segunda-feira, 30 de abril de 2018

A PORRADA COLECTIVA E A LEI DA VIOLÊNCIA

Os malefícios para o Rugby português estão feitos. O jogo da meia-final do CN1 foi uma vergonha com duas cenas de pancadaria colectiva entre jogadores e com um final de batalha campal entre espectadores.
A este propósito a Federação Portuguesa de Rugby emitiu um comunicado, informando que irá proceder à realização de queixa-crime às autoridades judiciais e aos necessários inquéritos disciplinares para determinação dos intervenientes dos factos, acrescentado no seu ponto 3 a determinação de:
3 - Suspender, com efeitos imediatos e sem prazo, o CN1, até que (i) sejam concluídas todas as diligências de natureza disciplinar iniciadas em função da participação referida em 2, e (ii) a Direção da FPR considere estarem reunidas as condições de segurança e integridade moral e organizacional para ser retomada a competição.

Se os acontecimentos não permitiam outra posição que não a tomada, acresce que a questão da suspensão do CN1 - o campeonato da principal divisão do Rugby português - insere-se, no meu ponto de vista e pelo que presenciei, num outro padrão - no domínio da Lei 30/2009 de 30 de Julho, COMBATE À VIOLÊNCIA, AO RACISMO, À XENOFOBIA E À INTOLERÂNCIA NOS ESPECTÁCULOS DESPORTIVOS.

O que se passou no campo, neste jogo Agronomia-Direito, foram cenas de violência com agressões que puseram em causa a integridade física de jogadores (parece - não vi porque foi fora do meu campo de visão - que o árbitro terá andado pelo chão) que não podem ter lugar nos campos desportivos e como tal devem ser tratadas. Para que não haja qualquer hipótese de repetição. Assim não serão os Regulamentos federativos que devem balizar a decisão interventiva mas a referida Lei e que foi feita para evitar casos destes.

Esta Lei 30/2009 na alínea a) do ponto 1 do seu artigo 46º, estabelece:

"Artigo 46º, Sanções disciplinares por actos de violência
1 - A prática de atos de violência é punida, conforme a respetiva gravidade, com as seguintes sanções:
a) Interdição do recinto desportivo, e, bem assim, a perda dos efeitos desportivos dos resultados das competições desportivas, nomeadamente os títulos e os apuramentos, que estejam relacionados com os atos que foram praticados e, ainda, a perda total ou parcial, de pontos nas classificações desportivas."
Ou seja, a Lei estabelece que a prática da violência pode ter como sanção "a perda dos efeitos desportivos dos resultados das competições desportivas, nomeadamente os títulos e os apuramentos" - anota-se: os apuramentos, o que engloba a situação em causa.
Sendo os acidentes considerados pela própria Federação como "os mais graves numa série de incidentes verificados desde a primeira jornada da presente época desportiva" - num reconhecimento implícito que a mera apregoação de valores não os torna de aplicação efectiva ou real - a aplicação desta Lei 30/2009 parece-me justificada e necessária. Porque permite uma intervenção sancionatória adequada à realidade dos factos - violência expressa por jogadores e por espectadores.
O Rugby português, face à repercussão dos incidentes verificados, só pode ser reabilitado com sanções exemplares. Sanções que mostrem a exemplaridade do procedimento, demonstrando uma nítida vontade de não pactuar com situações à revelia do espírito e ética desportivos e que possam servir de exemplo, impedindo a sua repetição. Assim e para que o Rugby, deixado nas ruas da amargura pela irresponsabilidade e violência dos comportamentos verificados, possa de novo mostrar-se como sendo "um jogo de cavalheiros de qualquer classe mas nunca para maus desportistas, sejam de que classe forem" como definia o reverendo WJ Casey em 1894, veria com bons olhos a seguinte sequência de sanções como resultado do procedimento disciplinar:    
  • anulação dos efeitos desportivos do resultado do jogo - aplicação do artº 46º da Lei 39/2009 com a consequente anulação do jogo da Final;
  • penalização dos dois clubes intervenientes com a retirada de 10 pontos de classificação no campeonato - aplicação da mesma Lei 39/2009 com proposta do Conselho de Disciplina, de acordo com o Artº 55º do Regulamento de Competições para factos omissos, de perda - no campeonato em disputa ou no campeonato a disputar - de 10 pontos de classificação para cada um dos clubes envolvidos;
  • penalização individual dos jogadores envolvidos nas cenas de pancadaria com graduação diferenciada de acordo com a perigosidade das acções e correspondente risco da integridade física dos adversários.
Como complemento a estas sanções e em relação às cenas de violência entre espectadores, dever-se-ia:
  • interditar o campo de Agronomia para a sua equipa sénior por tempo conforme com a gravidade dos acontecimentos - para determinar o tempo de interdição efectivo deveriam ser consultados os regulamentos disciplinares de outras federações desportivas;
Com estas sanções determinadas, o exemplo estava dado e as repetições futuras, pelo custo demonstrado, teriam menor espaço de manobra.
O porquê destas coisas acontecerem reside no acumular do laxismo com o deixa andar de maus exemplos, como a falta de intervenção e prevenção das entidades competentes, por ignorância do sistema desportivo nacional, pela propaganda que cega a realidade e pretende fazer passar por virtude aquilo que deve ser a normalidade e, principalmente, pela presunção que a modalidade, só por se chamar Rugby, garante um corpo de boa educação. E acontecem também porque não há adaptação de Regulamentos adequada aos Princípios e Regras Desportivas e ao andar dos tempos.
Exemplos dessa adaptação passariam pela introdução de alterações como: 
  • acabar com a regra do "tempo dos postes às costas" que permite recorrer a qualquer pessoa para arbitrar um jogo. No nível competitivo só se devem poder realizar-se jogos com árbitros oficiais - não há árbitro oficial, não há jogo! 
  • adaptar os castigos propostos no actual Regulamento disciplinar ao nível internacional - um castigo por agressão deve ter, no mínimo, uma dimensão temporal que ponha em causa o lugar do prevaricador na sua equipa; 
  • que seja claro que a este tipo de jogos se aplica o ponto 2 do artº 12º, Qualificação dos espectáculos, da mesma Lei 30/2009 sendo portanto considerados de risco elevado e obrigados às correspondentes medidas de segurança, nomeadamente à definição formal de um coordenador de segurança. 

Uma coisa é certa: aquilo que se passou no jogo Agronomia-Direito é reconhecido como muito grave e não pode ter como tradução penal um quadro de castigozitos na salvaguarda de conceitos que não podem ser atendidos numa modalidade desportiva federada e considerada de Utilidade Pública. O legado de muitos e a história da modalidade exigem a salvaguarda dos valores em que dizemos acreditar.

