domingo, 24 de dezembro de 2023

1ª VOLTA NÃO TERMINADA


 Num campeonato com dez equipas a 1ª volta termina à 9ª jornada. Acontece que apenas uma equipa — Agronomia — tem 9 jogos…Assim e para alguns dos outros a 2ª volta terá 10 jogos — SL Benfica, GD Direito, AA Coimbra; CR S.Miguel, RC Lousã e CDUP — e para outros ainda terá 11 jogos — CF Belenenses, CDUL e  CDS Cascais. Que campeonato é este?…


Este campeonato da Divisão de Honra portuguesa tem um índice de competitividade Noll-Scully de 1,69 para um melhor valor competitivo de 1 — a três jornadas do final da 1ª volta o TOP14 apresenta um valor Noll-Scully de 1,00 — o equilíbrio ideal de uma competição — e o campeonatro inglês no final da 1ª volta com 10 equipas e 9 jogos, mostra um valor de 1,13, O desequilíbrio português mostra que algumas equipas entram em campo com a certeza da vitória, retirando assim qualquer equilíbrio competitivo ao nosso campeonato com os consequentes resultados no nível internacional.

sábado, 23 de dezembro de 2023

O DESPORTO E O RUGBY DEVEM SER PELA PAZ!


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[nota: não percebo como uma equipa representativa de um país em guerra, embora seja praticamente e apenas uma equipa formada por não israelitas e portanto apenas representativa do dinheiro e das incongruências burocrático-administrativas de interesses, possa disputar uma prova desportiva internacional. Na actual situação o Desporto não devia dar cobertura a uma evidente violação dos direitos humanos como acontece na faixa de Gaza onde as populações civis, incluindo crianças — que não têm nada a ver com o litígio provocado pela bárbara e injustificável invasão do Hamas —  temem pela sua sobrevivência, seja pelos bombardeamentos desproporcionais, abusivos e indiscriminados a que estão sujeitas, seja pela falta de condições de vida — falta de alimentos, água e medicamentos — aceitáveis e necessárias.]

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

SAMUEL E STORTI EM EVIDÊNCIA


 O conhecido jornal francês dedicado ao rugby, Midi Olympique, nomeou os dois internacionais portugueses, Samuel Marques e Raffaele Storti, que jogam em França e ambos no Béziers, para o “Le XV de la semaine” do passado fim‑de‑semana.

Também o Rugbyrama, site associado ao mesmo jornal Midi Olympique, considerou que os dois jogadores pertencem ao grupo que definiram dos 10 melhores jogadores da ProD2 em 2023.

Como se isto não bastasse, Rafaelle Storti foi nomeado pelo site inglês Planet Rugby como um dos melhores cinquenta jogadores mundiais, que lhe atribuiu o lugar 47º entre o 48º, o georgiano David Niniashvili, e o 46º do inglês Maro Itoje. Nesta classificação o 45ª é o Owen Farrell sendo o 44º, o notável Johnny Saxton — tudo boas compamhias para o nosso internacional.

Vendo estas notícias que definem estes jogadores internacionais portugueses — estes Lobos — como membros da elite internacional, não posso deixar de me lembrar de duas situações “particulares” passadas no Mundial de França.

A primeira diz respeito ao verdadeiro disparate da decisão de substituir Samuel Marques a minutos do fim quando Portugal vencia por 18-13, tempo em que a experiência deste excelente leitor e activador do jogo nos poderia ter garantido a vitória. E, porque estava, na bancada, próximo do seu corredor de saída, não esqueço a sua cara de espanto na saída do campo…

Com Storti a estória é outra. Sempre lhe vi qualidades notáveis alicerçadas numa inventiva utilização técnica e táctica das suas qualidades físicas que o transformam num perigo rugbístico constante. No entanto vi sempre do lado do responsável da selecção nacional uma preferência — nunca a percebi — por Vincent Pinto jogador que considero de “passado ilustre e fraco presente”. E se não fosse o acto estúpido de pontapear um jogador galês com a consequente expulsão e castigo — situação que o jogador parece nunca ter percebido a gravidade do seu gesto de acordo com as declarações que prestou posteriormente á comissão disciplinar — tenho quase certo que não teríamos visto Storti e a excelência das suas prestações no Mundial.

Agora, sabendo que Storti — o melhor marcador, com 9 ensaios, da ProD2 —  estará naturalmente disponível para os jogos do Rugby Europe Championship 2024/2025 enquanto se prepara para o retorno ao Stade Français do TOP14, fica-nos a esperança de que Samuel Marques, depois deste reconhecimento das suas capacidades, volte a disponibilizar-se para nos continuar a ajudar pelos melhores resultados.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

COLOCAR OS PÉS NO CHÃO

Com os últimos resultados internacionais obtidos, o rugby português está na altura limite para reflectir. Porque não chega definir como objectivo a presença no Mundial da Austrália em 2027, sendo necessário ajustar as acções internas aos objectivos estratégicos, determinando os caminhos críticos que exigem a atenção e o controlo dos seus indicadores.

Demasiado satisfeitos com os elogios— alguns deles resultantes de uma visão meramente paternalista — recebidos pela prestação dos Lobos no Mundial 2023 e que — embora os jogadores tenham tido um comportamento de elogiar, jogando no máximo das suas capacidades — não terá sido tão boa como a pintam com excepção da vitória sobre Fiji, mas que, no entanto, não chega para tapar as diversas incapacidades demonstradas nos restantes jogos, principalmente na entrega de uma vitória evidente como aconteceu contra a Geórgia ou pela impossibilidade de tirar partido da superioridade numérica de dois jogadores contra a Austrália. Porque a realidade é esta: estamos, com um optimismo cego, a tapar os olhos à envolvente que nos cerca.

Na competição European Super Cup que tem como objectivo permitir aos jogadores um contacto com um nível superior ao seu campeonato interno, preparando-os para uma mais fácil adaptação ao nível competitivo internacional, os Lusitanos, derrotados em três jogos do seu grupo, conseguindo duas vitórias — uma delas só no prolongamento — contra equipas medíocres e que em nada contribuem para os objectivos deste tipo de competição, conseguiram um fraco e desanimador 5º lugar. Nos sub-20 fomos derrotados, num segundo ano consecutivo, pelos Países Baixos — o que não pode deixar de ser uma chamada de atenção a levar em conta. Levaremos?…

… o acesso ao Mundial da Austrália vai exigir vitórias portuguesas no European Championship e não bastará para garantir o apuramento os parabéns e as palmadas nas costas do pós-Mundial 2023 — são necessárias vitórias!

