quinta-feira, 31 de outubro de 2019

TERCEIRO OU QUARTO LUGAR?

Os AllBlacks são favoritos para esta “pequena final” quer para o XVCONTRAXV — ganham por 5 pontos de diferença — quer para a Rugby Vision que prognostica uma vitória mais ampla com 15 pontos de diferença.
O mesmo se passa nas probabilidades que são altamente favoráveis à Nova Zelândia como se pode ver no quadro seguinte.
Ou seja: são enormes as probabilidades da Nova Zelândia se classificar em 3.º lugar.
Mas também no jogo da meia-final a vantagem das probabilidades de vitória eram dadas à Nova Zelândia com 72% pela Rugby Vision e com 78,6% pela Rugby4Cast e no fim foi o que se viu... Conseguirá Gales surpreender uma equipa que quer mostrar que a derrota com os ingleses não foi mais do que um mero acidente de percurso que não pode ser comparável a um qualquer início de declínio de capacidades? Veremos.

Apesar de não haver qualquer queixa por parte dos neozelandeses ou críticas dos responsáveis da cultura maori, os ingleses serão multados pela World Rugby — com valores ainda não publicitados mas que serão destinados a obras de caridade — por terem ultrapassado na formação do seu “V” e ao contrário do estipulado pelos regulamentos, a linha de meio-campo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

MEIAS-FINAIS MUITO DIFERENTES


A Inglaterra fez, contra a Nova Zelândia, o seu melhor jogo de sempre e Eddie Jones foi o Man of the  Match ao criar — e ao ter escolhido o neozelandês John Mitchell para treinador da defesa inglesa —  uma estratégia que permitiu as expressões tácticas que impediram que os AllBlacks conseguissem utilizar os seus pontos fortes. E começou logo por dizer ao que vinha com o V envolvente do triângulo neozelandês do Haka, demonstrando a disponibilidade para resistir e a confiança para vencer. A Inglaterra venceu — e foi reconhecida por isso pelos jogadores e treinador neozelandeses — com toda a justiça. Jogou mais e dominou completamente em todos os capítulos  com que se constrói uma vitória, tendo ainda tido duas situações de ensaio anulados — e bem! — pelo TMO. Foram  aspectos muito difíceis de determinar a olho nu mas o instinto de Nigel Owens funcionou bem ao pedir a verificação. E o TMO fez o que tinha a fazer porque a sua chamada implica a análise milimétrica — os erros de árbitros são admissíveis mas a análise do vídeo-árbitro não pode deixar qualquer dúvida.

A Inglaterra que agora ocupa o 1.º lugar do ranking da World Rugby e onde não estava desde Junho de 2004, foi notável, tendo-se superiorizado nos domínios do jogo que permitem chegar à vitória com 62% de controlo territorial para conseguir 64 ultrapassagens da linha-de-vantagem (43,5%) contra 44 dos AllBlacks (28,5%) e conseguindo 15 turnovers  contra apenas 4 dos neozelandeses que tiveram que placar 164 vezes para uma taxa de sucesso de 89% para evitar as constantes e determinadas vagas dos atacantes ingleses. A rapidez de subida, ganhando muitas vezes a linha-da-vantagem,  a agressividade defensiva e a adaptação (defensive scramble) aos movimentos neozelandeses — reduzindo as 12 rupturas apenas a 1 ensaio  — e apesar de uma taxa de sucesso de placagem menor de 81%, permitiu a superioridade nos turnovers e foi uma arma temível dos ingleses que diminuíram, juntamente com os atrasos conseguidos na disponibilidade da bola nos reagrupamentos, as capacidades atacantes dos neozelandeses. Num super-jogo, a vitória da reconhecida melhor equipa do dia.

Num jogo radicalmente diferente — veja-se a tabela abaixo que explicita dois conceitos distintos do jogo — o Gales-África do Sul foi também um jogo dramaticamente interessante (não vou esquecer a decisão — que me pareceu precipitada — do abertura Rhys Patchell de tentar um pontapé-de-ressalto que, se fosse realizado após mais uma ou duas fases, aproximando a distância aos postes, poderia garantir uma final do Norte neste Mundial). Mas Gales fez — depois do número de lesionados com que não pode contar (Faletau, Ellis Jenkins, Anscombe, Cory Hill, Josh Navidi, Liam Williams) — o que pôde e bateu-se muito bem e de acordo com o plano que tinha idealizado e onde o jogo ao pé tinha um papel importante ( 41 pontapés com apenas 8 para fora). Mas jogar contra a capacidade física sul-africana não é fácil e as 147 placagens com 93% de sucesso desgastaram com certeza a capacidade galesa. E enquanto a África do Sul atingia o 2º lugar do ranking da World Rugby, o sonho de uma equipa que Gatland transformou e colocou de novo entre as mundialmente melhores, esfumou-se. Mas com muita dignidade e boas perspectivas de futuro.

Acima de 50% a vantagem estatística pertence ao jogo Inglaterra/Nova Zelândia 

As meias finais foram dois jogos muito diferentes. No Inglaterra-Nova Zelândia, jogo de passes (395), grandes organizações e adaptações defensivas (311 placagens) numa forma de jogar sempre interessante e muitas vezes entusiasmante. No Gales-África do Sul — um jogo sem  vencedor perceptível até  aos últimos minutos — com o jogo-ao-pé dominante (81 pontapés para a conquista de 1803 metros de terreno mas com menor número de alinhamentos do que o jogo anterior) houve um elevadíssimo combate físico mas com apenas 46 ultrapassagens da linha-de-vantagem. Ou seja e sem falar do árbitro que cometeu, principalmente na 1.ª parte, demasiados erros, ignorando foras-de-jogo evidentes (dada a diferença deve ter sido chamado à ordem no intervalo...), houve combate permanente por centímetros de terreno e, do lado sul-africano, a procura de faltas adversárias que pudessem ser cobradas pelo regularmente certeiro Handre Pollard. E assim os sul-africanos chegaram à vitória aos 76’,  dez minutos depois de Gales ter empatado naquele que foi o mais bem construído ensaio do jogo.

