sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

MAIS PREOCUPADO COM A GUERRA

 Num momento de guerra como esta que resulta da invasão criminosa de Putin à Ucrania, não tenho nenhuma especial vontade de escrever sobre Rugby. Mas, como se usa dizer, a vida continua e é preciso dar-lhe espaço. Sempre com atenção ao teatro de guerra e às suas implicações um milhar de soldados portugueses pode, a curto prazo, entrar em combate — falermos então de Rugby.

Neste fim-de-semana, Portugal tem, como se usa dizer,  um mero jogo de cumprimento de calendário. O adversário Países Baixos só tem derrotas no seu palmarés do Rugby Europe Championship e não representa qualquer perigo competitivo para os Lobos. Mas representa o desafio de garantir que Portugal consegue a vitória com ponto de bónus, somando vitais 5 pontos para a Classificação Geral.


Dada a situação, gostaria de ver, no jogo deste sábado nas Caldas da Rainha, Portugal — e porque não também o XV dos Países Baixos — entrar em campo com a bandeira da Ucrânia numa clara demonstração de solidariedade que a Rugby Europe defende e que o Governo português também pratica. Porque o Desporto não é neutro e não pode passar por cima de agressões bárbaras desta natureza.
À equipa portuguesa pede-se o aproveitamento deste jogo para demonstrar a capacidade de já ter ultrapassado erros tácticos e estatégicos que determinaram as derrotas em jogos deixados escapar por entre os dedos. O que significa que o nosso apuramento tem agora uma necessidade de 3 vitórias nos três últimos jogos mas com o senão de continuarmos a depender dos resultados de terceiros e partindo do princípio que a Geórgia não cederá e não entregará quaisquer pontos de classificação aos nossos adversários directos. 
Neste fim-de-semana um jogo fundamental entre a Espanha e a Roménia — agradecemos um empate que o prognóstico do algoritmo do XVcontraXV, com uma vantagem de 2 pontos de jogo para os espanhóis, admite perfeitamente — ditará algo do nosso futuro.
O outro jogo, Geórgia-Russia, foi adiado, dadas as actuais circunstâncias, sine die pela Rugby Europe com a cobertura da Rugby World. No entanto estas duas instituições de comando rugbístico europeu e mundial, limitaram-se a definir a suspensão das actividades em solo russo. O que é um erro enorme — que sentido faz a manutenção do jogo feminino entre a Espanha e Rússia? (gostaria de ver as jogadoras espanholas recorrerem ao velho “sit in” e não se disponibilizarem para jogar). E porque é que é um erro esta limitada posição? Porque as sanções aplicáveis ao despropositado e criminoso agressor devem ser totais e o Desporto deve fazer parte delas. Dir-se-á: mas as jogadoras russas não devem ter qualquer culpa na situação criada que é da exclusiva responsabilidade de Putin e do seu bando de oligarcas. Certo, mas uma das armas de combate à situação é a de colocar pressão popular sobre Putin que o leve a desistir ou a perder o poder — e as jogadoras russas, magoadas por não poderem jogar, podem engrossar o crescente movimento de contestação interno.
Assim a Rússia deveria ser suspensa de todas as competições desportivas, disputadas seja onde forem, até que a paz seja oficialmente reconhecida. O que pode até e por razões de calendário, suspender as prestações russas nomeadamente na Championship que apura para o Mundial de 2023 — com um de dois resultados: anulação dos jogos realizados pela Rússia com descida de divisões (aí Portugal seria beneficiado mas — seja como fôr — seria a posição mais correcta) ou derrota da Rússia (28-0) nos jogos que seguem (vantagem para Portugal mas, repete-se, na menos correcta das decisões)
Bandeira da Ucrânia

Na esperança que este fim-de-semana não se traduza numa brutal escalada da perspectiva expansionista de Putin, espero também ver, transportada pelos jogadores portugueses, a bandeira da Ucrânia no relvado das Caldas da Rainha.