Claro que o “rugby-de-movimento” em que, desde há muito, assenta o jogo português é atraente para os espectadores que se mostram cada vez mais fartos do jogo de segurança de colisões sucessivas mas devemos também convir que a forma que utilizámos se adapta mal aos desenvolvimentos defensivos actuais, tornando este nosso jogo de apoio e continuidade pouco eficaz se não houver uma pouco repetível preparação de cerca de 4 meses como aconteceu para o Mundial — 6 ensaios marcados (1 Gales, 2 Austrália, 3 Fiji) contra 11 sofridos — como se pode ver com a prestação dos Lusitanos no Grupo A do Super Cup— 3 ensaios marcados contra 10 sofridos. Ou seja, para o apuramento não basta o que possámos ter mostrado. Precisamos da eficácia que produz vitórias.

E os resultados dos Lusitanos — que formam parte da elite de um país que se encontra na 13ª posição do Ranking da World Rugby são a clara demonstração de que o nosso campeonato interno tem uma enorme falta de competitividade com os desequilíbrios que o passado fim‑de‑semana deixou à evidência — diferença média de 37 pontos entre vencedores e vencidos.

Se a base do sucesso de um colectivo está na sua coesão seria bom que a organização interna da nossa competição principal garantisse a construção de uma competitividade tal que, desenvolvendo competências, não exigisse, para a prestação internacional, a muito difícil repetição de demasiado extensas concentrações de jogadores. Começando por pensar — analisando o que se sabe das relações no interior dos Lobos — que a coesão se constrói com relações assentes numa possibilidade fácil e clara de comunicação e em hábitos culturais do mesmo tipo. Ou seja: é bom pensar que a selecção nacional deve tender para um conjunto maioritário de jogadores que, embora possam estar a jogar em qualquer parte do mundo, tenham sido formados em Portugal — mesmo conhecimento cultural e dos mesmos hábitos —a que se possa juntar uma ou outra vedeta luso-descendente, então facilmente integrável.

Ora o que está internamente a passar-se, viola — numa pretenciosa ignorância — os princípios das regras da organização desportiva obrigatória no Desporto Rendimento, mostrando uma desatenção absoluta em relação à equidade da organização e articulações competitivas. E se já é difícil conseguir a competitividade necessária com 10 clubes na Divisão de Honra — a que prepara e fornece jogadores para as competições internacionais — pior é esta fórmula de disputa — para além de poder proporcionar “ajustes” ilícitos — com jogos adiados sem qualquer razão objectiva e desportivamente necessária. E assim temos uma classificação oficial que, impedindo o conhecimento da relatividade competitiva entre os diversos clubes, tem uma mistura de jogos disputados que nada tem a ver com as regras mais elementares do tratamento igualitário dos participantes de uma mesma prova desportiva — há quem tenha 9 jogos disputados enquanto que o líder tem apenas 7 e outros dois clubes só disputaram 6 jogos… (isto para além da classificação oficial apresentada no último Boletim Informativo que, aliás, nos aparece sempre com um atraso inexplicável, estar errada). Atingido o final da 1ª volta e não tendo a noção do valor comparativo das equipas, fica-se com a sensação que se joga por jogar e não para disputar um título de Campeão Nacional…

Para definir uma estratégia que nos leve à Austrália, não basta uma visão — é necessário estabelecer um conjunto de acções — com especial atenção às acções críticas (aqueles cuja positiva operacionalidade estabelece o sucesso) — que se articulem e obriguem ao constante desenvolvimento umas das outras. Campeonato sequenciado e com alta competividade obrigando a elevada intensidade, arbitragens de qualidade e de acordo com os parâmetros da arbitragem internacional a que se juntem conhecimentos de treinadores actualizados e cursos técnicos específicos para determinadas posições — o retorno da Força 8 é decisivo — serão alguns dos instrumentos que nos podem preparar o caminho mundialista. Para o que é preciso começar já! 

… o European Championship que vai qualificar para o Mundial, tem o seu início, que definirá os grupos decisivos para as duas voltas de classificação final em 2026 e 2027, no início de Fevereiro de 2024…

… e a questão operativa que se coloca aos responsáveis do rugby português diz respeito à transformação dos bens intangíveis resultantes do Mundial em resultados que ampliem os proveitos desportivos. Como fazer e como juntar as acções necessárias à missão pretendida? Qual a estratégia? 

Defini-la, estabelecendo e controlando as acções e as suas dinâmicas, é o primeiro passo para 2027.  


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

HÁ QUE FORMAR DIFERENTE

Com uma segunda derrota consecutiva em jogos em casa — a primeira num jogo que não se deveria ter realizado por razões óbvias da brutalidade de violação dos direitos humanitários na guerra Hamas-Israel — os Lusitanos, ao perderam com os georgianos dos Black Lions por 22-0, colocam-se em difícil posição para terem acesso às meias-finais do Rugby Europe Super Cup 2023 porque terão, na última jornada da fase de grupos, que jogar em Valladolid contra os Castilla y Leon Iberians. E a dificuldade principal surgirá superior se a equipa não fôr constituída com um cuidado maior do que aquele que estas duas equipas aparentaram.

Neste jogo contra os georgianos, os Lusitanos apresentaram uma equipa formada por 23 jogadores de 8 clubes — 3 de Direito (1º DHonra),1 do Benfica (2º DHonra), 4 do CF Belenenses (3º DHonra), 4 do CDUL (4º DHonra), 3 de Agronomia (5º DHonra), 5 do Cascais (9º DHonra) e 1 do Stade Auralliac (PROD2, França). O que mostrou o esperado: com uma base onde muitos jogadores não mostraram ter a preparação/formação técnico-táctica necessária para as exigêncas deste nível competitivo a equipa mostrou-se pouco coesa e com pouca articulação entre sectores mas muita incapacidade para resolver os problemas do jogo de forma colectiva. E assim, sem um mínimo de ferramentas, não é possível ganhar a pretendida experiência de que necessitarão para atingir outros vôos de maior responsabilidade.