Para a semana uma disputa do 3.º lugar entre Gales e Nova Zelândia e do título de Campeão Mundial entre a Inglaterra e a África do Sul em dois jogos que vão opor concepções diferentes do jogo e,
também por isso, com o seu particular aliciante.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

MOSTRA DO FUTURO DO JOGO


Fim‑de‑semana de 1/2 finais no Mundial é prato forte de uma espera de quatro anos com dois jogos muito diferentes a preparar uma final entre dois estilos praticamente antagónicos.
No primeiro dos dois jogos das meias-finais haverá quatro médios-de-abertura. Quer a Inglaterra com Ford e Owen, quer os AllBlacks com Mo’unga e Beauden Barrett, têm, no recurso a dois jogadores com as mesmas capacidades tácticas e de jogo-ao-pé, a ideia de, por um lado, surpreender a linha defensiva que, muitas vezes, não saberá qual o tipo de ataque quer, por outro, colocar dificuldades ao três-de-trás — que muitas vezes estará reduzido a dois — impedindo assim que possam ampliar a linha defensiva uma vez que, no caso, deixariam espaço livre nas costas dos defensores onde pontapés — rasos ou altos — poderiam ser perigosamente colocados.
Curiosamente e ao contrário do que tem sido a constituição neozelandesa que tem apostado nos “gémeos” para o lugar de asa e flanqueador, os AllBlacks deixam o “gémeo” Sam Cane no banco e chamam o maior dos Barrett, o Scott, para o lugar de nº6 para, ao que penso e mais do que para aumentar o poder de conquista nos alinhamentos, para garantir capacidade de colisão nos duelos próximos dos “pontos de quebra”.
No começo deste Mundial dizia-se que este seria o campeonato do jogo-ao-pé. Porque hoje, com a capacidade e rapidez de subida das defesas, o jogo-ao-pé é uma das poucas soluções que se oferecem para continuar o ataque ou para conseguir momentos de recuperação da bola através de turn-overs ou, através do “ping-pong” que se pode seguir, para encontrar espaços — através de passes longos que os aberturas têm na sua bagagem — que permitam contra-atacar.
Uma meia-final que vale uma final, diz-se. Mas, embora os mind-games de Jones procurem escondê-lo, o grande favorito é a Nova Zelândia. Pela forma como está a jogar e porque nos últimos mundiais não perdeu qualquer jogo. Mas essa pressão vai ser terrível, argumenta Jones. E a vossa, depois do mau campeonato que fizeram em casa no 2015? responde Hansen.
Seja como for, um jogo a não perder e com a particularidade de fazer depender muito o resultado final da inteligência táctica que as equipas demonstrem.

No Gales-África do Sul haverá um terrível desafio físico com a defesa galesa a subir muito rápido para, evitando que os sul-africanos ultrapassem a linha-de-vantagem, conseguir conquistar bolas pela superioridade numérica nos reagrupamentos e lançar o seu jogo de contra-ataque. Também um muito interessante jogo em perspectiva. Embora os sul-africanos sejam dados como favoritos, os galeses que terão menos dificuldades na defesa com o jogo previsível dos Boks do que o mostrado contra os franceses, têm a oportunidade, como deixa entender Biggar, de uma vida.

E nestes jogos que envolvem as quatro equipas que ocupam os quatro primeiros lugares do ranking da World Rugby vai ficar alguma coisa que marcará o futuro do jogo e as diferentes formas de o jogar. 

APRENDER COM O JOGO. GAME SENSE

DEIXE O JOGO SER O PROFESSOR

O Game Sense foca-se no jogo como um todo e tem as vantagens de ser:
Competitivo - os ensaios são marcados e os pontos concedidos.  Os jogadores têm que trabalhar duro para vencer
Relevante - os jogos fazem com que os jogadores pratiquem sob condições de jogo, num nível de intensidade controlável
Fácil de configurar - são apenas necessários uma bola e alguns jogadores para realizar uma sessão de treino construtiva
Ativo - os jogadores estão ativos, não estão na fila para o próximo exercício e estão envolvidos em ataque e defesa
Flexível - os jogadores assumem a responsabilidade e são livres para experimentar, cometer erros e aprender com a experiência.  Os jogos são adequados para todos os jogadores de todas as idades e padrões.
Eficaz - existem muitas oportunidades para que os gestos sejam trabalhados mais do que uma vez fora de exercícios repetitivos (e chatos) em grelhas.
Focado no resultado - os jogos concentram-se no resultado, no vencer mais partidas e não na criação de uma equipe de "robôs"
Muito variado - jogos diferentes significam decisões diferentes a serem tomadas, problemas a serem resolvidos e gestos técnicos a serem usados
Energético - os jogos são uma maneira "sorrateira" de introduzir condição física e trabalho de pés no regime de treino
Promotor do trabalho em equipa - os jogos estimulam o espírito de equipa, reforçam os valores da equipa e motivam os jogadores no treino.
                                              (utilizados diversos trabalhos com tradução livre)
Os jogos são divertidos para participar, assistir e treinar ... nenhum árbitro é necessário para a sua realização (uma vantagem prática e pedagógica), aumentando a comunicação e a colaboração entre todos, desenvolvendo a empatia com os companheiros e permitindo a inclusão e a competição. Com o Game Sense as vantagens de aprender e apreender o jogo são maiores do que com os métodos clássicos, formando melhores e mais eficazes jogadores com um superior, porque melhor percebido das suas vantagens, conhecimento do jogo, maior experiência das variantes técnicas e sentido colectivo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

APRENDER COM OS ALLBLACKS

Ver jogar os All Blacks é uma maravilha! Cumprem os princípios estratégicos com as tácticas adequadas e com o recurso às técnicas impostas pelas situações e são eficazes. Ao formarem o “haka” dizem logo ao que vêm: a primazia é para o colectivo! E o avanço do capitão para a frente da formação em cunha afirma, desde logo, que o seguir o líder é um princípio do seu jogo — e o líder de cada momento é o portador da bola a quem todos os outros companheiros devem obediência, apoiando os seus movimentos, abrindo linhas-de-passe e garantindo, com o melhor da sua disponibilidade e esforço, a continuidade do movimento. E o propósito, resultante de permanente aprendizagem, é evidente: proporcionar à equipa a marcação de ensaios!

