domingo, 31 de julho de 2011

A CAMINHO DE UM NOVO ENSINO

O Mundial de Setembro promete. O jogo deste sábado da TriNations junta-se ao anterior para mostrar que o jogo muda e muda para melhor. A demonstração é clara: os ataques encontraram forma de reduzir o reino ditatorial da defesa, jogando de outra forma - na cara da defesa - e com maior risco. Obrigando a defesa a cometer erros, provocando-os mesmo. E o jogo de movimento garantido pela continuidade dá outra dimensão ao espectáculo. No próximo sábado o Nova Zelândia-Austrália dará uma melhor mostra da provável dimensão que teremos no Mundial.

É muito mais fácil defender do que atacar, sabe-se. Porquê? porque no rugby a bola é passada para trás, exigindo um sentido altamente colectivo na corrida de estafetas a que obriga para conquistar terreno; porque o único jogador atacante placável é o que transporta a bola, podendo, ao contrário, ser placado por qualquer defensor - o que lhe exige uma atenção particular, mas simultânea, a companheiros e adversários para evitar ser surpreendido; porque obriga os companheiros a focalizarem-se no portador, procurando, nos sinais, adivinhar a sua leitura e esquecendo, muitas vezes, outras possibilidades; porque os defensores, focalizando o mesmo portador, têm menos incógnitas na equação - sabem onde está o perigo e podem seguir regras simples. Não é fácil atacar no rugby: exige constância, treino e adaptação às mudanças para sobreviver (como estabeleceu Darwin).

Todo o exemplo, nestes jogos do Sul, do jogo de movimento e das suas relações com o domínio do espaço, o uso da bola - mantendo-a permanentemente viva - a tomada de decisões, a relação com a linha de vantagem e a procura de pontos exige uma formação distinta da habitual. Exige uma plena compreensão estratégica e táctica do que é o jogo e a adaptação, a novas noções de tempo e espaço, dos gestos técnicos para a resolução eficiente dos problemas que se enfrentam. O que, significando uma superior relação entre o ensino do gesto e a realidade do jogo, impõe os constrangimentos que o jogo transporta na exigência do treino. A começar desde os primeiros passos do ensino e sem que isso signifique a desistência do divertimento na aprendizagem do jogo... o que exigirá mais criatividade e imaginação aos treinadores.

domingo, 24 de julho de 2011

TRATADO DE BOLA

A Austrália mostrou neste jogo com a África do Sul a maior parte das ferramentas que permitem que o ataque seja bem sucedido: passes na linha a impedir que a defesa se recomponha e ocupe os intervalos; linhas de corrida sobre o ombro fraco do defensor; ângulos de corrida divergentes; jogo das linhas atrasadas em 3+3 – aproximando-se de combinações do voleibol; passes longos para utilização do espaço; recebedores do passe com aproximações em grande velocidade. Enfim uma panóplia de gestos técnicos e tácticos sobre os quais vale a pena reflectir para que a formação dos jogadores se estabeleça numa nova plataforma que torne o ataque mais eficiente.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

OS PORMENORES GANHAM

Os treinadores gostam de viver dentro do conceito: os pormenores ganham os jogos de alto nível.

E sabem que esses pormenores se preparam. Por isso são meticulosos, mesmo obstinados, teimosos o suficiente, não abdicando de convicções, estudando tudo o que podem, reconhecendo forças e fraquezas da sua equipa e do adversário para cozinhar tácticas alinhadas com as estratégias definidas de acordo com o grupo de jogadores que treinam.

E foi na gestão dos pormenores que o 7 de Portugal ganhou a final que lhe conferiu o título de Campeão Europeu. Com dois jogadores suspensos por cartão amarelo – uma impossibilidade individualista jamais justificável numa final -  os jogadores portugueses num pormaior decisivo conseguiram disfarçar a inferioridade de dois jogadores para não sofrerem pontos no 7x5 e conquistaram o tempo necessário para se manterem dentro do jogo. Pormenor que lhes garantiu a possibilidade de, num excelente ataque onde pontificou um hand-off soberbo, marcar e ganhar no último segundo.

Com pormenores se ganha, com pormenores se perde, é o jogo.

domingo, 17 de julho de 2011

7's GRAND PRIX 2011

Parabéns a todos os membros da equipa de 7’s.
Excelente vitória pescada, como sabem fazer os campeões, no último segundo do jogo final do Torneio.


Em 2012, Roménia e Moldávia serão substituídos pela Escócia e Alemanha

nota1: a festa da vitória poderia ter sido liquidada pela desatenção de dois amarelos e, agora, poderia significar choro sobre leite derramado.

nota 2: não seria mau que a FIRA-ERA se mostrasse capaz de realizar um site rigoroso, com resultados sem erros, de boa organização, sem confusões repetitivas e de fácil leitura – o facto de se escrever não significa que se comunique

sábado, 9 de julho de 2011

ISTO É RUGBY!