De facto como é possível perder um jogo pela diferença de 20 pontos tendo a vantagem da posse com 60% sobre 40% do adversário, realizando 183 passes contra 94 do adversário, criando 7 rupturas da linha defensiva sem que o adversário rompesse alguma vez, para, no fim, sofrer 4 ensaios e uma transformação a somar 22 pontos e a que se podiam juntar mais 7 se o pontapeador georgiano não tivesse deitado fora 3 pontapés. A estes domínios negativos junta-se ainda a má conduta  disciplinar com diversas faltas nas formações-ordenadas (pilar direito)  e no jogo-no-chão. Umas e outras por óbvias falhas na preparação técnica mas que possibilitaram “penalti-touches” que foram bases de ensaios.


Mas com esta vantagem na posse que proporcionou uma vantagem de 89 passes e de 7 quebras-de-linha como foi possível não marcar pontos? —diga-se que houve uma jogada que terá praticamente possiblitado um ensaio que foi anulado por falta no último momento, mas, mesmo assim, foi muito pouco. 


O que aconteceu foi evidente: incapacidade para ser eficaz com as conquistas de bola obtidas. E porquê? Porque temos a ideia errada que o importante é jogar bonito — traduzido muitas vezes em passes laterais sem conquista de terreno — quando, pela necessidade absoluta de avançar, se exige a eficácia da ultrapassagem da linha defensiva com conquista da linha-de-vantagem. Mas os números dizem que rompemos por 7 vezes a defensiva adversária — e, perguntará quem não viu o jogo, como é que assim não conseguiram marcar? Porque o apoio, por falta de sentido colectivo e capacidade de antecipação, nunca chegou em tempo útil para encadear.


E nestas aparências de um jogo tido por bonito fica a dificuldade de um futuro risonho se não houver a formação necessária que transforme o jogo português. Porque no Rugby ganha-se avançando e marcando pontos para o que é necessário ser eficaz de acordo com o objectivo pretendido. E por isso os princípios a cumprir: conquista, avanço e apoio para pressionar a defesa.


E é necessário alterar o conceito defensivo! Os georgianos fizeram 161 placagens e os Lusitanos apenas 77 com 81% de sucesso contra 91% dos Black Lions. E então, tem algum significado especial o facto da equipa que ganhou ter placado mais do dobro da derrotada? Tem! A equipa portuguesa continua agarrrada à ideia da defesa deslizante  — a que já não pertence a este tempo como diz o analista neozelandês Nick Bishop — enquanto que os georgianos — e o seu treinador assim o disse — já estão num patamar superior da defesa utilizando a versão contemporânea do “rush”. Ou seja, a equipa portuguesa defende com a preocupação do posicionamento dos adversários atacantes que tem na sua frente cedendo terreno e, ao deslizar  — defendendo assim ao homem — para evitar placadores ultrapassados ou fixados por corridas interiores dando, portanto, tempo ao ataque adversário, enquanto que os georgianos defendem à bola, atacando o portador e subindo tão rápido quanto possível e de forma invertida — pelo avanço externo do 2ºcentro — fechando os espaços de circulação e procurando placar o portador da bola, obrigando-o a ir ao chão, parando o movimento e, numa placagem mais ofensiva, possibilitando a recuperação da bola por um dos companheiros defensores mais próximos ou, ainda, pela pressão imposta com diminuição do terreno de acção e do tempo de execução, procurando levar o adversário a correr riscos em passes difíceis, levando a um mau controlo da bola ou a fazer adiantados com a consequente conquista da bola. Isto sem falar que, quando portadores da bola, continuámos a ignorar a lição de Nun’Álvares Pereira que ensinava que “a manobra precede a colisão”. E no jogo português existe uma tendência para, do nada, tentar impôr a colisão no que, normalmente, resulta a paragem do movimento com ida para o chão com a consequente reorganização defensiva.


É vital, como os jogos de cada fim‑de‑semana vão mostrando, alterar a formação do jogador português, começando por fornecer aos seus treinadores os instrumentos necessários.


Entretanto, neste mesmo fim-de-semana, duas vitórias das selecções de U18 — vitória sobre a Roménia por 22-15 e da U20 que derrotou a Polónia pelo resultado de 122-0. Este último resultado demonstra mais uma vez o pouco cuidado que a a Rugby Europe tem em relação aos princípios da competição desportiva. No Desporto existem categorias para garantir um equilíbrio competitivo que não permita vencedores antecipadamente certos. Um jogo com esta diferença de resultado não serve para nada a qualquer das equipas…não testa ninguém e não dá experiência nem conhecimento, seja a quem fôr. Uma perda de tempo.




segunda-feira, 6 de novembro de 2023

CARTA ABERTA DE CAPITÃ PARA CAPITÃO

Olá Tomás, 

Eu sou a Daniela, capitã da Seleção Nacional Feminina de Rugby XV. Tal como tu, represento um grupo de atletas que nutre uma grande paixão pela nossa modalidade e que, apesar de ter pouca expressão no nosso país, não se deixa desmotivar. Aliás, estou certa de que a motivação poderá ser mesmo a grande impulsionadora de muitos feitos e conquistas, uma vez que ambos sabemos como é difícil ser atleta de Rugby em Portugal, representar o país e ter de gerir de forma exímia os vários papéis que desempenhamos na vida. Já para não falar na gestão e investimento financeiro que nem sempre corre a nosso favor. Ambos sabemos disto, mas talvez existam algumas outras coisas sobre as quais eu precise de te falar.

Há uns dias acordei inundada de partilhas e publicações sobre um podcast onde terias estado. Fui ouvir. De início ao fim. E a verdade é que não posso esconder alguma desilusão e, mais do que isso, incompreensão. Esta carta não pretende ser um pelourinho de castigo. Apenas me voluntario como porta-voz de uma comunidade, cada vez maior, para mostrar o nosso desagrado (sendo que não nos revemos nem nos identificamos com algumas das tuas afirmações) e poder deixar a perspetiva de quem vive e joga rugby no feminino. 

Depois de algumas das tuas palavras é legítimo que os comentários sobre o rugby feminino sejam algo parecido com “É de loucos como elas vão para dentro de um campo no meio de cabeçadas, placagens e com lesões sempre à espreita”. Mas as tuas próprias palavras são também capazes de nos ajudar a explicar algo que nos parece óbvio no meio desportivo, já que “se calhar, para nós, não é assim tão arriscado porque treinamos muito aquilo”. 

A certa altura falavas sobre as diferenças físicas entre a Seleção Portuguesa e outras equipas presentes no Mundial de Rugby. Dizias “Não vamos jogar como se tivéssemos a capacidade física das Fiji, ou da Geórgia...” e continuavas explicando de forma simples o modelo de jogo da seleção. Nesse momento, para mim foi inevitável transportar-me para o panorama feminino e para todos os argumentos que tendem a não validar o rugby para as mulheres: Uma  mulher também não procura jogar como se tivesse a capacidade física ou a estrutura de um homem. Usamos as nossas características e jogamos o nosso rugby. Simples... mas, aparentemente, pouco atrativo. 