E, para isso, sabem que é necessário ultrapassar a linha imaginária que divide os dois campos — a linha-de-vantagem — para conquistar quer a vantagem numérica, quer a vantagem territorial, aproximando-se da área-de-ensaio adversária e encurtando o terreno nas costas da defesa, diminuindo-lhe o espaço de manobra — encostando o adversário às cordas como se diz em linguagem mais popular. E a desordem feita de linhas de corrida com ângulos e tempos diferentes, abre diferentes possibilidades de continuação, proporcionando ao portador da bola decidir por uma conexão que lhe pareça ou mais eficaz ou de menor risco. Tudo dependendo da avaliação momentânea que consiga fazer. Ora a tomada de decisão, feita nestes curtos espaços de tempo obriga a que tenha havido experiências anteriores que guiem para a melhor opção de acordo com o objectivo do ataque: manter a posse, avançar, apoiar, continuar e criar uma situação de pressão tal que leve o adversário a abrir espaços e permita chegar ao ensaio.

Para que as coisas assim sejam, é necessário que tudo comece na formação. Porque embora muito antiga — em 1905 um erro de edição num jornal inglês trocou o espanto do jornalista na capacidade de passe como se fossem all backs em All Blacks para sempre — não nasce com os neozelandeses a notável capacidade — que exige confiança e disponibilidade mental — de viver confortavelmente o gosto da desordem de que dão mostras. Mas é uma cultura e isso ajuda muito. E como é que se chega lá? Ou seja e de outra maneira, pode chegar-se a jogar de forma próxima daquilo que fazem os AllBlacks? Pode e os japoneses mostram-no. Como?

No seu sistema de formação os neozelandeses usam o conceito do game sense que se pode ilustrar pelo bem conhecido aprende-se a jogar, jogando. Ou seja, toda a aprendizagem é feita em torno do jogo e das suas complexidades que vão sendo desbravadas pela prática que vai fazendo descobrir as soluções mais simples e eficazes para cada situação. Como aliás se conhece da aprendizagem futebolística — o conhecido futebol de rua — feita à base de jogos com aqueles que estão...

E assim o passe deixa de ser um gesto técnico de um só desenho para se definir apenas como a forma eficaz de entregar a bola a um companheiro em melhores condições para continuar o movimento. O que significa que o gesto técnico se torna de desenho múltiplo de acentuadas diferenças de acordo com as circunstâncias mas subordinado ao objectivo essencial: entregar a bola a um companheiro. E assim o gesto técnico do passe realiza-se por cima, por baixo, por trás, pela frente, de forma curta ou comprida adaptando-se à situação que cada jogador enfrenta e esquecendo a figura tradicional aprendida ao longo de horas intermináveis de gesto único.

O passe do capitão Kieran Read que permite o 4.º ensaio ao seu talonador, Coddie Taylor, é uma clara demonstração do resultado do método neozelandês do game sense. Naquela situação de penetração nas linhas defensivas adversárias e na altura que é placado, Read sabe que o ensaio —  que é o foco do jogo da sua equipa —apenas depende da sua capacidade de entregar a bola a um companheiro que ele sabe que aí estará em apoio e, em vez de se deixar ir ao chão com a preocupação de guardar a bola à espera de companheiros que, em ruck, a recuperem, preferiu o risco de, caindo no solo de costas, levantar a bola e fazer um passe na direcção em que o apoio se aproximava. Belo gesto e belo ensaio!

É fácil atingir este nível de jogo? Não! exige muito treino, muito trabalho, muito ensino e ainda a possibilidade, para que se desenvolva até aos últimos pormenores, de enquadramento visual, isto é, que possa ser visto para ser imitado, permitindo assim o seu desenvolvimento com a introdução de novos gestos. Mas é possível!

E se assim é, porque não utilizamos, nós portugueses, os processos da formação neozelandesa?


terça-feira, 22 de outubro de 2019

VITÓRIAS ESPERADAS E AGRESSÃO DISPENSÁVEL


Embora houvesse um quase no Gales-França, não houve quaisquer surpresas nestes quartos-de-final: as quatro equipas qualificadas nos quatro primeiros lugares do ranking da World Rugby jogarão as meias-finais deste Mundial do Japão.

As vitórias foram as esperadas e se houve surpresas foi na elevada diferença de resultados com a Inglaterra a marcar 4 ensaios à Austrália, sofrendo apenas um e subindo ao 2.º lugar do ranking mundial da WR e a Nova Zelândia, sofrendo também apenas 1 ensaio, a marcar 7 ensaios resultantes de 18 rupturas da defesa adversária. E isto contra a Irlanda que próximo do início do Mundial passou pelo primeiro lugar do ranking da World Rugby. O que significa poder de jogo, domínio das bases e eficácia na execução mostrando-se, para já, como o candidato final mais forte. Veremos o que se passará na próxima meia-final entre os dois primeiros da classificação mundial.

Contra a equipa da casa e pesem alguns bons momentos de circulação da bola e ataque à linha defensiva por parte dos japoneses que conseguiram 35 ultrapassagens da linha-de-vantagem e 7 rupturas da linha defensiva da África do Sul mas que não se mostraram capazes de ultrapassar a “fisicalidade” sul-africana e traduzir essa capacidade em ensaios. Mas o Japão foi, sem qualquer dúvida, uma das boas surpresas deste Mundial e uma boa amostragem de que há caminhos de bom nível competitivo pelo lado da manobra e não apenas pelo lado da colisão. Mostrando assim que o rugby pode ser jogado pelo lado do movimento e da inteligência táctica e não apenas pelo poder físico.