 

ESCÓCIA-FRANÇA O JOGO MAIS EQUILIBRADO


 Segundo as previsões do “XVcontraXV” e da “RugbyVision” o jogo mais equilibrado desta 3ª Jornada do 6 Nações 2022 será o Escócia-França em Murrayfield com uma variação diferencial de 0 a 2 pontos de jogo. No entanto os prognósticos dos assinantes dão uma vantagem de 54% para a vitória dos franceses…

No Inglaterra-Gales todas as previsões indicam uma vitória com alguma facilidade da Inglaterra e no Irlanda-Itália a vitória irlandesa não deixa qualquer dúvida seja a quem for.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

OS PITÕES DE ALUMÍNIO PODEM SER UTILIZADOS, EXCEPTO SE…

Passei anos da minha vida profissional a lidar com diversos tipos de pavimentos artificiais para campos de futebol e/ou rugby. As demonstrações feitas e as regras de utilização permitiram sempre o uso de pitões de alumínio nas mais diversas relvas artificiais.

O princípio da sua possibilidade de uso é simples de entender: o que não rasga a pele, não corta os filamentos artificiais. Portanto se de acordo com as dimensões oficiais — Regulamento 12 da World Rugby — e desde que não tenha arestas ou fissuras por uso deficiente, os pitões de alumínio são autorizados desportiva e cientificamente (não estragam a superfície de relva artificial que não pode ser confundida com uma qualquer alcatifa — onde os pitões de alumínio escorregarão…)

Estes pitões podem ser utilizados em qualquer relvado natural ou artificial

Em nenhuma parte regulamentar se encontra qualquer impossibilidade de utilização de pitões de alumínio e para que seja aceite a restrição de um clube será necessário que seja homologada pela Federação Portuguesa de Rugby que não terá qualquer razão objectiva ou regulamentar para o fazer.

Jogadores com pitões de alumínio em relvados internacionais

Assim o incidente do Cascais-Direito não tem qualquer sentido e não cabe ao árbitro verificar mais do que saber se os pitões criam ou não situações perigosas de contacto com os jogadores na salvaguarda da sua integridade física — e essa atitude aplica~se a qualquer tipo de pitões, não apenas aos de alumínio. 

O jogo e o seu desenvolvimento dispensam interpretações a vulso e desenquadradas.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

EM CARDIFF NO GALES-ESCÓCIA

Formidável momento de comunhão colectiva

Fui a Cardiff ver o Gales-Escócia e o jogo deixa-me uma memória formidável. Ver um jogo de primeiro nível num estádio com pouco menos que 74 mil espectadores que acompanham o jogo com a emoção positiva de uma cultura de conhecedores é qualquer coisa de formidável. Foi um fim-de-semana cheio do tema Rugby. Daqui parti com os Evans, David e filho Steven, tendo o meu filho Raul faltado à chamada porque um surto de Covid no escritório o impediu de ir — sorte para o Fernando “Lomu” que jogou no GD Direito e que teve direito ao bilhete sobrante.


Estar lá é uma vivência inesquecível que permite viver o mundo rugbístico da forma como nos foi descrito: um espaço de valores e princípios, de convivência apaixonada mas respeitosa, onde — com excepção de um ou outro emborcador profissional de cerveja — o elo comum de gosto pela modalidade e ao contrário do que se vê muitas vezes cá por casa, faz as maravilhas da convivência — seja antes, durante ou depois do jogo. Sentimo-nos adversários mas nunca inimigos.


Neste mundo especial da comunidade rugbística, fui jantar com a família do Bill, que jogou, com o nº 15 nas costas, na mesma equipa do David há mais de cinquenta anos. Muito simpáticos, filhos, filhas e netos, receberam-me — como sinal expressivo da comunidade —como um deles só porque era amigo do seu amigo David, tendo em comum o gosto pelo Rugby. E eles, todos ingleses e amantes da Rosa, aproveitaram o seu jogo fácil de domingo para se colocarem ao lado do nosso Gales que, garantiam, iria derrotar a Escócia. Felizmente assim aconteceu…


Mas viajar neste tempo de pandemia é uma estopada! Filas e filas e nós a aguentar, parados ou a andar, de pé e com os certificados e passaporte sempre à mão porque têm que ser mostrados em cada final de fila de espera. E a isto juntar os quilómetros de corredores de Heathrow numa estafadela imprópria para idades como as nossas. Uma chumbada só suportada pelo agrado do jogo que íamos ver. Maldito Covid!