Mas o que é que define, na realidade, um jogo atrativo? Um jogo bonito de se ver, que entusiasme, que nos deixe presos ao ecrã e que levante estádios? Certo, mas então o que seria de tantos outros desportos se esta fosse a premissa de encorajamento? E como poderá um desporto crescer e tornar-se atrativo com esta “publicidade”? Difícil de responder talvez... “Mas por outro lado tu pensas, quando chegas a (...) finais e etc, tu queres é ganhar”. E embora joguemos bonito também, nem sempre estamos lá para isso, queremos é ganhar, e nisso posso garantir que somos tão acérrimas e competitivas como vocês. 

Mas não deixamos de ser mulheres, e sendo o rugby um desporto tendencialmente caracterizado como masculino talvez seja preciso uma maior divulgação e incentivo para que mais meninas e mulheres conheçam o rugby e possam elas decidir se gostariam de jogar ou não. Talvez a evolução e crescimento do desporto, no geral, passe por este pequeno detalhe incluviso, tão particular.  

Compreendemos que as questões culturais, no nosso país, também influenciam a visibilidade do rugby. Mas sabemos também que esta é uma modalidade em constante evolução, que se adapta e reinventa, como bem referiste na entrevista. O rugby tem acompanhado os novos tempos e as necessidades dos atletas, por isso, a questão é: queremos mesmo ficar para trás e olhar apenas para o desporto masculino?

A cultura é tudo aquilo que a humanidade acrescenta à natureza, e a natureza do rugby está assente em valores muito convictos. O respeito ajuda-nos a aceitar e ver a diversidade como um acrescento necessário: existirão certamente poucos desportos tão inclusivos como o rugby, onde basta olhar para uma equipa para ver como há lugar para diferentes corpos e habilidades. Não será dificil então perceber que a estrutura feminina pode facilmente adaptar-se à exigência do desporto, como em outra qualquer modalidade. Indo mais longe, talvez faça mais sentido falar em resiliência e paixão, ao invés de masculinidade, quando nos impressionamos com “cabeçadas” e “narizes partidos”. E poderia continuar a listar mais valores, que encaixam tão bem em homens como em mulheres, porque para além do que o “rugby traz ao corpo” é sobre tudo isto que o rugby traz à mente... Mas tenho a certeza que os conheces bem, por isso a minha questão é, porquê? Bem sei que o momento apelava às tuas opiniões, num ambiente descontraído e sincero, mas saberás tão bem quanto eu que enquanto capitães, líderes, representantes de algo maior do que nós, o que dizemos tem impacto e pode gerar consequências. Num momento tão importante para o Rugby, no momento com mais visibilidade dos últimos anos, foram aquelas as melhores considerações que decidiste partilhar sobre o rugby feminino? Numa altura onde todos os holofotes apontam para os Lobos, foi aquele o contributo que quiseste dar ao rugby feminino? Sabemos que foi uma pergunta muito concreta e que, a par disso, na resposta reservavas-te claramente ao direito de dizer o que realmente pensavas, mas sendo tu também atleta deste desporto pouco valorizado por cá, tendo também passado por provações e desafios para jogar e representar o país, esperava um pouco mais. Um pouco mais de empatia por quem ama a mesma modalidade, se sacrifica por ela e que, no fundo, só quer o mesmo que tu: jogar. 

Nunca ninguém vai gostar de ver rugby feminino se nunca tiver tido essa oportunidade ou se nem sequer souber que existe rugby feminino em Portugal. Da mesma forma que ninguém vai querer ver rugby se essa cultura não existir em Portugal, e assim permanecerão as bancadas da DH intervaladas de espectadores. A proporção, as massas, o investimento, o retorno são tudo palavras importantes neste jogo da visibilidade, mas a responsabilidade também é nossa, que somos da casa, que somos do rugby. 

Num país onde sabemos qual é o desporto rei, torna-se inevitável a comparação. Nunca ninguém gostou de futebol feminino, não se conheciam as equipas nem os calendários: “Não é igual”, “Não é atrativo”, “É lento”... No último verão houve quem acordasse mais cedo para ver a Seleção Nacional Feminina de Futebol jogar no Mundial. Ouviram-se fartos elogios e abusou-se da preposição simples “até” antes do verbo “gostei”. Uma abordagem bem analítica para que percebamos com rigor que a aposta e a divulgação fazem crescer. Trazem responsabilidade e compromisso também e, no limite, as atletas tornam-se melhores e os jogos... atrativos. Hoje emitem-se jogos nos canais generalistas e até já se sabe o nome de algumas jogadoras. Porquê? Porque houve interesse e oportunidade.

Não querendo fazer publicidade ao patrocinador oficial que acompanha o futebol feminino, não poderia dar mais razão ao slogan que escolheram: “O Mundo já está a mudar o Mundo”. E o mundo somos nós, Tomás. Sou eu, que jogo rugby há 15 anos e que me dedico à modalidade para deixar um legado para as novas gerações; é a Joana de 14 anos que treina todas as semanas com as seniores sabendo que não vai jogar no fim-de-semana, porque não tem idade, nem no seu escalão porque no clube não existe, mas ela não desiste;  é o irmão que leva os primos e os amigos a experimentar um desporto “diferente”; é o professor que leva uma bola “estranha” para a aula para que todos, rapazes e raparigas, conheçam o rugby; és tu, que podes falar sobre o nosso desporto com câmaras e microfones apontados a saber que te vão ouvir, pensar sobre o que vais dizer e, quem sabe, influenciar alguém. 

Espero, honestamente, que o Mundial tenha sido um bom trampolim, não apenas de sonhos, mas de concretização, mudança e evolução. Espero que, tal como referiste, existam “milhares de miúdos” que comecem a jogar rugby por vossa causa. Mas espero também que as crianças, jovens e famílias consigam ver um bocadinho mais além. Pois acredito que um pai ou uma mãe, depois de ouvir as tuas palavras , dificilmente considere que o rugby poderá ser um bom desporto para os seus filhos, pois em tenra idade as diferenças não são gritantes e o que não será benéfico para uma menina, dificilmente será para um menino também. 