O resultado entre as duas equipas habituadas ao encontro anual das 6 Nações — Gales e França — foi uma quase surpresa porque os prognósticos apontavam para uma clara vitória galesa e os franceses estiveram a ganhar até aos 7 minutos do final do jogo. Mas... mostraram de novo os problemas de que parecem não se conseguirem livrar: decisões erradas, falta de comando estratégico, falhas técnicas e indisciplina.
Alguns indicadores comparativos entre as equipas que irão jogar as meias-finais

Para além de se poder perguntar quem joga uma formação-ordenada com sete jogadores contra oito adversários ou lamentar dois pontapés a bater nos postes ou por que raio de ideia Camille Lopez decidiu tentar um ressalto de 50 metros e se esqueceu de fazer o mesmo numa mais fácil situação próxima dos 22, o facto determinante da derrota contra o País de Gales — longe dos seus melhores dias como mostram as 26 falhas de placagem numa equipa reconhecida pelas suas qualidades defensivas e incapacidade criativa de que deu mostras  — foi a cobarde e estúpida agressão do francês Vahaamahina que enfiou o cotovelo, num despropósito absoluto, na cara de Wainwright que estava a ser, para além do marcador do ensaio, o galês mais placador.

O acertado cartão vermelho ao segunda-linha francês impediu, com certeza, a possibilidade de vitória
francesa que até aí se tinha mostrado como a melhor equipa no terreno — para além do resultado, todos os outros indicadores lhe são favoráveis. Tão melhor que Warren Gatland, o neozelandês que treina Gales, considerou: hoje perdeu a melhor equipa! Foi aliás o melhor jogo da França neste Mundial e um dos melhores dos seus últimos tempos.


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

QUARTOS DE FINAL — O SEGUNDO CORTE



Nos quartos-de-final do Mundial do Japão o favoritismo vai para as equipas melhor posicionadas quer no ranking da World Rugby quer no ranking da Rugby Vision. E os prognósticos das probabilidades de vitória realizados pela Rugby Vision e Rugby 4 Cast não deixam dúvidas sobre as hipóteses previsíveis.


De acordo com os prognósticos da tabela acima e que se baseiam no historial de cada equipa, a Inglaterra tem mais de 75% de hipóteses de vitória sobre a Austrália, a Nova Zelândia tem mais de 80% de possibilidades de vitória sobre a Irlanda, Gales aparece com mais de 65% de probabilidades de vencer a França e a África do Sul, pese o interessante nível de jogo do Japão, com as probabilidades de mais de 89% para vencer.

Para colocar em causa estas perspectivas e para acontecer alguma surpresa, apenas o facto de alguma das equipas poder estar — uma vez que as previsões de temperatura e humidade para este fim‑de‑semana não as mostram muito elevadas — reagir mal em relação às condições climatéricas de calor e humidade encontradas ao longo deste último mês. Como parece óbvio, o Japão é, pelo hábito, a equipa que se encontra em melhores condições de adaptação — veremos se essa capacidade servirá para elevar o grau de oposição às colisões dos fortíssimos sul-africanos. De grande curiosidade será o
ver como se imporão um ao outro os dois diferentes modelos personificados na Inglaterra e na Austrália. Do que viu da Irlanda poucas possibilidades lhe são dadas para repetir a sua anterior vitória. No Gales-França, para além do facto de os franceses ainda terem colado à sua imagem uma capacidade de criadores surpreendentes — e cada vez estão mais longe dessa característica — e portanto puderem sempre criar uma surpresa. Mas Gales, apoiado na notável terceira-linha de Wainwright, Tipuric e Navidi, não deverá distrair-se a esse ponto.

Seja como for e por causa deste primeiro momento de redução, o lugar nas duas manhãs do nosso fim‑de‑semana será em frente da televisão. Porque os jogos vão ser muito interessantes.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

QUEM PODE GANHAR?

Dos oito quarto-finalistas quem terá maiores hipóteses de ganhar o Mundial. Apesar de nem todas as equipas terem feito o mesmo número de jogos tentemos utilizar indicadores que nos possam mostrar quem se tem apresentado como mais forte
Neste primeiro quadro que mostra a capacidade de execução pela relação entre a marcação e impedimento de ensaios, a Nova Zelândia apresenta-se no primeiro lugar.

O esforço de cada equipa demonstrado nos metros de transporte de bola necessários para marcar um ensaio coloca Gales e a Irlanda como os mais eficazes com um menor esforço — menos metros para atingir o ensaio.

A Taxa de Eficácia do Apoiodeterminada pela relação entre as rupturas da linha defensiva que 
terminaram em ensaio, mostra a capacidade de organização do apoio na garantia da continuidade do movimento. Neste campo a Austrália mostrou-se como a mais eficaz tendo a França o pior resultado e curiosamente os “reis” do apoio — os All Blacks — e os seus alunos mais próximos, o Japão, apresentam os mesmos 31% de eficácia.


A melhor relação entre as placagens tentadas e bem sucedidas é apresentada pela Irlanda com 89% —
 os neozelandeses enquanto melhores atacantes têm 85% de sucesso.

A partir destes dados é fácil perceber a competitividade que envolve os próximos jogos dos quartos-de-final. Como resultado destas estatísticas e pelos lugares conseguidos nas diferentes tabelas pode estabelecer-se, valendo o que vale, uma classificação (entre parêntesis os pontos e a posição do ranking RW).