UM REGALO AZUL

De uma outra conversa foi do que se tratou no jogo do Restelo da segunda meia-final do play-off do Campeonato Nacional da 1ª divisão. Impecável e implicado o comportamento dos jogadores e espectadores que se mostraram apenas focados na construção do jogo numa demonstração do que deve ser a competição desportiva.
Para uma boa qualidade de jogo - para o que também contribuiu e em muito o voluntário árbitro, o neozelandês Kane Hancy (uma boa hipótese para apitar a ainda hipotética final) - com rápida vantagem para os azuis de João Mirra que mostraram uma enorme qualidade: sabem jogar rugby! 
O jogou terminou com a vitória azul por 37-10, conseguida com a marcação de 5 ensaios - o segundo ensaio valeu a ida num tratado de ataque à linha defensiva com fixação pela linha de corrida inicial e mudança súbita de ângulo de corrida para receber a bola, no tempo preciso, “na linha” e no meio de um intervalo sem possibilidade de recuperação defensiva. O ensaio - numa excelente demonstração de manobra evasiva - foi tão bom que merecia ecrãs no campo para garantir a repetição...
O mais impressionante desta equipa do Belenenses é a sua demonstração de cultura táctica individual e colectiva. Cada jogador, cada sector, sabe o que deve fazer, adaptando-se muito bem ao que tem na sua frente, permitindo assim a sintonia entre o individual e o colectivo que garante a coesão necessária ao sucesso da equipa. O ataque à Linha de Vantagem é sempre muito bem feito quer estejam em defesa quer em ataque, com subidas rápidas a dominar o espaço e a criar problemas ao adversário pela fixação que criam nos defensores e pela redução do tempo de acção - a que acrescem boas placagens - que impõem aos atacantes. Ou seja, a equipa belenense está ali para se impôr, para dominar os tempos, para ocupar o espaço e para usar ou recuperar a bola. Bonito de ver - há que tempos que não via uma equipa a jogar assim... - a que podemos ainda juntar a inteligência táctica do seu jogo-ao-pé: as bolas eram chutadas para o espaço vazio de forma a obrigarem os defensores a movimentarem-se, impedindo-os de receber a bola no conforto dos braços abertos. E as hipóteses de recuperação da bola ou da conquista de terreno a aumentarem... Excelente demonstração da qualidade de treino da equipa técnica comandada por João Mirra que conseguiu transmitir em acções de jogo a aplicação dos Princípios Fundamentais do Jogo: Avançar sempre! Apoio, Continuidade e Pressão. 
Um regalo para os olhos e para a cabeça.
O Cascais fez o que pôde, mostrando no entanto encontrar-se furos abaixo do adversário como é demonstrado pela diferença de 4-1 em ensaios. No entanto e apesar de já se encontrar a perder por 21 pontos de diferença, a equipa, numa bela atitude competitiva, mostrou-se com outra disposição depois do intervalo, ocupando a área de 22 adversária durante os dez primeiros minutos da 2ª parte e mostrando vontade de virar as coisas. Mas a sua incapacidade finalizadora nascida de erros na tomada de decisão não lhe acrescentou quaisquer pontos... e num ápice, o Belenenses marcava de novo, mostrando a sua excelente capacidade reorganizativa para jogar sobre bolas recuperadas. Domínio, mais uma vez, dos parâmetros da cultura táctica.
Com esta demonstração o Belenenses encontra-se na Final pelo mérito da sua capacidade de saber jogar e de traduzir em pontos esse conhecimento. Como deve ser, aliás, na competição desportiva.
E agora? Vai haver Final? Saltando barreiras - a cada novo vídeo que surge mais vergonhosa é a situação - sobre a vergonha de ontem?
Qual vai ser a posição federativa? A de anular o jogo, castigando jogadores e repetindo-o em campo neutro ou a de considerar que o jogo ultrapassou os limites do irrazoável, sendo retirado do mapa com atribuição do título ao Belenenses?
Ou tudo, num costume muito próprio, se esconde debaixo do tapete, tapando-se os olhos como se nada tivesse acontecido, buscando desculpas esfarrapadas e realizando-se a Final como se nada fosse?... 
...mas marcando o rugby português definitivamente com o ferrete da indecência. 
A situação é tão grave que urge uma decisão...
... porque estando os males feitos e o rugby português desacreditado, só uma intervenção firme que coloque os pontos nos is da ética desportiva servirá para restabelecer o padrão da imagem da decência. 
Facto, facto é este: o Belenenses, o seu rugby, a sua capacidade de construir jogo e mostrar como deve ser jogado, merecia outro processo. A sua postura competitiva exigia uma final com a dignidade de acesso dos dois adversários. E não o pecado desta.

sábado, 28 de abril de 2018

TANTO TRABALHO PARA NADA!

Uma vergonha! Duas equipas recheadas de jogadores internacionais começaram e acabaram o jogo das meias-finais do Campeonato Nacional 2017/2018 da divisão principal da modalidade da mesma forma: numa algazarra de pancadaria colectiva.
Costuma dizer-se que o que começa mal, tarde ou nunca se endireita. O rugby português começou, ultimamente mal e tende a não se endireitar mais. E de nada vale dizer que se faz isto ou aquilo que se lança este ou aquele programa que irá desenvolver a modalidade e o seu futuro no que - na realidade - não passa de cortina de fumo feita areia para os olhos que só engana quem se quer deixar enganar. Se o nível superior da modalidade - o mais importante e o mais visível - não funciona - joga-se pouco e comporta-se mal numa doce, pretensiosa e, muitas vezes, propagandística aparência de importância desportiva - nada funciona! O topo da modalidade é o espelho da sua realidade, o resto vem por acréscimo. E como resultado dos factos, o rugby português vai de mal a pior!
Interrompeu-se a sequência do campeonato - a última jornada da fase regular realizou-se em 17 de Março p.p. - para um intervalo sem nexo disfarçado nas culpas de outros. O pouco ritmo foi-se, as cabeças desfocaram-se dos aspectos técnicos e tácticos e o jogo colocou-se no patamar do passatempo, incapaz de se adequar à natural pressão de jogos de bota-fora. E assim, perdidos no rumo e sem nexo sequencial, os actores - que deveriam ser os primeiros interessados na boa imagem da sua presença - não encontraram melhor solução do que pegarem-se à porrada. Porrada pegada entre eles dentro do campo e porrada pegada entre espectadores, fora do campo. Violência gratuita e inadmissível de um lado e outro das linhas. Violência que não é compatível quer com o sentimento de pertença quer com a ética desportiva.
E agora a pergunta que se impõe: alguém vai exigir responsabilidades pela degradação da imagem da modalidade ou - como de outras vezes - os responsáveis pelas modalidades e pelos clubes vão varrer tudo para debaixo do tapete da indiferença? Com a vergonhosa desculpa que, não se sabendo, também não haverá a perturbação das consequências.
Uma vergonha para continuar vergonhosa?
E, para espanto dos espantos, o jogo não teve árbitro oficial a dirigi-lo - teve um voluntário que, aliás, fez o que pode naquele mar de desajudas dos actores - teve assistentes não treinados para a função e não teve outro remédio que não fosse - numa acertadíssima decisão - acabar com o jogo para impedir a continuação do malhanço.