Apesar das dificuldades, e da pequena janela de oportunidades e recrutamento, o rugby feminino vai continuar a lutar pelo seu lugar, que tem vindo a ganhar cada vez mais visibilidade, tanto nacional como internacionalmente. E ambicionamos, sim, percorrer o caminho do rugby masculino, que para nós têm sido uma referência. Mas precisamos de tempo, ajuda, investimento e, sobretudo, uma boa publicidade!

De capitã para capitão, espero que esta carta tenha sido útil para criar, pelo menos, uma reflexão sobre o impacto que as tua palavras poderão ter no desenvolvimento do rugby. 

A todas as meninas e mulheres que queiram experimentar o rugby, a porta está aberta.

Tomás, a ti, fica feito o convite para assistires a mais jogos de rugby feminino.

Daniela Correia

domingo, 5 de novembro de 2023

50 ANOS DO RUGBY CLUBE DA LOUSÃ


 Muitos parabéns José Redondo pela excelente obra! 



sexta-feira, 3 de novembro de 2023

VITÓRIA DA DEFESA


Uma final de uma competição desportiva é isto: tensão, dramatismo, resultado indeciso até ao fim. E o título mundial, pela quarta vez (1995,2007,2019,2023) em oito presenças, foi conquistado — num 12-11 sufocante — pela África do Sul que mostrou resiliência, força mental, organização, disciplina e vontade de ganhar que os tornou capazes de resistir aos ataques dos neozelandeses que tiveram a posse da bola em 60% e o domínio territorial em 53% do tempo de jogo e ainda com 66% de posse nos últimos 10 minutos do jogo. Mas, ao jogarem 63’ com 14 jogadores por amarelo a Shannon Frizell (3’) e expulsão do capitão Sam Cane (27’) contra 17’ com 14 jogadores do lado sul-africano por amarelos ao capitão Siya Kolisi (45’) e a Cheslin Kolbe (73’), os neozelandeses acabaram por diminuir a eficácia da utilização adequada dos seus pontos fortes.


E quando o árbitro Wayne Barnes — formando equipa com os seus assistente, um TMO e um Bunker, que não formaram um conjunto propriamente brilhante — deu o jogo por terminado, o meu pensamento foi directo para Nelson Mandela que, com a sua estratégia de inclusão em 1995 conseguiu a primeira conquista de um Mundial e estabeleceu os princípios que transformaram uma equipa dominada pelo segregacionismo racial do pensamento africander numa equipa representativa e reconhecida por todo o povo sul-africano, permitindo a presença efectiva de jogadores negros, chegando, em 2019 e até hoje, a entregar o capitanato ao negro Siya Kolisi. O Desporto, mesmo se de Alto Rendimento onde acima de tudo conta o resultado, é tão inclusivo que permite situações que noutros momentos parecem improváveis ou mesmo impossíveis como o facto de, no final do jogo, adversários em cavaqueiras de amizade a que juntavam a apresentação de filhos uns aos outros numa clara demonstração de que a ética desportiva se constrói e vive dentro dos terrenos desportivos.  


Como se esperava, esta final foi um excelente espectáculo demonstrativo de estratégias e tácticas diferentes mas ambas altamente efectivas como foi a superdefesa que as duas equipas mostraram — os Springboks realizaram 209 placagens com uma percentagem de sucesso de 80% contra 92 placagens e uma percentagem de sucesso de 78% dos neozelandeses. Com estilos diferentes — a África do Sul a defender (rush defense) com grande velocidade de saída e muita intensidade (e alguns fora-de-jogo…) mas com a necessária interligação para cortar espaço e tempo e que lhes permitiu conquistar 7 turnovers contra apenas 2 dos adversários, provocando ainda um atraso superior a 3 segundos na disponibilidade da bola em 63% dos 115 rucks conquistados pelos neozelandeses. E até pela inferioridade numérica em que estiveram na maior parte do tempo os AllBlacks, defenderam com subida mais lenta, dando tempo ao movimento adversário mas garantindo que se podiam adaptar ao movimento dos atacantes sem bola e deslizar em tempo para colmatar a falta de um jogador. E se houve, para os dois lados, possibilidades de ensaio, ambas as defesas foram capazes de resolver qualquer dos problemas criados. E nem os neozelandeses foram capazes de garantir, para além do ensaio de Beauden Barrett (58‘), a exploração eficaz que tinham demonstrado na marcação dos seus 49 ensaios mundiais. E isso aconteceu devido à forte presença da defesa sul-africana que, ao encurtar os espaços de manobra neozelandesa, obrigou a riscos, levando a assintonias e aos consequentes falhanços. O que, no entanto, não impediu os AllBlacks de fazerem as despesas do jogo, proporcionando, apesar da chuva e frio intensos, a alegria e os aplausos das bancadas por diversas vezes. 

 

Do lado sul-africano viu-se o esperado: correndo um único risco no recurso à composição do banco em 7-1 — sem médio-de-formação e talonador suplentes — o constante — usando o factor colisão praticamente só quando dentro da área-de-22 adversária — foi o uso do jogo ao pé na procura da ocupação do campo adversário com a consequente conquista de território que convidava os neozelandeses — sabendo que são confiantes para isso — a lançar o ataque desde a sua área de 22, obrigando assim os AllBlacks a um enorme desgaste físico que lhes permitia à medida que o tempo passava, uma mais fácil organização e eficácia defensiva ou até a recuperar a bola dos possíveis pontapés a que os AllBlacks eram obrigados. E com menos campo a percorrer — no rugby o essencial é avançar, correndo para a frente porque o tesouro está lá ao fundo, na área-de-ensaio adversária — os Springboks voltavam ao seu território preferido: a área-de-22 adversária. 


Os sul-africanos souberam portanto e através de uma bem estudada táctica, colocar os seus pontapés (38, com 12 para fora, contra 34 dos AllBlacks que chutaram fora 16) nas alas laterais — Jordan foi um alvo óbvio — sobre os menos aptos captadores de bola neozelandeses, atrasando ou mesmo impedindo a temível organização ofensiva neozelandesa. 


Embora com um jogo mais agradável de ver — jogo atacante de movimento com os passes e apoio penetrante variável necessário à exploração de intervalos em linhas-de-corrida ora convergentes, ora divergentes— os neozelandeses foram encurralados de tal maneira que não conseguiram tornar a sua posse e domínio territorial em vantagem numérica de resultado. E talvez tenham cometido um erro — numa leitura pouco habitual do valor percentual de hipóteses (perdiam apenas por um ponto) — ao não terem chutado aos postes nas penalidades que trocaram por tentativas, que se mostraram falhadas, de penalti-maul… No fundo, uma final de cortar a respiração com um vencedor meritório e com muito para analisar sob o ponto de vista estratégico e táctico.