  1. Irlanda, 46 pts (85,93 - 4.º)
  2. Nova Zelândia, 36 pts (90,98 - 1.º)
  3. África do Sul, 36 pts (85,75 - 5.º)
  4. Inglaterra, 34 pts (88,13 - 3.º)
  5. Gales, 29 pts (88,87 - 2.º)
  6. Austrália, 25 pts (83,52 - 6.º)
  7. Japão, 20 pts (82,08 - 7.º)
  8. França, 16 pts (81,38 - 8.º)

Os dois primeiros lugares ficarão resolvidos já no domingo e o vencedor será, naturalmente o grande candidato a vencer o Mundial. Mas... os números são o que são e o que conta são os jogos.



segunda-feira, 14 de outubro de 2019

PERDAS E GANHOS NA FASE DE GRUPOS

Foi o Japão a equipa, pelos 5,38 pontos de ranking conquistados graças às vitórias sobre a Irlanda e Escócia, que melhor resultado obteve na Fase de Grupos deste Mundial.

Ganhos positivos tiveram também o Uruguai com 2,23 pontos graças à surpreendente vitória sobre Fiji, a Argentina com 2,02 pontos, apesar de não ter mostrado as qualidades que lhe são normalmente atribuídas, pelas vitórias sobre o Tonga e os Estados Unidos, a França com 1,66 pontos pelas vitórias sobre a Argentina e Tonga e também porque, para o melhor ou pior, não defrontou a Inglaterra. A Samoa com ganhos de 1,64 pontos esteve, neste aspecto melhor do que a Nova Zelândia com 1,58 pontos, mas sem o jogo contra a Itália cancelado como consequência do furacão Hagibis e que Gales com 1,55 pontos. A Inglaterra e a Itália, bem como os canadianos e namibianos que não puderam realizar o seu confronto, entraram com os mesmos pontos com que sairam desta fase embora os ingleses ainda possam aumentar o seu pecúlio se vencerem a Austrália nos quartos-de-final do próximo sábado. Dos ganhadores de pontos houve ainda a equipa do Tonga que conseguiu 0,4 pontos positivos resultantes da sua vitória sobre os Estados Unidos.

Do lado dos perdedores de pontos, os Estados Unidos com 4,08 pontos negativos e a Irlanda com uns também negativos 3,54 pontos resultantes da derrota com o Japão, foram as equipas que menos sucesso tiveram neste domínio. A África do Sul, embora sendo naturalmente uma potencial candidata, perdeu 1,59 pontos tendo também outra das candidatas, a Austrália, perdido 0,53 pontos.

As restantes equipas que já vão a caminho de casa, tiveram naturalmente a perda de pontos resultantes das suas prestações competitivas e os, de novo, nossos adversários Geórgia e Rússia perderam respectivamente 2,03 e 1,72 pontos.

Fundamentalmente estes números demonstram a qualidade da prestação competitiva do Japão que defrontou e venceu duas equipas de nível superior e posicionadas alguns lugares acima. Com um estádio cheio de adeptos vibrantes e com um modelo de jogo de movimento muito interessante como já referi, o jogo de domingo próximo contra a África do Sul, repetindo o que aconteceu no Mundial da Inglaterra, tem os ingredientes para não se perder a transmissão televisiva.

TERMINADOS OS GRUPOS PREPARAM-SE OS QUARTOS


Com três jogos cancelados e determinados a um empate 0-0 com distribuição de 2 pontos por cada equipa como consequência do furacão Hagibis, terminou a fase de grupos do Mundial de 2019.
Qualificados para o Mundial de 2023, equipas classificadas em 3.º lugar em cada um dos quatro grupos, foram as seguintes: Escócia, Itália, Argentina e Fiji.
Nos quartos-de-final do próximo fim‑de‑semana teremos os seguintes jogos:
  • Inglaterra - Austrália;
  • Nova Zelândia - Irlanda
  • Gales - França
  • Japão - África do Sul
Às restantes equipas pouco mais resta do que fazer as malas e voltar para casa, começando, desde logo, a pensar como preparar a próxima presença no Mundial de França.

Se dois dos jogos cancelados apenas retiraram a possibilidade de os vermos porque a sua influência na classificação final era praticamente nula, o cancelamento do Namíbia-Canadá impediu o jogo principal de qualquer das equipas que se viram privadas da procura de uma vitória. Uma pena sentida por todos os jogadores que devem, naturalmente, sentir-se muito injustiçados. Apesar disso os jogadores canadianos foram, solidariamente, ajudar a população japonesa na limpeza dos estragos do furacão. Bonito e útil!

No madrugador Tonga-USA fica-nos um momento especial para recordar: a despedida do “capitão” de Tonga, Siale Piutau, 34 anos, que, já “homem do jogo” marcou, com alinhamento de toda a equipa, a “transformação” do último ensaio. Bonita homenagem a uma vida de jogador.

O jogo mais decisivo desta jornada, o Japão-Escócia, proporcionou-nos um excelente espectáculo com os japoneses a mostrarem a qualidade do seu “jogo de movimento” e a conseguirem um notável vitória para uma primeira fase — com vitórias, a lembrar a vitória sobre a África do Sul de há quatro anos atrás, sobre a Irlanda e a Escócia — muito promissora. E haverá, no próximo domingo, uma repetição do jogo entre nipónicos e sul-africanos, desta vez com um estádio cheio de gente da casa que não se cansará de puxar por um resultado idêntico. A prometer um excitante e combativo jogo.

A mais interessante qualidade do jogo japonês está na sua capacidade — numa espécie de “scramble ofensivo” — de alterar linhas e ângulos de corrida mas a garantir convergências do apoio, para além de múltiplas alternativas de continuidade, que permitem explorar os intervalos que os movimentos anteriores provocaram. Notável, muitas vezes, a demonstração de adaptabilidade dos jogadores ao processo defensivo adversário com decisões muito adequadas à exploração das rupturas — e foram 13 —conseguidas a que acrescentam uma permanente preocupação de “fixar” defensores, mostrando-se sempre possíveis penetradores, o que lhes permite garantir a manutenção dos espaços livres — coisa que os escoceses, embora dominadores na 2.ª parte, não mostraram ser capazes de realizar.