O que se passou neste jogo das meias-finais do principal campeonato da modalidade não é mais do que o reflexo da desorganização, indisciplina e desconhecimento que o rugby português demonstra. Não querendo perceber o sistema que a irresponsabilidade criou, não faltarão acusações desculpabilizadoras. Que aliás, de nada valerão. Porque é o sistema que tem de ser mudado com base no reconhecimento que o Desporto se rege por Princípios - e o Rugby por Valores - e que neste campo não pode haver qualquer tipo de cedências.

Se queremos transformar alguma coisa, reaproximando-nos dos valores significantes do espírito desportivo e do carácter da modalidade, se queremos que aquilo a que chamámos Rugby seja mais do que Rugby e seja realmente o nosso jogo, envolvendo uma comunidade que, valorizada pelo espírito desportivo, tenha os comportamentos éticos adequados a uma competição desportiva que se pretende - embora dura - leal, íntegra, solidária, disciplinada, comprometida e que envolva o respeito por uns e outros, devemos alterar o actual sistema. Quanto antes!
O jogo não valeu nada - uma equipa passou duas vezes a Linha de Vantagem, a outra nem isso. E o resultado traduziu aquilo que se conhece da fase regular da duas equipas: uma equipa a fazer faltas atrás das outras, a outra equipa, incapaz de bater as defesas adversárias, a construir o resultado, como habitualmente, na transformação de penalidades.
O jogo de hoje - uma meia-final do campeonato principal da modalidade, repete-se - ao violar os valores com que gostámos de encher a boca, demonstra o estado real a que chegou a modalidade. 
Uma vergonha! e apenas uma enorme tristeza traduz o que me vai no espírito: tanto trabalho para nada! 
Tanto trabalho de tanta gente durante muito tempo deitado fora numa leviandade que ignora regras, comportamentos e responsabilidades. A realidade é esta: o nosso jogo está nas ruas da amargura!

sexta-feira, 27 de abril de 2018

QUEM VAI À FINAL?

Mais de um mês depois de ter terminado a fase regular do Campeonato principal, vai jogar-se amanhã o play-off que apurará as duas equipas que disputarão a final, portanto o título de Campeão de Portugal de 2017/2018.
Se a esta distância as qualidades demonstradas durante a fase regular forem ainda reais, o favoritismo para a passagem à Final - dir-se-ia, face aos indicadores apresentados (ver gráficos abaixo), quase total - pertence aos seus dois primeiros classificados, Agronomia e Belenenses. E isto é assim porque, apesar de ter sido o mais equilibrado campeonato dos últimos anos, existe uma diferença marcada entre as duas primeiras equipas e as restantes. Como se pode ver pela pontuação: Agronomia obteve 36 pontos de classificação, Belenenses 35 pontos, Cascais 20 pontos e Direito 18 pontos.
Passado um mês, estes jogos do play-off vão ser, por isso, mais marcados pela capacidade que tiverem as equipas de superar todo este tempo de treinos e sem jogos significativos do que pela herança da época que transportam. O que pode transformar alguma coisa. Mas são da Fase Regular e não do tempo não competitivo que existem dados e são estes, divididos em jogos em casa e jogos fora para adaptar à situação com que as equipas se confrontarão, que utilizarei.
No primeiro jogo, a jogar na Tapada, que opõe Agronomia (1º classificado) e Direito (4º classificado),   as diferenças da capacidade competitiva entre ambas as equipas para a situação de jogos em casa e jogos fora como agora acontecerá, são da ordem dos 62% de vantagem para os agrónomos.

Como se pode ver pelo gráfico, Agronomia conta por vitórias todos os jogos realizados na Tapada com uma Quota de Pontos que demonstra uma boa vantagem nos resultados conseguidos e, ainda que, na relação entre os pontos conseguidos e os pontos possíveis (92%) uma importante capacidade de marcação de ensaios (24 em cinco jogos) para atingir o patamar dos pontos de bónus. Quanto a Direito, que só obteve uma vitória fora de casa (contra o Cascais na penúltima jornada), a Quota de Pontos e a % de Pontos de Classificação mostra as dificuldades que sentiu sempre que teve que sair do conforto de Monsanto.
Por estes dados, Agronomia é o favorito incontestado. Veremos a influência que a falta de competição e o tempo passado (Direito parece ter recuperado os seus jogadores lesionados...) terá em cada uma das equipas. A que se deve acrescentar a experiência em jogos decisivos que, neste caso, funciona em favor de Direito - como aliás se viu no final da Fase e na procura de apuramento.
No jogo de domingo entre o Belenenses (2º classificado) e Cascais (3º classificado) a diferença da Capacidade Competitiva mostrada, no mesmo critério de jogos em casa e fora, é favorável aos azuis por 69%.
O Belenenses contou,em casa, por vitórias os jogos disputados mas com alguns resultados mais apertados, marcando 18 ensaios para 1 ponto de bónus mas sofrendo 13 ensaios numa demonstração de defesa vulnerável. O Cascais, por seu lado, não conseguiu qualquer vitória fora de casa, denunciando algum desconforto nas suas deslocações que, com 14 ensaios sofridos,  mostraram algumas incapacidades defensivas mas que, mesmo assim, lhes permitiu conquistar 2 pontos de bónus defensivos.
Se aqui também se põe a questão de saber da influência do demasiado longo tempo de paragem na capacidade competitiva das duas equipas, o favoritismo para presença na final está, no entanto, do lado do Belenenses.
Portanto e de acordo com os dados provenientes da Fase Regular, uma final inédita (?) Agronomia-Belenenses em perspectiva.
Mas faltam 80 minutos de jogo que podem, pela atitude, melhor adaptação às circunstâncias, melhor exploração de oportunidades ou maior controlo, tudo transformar e levar outras equipas à Final. Num play-off não há vencedores antecipados e a capacidade competitiva de cada equipa irá ser posta à prova de uma maneira decisiva. O passado conta menos, a coesão de cada equipa conta mais e o futuro, aberto às melhores iniciativas e atitudes, desenha-se no quadro branco do jogo apenas limitado às Leis que o controlam. 
Que sejam bons jogos.    

