domingo, 26 de junho de 2016

NUM NOU CAMP CHEIO MELHOR A EVASÃO DO QUE A COLISÃO

Nou Camp de Barcelona com lotação esgotada na final do Top14
foto iPhone transmissão televisiva

Em Maio, em Valladolid, foram mais de 26 500 espectadores a assistir - para além do próprio que entregou a taça aos vencedores - à final da Copa del Rey 2016 entre o Silver Storm El Salvador e o VRAC Quesos Entrepinares do nosso internacional Nuno Penha e Costa.
Na passada sexta-feira o Nou Camp de Barcelona juntou 99 354 espectadores - um recorde que supera os 84 068 de Wembley no Saracens-Harlequins de 2015 - para assistirem à final do TOP 14 francês entre o Racing 92 e o Toulon. A visão do estádio foi impressionante e a qualidade do jogo reconciliou-nos - como aliás aconteceu com as meias-finais do Final Four - com o campeonato francês e a sua qualidade competitiva, técnica e táctica. Ao contrário da maioria dos jogos vistos durante a época regular - fastidiosos, de pouco interesse, subordinados mais ao não perder do que ao ganhar - estes jogos da fase final tiveram todos os ingredientes para serem recordados: competitividade, luta pelo melhor resultado, inteligência táctica, capacidade e eficácia técnica, combate e resultados indefenidos até ao apito final.
Na final de Barcelona, entre uma equipa mais apostada na evasão e outra que colocava os seus trunfos na colisão ganhou a primeira com a curiosidade de o ter feito - para além de 50 minutos em inferioridade numérica e logo de um médio-de-formação* - com apenas 43% de posse de bola mas com 186 placagens - eficácia de 91% - contra 106 e 87% de eficácia do adversário mas também com um normal número (9) de penalidades concedidas contra o exagero de 16 cometidas pelo Toulon de que resultaram 24 pontos que permitiram a vitória final dos parisienses por 29(E,8P) - 21(2E,T,3P).
Como curiosidade dos jogos internacionais deste fim de semana temos que as equipas vencedoras foram as que menos posse de bola tiveram: a Nova Zelândia com 38%, a Inglaterra com 47%, Escócia com 41%, África do Sul com 32% e a França com 48%. No entanto estas equipas com menor posse da bola marcaram, pela mesma ordem, 6, 4, 0, 1 e 3 ensaios. Ou seja, uma média de 42% de posse de bola resultou numa média de 2,8 ensaios contra 1,4 ensaios (metade) resultantes dos restantes 58% de posse da bola.
(curioso também é o facto de que nos oitavos-de-final do futebol do Euro 2016, quer Portugal quer a Polónia ultrapassaram os seus adversários com menor posse de bola e com menos remates...)
Portanto, estes dados dizem-nos que a conquista e posse da bola não garantem a vitória. Aliás a única coisa que parece evidente em relação à posse da bola é que, tê-la, impede o adversário de marcar pontos mas não permite, necessariamente, marcá-los.
Podemos então tirar a conclusão - alicerçada nos dados e na evidência do que se viu - de que é, não a mera posse da bola, mas o seu uso eficaz e adequado que permite chegar ás vitórias. Por e para isso se treina na procura da sintonia colectiva que permita explorar as oportunidades que a leitura dos movimentos em campo nos evidencia. O que exige treinar com oposição e numa velocidade tal que nos coloque no nível de intensidade exigível pela competição.

Nota: ver os três recentes jogos dos All-Blacks com o País de Gales constitui uma óptima lição sobre o que significa uso da bola eficaz, leitura colectiva das oportunidades para além de uma demonstração de que a velocidade de deslocamento e de execução são as armas fundamentais para criar os desequilíbrios necessários ao domínio do resultado. 
* - A equipa técnica do Racing 92 decidiu não substituir qualquer jogador para fazer entrar o formação  suplente. Assim, garantia jogar com oito avançados - situação fundamental contra o poderoso pack do Toulon - e ao mesmo tempo não diminuir em defesa o número de três-quartos. Como? Colocando o argentino Juan Imhoff como improvisado formação que, nas fases estáticas, ocupava o seu lugar de ponta, deixando o seu adversário directo à-vontade. Surpreendente terá sido o facto do Toulon e nas formações-ordenadas não ter sabido tirar qualquer partido da vantagem da situação...

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