E é claro que, olhando o jogo do alto da bancada — que tiveram 80 065 espectadores — a defesa levou a melhor. Mas para que a defesa ganhe jogos é preciso que o ataque marque mais pontos do que o adversário. E o que torna possível que esta estratégia restritiva, mas inteligente dadas as forças em presença, dos Springboks acabe a vencer — num terceiro jogo pela diferença mínima mas derrotando 3 das principais candidatas e só perdendo para a Irlanda— é um pé como o de Handré Pollard que transforma a capacidade defensiva e o espírito competitivo colectivo dos seus companheiros em pontos vitoriosos, marcando as 4 penalidades conseguidas no meio-campo AllBlack. Havendo um pé como este de Pollard a defesa pode vencer. Como aconteceu e como vimos. Numa demonstração de coesão colectiva e disciplina cumpridora do plano de jogo.


Nota: Dada a actual situação de conflito — onde são mortas, numa brutalidade sem nexo numa violação bárbara do direito internacional humanitário, civis inocentes, nomeadamente crianças, num inegável mas desproporcionado direito de defesa — não me parece que o jogo de sábado, a contar para a Rugby Europe SuperCup 2023/2024, entre os Lusitanos e uma equipa israelita, deva ser realizado. Por respeito para com os mortos e numa demonstração de apoio a um cessar-fogo imediato. É de uma guerra que se trata e o Desporto não é, não pode ser, neutro.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

UMA FINAL ENTRE TRI-CAMPEÕES

Este quadragésimo-oitavo jogo do Mundial 2023 constitui a final entre os tri-campeões mundiais, África do Sul (1995,2007,2019) e Nova Zelândia (1987, 2011, 2015). E é, de acordo com as diversas estimativas, um jogo de tripla. 


Independentemente da perspectiva do resultado será um encontro entre dois modelos de rugby: do lado sul-africano o rugby de colisão que faz da capacidade de avançar em força no terreno a sua maior arma; do lado neozelandês o rugby de movimento que faz da iniciativa, da flexibilidade e da mobilidade, coordenados e focados pela mesma leitura da situação que enfrentam, a sua eficácia numa articulação de pequenas unidades que, para além de surpreenderem e desequilibrarem a defesa, constituem, pelo apoio organizado que criam próximo do portador da bola, um fortíssimo instrumento de ataque. Agora com uma dificuldade acrescida; as 14,3 placagens ofensivas feitas em média por jogo pelos defensores sul-africanos.


Por outro lado, os sul-africanos, embora sem a fluidez neozelandesa, colocam a pressão das suas poderosas colisões como a principal arma de desequilíbrio das defesas adversárias. E será curioso ver como estas equipas, muito próximas no valor das placagens bem sucedidas mas muito diferentes nas formas defensivas e atacantes, vão garantir a defesa das suas áreas-de-ensaio. 


Com ligeira vantagem, a conquista é favorável aos neozelandeses, mesmo se os sul-africanos demonstraram a sua capacidade nas formações-ordenadas contra Inglaterra ao provocarem três penalidades e que acabaram por lhes dar a vitória.


Nos alinhamentos os neozelandeses voltam, com 97% contra 88% a mostrar superioridade, a que acrescentam um bom uso de combinações que permite que transformem esta fase estática numa sua excelente base de ataque. E como sabem muito bem lançar os ataques centrais com a organização dos seus pequenos grupos, conseguem encurtar a linha defensiva adversária, abrindo assim corredores laterais por onde, com a facilidade de passes tensos de 10 a 15 metros, lançam o seu temível trio-de-trás.


A prestação dos AllBlacks neste Mundial é superior aos Springboks em quase todos os domínios


Mas o trio-de-trás dos sul-africanos não lhes fica atrás em perigosidade. E vai ser interessante ver como, na sua habitual estratégia de não correr riscos no seu meio-campo, os sul-africanos, utilizarão os seus habituais pontapés-na-caixa, para colocar um dos seus excelentes pontas em vantagem — que aliás muito pouco tocaram na bola (não fizeram nenhum passe(!)), contra a Inglaterra… Mas desta vez serão mais cuidadosos que o normal porque os neozelandeses são a equipa que mais gosta — numa enorme demonstração de confiança — de lançar ataques desde a sua área-de-22. E se conseguem ultrapassar a primeira-linha defensiva transformam o movimento num prazer para os espectadores.


O resultado final pode estar dependente da prestação do banco de suplentes de cada uma das equipas. Com o seu arriscado banco de 7-1 — a BombSquad — os sul-africanos, jogando sem formação suplente, mostram ao que vêem: tirar toda a vantagem do seu bloco de avançados, forçando penalidades  —  neste Mundial foram a equipa que, com 16, mais penalidades provocou nas formações-ordenadas. E entram de imediato com o pontapeador de excelência Handré Pollard e Faf De Klerk, procurando que o marcador lhes seja favorável desde cedo. Mas os suplentes neozelandeses — a Easy Company como são designados pelo seu terceira-linha Papali’i — conseguindo na última jogada do jogo contra a Irlanda defender 37 fases, mostraram que também sabem estar à altura.  Nos AllBlacks não haverá surpresas, jogam os habituais e a confiança das ilhas dos antípodas é absoluta.


No final do próximo sábado, com o 10º título de Campeão do Mundo 2023 entregue, conheceremos também a equipa que obterá o seu 4º título, mantendo-se a vantagem do Hemisfério Sul que nos nove mundiais disputados conquistou oito.


Nota: texto publicado no Público


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

MEDALHA DE BRONZE DO MUNDIAL

A Inglaterra é favorita por uma margem muito curta

A memória do Hemisfério Norte para a posteridade está nas mãos da Inglaterra. De facto e como todos nos lembrámos do jogo entre as duas equipas do passado 9 de Setembro na fase de grupos com 6 penalidades e 3 ressaltos de George Ford para garantir a vitória por 27-10, a hipótese de vitória inglesa estará mais nos seus pés do que nas suas mãos. E relembremos também a excelente defesa que os ingleses demonstraram quando colocados em inferioridade numérica com 14 jogadores desde o 3’ de jogo por expulsão de Tom Curry. Isto dará com certeza para um jogo de confiança de um lado e de vontade de “vingança” do outro. O que garantirá um combate colecetivo até ao apito final do árbitro.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

UM JOGO DE MOVIMENTO E OUTRO DE PONTAPÉS

A Nova Zelândia deu, nestas meias-finais e contra a Argentina, uma lição de rugby de movimento traduzida em 7 ensaios e uma tremenda eficácia de 4,4 pontos por cada uma das 10 entradas na área-de-22. Do lado dos argentinos, com uma bajadita, mais ou menos passada à história, e uma total incapacidade de fazer passes compridos — nos AllBlacks e para uma grande parte dos jogadores fazer passes de 15 a 20 metros parece uma trivialidade — permitiram sempre, mesmo se conseguiam superioridade numérica lateral, que a defesa dos AllBlacks se desdobrasse e tornasse qualquer ruptura como um acidente sem perigo. 