Visionar os jogos do Japão será uma boa aprendizagem para equipas e jogadores portuguesas uma vez que esta proposta de “jogo de movimento” nipónica é a que melhor se aproxima do modelo de jogo que devemos desenvolver para atingir um nível internacional capaz. Movimento, jogo em cima da defesa, convergências e circulação da bola com as mudanças de sentido adequadas ao posicionamento defensivo. Tudo com alta intensidade. O que exigem velocidade dos gestos técnicos e disponibilidade mental para servir a equipa e o companheiro portador da bola.

Outro jogo que trará memórias à colação é o próximo Nova Zelândia - Irlanda. Os jogadores irlandeses, vindos indiferenciadamente da República da Irlanda e da Irlanda do Norte, lembre-se, sairam do seu país ou região com uma determinada organização política e em que ambos eram “cidadãos europeus”. Com o Brexit, não fazem a mínima ideia que nova organização política
encontrarão na volta a casa e é provável que esta situação — porque não deve ser nada fácil, dada a história conhecida desta parte do mundo, viver a situação à distância da família e dos amigos — possa ter influenciado a menor capacidade e eficácia que esta selecção irlandesa tem demonstrado neste Mundial.

Pelo calendário segue-se uma “semana de férias” para recompor e acertar horários de sonos e aproveitar para estudar tendências e significados das estatísticas. Para melhor desfrutar dos quartos-de-final e continuar com este período quadrienal de ouro rugbístico, o Mundial.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

QUE O MUNDIAL FAÇA ESQUECER O HAGIBIS

Com a Nova Zelândia, África do Sul, Inglaterra e França já nos quartos-de-final devido à decisão da World Rugby justificada na preocupação da salvaguarda de jogadores, técnicos e espectadores há que  encontrar as outras quatro equipas que disputarão o acesso às meias-finais.


O jogo principal do conjunto desta tabela que fecha a fase de grupos do Mundial e que terá consequências no acesso aos quartos-de-final, será — se o furacão Hagibis o permitir — o Japão-Escócia que decidirá, desde que a Irlanda cumpra o seu papel de ganhar, quem passará e quem irá fazer as malas.
Nos restantes jogos, vitórias naturais dos naturalmente apuráveis e a oportunidade para Namíbia ou Canadá, Estados Unidos ou Tonga de conseguirem uma vitória que a memória guardará e o seu país reconhecerá.
Continuando com os votos de que o Hagibis não provoque vítimas e que a sua passagem não deixe um rasto de destruições, esperemos pelos quartos-de-final.

HAGIBIS OBRIGA A CANCELAR JOGOS DO MUNDIAL

Nestes últimos jogos nada de especialmente surpreendente a menos que consideremos a vitória da Argentina por números acima do esperado dando, finalmente, um arzinho das suas potencialidades e a oposição de Fiji que demonstrou mais uma vez as suas capacidades atacantes.

De facto Fiji é um caso que merece particular atenção: falta-lhe experiência, organização consistente, disciplina muitas vezes mas tem uma capacidade atacante que dá gosto ver. Sempre que têm posse da bola os seus jogadores têm uma notável capacidade de adaptar as suas linhas de corrida ao posicionamento dos defensores, atacando intervalos, provocando situações de um-para-um que servem para abrir novos corredores por onde, com notáveis manipulações de “passes-em-carga”, lançam companheiros, obtendo assim uma média de 4,3 ensaios por jogo com um recurso médio de 29 metros de transporte da bola — um dos mais baixos índices — para cada ensaio marcado. E se utilizarmos o indicador da Taxa de Apoio Eficaz, recorrendo à relação entre o número de ultrapassagens da Linha de Vantagem  e o número de ensaios conseguidos, encontraremos o valor médio de 9% com um 23% conseguido contra a Geórgia. Não fosse o erro de perspectiva da sua equipa técnica, como considero, que levou a menosprezar o Uruguai e o Grupo D teria tido um outro nível competitivo. O último jogo contra Gales constitui uma excelente demonstração das potencialidades desta equipa que — a não ser que a Geórgia conseguisse a maior surpresa deste Mundial, derrotando a Austrália — já se apurou directamente para o Mundial de França de 2023.

Quanto ao Canadá e a Rússia — que apenas conseguiu marcar 1 ensaio nos quatro jogos da fase de grupos — fizeram o que puderam tentando aguentar ao máximo as vagas atacantes de adversários de outra galáxia. Mas a diferença ainda é muita.

Durante o dia de ontem começaram a surgir notícias sobre a possibilidade de cancelamento de jogos devido à passagem do furacão Hagibis. Optimisticamente pensei na possibilidade de poderem ser adiados para terça-feira.

Mas às quatro da manhã chegou a confirmação: os jogos Inglaterra-França e Nova Zelândia-Itália serão cancelados com o resultado de 0-0 e com 2 pontos por cada equipa. Os jogos de sexta-feira Austrália-Geórgia em Shizuoka e o Irlanda-Samoa, de sábado e previsto para Fukuoka e ambos fora da rota do furacão, manterão a sua realização. Os jogos para domingo, entre os quais o decisivo Escócia-Japão, serão confirmados de acordo com o evoluir da situação.

