sábado, 27 de abril de 2024

UMA CAMISOLA DE MEMÓRIAS

Há 50 anos o MFA fez a Revolução do 25 de Abril que abriu a Portugal os caminhos da Liberdade e da Democracia em que hoje vivemos. 

A Selecção Nacional tinha um jogo internacional marcado contra a Checoslováquia para o dia 27 de Abril de 1974 e o Seleccionador Nacional, Pedro Lynce, tinha-me convocado para o lugar de médio-de-formação — ainda tenho a camisola nº 9, que nunca utilizei, guardada, espero, na gaveta.

Com a Revolução do 25 de Abril o aeroporto, bem como o espaço aéreo, foram encerrados e a nossa viagem foi anulada.

Portanto, com a melhor prenda de anos — nasci às 4 da manhã de 25 de Abril de 1947 — que tive até então, o fecho do aeroporto foi a única coisa desagradável — antes de ter tido a certeza que iria haver uma formidável mudança —  porque não permitiria a viagem para Praga. Jogo internacional perdido mas com a vantagem, permitindo-me juntar às formidáveis multidões que apoiavam nas ruas o MFA, de presenciar situações decisivas da Revolução como, por exemplo, Rádio Clube Português, Carmo e a libertação dos presos políticos de Caxias — só de camisa e com o frio da noite terminou em gripe… — num conjunto de momentos inesquecíveis que a memória guarda e guardará.

Para juntar às recordações desses dias cá guardo a camisola não utilizada e que tem um número que resultou do facto de, no CDUL, por ser o capitão e por falta de jogadores mais capazes para o lugar, ter tido de jogar no lugar de formação. E esse não-jogo acabou por ser a minha última convocatória para jogos internacionais que só voltaram em 1981.

E pena verdadeira só tenho deste facto: o de os responsáveis federativos se terem mostrado incapazes da organização necessária para garantir a continuidade da participação internacional. Porque, de não ter jogado em Praga, não tenho pena nenhuma. A impossibilidade valeu a pena e garantiu-nos a Liberdade e a Democracia, numa mudança inesquecível para os que, como eu, tiveram a oportunidade de viver aqueles tempos.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

DE INVENÇÃO EM INVENÇÃO…

 A Fase de Apuramento da Divisão de Honra disputada por 10 clubes a duas voltas, atingiu a 18ª Jornada e portanto terminou. No entanto não foi isso que se passou — a dois clubes falta um jogo, aos outros oito faltam dois jogos para completar a prova num total de 9 jogos em atraso. E assim o campeonato continua e, pode ler-se no site federativo, irá disputar-se a 19ª jornada nas 20 que querem atingir. Um disparate absoluto e que subverte as regras normais de uma competição de regularidade pela introdução — vá lá saber-se porquê e com que vantagens competitivas — de um jogo de folga para duas equipas quase jornada a jornada.

E o rigor manda dizer que não há 19ª ou 20ª jornadas mas sim que existem jogos em atraso que, aliás, deviam ter sido — por razões de ética desportiva — resolvidos antes de se atingir a 18ª jornada final. Os campeonatos de todos-contra-todos têm como regra que os seus jogos que compõem a mesma jornada, sejam disputados com grande proximidade temporária entre eles. E as consequências resultantes desta invenção não são brilhantes com folgas que fizeram parar equipas em situações que podem criar vantagens indevidas a uma ou outra das equipas, ao se conhecerem posicionamentos que não seria suposto conhecer-se se o jogo fosse disputado na altura certa.

Com esta organização, um campeonato que já não era competitivo ter nas condições de desenvolvimento do rugby português um campeonato com dez clubes —  a diferença de pontos entre o 6º (último a apurar) e 7º classificados é de 12 pontos a dois jogos do fim… significa que existirão jogos que não terão qualquer proximidade competitiva como se pode ver analisando os resultados globais — tornou-se ainda menos competitivo. E veja-se o resultado…


Faltando ainda disputar 9 jogos, já existem, num evidente desequilíbrio, 17% dos jogos realizados que permitiram Bónus Defensivos e 51% dos jogos disputados obtiveram Bónus Ofensivos que se atribuem à equipa que marcou 4 ensaios, garantindo uma diferença de 3 ensaios em relação ao resultado do adversário. Noutra demonstração do desequilíbrio competitivo desta competição da Divisão de Honra está no facto de que 54% dos jogos efectuados tiveram resultados com diferença de 15 pontos valor que o ranking da World Rugby considera elevado e que, por isso, é premiado com aumento de pontos.

Este desequilíbrio é demonstrado pelo factor Índice de Competitividade traduzido pelo algoritmo Noll-Scully que, tendo o valor de 1 como equilíbrio da competição, vê a competição portuguesa atingir o desequilibrado valor de 2,26 ao atingir a 18ª jornada. 

E o problema maior é que este valor de 2,26 é o pior resultado dos resultados europeus entre nossos adversários directos e adversários que são referências.