Portanto e em resumo saltou à vista no campo da eficácia um absoluto nulo argentino contra uma notável eficácia neozelandesa que explorava qualquer abertura de intervalo por onde fugia o portador e que — o notável do esquema — era imediatamente apoiado por outros jogadores que tinham detectado na sua leitura a mesma solução para funcionar numa pequena unidade decisória — os militares designam este modelo como “comando de missão” — a sua história vem da utilização pelos prussianos contra as tropas de Napoleão — e que os neozelandeses adoptaram. O que significa em rugby? que o comando e a decisão passam para o portador da bola que deve ser imediatamente apoiado pelo pequeno grupo de apoiantes que, com iniciativa, flexibilidade e mobilidade, de imediato se adaptam à realidade da situação que confrontam, com o objectivo de vencer cada duelo que se apresente ou cada oportunidade que detectem.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A segunda meia-final entre a Inglaterra e a África do Sul teve 70 pontapés — 41 da Inglaterra com 15 para fora e 29 dos sul-africanos com 10 para fora — num jogo em que a procura da ocupação de terreno foi a constante. E com essa estratégia, a que juntaram 99%  de sucesso na conquista de rucks e 8 turnovers conquistados, os ingleses foram construindo o resultado que chegou, aos 70’, a 15~6 depois de um ressalto fabuloso — a “imitar” Wilkinson — de Owen Farrell. Mas a desintegração da formação-ordenada com 3 penalidades permitiu aos sul-africanos — com uma resiliência extraordinária que os manteve sempre como capazes de alterar o resultado — criar as condições para que Handre Pollard utilizasse a sua capacidade de pontapeador para dar a vitória numérica à sua equipa.

E de um jogo aparentemente ganho — veja-se o valor da sua média no quadro da Análise Estatística — os ingleses regressaram aos balneários a lamentar os erros estratégicos e tácticos cometidos no quarto final do jogo. Um erro estratégico que me pareceu, embora crasso, evidente foi o facto de nos 15-20 minutos finais o treinador inglês, Steve Borthwick, não ter feito entrar George Ford— só o fez em cima do final do jogo, aos 78’ — para poder contar com dois ressaltadores dentro do campo e assim criar um enorme problema defensivo aos sul-africanos. Como erros tácticos — fruto provável de enorme incapacidade — o facto de em vez do recurso ao canal 1, o canal rápido, da formação-ordenada procurara manter a bola no seu interior para o péssimo resultado global de 43% de sucesso. E num jogo aparentemente ganho, acabar por perdê-lo pela diferença de um ponto é desolador.

Note-se no entanto que o resultado — para as previsões que existiam — constitui para os ingleses uma demonstração de capacidades que a inteligência táctica colocada em campo conseguiu operar. Se péssimo no afastamento da final, foi bom no retorno competitivo.

Nota: a World Rugby decidiu, para além do aumento de provas (confirmação da Nations Cup com 12+12 equipas em duas divisões) que possibilitem um maior número de contactos internacionais, que a fase final do Mundial de 2027 será disputada por 24 equipas em 6 grupos de 4 equipas seguidos de oitavos-de-final  (apuramento dos 4 primeiros e segundos e dos 4 melhores terceiros), passando para 7 semanas de competição e com a garantia que o sorteio se fará o mais tarde possível para garantir o acordo com a competitividade mundial.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

MEIAS-FINAIS




De acordo com os rakings que posicionam a história de cada uma das equipas, a Nova Zelândia e a África do Sul são as grandes favoritas para estarem presentes na final deste Mundial.

No entanto, se compararmos as médias dos dados estatísticos que cada equipa conseguiu ao longo da sua prestação no Mundial, veremos que se a posição de favorita da Nova Zelândia se mantém, já no jogo Inglaterra-África do Sul existe um enorme equilíbrio que pode fazer desta meia-final um jogaço.




O maior poder físico, a maior experiência traduzida pelo número de internacionalizações, 
dão consistência  ao favoritismo AllBlack


A Inglaterra, sendo mais jovem na sua média de idades, tem, no conjunto da sua equipa inicial, mais 104 internacionalizações do que a África do Sul. Servirá esta maior experiência para desequilibrar ?

terça-feira, 17 de outubro de 2023

AGUENTA CORAÇÃO…




Quartos-de-final com quatro jogos muito interessantes e de garnde emoção e que merecem reflexão sobre a construcção das vitórias.


Com excepção do País de Gales — que aliás perdeu o jogo por 3 erros cruciais — venceram aqueles que melhor defenderam — veja-se os All Blacks com Jordie Barrett a saber utilizar o corpo para impedir um irlandês de marcar ensaio e a experiência de Sam Whitelick que após 37 fases comandadas, no último tempo de jogo, pelos irlandeses, conseguiu, com grande inteligência, recuperar a bola e assim colocar os AllBlacks na meia-final.

A estes jogos de altíssima intensidade juntou-se a intensidade emocional com a despedida de dois enormes jogadores que nos habituamos a admirar: o capitão irlandês e recordista mundial de pontos marcados, Johnny Sexton   — que, ainda dentro do campo, recebeu o alento do filho que, após a derrota que o retirava da sonhada meia-final, lhe disse. “Continuas a ser o melhor Pai do mundo.” — e o excelente abertura galês Dan Biggar. 