Com estas decisões os dois primeiros do Grupo C serão, por ordem, Inglaterra e França; no Grupo B e também por ordem, Nova Zelândia e Austrália. Se não forem realizados os jogos de domingo e de acordo com o regulamentado para desempates, o Grupo A terá em primeiro lugar o Japão e a Irlanda em segundo enquanto que no Grupo D o primeiro classificado será Gales, ficando a África do Sul em segundo lugar. E o Mundial continuará... e que o furacão não deixe um rasto de vítimas e destruição.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

LEIS DO JOGO E ARBITRAGEM

Neste Mundial do Japão tem havido alguma polémica com as arbitragens e com as interpretações sobre as Leis. Começando pela placagem e pelas recentes definições.
A primeira codificação das Leis de Rugby, escritas e datadas de 1845, definia, no seu ponto 37, o que poderemos chamar placagem como “nenhum jogador pode ser agarrado a não ser que ele próprio esteja na posse da bola”. Em 1871, no ponto 10 da Proposta das Leis do Jogo da Rugby Football Union, estabelecia-se de uma forma mais objectiva que “uma placagem existe quando o portador da bola é agarrado por um ou mais jogadores da equipa adversária”. Hoje a placagem define-se na Lei 14 que estabelece que “para que uma placagem ocorra, o portador da bola é agarrado e levado ao chão por um ou mais adversários”, estabelecendo que “ser levado ao chão” significa que o portador da bola estará “deitado, sentado ou no mínimo com um joelho no chão ou noutro jogador que esteja no chão” e que “estar agarrado” significa que o placador deve continuar a segurar o portador da bola até que o placado esteja no chão, largando-o logo que tal aconteça.
E há muitos anos que está considerado como “jogo ilegal/jogo perigoso”, Lei 9.13, a possibilidade de realizar a placagem “acima da linha de ombros”, isto é, agarrando ou contactando nas zonas do pescoço e da cabeça. A sanção para estas ilegalidades consiste num “pontapé de penalidade”.
Portanto placa-se, agarrando o portador da bola abaixo da sua linha de ombros e fazendo-o chegar ao chão, largando-o de imediato. E nada impede, desde que os braços garantam o agarrar do adversário abaixo da sua linha de ombros, que a placagem se inicie com forte impacto que permita levar o portador da bola ao chão tão rápido quando possível. 
Na defesa da integridade física dos jogadores — e por causa do aumento da sua corpulência e velocidade e porque as consequências das pancadas na cabeça mostravam um grau de perigosidade elevado — a World Rugby decidiu introduzir um quadro esclarecedor e facilitador das decisões nas situações de placagem ilegal com contacto ao pescoço e/ou cabeça. 


Site da Federação Portuguesa de Rugby
O princípio é simples: placagem ilegal é penalizada como vinha sendo há longos anos, dependendo o acrescento de cartões amarelo ou vermelho da perigosidade do acontecido — como por exemplo a designada “placagem de arpão”. Para as placagens acima da linha de ombros do placador com contacto com o pescoço ou a cabeça, a cor do cartão depende da perigosidade resultante —se houver apenas o uso do braço a realizar o designado “cinto de segurança” a sanção será de mera penalidade. No entanto, havendo contacto do ombro com o pescoço ou a cabeça, o cartão vermelho está praticamente garantido excepto se os factores atenuantes forem evidentes.
Ou seja: placagem ou choque de ombro com o pescoço ou a cabeça de um jogador está destinado à apresentação de um dos dois cartões, amarelo ou vermelho. E, como estas recomendações têm que ser conhecidas por todos os que têm relações com o jogo, não vale a pena andar a expressar opiniões do nosso tempo de jogadores, mesmo se se é treinador de uma selecção presente no actual Mundial. Agora é assim — como o são muitas outras coisas deste jogo muito diferente daquele que os veteranos da comunidade praticaram.
Hoje há também situações como a “formação-ordenada simulada” verificável quando uma das equipas, utilizando a totalidade dos jogadores disponíveis para cada lugar específico da primeira-linha, não consegue garantir a segurança da sua formação. Decidida a passagem para esta situação em que a bola não é disputável e não é permitido empurrar — a bola é conquistada obrigatoriamente pela equipa a que as Leis do Jogo deram o direito de introdução — a equipa que a motivou jogará com 14 jogadores, sendo ainda, Lei 3.15, obrigada a manter 8 jogadores na formação, uma vez que a Lei 3.17 estabelece que o jogador saído não pode ser substituído.
No jogo África do Sul-Itália foi o que aconteceu com um, penso, involuntário erro na decisão final. Um pilar-direito foi substituído por outro pilar-direito vindo do banco. Este último pilar lesionou-se com possibilidade de concussão num mero acidente e n\ao por jogo ilegal e, por não haver mais especialistas da posição, o árbitro, o inglês Wayne Barnes, explicou (e bem) à pergunta do capitão sul-africano, Siya Kolisi, que se iriam jogar "formações-ordenadas simuladas" durante os 10 minutos referentes à HIA (Avaliação do Impacto na Cabeça), e se voltaria a falar após a decisão médica. O jogador saído não voltou mais e a Itália continuou a jogar com a equipa completa quando devia — para que não surjam quaisquer dúvidas de que não terá havido qualquer simulação para evitar uma formação que não tinha capacidades de resistência na função — jogar com menos um jogador. Facto que só aconteceu quando um outro jogador italiano foi expulso e que deveria ter acontecido no final do período de avaliação. 