Domingo de manhã, combóio para Cardiff. Três super-lugares com mesa a meio e, pensávamos, aí íamos nós. Qual quê, tudo marcado e nós, por inexperiência, sem a cruzinha no quadradinho viajámos — 2 horas e 1/2! — de pé. Uma estafa brutal.


O combóio ia cheio de camisolas vermelhas e azuis escuras. Tudo junto e tudo na boa — até vi um escocês dos London Scottish que na camisola tinha um logotipo de “arquitectos”, perguntei-lhe o porquê e respondeu-me que eram patrocinadores do clube — escritório de arquitectura patrocinadores de um clube de Rugby?! Maravilha, mundo diferente. Nas cadeiras próximas do meu lugar de pé no corredor central, iam duas raparigas de vinte e tais com as camisolas vermelhas de Gales. Uma delas levava um livro que percebi ser de Warren Gatland. Pedi-lhe para ver, autorizou sem problemas — no fundo tínhamos a mesma camisola… — folheei-o e quando lho entreguei disse-me: “o livro é muito bom, muito interessante e tenho aprendido muito com ele…”. Cultura diferente, desportiva e rugbística. E durante dois dias foi isto: a convivência num mundo de diferente cultura desportiva.


A caminho do estádio um mar vermelho, de camisolas e bandeiras de dragões, de dafodills amarelos, de caras dadas ao desenho do dragão para não deixar dúvidas da pertença, criavam o ambiente emocional para o início do jogo. Almoçados numa italianada fomos bater à fila no nosso sector para mostrar um qualquer telemóvel (podia ser o seu, estimado leitor) que tivesse um quadrado de Código QR visível — ainda não chegou lá o sistema das pulseiras — para haver um please a autorizar a passagem. Encontrar os nossos lugares  no meio daquele mundo sem máscaras, foi um terrível percurso a deixar os bofes de fora… mas eu queria chegar a tempo de ouvir o cântico do Land of My Fathers no lugar…


…e assistir — recordando a minha avó — a esse mítico momento único de comunhão participativa dos galeses. E por mais difícil que seja a letra com as palavras ineligíveis cheias de consoantes, consegue-se entoar a música e fazer parte do colectivo. A guardar na memória!



Ver ao vivo um jogo desta dimensão permite uma perspectiva global do movimento dos trinta jogadores e não apenas os que o rectângulo televisivo capta — percebe-se o que fazem e o que pretendem fazer, vê-se as possibilidades de cada momento e o valor de cada tomada de decisão. É outra coisa! 


O jogo começou bem para o lado galês — 6-0 aos 10’ — mas os escoceses estavam a jogar melhor e atacavam os intervalos com jogo de passes e com boa continuidade de apoio, marcando logo a seguir um ensaio para um 6-5. Muito jogo ao pé, principalmente de Gales que entregou muita bola grátis aos escoceses — o seu jogo de transporte de bola com os receptores estáticos raras vezes ultrapassava a Linha-de-Vantagem — e a 1ª parte terminou num 14-14 depois de um também ensaio, acompanhado em pé pela multidão de milhares de apoiantes de Gales.


E se a Escócia parecia, quando em posse de bola, mais capaz de criar perigo — um total de 5 rupturas contra apenas uma de Gales que realizou 146 passes para ultrapassar 61 vezes a LV contra 68 ultrapassagens em 178 passes dos escoceses. Mas tudo com idênticos metros percorridos — 463 de Gales contra 466 da Escócia. 