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A IMPORTÂNCIA DO USO DA BOLA

Numa competição de nível mais elevado - 1/2 final da Taça dos Campeões - do que a anteriormente apresentada - jornada da Pro 14 entre o Edinburgh e o Scarlets - em jogo realizado em Bordéus, o Racing 92 venceu os irlandeses do Munster por 27-22 mas com bastante menor tempo de posse de bola (31% contra 69%) ou de ocupação territorial (23% contra 77%) embora com o mesmo número (3) de ensaios marcados mas, ao contrário do exemplo anterior, com menos metros conquistados (321 contra 431).
As diferenças na prestação de uma e de outra equipa são substanciais - vantagem dos irlandeses na ocupação territorial de 54% e de 38% de tempo de posse de bola. E, face a estes dados e de imediato, surge a pergunta: como desperdiçaram os irlandeses tanta vantagem?
No gráfico baixo poderemos começar a construir a ideia do que se passou.
Se houve equivalência na perfurações da defesa - a igualdade de ensaios marcados resulta disso - já a ultrapassagem da Linha de Vantagem dá uma superioridade de mais do dobro para os irlandeses. E se a isso juntarmos a vantagem dos rucks conquistados (também mais do dobro) temos que concluir que, para além da excelente defesa francesa, os irlandeses cometeram muitos erros. Erros irlandeses que foram determinados pela bem organizada pressão defensiva - um misto de rush com scramble que procurava impedir a circulação exterior, favorecendo a concentração defensiva nos dois primeiros canais - que levou a muitos erros não forçados com perdas de bola injustificáveis.
O gráfico das placagens dá uma ideia do bom comportamento defensivo francês, nomeadamente na multiplicação defensiva onde o já descrito tipo de defesa empregue garantiu a facilidade, pela proximidade, do apoio defensivo. 
Não havendo vantagem do Racing 92 de metros conquistados em posse da bola - bem pelo contrário - qual vai ser o factor que  decidirá da vitória? Se olharmos para o gráfico abaixo que representa os indicadores que normalmente uso para determinar a eficácia da capacidade das equipas, poderemos ver que ao maior Aproveitamento do Munster - relação das ultrapassagens da Linha de Vantagem com bolas disponíveis - corresponde uma menor Eficácia  - relação entre o número de ensaios e bolas disponíveis - e uma menor capacidade de jogar Dentro da Defesa - definida pela relação do número de ensaios marcados com o número de ultrapassagens da Linha de Vantagem.  
Ora estes valores demonstram claramente as dificuldades do Munster em ultrapassar a bem organizada defesa do Racing 92 - os últimos minutos da partida foram de notável esforço francês para garantir a vitória - num visível desperdício do enorme volume de bolas disponíveis (162 contra 76).
Pode também perguntar-se: como conseguiram os franceses do Racing 92 com diminuta posse de bola e pouca ocupação territorial marcar 3 ensaios e ganhar o jogo? Antes do mais porque tiveram um rendimento superior, poderia ser a resposta como mostra o gráfico seguinte. Mas os 3 ensaios marcados no 1º quarto do jogo - praticamente em 15 minutos - tem uma explicação, uma preparação táctica e um treino baseados na observação da forma defensiva irlandesa habitual.
De facto a equipa técnica francesa, disseram, reparou que a defesa irlandesa, sendo muito forte no canal central, mostrava dificuldades na sua zona exterior. E se assim o perceberam melhor as ampliaram: apostados em colocar-se em vantagem o mais cedo possível - de facto a sua entrada em jogo foi muito forte - a equipa francesa procurou atacar a defesa irlandesa no seu centro - fazendo numa sequência de duas acções - reduzindo e encurtando a linha defensiva e circulando posterior e rapidamente para o espaço exterior onde apenas haveria cobertura de recurso numa mais difícil (re)organização em movimento. E Teddy Thomas entrou por três vezes na área de ensaio...
O sistema francês provocou falhas defensivas e de placagem nas linhas irlandesas e mostrou-se altamente eficaz. Quanto aos irlandeses, terão seguido em demasia a procura de destroçar a defesa francesa no canal 1, obrigando apenas os franceses a uma boa atitude defensiva mas sem grandes preocupações de decisão reorganizativa. Ou seja: a eficácia - pela surpresa - de um lado, o desperdício - pela incapacidade de surpreender - do outro. 
CONCLUSÃO
A quantidade de posse da bola pouco importa se não há eficácia - adaptando-se ao adversário e ao seu posicionamento - com oposição do forte sobre o fraco. Os franceses apostaram na exploração de uma detectada fraqueza irlandesa enquanto que os irlandeses, pelo contrário, mantiveram-se na sua zona de conforto atacante e facilitaram a vida aos defensores que estavam, naturalmente, preparados para o mais que conhecido jogo de passes em pequeno perímetro dos avançados irlandeses.
Uma boa demonstração de um bom princípio: o uso da bola adaptado às forças e fraquezas do adversário, constituindo uma táctica colectiva de exploração de oportunidades que se apresentam na relação ataque/defesa, vale bem mais do que o tempo de posse de bola ou de ocupação de terreno.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

BOLA, TERRITÓRIO E EFICÁCIA

Volta não volta retorna a ideia da importância, quase absoluta, da posse da bola. Aliás e numa eventual influência dos Sevens, chega a dar-se mais importância à posse da bola do que à posição e domínio territorial - o que não deixa de ser curioso num jogo em que a bola não pode ser passada para a frente e que o ensaio obriga a colocar a bola lá ao fundo, na Área de Ensaio adversária 
Mas os factos, através das estatísticas, demonstram que se pode ganhar um jogo com alguma facilidade sem ter superioridade quer em termos de posse da bola quer em termos territoriais. Ou seja: o que importa para vencer é a qualidade do uso da bola.
Num jogo recente do PRO14 britânico entre os escoceses do Edinburgh e os galeses do Scarlets, disputado em Murrayfield e que os escoceses venceram por 52-14 - com Quota de Pontos Marcados de 79% - marcando 8 ensaios e sofrendo 2, a relação da Posse da Bola e da Ocupação Territorial foi sempre favorável aos derrotados. 
Sendo uma vitória muito folgada, valerá a pena analisar estatisticamente o jogo para se perceber que a posse da bola não é tudo e que, embora necessária, não é o suficiente.
Como se pode ver no gráfico seguinte, os escoceses tiveram menos Posse de Bola e menor Ocupação do Território - diferença de 14% no tempo de posse da bola e de 22% na ocupação territorial - e no entanto marcaram 8 ensaios. Ou seja: com menos bolas disponíveis foram muito mais eficazes que os galeses.
No gráfico que segue abaixo podemos ver os dados das Perfurações, da Ultrapassagem da Linha de Vantagem e do Número de Rucks de ambas as equipas. Os escoceses só conseguiram melhor resultado nas Perfurações - fizeram mais do dobro (19 contra 8) - do que os galeses que, no entanto, ultrapassaram mais vezes a Linha da Vantagem (56). 
Estes valores significam que o Scarlets, dispondo de mais bolas, teve mais possibilidades atacantes mas as suas ultrapassagens da Linha de Vantagem (56) terão sido sempre de curta distância como demonstra o número de Rucks (119) da sua responsabilidade e que se traduz no número de Perfurações conseguidas. Ou seja, a defesa escocesa mesmo se ultrapassada, terá sabido sempre reorganizar-se em tempo para evitar que o avanço galês se traduzisse em Perfurações - essas sim com o perigo de atingir a Área de Ensaio. O que obrigou os jogadores escoceses - com uma eficácia de 92% de placagens positivas efectuadas - a realizaram 60% das placagens contabilizadas na totalidade do jogo.