Esta interpretação de que a análise da situação deve ser feita no domínio da “formação-ordenada simulada” e não segundo a generalidade das leis, é coerente quer com a decisão da Clarificação 3 2016 que define que — apenas neste caso e de acordo com a Lei 3.33— quando o jogador que obriga á passagem para as formações-ordenadas simuladas “foi lesionado como resultado directo de jogo ilegal”, quer com a já referida Lei 3.15 que define a obrigação de ambas as "formações-ordenadas simuladas” serem compostas por 8 jogadores. Ambas as situações, retirando possíveis vantagens ao infractor, pretendem evitar “simulações” que levem à procura da provocação da “formação-ordenada simulada”, dando ao jogo o caráter de responsabilidade, integridade e disciplina que os seus valores exigem.
Problema, problema das arbitragens vistas tem sido a situação de “fora-de-jogo” nos rucks — o “fora-de-jogo” dos defensores tem sido de uma evidência tal que não se percebe porque não há intervenção superior, lembrando aos árbitros-assistentes que devem ter aí, para bem do jogo e do espectáculo, um papel a desempenhar: o árbitro a observar os jogadores e a bola no chão, não vê pelas costas e, quando se vira, não pode apostar no palpite. Mas o assistente vê tudo o que se passa e para que o jogo de ataque se possa desenvolver, façam o favor de actuar. Para que depois o sr. Ledesma não se venha queixar de um fora-de-jogo visível de Picamoles, quando estivemos a ver foras-de-jogo, nomeadamente argentinos, durante a grande maioria do desafio...
Erros de arbitragem? Claro! Mas os graves não são —como alguém referiu — os de um pai que tem que tomar conta de 30 filhos em simultâneo, mas sim os do vídeo-árbitro que algumas vezes não se dá ao incómodo de querer ver o que a televisão nos mostra. Esses sim, são muito graves e podem ser eliminados. Para o que basta uma atenção objectiva e a convicção das decisões.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

FAVORITOS TÊM QUE GANHAR

Nestes  próximos jogos do Mundial 2019 apresentados na tabela acima, os vencedores parecem encontrados e não se espera nenhuma surpresa. A Argentina terá a oportunidade de se redimir e mostrar-se capaz de alinhar sem margem para dúvidas no Tiers1.
No entanto o jogo mais interessante, dada a qualidade criativa das duas equipas, será o Gales-Fiji que não se deve perder.
Mas como certo poderemos ter o facto de que nenhuma das equipas consideradas favoritas pode perder para garantir os lugares das suas expectativas. O que dá o interesse a esta jornada.

A CAMINHO DE CASA

Os resultados dos diversos e recentes jogos, com a surpreendente excepção do França-Tonga, foram muito próximos do que se previra.
De facto a França não se mostrou, com um segundo jogo ganho por dois frágeis pontos, à altura dos pergaminhos com que gosta de se transportar e não foi capaz de se impôr — como o seu posicionamento no ranking da WR impunha — nos mais diversos domínios do jogo como o demonstram as estatísticas do jogo.
Por outro lado a Argentina não foi capaz de mostrar as qualidades que, muitas vezes, lhe são atribuídas e não conseguiu surpreender a equipa inglesa — perdendo assim qualquer possibilidade de apuramento para os oitavos-de-final. e tendo ainda que vencer os USA para garantir o acesso directo ao Mundial de França de 2023. Face aos resultados e ao jogo produzido, pode dizer-se, a Argentina terá sido uma das decepções deste Mundial.
Faltando à grande maioria das equipas apenas um jogo para disputar, os caminhos de casa começam a estar definidos deixando apenas uma ou outra dúvida para resolver nos jogos decisivos como o Japão-Escócia e naqueles que podem definir o 3.º qualificado de cada grupo.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

MUNDIAL A MEIO CAMINHO


Não se pode propriamente dizer que a vitória das Fiji sobre a Geórgia, embora o ranking WR desse o favoritismo aos georgianos, fosse uma surpresa. É bom não esquecer que os fijianos são campeões olímpicos de Sevens e que a sua circulação de bola e ataque aos espaços é notável. Basta-lhes controlar os adversários nas formações-ordenadas para se tornarem uma equipa temível. E foi o que aconteceu, Fiji controlou a forte formação da Geórgia e depois... jogou com a verticalidade necessária (559 metros de transporte de bola com o dobro dos passes, 155)  para marcar 7 ensaios.
A Irlanda também não passou dificuldades com a Rússia que ainda se encontra longe destas andanças, não se mostrando capaz de marcar qualquer ponto. 
Da Itália esperava-se mais qualquer coisa mas ficou-se por uma penalidade convertida sofrendo outros tantos 7 ensaios e vendo o adversário fazer 595 metros de transporte da bola. Um pilar magoado e substituído logo de início por um que, pouco tempo depois, teve que ir à Avaliação do Impacto na Cabeça e um outro pilar expulso por imbecil arpoada num adversário com a necessidade de grande parte das 13 formações-ordenadas serem realizadas sem disputa. O que, pelo que vi, ainda terá sido vantajoso para os italianos — se tivessem que disputar todas as formações-ordenadas, a sua resistência teria terminado bem mais cedo e o resultado ter-se-ia avolumado.

O ranking WR tem o pressuposto de que a diferença de 10 pontos de ranking limita o equilíbrio entre as equipas — e é por isso que a equipa mais bem qualificada quando tem a obrigação de ganhar por ter mais de 10 pontos de ranking de diferença não conquista, seja qual for a diferença de pontos de jogo conseguida, qualquer ponto de ranking pela vitória e a derrotada não perde também qualquer ponto, mas a vitória da equipa mais fraca proporcionará um bom pecúlio...

Como se pode ver na tabela acima todos os jogos são entre equipas com diferenças de ranking superiores a 10 pontos — mesmo no caso do Japão-Samoa, o mais equilibrado e que será um dos jogos competitivamente mais interessante, mas que amplia a diferença pelo facto dos japoneses jogarem em casa.

Resta-nos o Inglaterra-Argentina que, pese o favoritismo dos ingleses, nos pode mostrar duas coisas: o que realmente pode valer a equipa da Rosa, ou seja, qual o seu grau de candidatura à vitória final e, pelo lado argentino, perceber a real evolução desta equipa numa altura em que muito está a mudar no domínio do jogo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

TORCER PELA GEÓRGIA

Mesmo a horas impróprias — 6:15 — lá estaremos em frente da televisão a torcer pela vitória da Geórgia — que se apresenta como favorita no jogo de hoje contra Fiji como se pode ver na tabela acima — na expectativa da sua classificação no 3.º lugar do Grupo para ser directamente qualificada para o Mundial 2023 de França. Se assim for, as possibilidades do rugby português ganham novas esperanças.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

RESULTADOS E PREVISÕES





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