Havendo em quase todos os sectores vantagem da Escócia, como ganhou Gales? No essencial com um pontapé-de-ressalto do capitão Dan Biggar, agora centurião (Jonathan Davies que saiu do banco também já o é), e que passou a maior parte do jogo em dificuldades com problemas num joelho mas que teve a guerreira atitude de um comandante — só saio do campo quando o jogo estiver ganho! — que, em vez de se aproveitar da vantagem numérica (o seu adversário directo, Finn Russell, acabava de sair com um amarelo) e procurar a vantagem de possíveis 7 pontos, decidiu-se por um esplêndido pontapé-de-ressalto que fez os 20-17 do resultado final.


E se Gales conseguiu e mereceu a vitória apesar de um jogo-ao-pé pouco incisivo e de uma procura de intervalos por transporte de bola pouco eficaz, foi a sua defesa — com excelente entre-ajuda nas 25 placagens falhadas — e uma pressão constante que conseguiu obrigar a Escócia a 15 penalidades, das quais 10 no seu próprio meio-campo. E assim Gales equilibrou a posse (50%/50%) e ganhou vantagem territorial (55%/45%) num jogo de muito inteligente domínio táctico que permitiu uma vitória final muito comemorada. E a nossa particular satisfação.


No outro jogo entre a França e a Irlanda, venceu (30-24) também a equipa que ataca os intervalos com transporte de bola e que, fazendo menos passes (125/157) e ganhando menos metros (334/355), ultrapassou mais vezes (57/54) a LV e conseguiu impor e também pela pressão defensiva 6 penalidades convertidas. Os irlandeses, apesar de terem marcado mais um ensaio, mas sendo obrigados a correr atrás do resultado, não conseguiram resistir à pressão francesa.


No fundo dois jogos com adversários estrategicamente antagónicos no seu modelo de jogo: ataque aos intervalos por transporte ou por jogo de passes e continuidade com sequências mais longas. Desta vez a vitória coube mais à força que ao movimento — veremos como tudo se definirá no Mundial 2023.

No jogo entre ingleses e italianos, o esperado: vitória folgada da equipa da Rosa.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

ROMÉNIA-PORTUGAL JOGO DE IMPORTÂNCIA DECISIVA

 A Roménia já nos ensinou uma coisa: não desistem, como demonstraram no jogo de Lisboa e que, de derrotados, passaram no limite do tempo de jogo a vencedores. Há dias, em Bucareste, venceram a Rússia e mostraram-se mais candidatos ao lugar que apura directamente para o Mundial 2023.


Na situação em que se encontra Portugal — 4º lugar com 2 pontos de atraso do 2º lugar — uma vitória seria muito importante porque, para além de nos manter dentro da corrida e fazendo-nos depender apenas de nós próprios, teria a vantagem de eliminar o ponto de jogo que, neste momento e pela vitória de Lisboa, dá vantagem aos romenos — a Rugby Europe mantém a aberração de, como desempate, fazer valer o resultado entre as duas equipas em causa violando um princípio fundamental de que a mesma causa não poder ser utilizada duas vezes como prejuízo, ignorando o facto de se tratar de um prova disputada por um grupo de equipas, devendo ser encontradas formas que garantam o melhor resultado, como o número de vitórias, entre todas elas — não esquecendo que existem pontos de bónus que podem igualar o que é diferente.

Não será fácil ganhar em Bucareste. O posicionamento das equipas no ranking da World Rugby prognostica a vitória dos romenos por 8 pontos de jogo de diferença que resultam naturalmente dda percentagem de sucesso conseguido nos últimos 5 jogos internacionais realizados, bem como da superior quota de pontos marcados.


Mas nada está perdido para Portugal se acabar de vez com os habituais erros — posicionamento e organização dos três-quartos, menos passagem do jogo pelo chão e sim, mantendo a bola viva e em constante movimento e com jogo-ao-pé eficaz e incisivo. Coisa que, dadas as qualidades e características dos jogadores portugueses e desde que o interesse colectivo se sobreponha ao individual — espero que este tenha sido o tema essencial das correcções desta semana — não é inacessível. Bola em movimento, jogadores a mostrarem-se no apoio como diferentes opções atacantes e realizando o ataque aos intervalos por meio de passes prolongando cada fase até conseguir a ruptura — e não procurando um enorme número de fases por cada momento de posse — são aspectos que podem, colocando os defensores romenos, pouco dados a reorganizações aleatórias, em situação de extrema dificuldade. Bom seria, portanto, que o XV português entrasse em campo determinado pela vitória e com a confiança necessária que o seu todo valerá mais do que a parte de cada jogador. E a vitória, desejada e necessária para o livre-trânsito de acesso ao Mundial 2023, poderá ser uma realidade.