Numa excelente final do Super 15 entre os Reds (vencedores) e os Crusaders, dois pontos essenciais a reter:
- o comportamento. Com dois ensaios não considerados e à atenção de jogadores, treinadores e dirigentes portugueses, o comportamento dos jogadores: nem uma palavra, nem um gesto, apenas o respeito pelo cumprimento das decisões da arbitragem. No final, de novo a demonstração do respeito desta vez dos jogadores uns pelos outros: abraços e felicitações genuinamente partilhados – de um lado e de outro gostam do jogo que escolheram e não há rugby sem adversário. Não houve quesílias, amarelos ou vermelhos - e era uma Final! Excelente demonstração de espírito desportivo, de fair-play, de respeito – de novo – pelos valores que fazem do rugby uma modalidade desportiva particular. Uma lição a reter e a fazer constar onde quer que haja uma bola oval do jogo de XV contra XV.
- a assumpção do risco. Nada de calculismo à espera que a vitória caia do céu. O rugby é um jogo de ataque e é o ataque que ganha  - mesmo que se insista no contrário - e para defrontar defesas colectivamente bem organizadas é preciso imaginação, criatividade e capacidade de correr riscos para descobrir a oportunidade a explorar. É preciso confiança só possível através do treino adequado ao jogo. A pressão é altíssima, não há espaço nem tempo para jogar classicamente, o ataque tem que descobrir novas formas de exploração do uso da bola: passes heterogéneos, ângulos de corrida desequilibradores, abertura de linhas de passe no limite do tempo e a esconder atenções, leitura das formas defensivas, dos espaços do posicionamento de companheiros e adversários, recurso a todo o tipo de alternâncias possíveis. E fica a questão-chave para reflexão: como é que se formam jogadores para este tipo actual do jogo? Começando, obviamente, pela cabeça, como é que se fornecem os instrumentos e ferramentas técnicas e tácticas para construir uma estratégia eficaz na utilização do tempo e do espaço?
É na formação que estas respostas têm de ser dadas – estabelecendo os Princípios Fundamentais e adequando-os aos tempos do jogo e levando os jogadores à descoberta das soluções que as suas capacidades permitam: assumindo riscos sem receios.   

FORA DO TEMPO: neste jogo final, os jogadores protagonistas interpretaram como deve ser a máxima que o Desporto deve demonstrar:

vencer com humildade, perder com dignidade

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A CABEÇA CONTA MAIS...

... que o corpo na construção do jogador.

Cartoon apresentado por Pierre Villepreux e já mostrado aqui

Escrevia há dias, a propósito da participação da França no Mundial e do método e modelo de jogo a escolher e desenvolver, Pierre Villepreux: é preciso ainda que os jogadores que vão ter a possibilidade de representar a França na Nova- Zelândia daqui a menos de três meses sejam tentados a querer apropriar e mobilizar conhecimentos e comportamentos de um jogo novo e sem dúvida diferente daquele que utilizam regularmente no Top 14 e no Torneios das 6 Nações, ultrapassando assim experiências anteriores.  

O que significa alteração da cabeça... reconhecendo que o jogo é outro e que se encontram noutro campo de execução técnica e táctica. O que exige mudança e transformação. Processo que, a desenvolver-se, exigirá uma enorme coragem de treinadores e jogadores. Para que a auto-confiança seja crescente.

A outra solução?

A alternativa é ficarmos pelo que sabemos fazer, diz Villepreux, para continuar: O que passará por um outro tipo de trabalho, mais reconfortante e na esperança que possa ser suficientemente eficaz na sequência dos confrontos com um diferente estilo de jogo que vai ser, enquadrando a tendência evolutiva do jogo e das regras, o desafio principal da próxima Taça do Mundo. 

Será portanto e do ponto de vista estratégico, interessante seguir os jogos franceses de preparação... e para saber se, de uma forma ou de outra, a cabeça resistiu à mudança.

domingo, 3 de julho de 2011

CRAQUES


As meias-finais do Super15 permitiram avaliar a formidável qualidade dos craques que irão estar presentes no Mundial.

E permitiram também perceber que o jogo no Sul tem uma dimensão técnico-táctica de nível superior que não parece acessível às selecções do Norte. Bastarão os 70 dias de distância para dar aos jogadores europeus as capacidades de passe no tempo justo do desequilíbrio defensivo, do ataque ao intervalo, da disponibilidade de abertura de linhas de passe, o tempo exacto de entrada para ultrapassar a linha defensiva e explorar o espaço?

Se tudo isto fosse possível, que Campeonato do Mundo poderíamos ver.

Até lá as maiores expectativas para um Reds-Crusaders  - a final do Super 15 no próximo sábado - que tem todas as condições para colocar o Rugby num nível superior do espectáculo desportivo.

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