Aqui chegados, vejamos o que sabemos que possa justificar uma tão ampla vitória com menor posse de bola ou ocupação territorial:
  • a equipa do Edinburgh marcou 8 ensaios contra 2 do Scarlets;
  • a equipa do Edinburgh conseguiu um maior número de Perfurações (19) embora tendo ultrapassado metade das vezes a Linha de Vantagem (28) e teve, como seria de esperar pelo tempo de posse de bola conseguido, menos fases de jogo ao apresentar menos Rucks (75) da sua responsabilidade;
  • a equipa do Edinburgh necessitou de menos rucks (75 representando 72% das bolas disponíveis) do que os Scarlets (119 representando 88% das bolas disponíveis) para ultrapassar a defesa adversária.
  • a equipa do Edinburgh placou mais vezes (169 placagens efectivas) com 92% de sucesso; 
A grande diferença que vai impôr o resultado, sendo naturalmente consequente com o conjunto dos dados está no número de metros conquistados - gráfico ao lado - por uma e outras das equipas. Os jogadores do Edinburgh, com menor posse da bola como já se viu, conquistaram avanços no terreno (725 metros) de mais do dobro de metros do que os conseguidos pelos galeses (347 metros). O que mostra um melhor uso da posse de bola, melhor criação de superioridades numéricas com maior capacidade de perfuração, evitando placagens e evadindo adversários e tendo, portanto, menos colisões como mostra o menor número de rucks da sua responsabilidade. Uma nota a realçar é a excelente defesa dos escoceses que, como se pode verificar no gráfico abaixo da Análise da Capacidade, não permitiu que mais do que 4% das bolas galesas que ultrapassaram a Linha de Vantagem (e foram 41% do total das bolas disponíveis) atingissem a sua Área de Ensaio. Mas não se pode dizer que fosse a defesa a ganhar o jogo porque foi o ataque, ao marcar 8 ensaios e mostrando-se altamente eficaz com menor número de bolas de que dispôs, que o venceu.

Este gráfico da Análise da Capacidade que, de certa maneira define o que passou em campo ao mostrar a capacidade de lidar com os problemas, resulta dos dados estatísticos que costumo recolher durante os jogos - muito úteis pela facilidade de notação e pela qualidade da análise que permite - e que constam do número de bolas que uma equipa tem ao seu dispor e de quantas vezes ultrapassa a Linha de Vantagem definindo o valor dos indicadores que podem permitir interpretar o jogo e as suas consequências. Assim o indicador Aproveitamento, consistindo na relação percentual entre o número de vezes em que Linha de Vantagem é ultrapassada e o número de bolas disponíveis, estabelece o nível da capacidade de avançar no terreno ; a Eficácia é a relação percentual entre ensaios marcados e o número de bolas disponíveis; o Dentro da Defesa representa a relação percentual entre o número de ensaios e de ultrapassagens da Linha de Vantagem e define a capacidade de ruptura da defesa adversária. A estes valores pode ainda ser acrescentado a relação percentual entre o total do número de pontos marcados e o número de bolas disponíveis que indicará o Rendimento de cada equipa. 

No caso dos Scarlets a razão da sua ineficácia pode encontrar-se na incapacidade, como mostra o gráfico com 4% sobre 41% de Aproveitamento, do seu jogo entre-linhas, isto é de jogar dentro-da-defesa. Que terá corrido mal quer pela capacidade defensiva dos escoceses quer pela inépcia técnica ou táctica dos jogadores galeses ou, muito provavelmente - só visão do jogo pode determinar as verdadeiras causas - pela conjugação de ambos os factores.  
Conclusão 
Os dados estatísticos deste jogo entre duas equipas de bom nível, demonstram que quer a posse da bola quer o domínio territorial não são condição suficiente ou necessária para ganhar um jogo de rugby. Também é demonstrado que o conceito de que "são as defesas que ganham os jogos" deve ser substituído - mantendo a importância de saber defender eficazmente - por um outro: as defesas garantem as vitórias quando o ataque marca os pontos necessários. Neste jogo, os escoceses fizeram jus ao conceito, muito querido aliás de Graham Henry, de que o objectivo da posse da bola está na marcação de ensaios e mostraram a essência do jogo: o Rugby é um jogo de ataque.
Para que uma equipa se possa superiorizar a outra - ao adversário - o que  realmente importa e faz a diferença - e os dados deste jogo bem o demonstram - diz respeito à sua capacidade e eficácia na utilização da bola. Cada bola conquistada ou entregue pelo adversário deve, através do passe ou do jogo-ao-pé que permita a perseguição e com o necessário apoio dos outros companheiros, garantir a continuidade que possibilite ultrapassar a Linha de Vantagem para criar, com a superioridade numérica conseguida, dificuldades à defesa que não a deixem ser eficaz.

O Edinburgh, numa boa lição estratégica, ganhou o jogo porque foi mais eficaz a utilizar a bola e porque defendeu o suficiente para impedir qualquer tentativa de recuperação Para comprovar a demonstração estatística, bastará ver o jogo.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

LAVADAS AS MÃOS, LAVARÃO A CARA?