Nos outros jogos do Championship de apuramento a Espanha apresenta-se como favorita contra a Rússia e, muito provavelmente, continuará a mostrar-se adversária directa para o segundo lugar do grupo até porque jogará em Madrid contra Portugal.

Nota: por motivos técnicos este post foi colocado, embora escrito antes, já depois do jogo realizado.





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

MAIS DOIS EQUILIBRADOS JOGOS EM PERSPECTIVA

 A segunda jornada do 6 Nações de 2022 tem de novo dois jogos de grande equilíbrio e de vencedor imprevisível: Gales-Escócia e França-Irlanda.


De acordo com as previsões dos resultados do XVcontraXV e do RugbyVision no Gales-Escócia o equilíbrio vai da perspectiva de um empate até à curta vitória de Gales por 4 pontos. Ou seja, qualquer das equipas pode vencer.

No França-Irlanda, onde se verão dois conceitos de jogo diferentes de um lado mais passes e do outro mais transporte— os algoritmos dão vantagem à Irlanda — que aliás tem, de acordo com a RugbyVision, 58,6% de possibilidades de vencer o Torneio (a França tem só 18,6%) —mas por números muito curtos, entre uma diferença de 1 e 3 pontos de jogo. O que significa também que qualquer das duas equipas pode vencer num jogo a não perder — e que só verei em deferido porque estarei nas bancadas de Cardiff…

No último jogo da jornada, ninguém tem dúvidas sobre o favoritismo da Inglaterra sobre a Itália que tem, para a RugbyVision, garantido o último lugar da tabela final em 99,0% de hipóteses.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O EMPATE É BOM MAS A VITÓRIA SERIA MELHOR

Estou de acordo com Lagisquet: o resultado deste Geórgia-Portugal deixou um gosto amargo-doce. Se um  empate em casa de um adversário que estava qualificado na 12ª posição do ranking mundial é um bom resultado, ficou o amargo de boca — mais uma vez e embora se tenha conquistado 1 ponto de ranking correspondente a uma subida de 3 lugares, de 20º para 17º— de se ter deixado fugir a vitória.

Mas houve interferência grave do árbitro, Romain Poite, que prejudicou o resultado final com um erro inadmissível — aquilo que se designa por “incidente crítico” — ao assinalar um avant de Samuel Marques quando a bola lhe bateu apenas no peito — é só ver no vídeo como fez Supervisor do Árbitro do Jogo e que tem a mesma opinião — que motivou a formação ordenada (mal defendida, aliás — quem comanda os avançados? — de que resultou o ensaio do empate. Aliás o árbitro esteve mal, nomeadamente ao fechar os olhos a diversos foras-de-jogo georgianos. E também percebi mal aquela preocupação — fiquei com ideia que tinha, pela linguagem corporal, uma única direcção… —  de avisar, por mais do que uma vez, o número de minutos que faltavam para o final. Pode ser que não, mas qué las hay, hay. 

A este aspecto negativo ressalta outro, desta vez positivo: acabou-se o mito da fortaleza georgiana! Que são enormes. que são muito mais fortes, que nós não aguentamos com eles, que quebraremos mais tarde ou mais cedo… Não é verdade conforme já demonstrado neste post, as equipas equivalem-se na morfologia física. O que falta é a nossa adequação técnica e táctica.