 

domingo, 15 de outubro de 2023

A SEGUNDA FINAL DOS QUARTOS-DE-FINAL (II)

(continuação do texto anterior)


Neste segundo dia dos quartos-de-final, a Inglaterra — quatro vitórias no Grupo D —  jogará contra Fiji — duas vitórias e duas derrotas no Grupo C, sendo uma delas contra Portugal. De acordo com os algoritmos do XVcontraXV e da RugbyVision a Inglaterra será favorita por, respectivamente, 12 e 11 pontos de diferença no resultado final. No entanto se olharmos para os dados estatísticos conseguidos — embora conseguidos com adversários diferentes mas não deixando de ser factores que revelam forças e fraquezas — a COMPARAÇÃO DE CAPACIDADES estabelece globais muito idênticos. E assim se a Inglaterra se mostra mais eficaz por via dos ensaios que conseguiu, Fiji mostra-se mais habilidosa e por isso recorre a um maior números de off-loads e apresenta uma maior capacidade de avançar no terreno através de um maior transporte de bola correspondendo a maior número de metros conquistados. É no entanto bom lembrar a capacidade da organização defensiva inglesa que conseguiu, com 14 jogadores desde os primeiros momentos do jogo (3’) por expulsão de Tom Curry, garantir a vitória contra a, agora semi-finalista, Argentina por 27-10. É assim muito provável que a Inglaterra, ultrapassando o seu adversário nesta eliminatória venha a ser outro semi-finalista onde defrontará o vencedor do França-África do Sul


A segunda-final neste segundo dia dos quartos-de-final não é mais do que o jogo entre a França, equipa do país organizador — que joga portanto em casa — e o actual campeão mundial, a África do Sul, num jogo fácil de admitir que não terá vencedores antecipados.  E as previsões do XVcontraXV — que prevê a vitória francesa por 8 pontos de diferença — e do RugbyVision — que prevê a vitória sul-africana por 1 ponto de diferença — mostram essa mesma dificuldade de apontar um vencedor.

Como curiosidade deste jogo o facto de, contráriamente ao espectável 7-1 na constituição do banco sul-africano, surgir a aposta num tradicional 5-3, significando que a África-do-Sul reconhece a força das linhas atrasadas francesas, não podendo apostar a sua cave na substituição da totalidade dos seus avançados porque receia que eventual lesão de um linhas-atrasadas possa desequilibrar toda a estrutura defensiva da equipa. Por outro lado, e daí a curiosidade, Galthié — mesmo com o eventual risco de Dupont poder ter alguma regressão — aposta num banco de 6-2 mostrando também que o seu receio dos sul-africanos reside no bloco de avançados, pensando que um polivalente três-quartos resolverá qualquer eventual problema. Mas o 5-3 sul-africano pode ser considerado, com a presença do 3ª linha Kwagga Smith que já tem sido utilizado como centro ou ponta, um 4-4 aumentando-nos a curiosidade com as possibilidades táctico-estratégicas que permitirá e como serão utilizadas …

Curioso também o facto de Faf De Klerk, habitual titular, estar inicialmente no banco e ser substituído por Reinach. No entanto os médios campeões do mundo — De Klerk e Pollard — podem saltar do banco a qualquer momento e quando entendido como necessário. Provavelmente os sul-africanos procuraão usar o seu cumprimento de pontapé para obrigar os pontas franceses a posicionarem-se bem recuados no terreno e assim impedi-los de se articularem directa e rapidamente  com os seus companheiros da linha de três-quartos. No entanto o jogo de conquista territorial com a estratégia de desapossamento, cara a Galthié, trará também muitos problemas aos sul-africanos. E, pode ser, que o ping-pong seja a marca do jogo na esperança de obrigar a erros…  No entanto a COMPARAÇÃO DE CAPACIDADES dá vantagem à França, pela sua maior habilidade e eficácia. Esperemos portanto que haja movimento e circulação da bola — ensaios também porque se os franceses apresentam 3,32 pontos por cada entrada nos 22m, os sul-africanos apresentam 3,22 — porque, depois da excelência do Nova Zelândia-Irlanda, a fasquia do contentamento subiu muito…

No fundo, um jogo prometedor e que, de acordo com os responsáveis das duas equipas, poderá mostrar o vencedor como futuro campeão mundial…

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

DUAS FINAIS NOS QUARTOS-DE FINAL (I)


 A decisão da Rugby World em considerar como os cabeças-de-série os melhores classificados no ranking de há três anos atrás deu nisto: os 4 melhor classificados actuais — Irlanda, Àfrica do Sul, França e Nova Zelândia vão jogar ao bota-fora e dois destes possíveis finalistas ou mesmo campeões mundiais vão fazer as malas e voltar para casa. Deixando que duas equipas entre o 6º, 7º, 8º ou 10º classificados do ranking possam aceder às meias-finais. Ou seja, como um erro incial de elaboração dos quadros estraga umas meias-finais. Enfim, vejamos as meias finais neste quadro dos quartos…
No primeiro jogo destes quartos entre o Gales, vencedor do Grupo C só com vitórias, e a Argentina segunda classificada do grupo D com uma derrota frente à Inglaterra por 27-10. Se o algoritmo do XVcontraXV prevê a vitória galesa já o RugbyVision prevê uma vitória rés-vés para a Argentina. Mas facto, facto é que os argentinos não estiveram brilhantes com as suas vitórias sobre Samoa por 19-10 mas com um nível de eficácia muito baixo traduzido por 70 ultrapassagens da linha-de-vantagem para apenas 1 ensaio marcado, Teoricamente, com a notáel organização defensiva que tem mostrado e pela capacidade de conquista territorial com os transportes percorridos demonstram e como se pode ver no gráfico, Gales é favorito contra a Argentina.



Na primeira das “finais” destes quartos, a Irlanda, primeira classificada do ranking mundial, é favorita — e como está a jogar…— de acordo com o algoritmo do XVcontraXV. Mas a análise comparativa de capacidades de acordo com os jogos realizados nestes quatro jogos do Mundial, o favoritismo — dando razão ao RugbyVision que prevê a sua vitória por 5 pontos de diferença — pertencerá aos AllBlacks com base na sua maior eficácia definida pelo seu maior número de ensaios conseguidos, vantagem nas conquistas dos alinhamentos e no maior número de metros percorridos. E é bom lembrar que se os neozelandeses se terão mostrado em aparente má condição física, já se percebeu que o facto se deveu ao vergar-da-mola que agora, solta, mostra um conjunto de jogadores em muito boa condição.
Seja como fôr o jogo será equilibrado e com procura permanente da criação de rupturas nas linha de defesa adversárias, sendo o mais provável assistirmos a uma exemplar demonstração de apoio e continuidade pelas duas equipas. Um jogo a não perder porque vai ser bonito de ver — e daqui pode sair o próximo campeão mundial…
(tem continuidade)


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