Relação entre o Índice de Competitividade e a diferença para o Equilíbrio Competitivo. Como se pode verificar o campeonato português é o mais desequilibrado dos analisados. Repare-se na valorização do campeonato de Espanha com a passagem de 12 clubes da fase inicial para 6 na fase final

Com os objectivos que estão definidos — subir no ranking e participar no Mundial da Austrália de 2027 — é óbvio que não podemos continuar a ter um campeonato que  não prepara minimamente os jogadores portugueses para o nível internacional. Porque é decisivo e elementar, por todas as razões organizacionáveis e competitivas, que os jogadores portugueses que jogam no nosso campeonato interno, possam aproximar as suas capacidades às dos jogadores portugueses que jogam no estrangeiro. E há formas de organizar campeonatos internos competitivos. Que permitirão a aproximação.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

QUE RAIO DE IDEIA!…


E se a decisão da FPRugby de realizar um mesmo jogo a contar para duas competições distintas — Campeonato da Divisão de Honra e Supertaça — fosse considerada como vanguardista e aberta ao futuro, os jogos Benfica-Sporting de ontem (2 de Abril) e de sábado (6 de Abril) , pertencentes à disputa da Taça de Portugal e da Liga, poderiam ser os dois realizados num dos dias e em campo neutro. Até havia a boa desculpa da poupança de jogadores para um Europeu que aí vem. Mas mesmo com essa intenção, o que aconteceria? Cairia o Carmo e a Trindade a que se juntaria, muito provávelmente, o Terreiro do Paço. 

Considerar, como decidiu a Federação Portuguesa de Rugby, que duas competições com regulamentos competitivos distintos e em que o resultado se entende de formas diferentes  — se num campeonato o resultado de cada jogo se relaciona com todas as outras equipas que o disputam, numa Taça, realizada por norma no regime de eliminatórias, duplas ou singulares, o resultado só diz directamente respeito às duas equipas em jogo — e que pode ser resolvido num mesmo jogo, representa uma clara violação dos valores que caracterizam o Desporto para além de uma demonstração de falta de respeito pelos atletas. Pela simples razão que um e outro jogo se preparam com diferentes abordagens estratégicas que se traduzirão em diferentes tácticas conceptuais. E é bom de ver que as duas equipas podem ter propósitos diferentes traduzidos em vencer a Taça ou consolidar o campeonato… O que pode pressupôr atitudes diferentes… e não basta dizer que “ambas, o que querem é ganhar”, porque o ganho numa competição não é igual ao da outra. E, manda o bom costume que não chega ser, é preciso parecer

Veja-se: o Rugby, caracterizando-se de forma muito diferente de outras modalidades, tem 5 formas de marcar pontos com 4 valores diferentes — ensaios (5), transformações (2), penalidades (3), ressaltos (3), ensaios de penalidade (7) — e ainda tem, no caso de campeonatos e não de eliminatórias, “pontos de bónus” ofensivos — que se conseguem pela relação diferencial de 3 entre ensaios marcados e sofridos — e defensivos que dependem, no caso da equipa derrotada, da relação inferior a 8 pontos entre pontos Marcados e Sofridos no resultado final. Ora estas características tornam impossível a equidade entre um jogo de Campeonato e de Taça. . No caso da Supertaça o objectivo é o de ganhar nem que seja pela diferença de um ponto — o que pode levar, pela evolução do resultado, a tácticas defensivas de limitar o uso da bola. No caso do Campeonato a vitória, como a derrota, podem ter mais interesses para além do superior número de pontos de jogo— o interesse de uma das equipas poderá estar na necessidade de conquistar, como vencedora ou como derrotada, 1 ponto de bónus, o que levará apenas a eventual derrotada à posição de segurança de limitação do uso da bola se o final estiver próximo e o resultado tiver uma diferença menor do que 8 pontos de jogo — na evidência de perspectivas e propósitos distintos e próprios a cada competição. Diferentes, portanto. Com a possibilidade de um — o do Campeonato — terminar no final dos 80 minutos regulamentares e o outro — Supertaça — prosseguir para um prolongamento e, eventualmente, para um desempate por pontapés. Com os mesmos jogadores e no mesmo campo… 

Com esta mistura de jogos de características e objectivos diferentes, colocam-se os jogadores — os elementos centrais  e fundamentais do jogo — numa situação de vulnerabilidade: pelo andamento do resultado do jogo, mesmo se disfarçado numa vitória final da Supertaça, podem ser levantadas especulativas suspeitas sobre a sua integridade porque a aparência de jogos de interesses exteriores ao jogo, pode resssaltar. E o respeito devido aos jogadores não permite que se criem, por negligência de princípios, situações que permitam ou levantem possíveis dúvidas, sequer suspeitas, sobre a integridade de quem participa no jogo. Isso é, simplesmente, inadmissível! E a maneira reconhecida para evitar suspeições é garantir organizações que o impeçam — por isso o Mundial de Rugby não mais será disputado em grupos com um número ímpar de equipas.

Princípios e Respeito que caraterizam o Desporto, nomeadamente na igualdade de propósitos entre adversários, não autorizam esta facilidade  — seja por que razões fôr e menos ainda por meras razões burocrático-administrativas — de realizar um mesmo jogo de diferentes componentes desportivas. Cada competição vale por si e não se mistura no mesmo espaço e tempo simultâneos. E a irresponsabilidade negligente não é compatível com as exigências éticas do Desporto. 

Que raio de ideia esta! e se a moda pega…

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