E os Lobos podiam ter resolvido o jogo se adequassem as suas manobras às circunstâncias — a jogar longe uns dos outros, falharam passes sem sentido e deram a possibilidade à defesa de, sem grande esforço e não subindo muito rapidamente, deslizar para equilibrar — pelo contrário,  o jogo próximo, vejam-se os irlandeses, permitindo uma jogo de passes com manobras e combinações, facilitando o apoio e a continuidade, encurta a defesa e é muito mais imprevisível, adequando-se bastante melhor às características dos jogadores portugueses. As estas dificuldades juntou-se um jogo-ao-pé de mau sentido táctico entregando demasiadas bolas grátis ao adversário — 31 pontapés segundo a RE, 25 segundo as minhas notas. E no jogo-ao-pé a viagem da bola na sua altura e no seu comprimento, tem que estar sincronizada com a corrida dos perseguidores para que não seja uma dádiva ao adversário. E passaram demasiadas vezes pelo chão, permitindo que a defesa adversária se reorganizasse. Isto sem falar no desperdício do campeão mundial de sub20 que, em vez de se decidir por um cadrage-debordement como terá aprendido na sua formação, entrou para dentro e, sem recorrer a um cruzamento, entregou-se à cobertura defensiva. E no final valeu a maturidade de Samuel Marques para impôr ordem num incomprensível excitamento que pretendia — correndo um risco absurdo dado o esforço dos últimos minutos — jogar uma penalidade nos 22 portugueses. E a defesa, colectiva e individual, também deixou algo a desejar com, de acordo com os números da Rugby Europe, 22 placagens falhadas embora tivessem defendido muito bem a linha-de-ensaio no final. E 11 faltas para penalidade também é entrega de bola e terreno ao adversário  —  o que é que passou pela cabeça do asa estreante para jogar a bola com a mão na formação-ordenada? Para ganhar é preciso disciplina, rigor e foco permanentes — colocando o colectivo em primeiro para que possa ser superior à soma das partes.

Tivemos bolas suficientes — contei 72 e a RE contou 12 turnovers favoráveis —   mas desperdiçámos muito. Passamos poucas vezes a Linha da Vantagem e conseguimos poucas rupturas para o número de bolas disponíveis que tivemos (33% e apenas com 5 rupturas para 3 ensaios) E fomos muito para o chão — cerca de metade das vezes em que tivemos bolas disponíveis — muito mais na ideia de colisão em vez do jogo de passes para utilização dos intervalos. E dispusemos de bolas suficientes para conseguir um melhor resultado final. Com a vantagem de não termos a pressão do resultado a tolher os movimentos.


Um jogo preparatório antes desta ida à Geórgia poderia ter modificado muita coisa. Lembrava, pelo menos, ritmos e intensidades próprias dos jogos internacionais. Veremos o que será possível — num jogo de grande dificuldade e de resultado imprevisível — contra a Roménia. Onde a vitória poderá fazer a diferença para a presença, ou não, no Mundial.
Em 4º lugar a dois pontos do 2º lugar


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

6 NAÇÕES: DOIS JOGOS MUITO EQUILIBRADOS

 Os resultados dos jogos da 1ª Jornada e as previsões então propostas:


A actual classificação dede já comandada pelos dois mais fortes candidatos:


As nossas previsões comparadas com as previsões da Rugby Vision do neozelandês Niven Winchester para os jogos da 2ª Jornada:


Dois jogos desta 2ª Jornada do 6 Nações que se realiza no próximo fim-de-semana de 12 e 13 de Fevereiro, prometem um enorme equilíbrio sem vencedores antecipados: Gales-Escócia e França-Irlanda. Se o primeiro determinará para Gales a qualidade da sua época depois de terem sido vencedores do 6 Nações 2021, a Escócia não deixará de ter, depois de ter vencido a Inglaterra na 1ª jornada,  a hipótese da Triple Crown — vitórias sobre os países britânicos — debaixo de olho.
Em Paris o jogo entre os dois principais candidatos a vencedores do Torneio 2022. Ambos recentes vencedores dos AllBlacks, qualquer das equipas, embora expondo diferentes modelos de jogo, tem as capacidades suficientes para sair como vencedora. Curioso será verificar  — e de certa maneira ao contrário da tradição que os marcou — como é que a Irlanda será capaz de manter o seu “rugby de movimento” baseado na procura dos intervalos através da realização de passes pela contínua movimentação dos seus jogadores que, jogando próximos, surgem como receptores lançados e com linhas de corrida que permitam a convergência ou a dobra até garantirem a quebra da linha defensiva adversária. Do lado da França, equipa de mais transporte mas com a qualidade de, embora passando muito pelo chão, conseguir conquistar terreno com a maior posse de bola que cria muitas dificuldades à organização defensiva adversária e a que o notável Dupond confere uma permanente aceleração a criar constantes desequilíbrios. Seja como fôr, as duas equipas identificam-se com os dois princípios estratégicos fundamentais de Graham Henry: a posse da bola tem como objectivo a marcação de ensaios e o jogo de rugby é, acima de tudo, uma corrida pela linha de vantagem. Duas tácticas diferentes nos mesmos princípios estratégicos que têm por base a ideia que a bola deve estar em permanente movimento.