DECISION OF RUGBY EUROPE JUDICIAL COMMITEE
Chaired by Professor Lorne Crerar (Scotland), assisted by Mr Jean-Claude Legendre (France) and Mr Aliaksandr Danilevich (Belarus), the Independent Committee has convened the following players: Pierre Barthère, Mathieu Belie, Lucas Guillaume, Guillaume Rouet, Sébastien Rouet as well as the Spanish Rugby Union’s representatives (F.E.R).
After considering the charges against each player and the F.E.R., the Committee heard the arguments and evidences of all parties. 
After deliberations, the Judicial Committee has issued the following sanctions:
  • Guillaume ROUET (n°9): physical abuse of a Match Official and verbal abuse: 36 weeks
  • Sébastien ROUET (n°20): physical abuse of a Match Official and verbal abuse: 43 weeks
  • Pierre BARTHERE (n°6): threatening actions/words at a Match Official: 14 weeks
  • Lucas GUILLAUME (n°7): threatening actions/words at a Match Official: 14 weeks
  • Mathieu BELIE (n°10): threatening actions/words at a Match Official: 14 weeks 
These sanctions are applicable immediately for all players’ rugby activities (clubs and national teams).
Players have the right of appeal within 7 days of receipt of the written decision.
The misconduct complaint against the Spanish Rugby Union was suspended and a further hearing date will be set.
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Pronto! as mãos estão lavadas como se pode ver pela decisão acima transcrita do Comité Judicial da Rugby Europe... veremos se chegarão a lavar a cara.

Os castigos, a que falta ainda ultrapassar o tempo da realização do direito de recurso por parte dos jogadores espanhóis para serem efectivos, são muito duros. Até porque terão directa influência no emprego profissional dos jogadores - quem pagará três meses e meio de ordenados a jogadores com castigos deste teor? e dez meses e meio?!

No entanto - dados os antecedentes e as consequências - assiste-nos o direito de suspeita. E se esta dureza de castigos tiver como objectivo apoiar o facto da Roménia se encontrar em condições de apuramento directo? Isto é, que seja a Roménia a designada Europa 1 que abrirá o Mundial 2019 contra o Japão. Porque pode servir para isso se a dimensão da abertura da porta se fechar com esta decisão.

E porque é que pode ser um apoio para a Roménia? Porque esta mão pesada pode pretender demonstrar o seguinte: como se pode ver pela análise desta comissão independente, os jogadores espanhóis, como responsáveis por comportamento gravíssimo foram também os responsáveis por tudo o que se seguiu - má imagem, má imprensa, etc. - e que colocou o Rugby em maus lençóis. E como resulta desta demonstração, não fará então qualquer sentido analisar a actuação da Rugby Europe ou do árbitro que verão assim as suas acções lavadas na concepção do processo desde que a World Rugby também entenda não se intrometer e que lhe chega este resultado para garantir a boa imagem do Mundial... a não ser que se provem - quem as está a analisar? - as acusações de má inscrição de jogadores por parte da Bélgica, Rússia, Espanha e Roménia que qualificaria directamente a Alemanha para o Mundial e colocaria Portugal no confronto com Samoa. E lá se ia a boa imagem...

Aliás esta questão da possível má inscrição levanta outro tipo de questões uma vez que foi, finalmente, decidido que as selecções nacionais de Sub-20 não "capturariam" jogadores - isto é que jogadores utilizados em jogos oficiais numa selecção de Sub-20 não ficavam proibidos de jogar, de acordo com a REGULATION 8, ELIGIBILITY TO PLAY FOR NATIONAL REPRESENTATIVE TEAMS, por selecções de outros países (este esquema de "captura" era utilizado pelos "poderosos", nomeadamente pela França que já terá "caçado" três portugueses, para garantir o controlo de eventuais talentos). Mas essa boa norma foi imediatamente metida no carril dos interesses - só é considerada válida para jogos posteriores a 1 de Janeiro de 2018, com o argumento dos prejuízos (não existem para os jogadores!) que a retroactividade causaria. Enfim, o habitual num faz-de-conta de respeito pelo Direito.
Mas interessante de facto e pelo meio de tudo isto, seria o acesso ao relatório do árbitro romeno do Bélgica-Espanha. Para se saber a base da construção dos castigos...

