierarquizar o valor de eventuais surpresas.
JOGO                                                         previsão
Grupo B Escócia-Japão empate                          0
Grupo A Austrália-Fiji         Austrália ganha por 19
Grupo D França-Roménia França ganha por 30

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

MOVIMENTO OU COLISÃO?

Começa hoje, em Inglaterra, o Mundial 2015 com as vinte equipas melhor classificadas do ranking da World Rugby. A maratona de mês e meio é brutal e as equipas que chegarem às meias-finais terão demonstrado uma notável capacidade tanto competitiva como gestora dos meios humanos de que dispuseram. Ganhar a Taça do Mundo, ser campeão mundial, é - seja qual for a qualidade e interesse dos jogos - um feito memorável que obrigou os estados-maiores de cada equipa a pensarem, com meses de antecedência, em qual seria o melhor modelo de jogo para atingir os objectivos pretendidos: movimento ou colisão?
Duas maneiras de jogar aquele que é, provavelmente, o jogo desportivo mais colectivo que conhecemos - jogador sózinho conta pouco e tudo o que não resulta do trabalho colectivo tem pouca ou nenhuma hipótese de êxito. O que parece evidente num jogo que, por proibir passar a bola para a frente, é comparável a uma corrida de estafetas: se chegámos até aqui é daqui que temos que continuar - daí a importância estratégica da Linha de Vantagem.
Pode, aparentemente, jogar-se rugby de muitas maneiras mas, na realidade, são apenas dois os modelos que constituem a sua base de sustentação: o jogo de movimento com circulação de jogadores de acordo com o movimento da bola e que exige boa técnica, boa condição física e amplos conhecimentos tácticos ou o jogo de colisões, exigente na capacidade física mas menos preocupado com as questões técnicas ou tácticas - a força, o desafio físico directo somado a um jogo ao pé estrategicamente competente na ocupação do espaço, criam os desequilíbrios na defesa necessários à eficácia.
Por razões estéticas - no mínimo - e de formação, sou um adepto do jogo de movimento - e tive em Pierre Villepreux um professor de primeira água. Mas sei também que o jogo do movimento é o único modelo de jogo que pode permitir às equipas portuguesas a eficácia de resultados internacionais. Não só porque se adapta a uma habilidade técnica - se bem ensinados... - que os portugueses geralmente mostram como também permite a expressão de uma individualidade - se bem treinados na leitura de jogo - que também gostam de mostrar. Tem no entanto um problema: exige enorme disciplina (mais ainda se quisermos contar com a necessária expressão individual) focagem permanente e gestos precisos, aptidões que só se atingem com enorme quantidade de treino - as tais 10.000 horas de prática de que cada vez mais se fala?
Para que o jogo de movimento seja eficaz é necessário que a técnica de passe - todo o tipo de passes, incluindo os heterodoxos -  seja de grande eficácia, precisão e capaz de fazer o gesto no mínimo espaço e tempo, que exista capacidade de ler a movimentação da defesa, que se saiba manobrar superioridades numéricas, fixando adversários directos e que se saiba atacar intervalos e manter a bola viva. Seja por passes em carga (offloads) ou sendo capaz de manobrar, rodando e dando as costas, para entregar ao apoio profundo ou continuar se o defensor se desequilibrou. O importante no jogo de movimento - o seu factor de desequilíbrio - é a continuidade do movimento da bola á qual os jogadores, em permanente formação de apoio, devem aderir sem hesitações.
No jogo de colisão as qualidades técnicas são menos complexas - contacto directo pura e simples - e a capacidade de leitura menos exigente. No fundo é preciso garantir que o embate tem força suficiente para concentrar defensores e permitir a companheiros que conquistem o espaço e garantam uma bola rápida para servir novos derrubadores.