sábado, 5 de fevereiro de 2022

SEREMOS CAPAZES?

Os Lobos jogam, neste domingo 6 de Fevereiro, a 1ª jornada da 2ª volta — designada por RE Championship 2022 — da fase de apuramento para o Mundial de 2023, contra a Geórgia em Tbilitsi. Quando entrarem em campo e depois das vitórias da Roménia sobre a Rússia (34-25) e da Espanha sobre os Países Baixos (43-0 com ponto de bónus), Portugal encontrar-se-á no 4º lugar e só uma vitória nos colocará de novo colados à Roménia no segundo lugar.
Esta tabela mostra uma quase absoluta certeza — a Geórgia será apurada directamente para o Mundial — e duas outras certezas: a Holanda não tem qualquer hipótese de apuramento e o 2º lugar que também apura directamente será disputado por 3 equipas, Roménia, Espanha e Portugal.
Uma vitória portuguesa na Geórgia seria ouro sobre azul, mas será possível? Possível é e não seria a primeira vez — em 2004, os Lobos venceram em Tbilisi por 19-14 — mas nova vitória, se atendermos à relação de resultados mostrados no quadro seguinte, será muito difícil.

Se o histórico entre as duas equipas não nos é nada favorável — bem pelo contrário — no quadro que segue podemos ver que o histórico comparado com outras equipas da cena mundial também não nos é favorável e os oito lugares que nos separam no ranking traduzem-se numa diferença de 7,88 que determina, pelo algoritmo utilizado, uma diferença desfavorável de 22 pontos no resultado final. 

O quadro não parece optimista mas há aspectos que permitem pensar que existem algumas hipóteses de um final vitorioso dos Lobos.
O primeiro aspecto diz respeito à experiência: os jogadores têm já internacionalizações suficientes para saberem com o que podem contar e como o podem enfrentar e contornar. Ou seja, nada indica que os jogadores tenham dificuldades em utilizar as suas melhores capacidades. E lembre-se que na época passada a selecção nacional teve uma média de ensaios marcados por jogo de 4,4 embora com o senão de ter sofrido uma média de 3,9 ensaios por jogo. Mas a defesa estará melhor… e a capacidade ofensiva, num jogo sem a responsabilidade da vitória que outros implicam, pode impôr a pressão psicolocógica que abra as portas de uma vitória.
O problema dos portugueses nos confrontos com os georgianos, diz-se, está na relação negativa da sua morfologia física — são maiores e mais pesados do que os nossos. São mais fortes, pronto.
Mas como se vê no quadro seguinte do Índice de Compacticidade, as duas equipas igualizam-se nessa matéria. Será mais forte aquele que jogar melhor e que melhor use as oportunidades que o jogo dá.