terça-feira, 17 de abril de 2018

ACESSO AO WORLD TROPHY U20 E SISTEMA DE FORMAÇÃO


JPBessa, iPhone
Ao derrotar a Espanha na final do Rugby Europe Championship U20 por 25-3, a selecção de Portugal de Sub-20, classificou-se para o World Rugby U20 Trophy - o Mundial de nível 2 da categoria -  juntamente com Fiji, Samoa, Hong-Kong, Uruguai, Namíbia, Roménia (país organizador) e Estados Unidos ou Canadá, disputará do 9º ao 16º lugares mundiais.
Foi portanto um bom resultado - 90% de Quota de Pontos de Jogo - com consequências muito positivas - a experiência que a disputa deste Trophy irá permitir aos jogadores será muito importante para o seu desenvolvimento enquanto atletas de Alto Rendimento. 
Esta equipa comandada pelo Luis Piçarra conseguiu, até agora, o melhor resultado internacional do rugby português desta época que, aliás e pelos motivos óbvios, só pode ser suplantado pela vitória da selecção principal no jogo de barragem para a Rugby Europe Championship.
Portanto, bom resultado e uma boa alegria para jogadores, treinadores e adeptos. 
A Espanha entrou forte, parecia que iria criar muitas dificuldades a Portugal, mas… durou 10 minutos. Depois, Portugal tomou conta dos acontecimentos e estabeleceu o seu domínio nas mais diversas fases do jogo. E o resultado poderia ter atingido mais valor superior se houvesse, do lado português, chutadores-aos-postes capazes.
Tendo sido bom o resultado não devemos esquecer - as vitórias tendem a fazê-lo - o nível da qualidade da produção portuguesa. Que não foi elevada - o jogo correspondeu aquilo que era: segunda divisão europeia -  e que nos mostrou, mais uma vez e na sequência dos pontos fracos já detectados nas equipas nacionais principal e Sub-18, que é necessário, seguindo o conceito de Gates de que para melhorar alguma coisa deve procurar-se os meios que melhoram o sistema, rever e alterar o sistema de formação dos jogadores portugueses. Porque a evidência está aí: a continuar assim não conseguiremos atingir o patamar que nos permita participar no nível mais elevado das competições internacionais. E se existem óbvias dificuldades pela nossa dimensão física, a formação dos jogadores deve ser centrada no domínio técnico e conhecimento táctico que permita dar prioridade à manobra sobre o choque - como ensinava Nuno Álvares Pereira, ou seja, recorrendo à evasão e fugindo da colisão. O que envolve um outro, diferente e próprio, conceito de ensino do rugby aos jovens jogadores. Adaptado às nossas circunstâncias e com base no passe, na evasão, na placagem e no jogo-ao-pé.
Se já se viu o problema que cria a falta de um chutador eficaz - da ordem dos 80/90%, precisa-se - na construção do resultado o cumprimento da regra - uma equipa neste nível competitivo começa pela escolha do chutador - é fundamental. O que exige programação e treino sistemático.
Também o passe mostrou o que já sabemos: passamos mal, dominamos mal o seu tempo e não temos elasticidade na sua execução: se é longo é lento. Para além de que a sua direcção deixa muito a desejar… Mas placou-se bem com a preocupação primeira de colocar o adversário no chão, avançando a defesa sempre que possível e dando poucas hipóteses de penetração adversária.
Mas preocupante foi a demonstração da reduzida cultura táctica dos jogadores que provocou erros na sua tomada de decisões que não teve em conta, por demasiadas vezes, o tipo de situação defrontada. Três exemplos:
  • A decisão tomada nos ataques aos rucks adversários foi sempre idêntica e independente da situação. O que é um erro porque a regra deve ser estabelecida de acordo com a situação que se enfrenta. Ou seja, se não houve ultrapassagem da Linha de Vantagem pela defesa - isto é, se o ruck está a ser construído pelo adversário já dentro do campo defensivo - o objectivo dos defensores é o de atrasarem a saída da bola empenhando o menor número possível de jogadores para permitir a reorganização defensiva e, quando a bola for colocada em movimento pelo adversário, garantir que existe um maior número de jogadores na linha defensiva do que atacantes; a estória será outra se a defesa ultrapassou a Linha de Vantagem e obrigou o atacante a ir ao chão - isto é, placou-o - ainda dentro do seu campo: aí, porque existe superioridade numérica - os companheiros do atacante esta à sua frente - o que se pretende, empenhando quantos forem necessários, é a conquista da bola. Porque, se assim fôr, a conquista de terreno estará no mínimo assegurada e a possibilidade de ensaio mostra-se como hipótese muito provável. Portanto para duas situações distintas, duas actuações diferentes - e é disto que trata a adaptabilidade necessária que exige que as decisões sejam tomadas de acordo com o que se apresenta na frente. E Portugal teve mais do que uma situação do segundo tipo que tratou como se fosse do primeiro...
  • O outro exemplo diz respeito ao jogo ao largo em superioridade numérica - mesmo que o espaço livre seja curto, uma boa fixação pelo portador da bola vai permitir soltar um companheiro com terreno livre. E tivemos uma série de situações em que, em vez de fixar e passar, o portador resolveu entrar “para dentro”, indo ao encontro dos defensores da cobertura adversária. Ou seja, a equipa conseguiu - e bem! - encurtar a linha defensiva adversária criando espaço livre exterior e, depois, o portador preferiu ignorar a vantagem e a superioridade numérica. Sem outra solução que não fosse a ida ao chão, perdendo assim todas as vantagens do desequilíbrio conseguido.
  • O terceiro exemplo diz respeito às linhas de corrida atacantes. Se foi possível ver alguma evolução na procura da convergência pelo apoiante mais próximo do portador da bola, também se viu que o apoiante seguinte nada fazia para se aproximar do provável receptor, preparando-se apenas para receber a bola no conforto da sua posição recuada e parada. Ou seja, a uma convergência seguia-se o afastamento, terminando a vantagem de ataque aos intervalos que a primeira linha de corrida permitia. E voltava-se ao início: jogador no chão a permitir a reorganização adversária num constante desperdício das vantagens conseguidas. 
Ou seja, a equipa mostrou um modelo capaz - quer no desenvolvimento das acções defensivas, quer nas atacantes que se mostraram criadoras de vantagem - mas a ignorância táctica individual dos jogadores impediu a tradução da vantagem conseguida em pontos no marcador.
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Tratando-se de jogadores seniores à porta de entrada da selecção principal, este factor de menor cultura táctica para além de se mostrar preocupante será, se não for alterado, impeditivo de atingir resultados internacionais de melhor nível. E, por isso - repete-se - é preciso e urgente alterar o sistema de formação d@s jogador@s portugues@s.  

terça-feira, 10 de abril de 2018

A FORMAÇÃO E O PORTUGAL U18 NO 4º LUGAR DO RE CHAMPIONSHIP

Ficar em 4º lugar no Rugby Europe U18 Championship é bom! É um bom resultado para Portugal. Mas sendo um bom resultado final - graças a uma vitória no primeiro dia - não nos deve entusiasmar demasiado. Porque nos dois jogos - da meia-final contra a Geórgia e do 3º/4º contra a Espanha - não marcámos um único ponto. Ou seja, dois jogos a zero - o que é grave e demonstra deficiências e incapacidades que têm de ser reconhecidas e eliminadas. Quanto antes. Modificando processos na formação e voltando aos gestos básicos nas áreas da competição.  
O principal problema técnico dos jogadores portugueses está no facto de passarem mal a bola. Passam mal, recebem mal, correm para o lado, fogem do passador, não atacam a Linha de Vantagem, preferem a facilidade da colisão à exigência da manobra, procuram mais depressa o chão do que a continuidade e gastam a energia em movimentos laterais sem qualquer verticalidade. E essa incapacidade vê-se desde a selecção nacional sénior até às equipas dos mais pequenos - como pude verificar (mais uma vez) quer na festa de inauguração do campo de relva artificial do GD Direito, quer em jogos do Portugal Rugby Youth Festival (uma excelente organização desportiva) deste último fim-de-semana. Ou seja os jogos da selecção Sub18 alertaram mais uma vez - assim como os da selecção principal - para um problema da formação: não se ensina eficazmente a passar a bola!
Quadrado Estratégico das Acções Básicas do Passar e Receber
JPBessa
E não se tendo o domínio do principal gesto técnico do jogo não é possível conseguir bons resultados contra equipas mais fortes. Porque, como ensina o treinador neozelandês campeão mundial, Graham Henry: o objectivo da posse da bola é marcar ensaios! E sem circulação da bola fica-se na dependência do gesto individual ou do grosseiro erro defensivo.
Não nos iludamos: os resultados vitoriosos das equipas portuguesas - com uma ou outra excepção - têm sido obtidos contra equipas fracas e mostram à evidência o baixo nível em que deixámos cair o nosso rugby. Por evidente decréscimo da qualidade do treino e por baixo nível competitivo interno. Não há competitividade sem equilíbrio e não há desenvolvimento técnico-táctico sem competitividade.
E se a este mal passar e mal receber se juntam um jogo-ao-pé pouco eficaz - traduz-se apenas no alívio e não permite a sua utilização como arma atacante (capacidade decisiva para combater as cada vez melhor organizadas defesas) - e uma placagem defeituosa, pouco consistente ou efectiva, temos a demonstração evidente das falhas da nossa formação. Razões?!
Para além de uma eventual má preparação técnica dos formadores, de um mau conhecimento táctico do jogo e dos seus princípios, a campionite exacerbada que se percebe existir desde as equipas mais jovens retira a lucidez à preparação devida e conveniente dos gestos básicos.
Qualquer jogador, tenha a idade que tiver, deve perceber a necessidade da corrida vertical quando em posse da bola, do tempo eficaz de passe, da recepção já com a corrida lançada, da linha de corrida em apoio para receber - em convergência, atacando o ombro interior do adversário directo e não em fuga lateral - de manter a continuidade do movimento passando antes do contacto e não se deixando ir ao chão - ir ao chão representa uma "vitória" da defesa que se pode reorganizar e assim anular o desequilíbrio que o ataque tinha conseguido. O ataque à Linha de Vantagem, procurando os intervalos, é decisivo, ao permitir "encurtar" a linha defensiva, para garantir a manutenção da superioridade numérica atacante e para que haja conquista de terreno, devendo ainda os jogadores ser ensinados a receber a bola na "linha de passe" - a linha de bola mais próxima do "adiantado" como se fosse uma corrida de estafetas - e devem ser desaconselhados a jogar no conforto do "lá atrás" (situação que só deve ser utilizada em casos muitos especiais de envolvimento de defesas muito avançadas). 
Neste sentido deixo um esquema com aquilo que considero como as acções básicas fundamental para a aprendizagem do passe e da recepção para garantir a eficácia da posse da bola que. naturalmente, devem ser desenvolvidos com exercícios próximos do jogo, isto é, com oposição e num nível de intensidade - com menos volume e duração do treino - que permita uma adaptação a hábitos superiores às situações que os jogadores irão encontrar pela frente em jogos equilibrados.
Bom seria que os treinadores responsáveis pela formação dos jovens jogadores portugueses se preocupassem, essencialmente, em formar jogadores de futuro, ensinado-lhes as ferramentas principais que lhes servirão para garantir a sua capacidade de resolução dos problemas que o jogo lhes colocará. Bom seria que os responsáveis dos clubes, olhando mais longe do que a vitória imediata, fossem exigentes na qualidade técnica da formação. Porque a verdade é esta: não se pode jogar rugby sem o domínio básico de saber passar a bola - seja qual seja a posição que se ocupa na equipa.  