Em qualquer dos casos a disciplina colectiva é essencial - cada jogador tem um papel a desempenhar (embora diferente nos dois casos) que tem de ser realizado no momento oportuno - recorrendo a células que, de acordo com a relação de pontos fortes e fracos, actuarão nas zonas mais indicadas do campo.
É claro que o jogo de movimento exige um árbitro atento e muito focado nas linhas de fora-de-jogo - a recente vitória da Austrália sobre a Nova Zelândia só foi possível porque o árbitro Barnes deixou, durante toda a primeira parte, que a defesa australiana avançasse a destempo, cortando o tempo e o espaço necessários para a movimentação All-Black. 
E neste Mundial que equipas vão jogar um modelo ou outro? Os favoritos All-Blacks jogarão movimento com recurso ao jogo ao pé - rasteiro ou balão - a explorar a obrigatória subida do três-de-trás defensor. Provavelmente a Argentina o jogará também - será muito curioso ver como Hourcade terá preparado a sua defesa para o primeiro jogo com os neozelandeses. A Austrália também, assim como a Irlanda. A França será uma enorme incógnita: herdeira do french flair é hoje, com a peregrina ideia de jogar à sul-africana, uma pálida amostra do rugby empolgante que nos ofereceu. Mas pode ressuscitar... E claro, Fiji também será movimento. Samoa e Tonga dependerão da pressão adversária - sem espaço, luta directa; com espaço, jogo ao largo - na óbvia preocupação de um apuramento para o próximo Mundial.
Gales sem Halfpenny perde muito das suas possibilidades e o sistema Warrenball, se possibilitará o refúgio que protege a eventual e natural perda de confiança, também mostrará as suas limitações nos jogos decisivos de um Grupo A com três candidatos para dois lugares.
As outras equipas jogarão a segurança sem risco, da colisão. Mesmo as também candidatas África do Sul e Inglaterra assim farão, jogando na capacidade física dos seus jogadores, no poder de contacto, procurando a concentração forçada de defensores para lançar pontas rápidos e finalizadores ou garantir penalidades. Os sul-africanos, com uma equipa de enorme experiência, mostrar-se-ão mais eficazes neste sistema que os ingleses que, no entanto, poderão contar com o apoio do público que pode fazer maravilhas. E com o peso de uma comunicação social que não deixará de fustigar os seus adversários.
Para além da vitória final, a luta por um dos três primeiros lugares de cada grupo - que garante acesso directo ao próximo Mundial do Japão em 2020 - é outro dos motivos de interesse e que colocará muita atenção nos jogos das equipas menos importantes. Para nós portugueses também há motivos particulares de atenção: se a Geórgia conseguir o terceiro lugar do seu Grupo C - e o início, mesmo contra todas as previsões, com uma vitória sobre Tonga seria um passo de gigante para os seus objectivos - surgirá uma brecha na classificação europeia que pode ser aproveitada porque a sua posição classificativa no Europeu, deixaria de ter importância.

O jogo dos palpites

Que resultados serão possíveis neste fim-de-semana? A quem favorecerá o factor WC? De uma forma adequada ás suas posições no ranking, os resultados - vencedores e diferença de pontos - poderão, numa lógica quase cartesiana e sem atenção aos diversos imponderáveis - até climáticos - que podem marcar qualquer dos jogos, aproximar-se destes palpites.

Grupo A Inglaterra-Fiji, Inglaterra ganha por 22 pontos
Grupo C Tonga-Geórgia, Tonga ganha por 13 pontos
Grupo D Irlanda-Canadá , Irlanda ganha por 38 pontos
Grupo B África do Sul-Japão, África do Sul ganha por 26 pontos
Grupo D França-Itália, França ganha por  21 pontos
Grupo B Samoa-USA, Samoa ganha por 10 pontos
Grupo A Gales-Uruguay, Gales ganha por 56 pontos
Grupo C Nova Zelandia-Argentina, Nova Zelandia ganha por 29 pontos

Palpites que, neste início de campeonato onde as referências são ainda reduzidas, nem apostas chegam a ser.



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