terça-feira, 31 de janeiro de 2023

NO RUGBY A SEGURANÇA DOS INTERVENIENTES É VITAL

Defino o Rugby como escrevo no cabeçalho, um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno com o propósito de marcar ensaios e que é jogado por pessoas masculinas e femininas, adultas, jovens e mesmo crianças. E por isso considera-se, como o explícita a World Rugby, a segurança dos intervenientes como um valor essencial e prioritário da modalidade. E nesse sentido, no sentido da sua protecção, vão-se alterando regras…

… como aconteceu na Formação Ordenada com a introdução dos 3 tempos e, até, do pé-à-frente do talonador.

Sendo um desporto de combate onde é permitida a placagem — paragem, com os ombros e braços, do transportador da bola, levando-o ao chão (Lei 14) — o Rugby, iniciando cada movimento com a luta pela posse da bola — exceptua-se a entrega por penalidade adversária ou por pontapé longo sem pressão imediata — e tendo o propósito de marcar ensaios, tem na ultrapassagem da linha-de-vantagem, por quebra da linha defensiva ou pelo seu envolvimento, o objectivo principal da sua movimentação atacante. Sendo o objectivo da defesa impedi-lo, este desporto de evidente e permanente contacto de elevadas quantidades de movimento, necessita de definir formas que impeçam a perigosidade da colisão de ombros, braços ou cabeça com cabeça ou pescoço. E é essa a procura que se tem realizado, alterando as Leis do Jogo, começando por limitar à altura da linha dos ombros a zona de contacto de uma placagem.

Esquema para a tomada de decisão arbitral na carga de ombro ou placagem alta

Quando comecei a jogar aprendi a placar apontando um dos ombros à zona dos calções (apaga a luz que ele tráz no bolso dos calções, ouvia) — portanto abaixo da cintura — e durante anos assim se fez (não me lembro de ter batido na cabeça de um adversário ou que tenha sido atingido por ele, limitando-se o excesso à gravata — braço à volta do pescoço que de imediato levantava um clamor de protestos dentro e fora do campo) e placava-se! levando o adversário ao chão como exige a regra. E lá fora podia assistir-se, a começar pelo 5Nações, a jogos espectaculares de placagens baixas — exceptua-se a mistura de gravata e placagem alta do neozelandês Bryan Williams ao galês John Williams a meio da jogada que proporcionou o célebre ensaio de Gareth Edwards no extraordinário jogo Barbarians-All Blacks que comemorou agora o seu 50º aniversário.

A placagem começou a subir com a ideia de impedir que o transportador passasse a bola — ombros e braços à altura da bola, pretendia-se — e daí foi um saltinho para a introdução do placador assistente — um às pernas e outro à bola — um a obrigar à queda e outro a impedir o passe… E a tendência a fazer subir a linha de ombros e braços do placador, passando-os para cima da bola, acentuou-se. E a cabeça ali tão perto…
A perigosidade aumentou e as lesões graves motivadas por concussões — choque de cabeças ou com os ombros — surgiram, tornando o jogo pouco recomendável.
Face ao panorama, a França, a Nova Zelândia e, agora, a Inglaterra, decidiram, apoiadas na análise científica, experimentar o abaixamento do limite das linhas de placagem. E os resultados têm sido promissores.
Portanto do actual limite da linha de ombros — que se manterá no jogo da élite até pelo menos ao próximo Mundial — passou-se, no nível do rugby amador, para o limite da linha do peito (externo)  que, acredito (se não fôr mais baixa…) não tardará a ser o limite para qualquer jogo de adultos (élite incluída), limitando, para o rugby juvenil, a altura da placagem, isto é, o limite do contacto de ombros e braços, à linha da cintura. 
É como jogar touch-rugby, dizem os assustados das mudanças — deixando-se dominar pelo “as mudanças dão cabo de tudo”… Mas não dão!
Vamos ter um jogo mais seguro — aumentando muito a segurança do rugby feminino — que puderá assim atrair mais jovens e que será tão espectacular como sempre foi, placando mais baixo e abrindo de novo o jogo a um maior movimento da bola — afastando cada vez mais o jogo das paragens permanentes que o aproximam do Rugby de XIII, aumentando a possibilidade de passes, de off-loads e, portanto, permitindo mais quebras de linha.
Mais seguro, mais movimentado, provavelmente mais intenso. Com maiores exigências técnicas e menos chão e também com menos colisões de brutais quantidades de movimento porque haverá uma assimetria na postura dos corpos, o jogo voltará à dominante atacante que o caracterizou desde o início. E a defesa terá que ter nova organização… mais táctica e mais pressionante. E o jogo manterá o seu interesse!
Por cá a mudança, com excepção da Divisão de Honra por aí jogarem os internacionais que irão disputar o Mundial, as mudanças deveriam ser feitas já no final da época — no rugby juvenil poderiam ser realizadas desde já. Por razões de segurança e defesa da integridade física. E de adaptação.
… e não vejo que haja razões para alarme na transformação.

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