quinta-feira, 5 de abril de 2018

WORLD RUGBY SOBRE O BÉLGICA-ESPANHA

World Rugby statement: Rugby World Cup 2019 qualification, Belgium versus Spain

World Rugby will convene an independent disputes committee to examine issues arising from the 2017 and 2018 Rugby Europe Championship, competitions that doubled as the European qualification process for Rugby World Cup 2019.

World Rugby was deeply concerned about the circumstances surrounding the Belgium versus Spain Rugby Europe Championship match, a match that was decisive in the context of Rugby World Cup 2019 qualification. Specifically, concerns related to the process and perception of Rugby Europe’s appointment of a match official team that was not neutral in the context of qualification and failing to act on Spain’s concerns in respect of the appointment. 

While recognising Rugby Europe’s responsibility to review events in their own competition, given the context and significance of the fixture World Rugby acted immediately to request information relating to the above issues from Rugby Europe and participating unions. Having considered all available information, the World Rugby Executive Committee and Rugby World Cup Board felt that a replay would be in the best interests of the game.

Since expressing that view, new information relating to player eligibility in the Rugby Europe Championship has been presented to World Rugby by the participating unions. Given this information concerns potential breaches of World Rugby regulations, and given the complexity and interconnectivity of the issues, a full and independent review is warranted. This is in the best interests of the sport, teams and fans and is fully supported by Rugby Europe. 

World Rugby’s independent Judicial Panel Chairman Christopher Quinlan QC has been asked to form and convene the disputes committee, as permitted under the Rugby World Cup 2019 qualification terms of participation, on an emergency basis in order to achieve certainty as soon as possible. 

A separate independent judicial panel has been appointed by Rugby Europe to consider conduct of players after the final whistle of the Belgium versus Spain match.

[cópia do comunicado - apenas na versão inglesa - da World Rugby sobre o recente jogo Bélgica-Espanha]

Vamos, portanto, ter que esperar ainda algum tempo para saber das decisões.

1 DE ABRIL

A nova lei experimental de passe para a frente até 1 metro não ser avant que publiquei no passado 1 de Abril é naturalmente uma brincadeira. A possibilidade de se perceber que era uma mentira estava na data em que a lei experimental entraria (ou não) em vigor e que era demasiado próxima do início do Mundial do Japão para poder ser verdadeira - segundo a alínea c) do Regulamento 5 das Leis do Jogo as alteração às Leis do Jogo devem estar consolidadas até um ano antes do começo do Mundial.

domingo, 1 de abril de 2018

NOVA LEI EXPERIMENTAL

Na última reunião realizada durante esta última semana a World Rugby decidiu uma nova Lei experimental que, entrando em vigor no hemisfério Norte a 1 de Agosto de 2018 e no hemisfério Sul a 31 de Dezembro de 2018, terá a decisão final da sua aprovação a 20 de Junho de 2019.

A nova lei que, se aprovada, se juntará às excepções da Lei 11, Toque ou Passe para Diante e constituirá a sua alínea c) do ponto 5. define - em tradução livre - que:
"Não é considerado passe para diante quando a bola, lançada para um companheiro, é captada até à distância de um metro definido pela linha paralela às linhas de ensaio e que passa pelo ponto em que a bola foi inicialmente lançada."

As razões são pertinentes porque, considera a Comissão das Leis da World Rugby, tem havido um enorme aumento de formações-ordenadas com as consequentes paragens do jogo que isso comporta, quebrando ritmos e retirando interesse aos espectadores, uma vez que e como consequências das novas leis referentes ao ruck, as defesas têm à disposição da sua acção um maior número de defensores do que os seus adversários dispõem como atacantes. O que obriga os jogadores, para tentarem ultrapassar esta situação de vantagem defensiva e em que os jogadores são obrigados, cada vez mais, a realizar passes em contacto, a recorrer à técnica do off-load - passe-em-carga - na tentativa de conseguir lançar um companheiro no curto intervalo existente. Ora e de acordo com as estatísticas estabelecidas desde o início da introdução da nova lei do ruck esta situação - de passe-em-carga e recepção em terrenos apertados - tem provocado demasiados passes-para-diante puníveis, como se sabe, com formações ordenadas. 

Para evitar aquilo que consideram um exagero, a World Rugby pretende experimentar a possibilidade de um passe ser realizado até um metro para a frente. Situação que, se exige dos árbitros uma maior atenção - ver-se-á, nomeadamente nos campos portugueses, os espectadores a gritar cada vez mais por "ávant" - tem a óbvia vantagem de garantir uma superior continuidade de jogo, tornando-o mais fluído e aumentando a capacidade atacante das equipas.

Esta nova experiência, no fundo e ao que se espera, permitirá a marcação de mais ensaios que é o que pretendem os espectadores na sua ida aos estádios.  

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