Então, porque não? Porque não podemos ganhar?
Mas para que isso possa acontecer, é necessário corrigir alguns factores negativos anteriormente mostrados. O primeiro dos quais diz respeito à indisciplina — na 1ª volta Portugal fez 68 penalidades numa média de 13,6 penalidades por jogo — é que não lembra ao diabo dar pontos e terreno assim de borla ao adversário… Portanto, primeiro passo: disciplina e nada de penalidades — tão pouco agir com negligência de forma a permitir “cartões”.
O outro aspecto — e que vimos a Irlanda, contra os All Blacks e agora contra Gales fazer a demonstração de uma outra eficácia que se adequa ao perfil dos nossos jogadores e como tal copiável— é garantir que a procura de intervalos se faz pelo passe e não pelo transporte. Ou seja: os avançados têm que acabar com a permanente colisão adivinhável por um estádio inteiro seguida de ida ao chão para ver a defesa adversária reorganizar-se e cortar espaços aos nossos três-quartos. O ataque aos intervalos tem que ser feito através dos passes num jogo de movimento com adequadas e assertivas linhas de corrida e em que a a ida ao chão — se não fôr possível manter a “bola viva” — só é possível depois da ultrapassagem nítida da Linha de Vantagem, criando problemas de organização defensiva que se verá obrigada a correr para trás. E, no caso da ida ao chão deverá haver a garantia de rápida libertação da bola — nunca ultrapassando os dois segundos — para que haja possibilidade de exploração dos desequilíbrios conseguidos. Jogando por um aldo ou pelo outro, numa troca de interior e exterior permanente.
Outro aspecto que tem que correr bem, diz respeito ao jogo-ao-pé que deve ser tacticamente incisivo. Ou seja, não jogar ao pé como arma de alívio mas como ferramente atacante na procura de espaços vazios que permitam algumas possibilidades de recuperação da bola. E a variação do seu comprimento e da sua direcção são factores essenciais para que o jogo-ao-pé seja uma arma temida pelo adversário. Chutos para caixas sempre cobertas ou para diagonais tapadas são forma de mera entrega grátis da posse de bola. Isto é, formas de deitar fora a própria posse.
Veremos como correrá…mas o recurso ao jogo de movimento pela totalidade da equipa e não só pelas suas linhas-atrasadas, é essencial para abrir o caminho que pretendemos de estar no Mundial de 2023.
No fundo e dito de uma vez só: a equipa só encontrará um caminho de vitória se jogar una no conceito de movimento — com apoio, linhas de corrida adequadas e continuidade com focagem na ultrapassagem da Linha de Vantagem — e não dividida numa parte de movimento e outra de colisão e pretensa fixação a dar tempo à organização defensiva. Ou seja, a questão da vitória dependerá da estratégia que determine as tácticas.

ESTÃO AÍ AS 6 NAÇÕES 2022



A Irlanda — dada pela Rugby Vision como a maior favorita para vencer este Torneio de 2022 — deverá, de acordo com as previsões quer do XVcontraXV quer do Rugby Vision do neozelandês Niven Winchestervencer — apesar das últimas vitórias conseguidas pelos Cardiff e Ospreys a dar um novo ar às capacidades galesas — o País de Gales em Dublin com relativa facilidade. Veremos, no entanto, a motivação que Dan Biggar, o novo capitão a substituir a forçada ausência do excelente e verdadeiro  Príncipe de Gales, Alun Wyn Jones, poderá trazer à equipa. No entanto — e avitória dos irlandeses sobre a Nova Zelândia mostrou bem isso — a equipa da Irlanda é, agora e neste momento, a equipa europeia mais interessante onde o movimento da bola e dos jogadores na procura de uma permanente continuidade é uma constante que coloca uma pressão superior nas decisões defensivas dos adversários. 

A previsão da vitória da França sobre a Itália não surpreenderá ninguém dadas as últimas demonstrações de capacidades de uma e outra das equipas…

… e o jogo do equilíbrio jogar-se-à em Glasgow entre a Escócia e a Inglaterra que, pelas previsões expostas, pode ter um qualquer vencedor. Como curiosidade para este jogo estará em saber até que ponto algumas modificações reconhecidas no rugby inglês principalmente pela demonstração permanente — pela intervenção combinada de treinadores e árbitros — de capacidade de disponibilizar a bola nos  reagrupamentos em menos tempo do que os míticos 3 segundos. E o número de ensaios que hoje se vêem nos campos ingleses em cada jogo têm a ver com isso.

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